quarta-feira, 30 de setembro de 2009

CIRCULANDO LIVROS






“O maior acontecimento de minha vida foi, sem sombra de dúvida, a biblioteca de meu pai”. Essa frase, comoventemente impactante e fascinantemente grandiosa, nasceu da boca do mais extraordinário poeta argentino, Jorge Luis Borges. Esse contagiante amor pelos livros acompanhou o escritor até os últimos dias de sua existência, quando já estava cego e dependente de amigos ou familiares que diariamente o realimentavam e rejuvenesciam através da leitura.

Em 1978, Borges completara vinte anos que havia perdido a visão. Fora convidado para proferir uma conferência na Universidade de Belgrano, em Buenos Aires. O tema? O LIVRO.

Cego – e só quem é privado da vista sabe a dimensão e a profundidade dessa experiência - Borges articulou ali uma das mais belas orações que conhecemos sobre o assunto. Ele, em pleno vôo de inventividade, espargindo a fertilidade imaginativa, recorre a figuras que sintetizam a sondagem do infinito e a captação das minúsculas partículas. Principia assim sua sinfonia reflexiva: “Dos diversos instrumentos do homem, o mais assombroso é, sem dúvida, o livro. Os outros são extensões do corpo. O microscópio, o telescópio, são extensões da vista; o telefone é extensão da voz; temos o arado e a espada, extensões do braço. Mas o livro é outra coisa: o livro é uma extensão da memória e da imaginação”.

Em verdade, o livro liberta. Quem experienciou o gáudio de se relacionar com um bom enfeixe de folhas, sabe o olor revolucionário que dali exala.

Só capta o perfume libertário de um livro quem se deixa por ele envolver, num enlace de flerte, num lampejo de namoro, numa relação amorosa. Se, através da viagem singular e intima da leitura, descobrirmos o minério de paixão que o livro esconde, seremos capazes de rapidamente nos tornarmos ricos. Ricos, sim! Detentores daquele invejável patrimônio que sobrevive à corrosão das traças e ao desgaste do tempo.

Foi por isso que meu coração palpitou de alegria e minha alma se inebriou de satisfação quando o amigo Lourival Veras me enviou uma correspondência avisando que, em Crateús, a SABi (Sociedade Amigos da Biblioteca Norberto Ferreira Filho) estava a desenvolver um Projeto batizado de “Circulando Livros”, uma inédita feira de livros combinada com a oferta de brindes culturais ao ar livre, tendo como lócus a área do anfiteatro da Praça da Matriz.

Além de disponibilizar bons livros a baixo custo (preço máximo: R$ 5,00), o Projeto corteja os presentes com animações culturais, barracas de comidas típicas, contação de histórias, exibição da companhia de teatro Os Cara da Arte e show. Outras etapas serão desenvolvidas nos meses de outubro, novembro e dezembro.

Convidado, juntamente com o historiador Norberto Ferreira Filho (Ferreirinha), para a noite de autógrafos de sábado (26/09), fiz uso da palavra para ressaltar três coisas:

1. A importância de valorizarmos os idosos, simbolizados na pessoa de Ferreirinha, o maior memorialista vivo da nossa terra;

2. Mencionar minha última obra, Amores e Clamores da Cidade e

3. Pronunciar algumas sílabas de estímulo aos presentes sobre o culto ao livro e aos escritores, imortais seres que fundam as civilizações.

Conclui relembrando o Condor Baiano Castro Alves:

“Por isso na impaciência
Dessa sede de saber,
Como as aves do deserto -
As almas buscam beber...
Oh! Bendito o que semeia
Livros... livros à mão-cheia...
E manda o povo pensar!
O livro caindo n`alma
É gérmen - que faz a palma,
É chuva - que faz o mar”.


Por isso, saúdo com emocionado contentamento os idealizadores e realizadores desse projeto de circulação de livros. Oxalá sejam semeadores de uma nova safra de escritores para a nossa terra!

Viva o livro, prumo da alma, máquina de tear sonho, metamorfose estática, emancipador da consciência, berço de um novo homem!

Viva o livro, fonte de luz!

Viva o livro!

O livro, ser vivo!

Oh! Livro, viva!

(Por Júnior Bonfim)

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