quinta-feira, 22 de outubro de 2009

CONJUNTURA NACIONAL



CABRAL TOSQUIADO?

Sérgio Cabral, ainda embriagado pela vitória do Rio na conquista da Olimpíada de 2016, foi chamuscado pelo fogo que consumiu o helicóptero abatido por tiros de fuzil dos bandidos. Sérgio Cabral terá na segurança pública o calcanhar de aquiles dos tempos que virão. Matéria negativa caindo na mídia internacional funcionará como fogueira a consumir a boa imagem positiva alcançada pelo extraordinário esforço de nossas autoridades olímpicas. Lula promete dar, de imediato, R$ 100 milhões para o combate à bandidagem. Pode-se esperar por mais uma dezena de policiais mortos e mais uns 100 marginais.

CUNHA MELO

Histórias de ontem no Senado. Um senador, chateado porque suas verbas não eram liberadas, anunciou para os colegas de bancada:

- Precisamos romper com o governo.

Cunha Melo, sábio e matreiro, pegou o chapéu e saiu de fininho :

- Vou saindo. Tem coisas que não se deve nem ouvir.

ALIANÇA DE COMPROMISSO

O PMDB e o PT enfiam a aliança de compromisso no dedo, sob as bênçãos do cardeal Luiz Inácio. As cúpulas dos partidos se fizeram presentes no ato que terá, ainda, os seguintes desdobramentos. Noivado dentro de um a dois meses, ocasião em que será produzido o anúncio de casamento, com estabelecimento das regras e, mais adiante, casamento com pompa, oportunidade em que será anunciado o modus operandi do noivo na campanha de dona Dilma. O PMDB não quer apenas ceder tempo eleitoral. Quer ser parceiro forte no casamento, com direito a apontar rumos. O programa, portanto, será uma palavra chave.

PACTO PODE SER ROMPIDO

Semana passada, este consultor sinalizou um possível pacto em Santa Catarina envolvendo os parceiros do PMDB, DEM e PSDB. Pelo pacto, em janeiro/fevereiro de 2010, o candidato a ser escolhido seria aquele com melhor índice nas pesquisas. Ao que parece, a coisa não será bem por aí. O PMDB quer porque quer lançar candidato ao governo. O nome: Eduardo Moreira, presidente do partido no Estado. Moreira está com 7% de intenção de voto contra os cerca de 20% dos pré-candidatos do DEM, senador Raimundo Colombo, e Leonel Pavan, do PSDB e vice-governador. Será uma parada dura. Eduardo Moreira e Ideli Salvati, eventual candidata do PT, teriam, a esta altura, firmado compromisso de apoio mútuo no segundo turno.

LUIZ HENRIQUE

Quem deseja manter o pacto entre os três partidos é o governador Luiz Henrique. Mas Eduardo Moreira defende outro pacto. Que inclua obrigatoriamente o candidato do PMDB no centro das conversações. Vai ser uma parada federal.

SINDICALISMO VÂNDALO

Ainda há sindicatos no país que acham que o sindicalismo é campo para a bandidagem. Para a vassalagem. Para servir aos oportunistas, picaretas e arrivistas. Um desses sindicatos, vez por outra, ameaça investir sobre a seara de outros. Não conformado em querer solapar as bases de outra entidade empresarial – prestigiada e de alta credibilidade no mundo sindical – tenta, por meio de medidas solertes, acampar também no terreiro do sindicato laboral. Seus dirigentes, como aves de rapina, ignoram o fato de que, a qualquer hora, essa tentativa de emboscada será denunciada e eles, sim, eles mesmos, serão pegos com a boca na botija e abatidos em pleno ar. Nos bastidores, muito se sabe sobre as peripécias da corja.

O OLHO DE MOSCOU

João Goulart em um papo com Getúlio Vargas:

- Presidente, há muita gente desempregada, muito trabalhador posto no olho da rua.

Getúlio:

- Isso é muito ruim. Operário posto no olho da rua vai logo para o olho de Moscou.


SUNGASUPLICY

O senador Eduardo Suplicy procura desesperadamente companheiros e amigos para explicar o indigitado gesto de vestir sunga vermelha sobre as calças. Teria sido uma brincadeira. Batizada de coisa ridícula. O caso já foi arquivado. E que sirva de lição. Há uma liturgia de poder e de autoridade que não pode ser rasgada pela palhaçada midiática. Que, aliás, cumpre o papel de mostrar um Congresso capenga. E de baixa credibilidade.

QUÉRCIA SE MOVIMENTA

Orestes Quércia tenta sensibilizar os governadores Roberto Requião e Luiz Henrique, atraindo-os para a esfera das oposições. Requião está fechado com Lula. O que prega no PMDB é uma consulta às bases para que o programa de governo de Dilma Rousseff contenha as propostas do partido. Já Luiz Henrique está fechado com Serra. Por conta das conveniências regionais e do pacto entre PMDB, PSDB e DEM. Quércia teme que o PMDB, por maioria dos convencionais, feche posição com o PT. Essa é a tendência hoje.

GRANDEZA DE OUTRORA

Augusto Franco, governador, cheio de si, desceu no Galeão, e foi logo respondendo à pergunta de uma atendente da Varig:

- O Sr. é o Dr. Augusto Franco, de Sergipe ?

- Não, minha filha, Sergipe é que é de Augusto Franco.

O NOVO DENTRO DO VELHO

No Brasil, a reciclagem toma conta até das conversas e das promessas. Roger Agnelli, pressionado por Lula, promete para 2010 investimentos da ordem de R$ 12,9 bilhões. Parece coisa nova. Que nada. São investimentos que, há tempos, figuram no budget da mineradora Vale.

E AGORA?

O presidente da Corte Suprema, Gilmar Mendes, não tem dúvidas: Lula e Dilma antecipam a campanha. O que dirá, agora, o TSE? Se a Justiça Eleitoral está sendo testada, qual será sua reação? Com a palavra, suas Excelências.

O TAMANHO DOS TUCANOS

Rodrigo Maia, presidente do DEM, diz que, se os tucanos excluírem São Paulo, seus bicos ficam do tamanho dos bicos das maritacas. O argumento do deputado quer indicar a maior capilaridade do DEM em termos nacionais. Não é que Maia tem razão? Os DEM estão mais espalhados, povoam de maneira mais horizontal os espaços nacionais e, dessa forma, chegam de forma mais intensa às proximidades populares. Boa observação.

PT E PSDB JUNTOS?

Ante a constatação aguda de Rodrigo Maia, dá até para desconfiar de que um acordo secretíssimo juntaria interesses de tucanos e petistas. Sob que lógica? O rodízio no poder. Sai um, entra outro. Perpetuando a hegemonia dos dois partidos. Sob a gangorra do PMDB que, também, acompanharia um e outro, nas subidas e descidas da montanha política. Pelo acordo, o DEM estaria condenado ao enforcamento. A hipótese, longe de apego ao catastrofismo, tem lógica.

DISCURSOS DE CAMPANHA

Os discursos para a campanha começam a ser arrumados, conforme descrevi em meu artigo dominical no Estadão. Dilma tentará enfiar o perfil de Serra no curral da era FHC. Usando conceitos e chavões do tipo: ambição privativista e modelo neoliberal. Serra acusará o "estilo petista de governar" com a volta do velho patrimonialismo e o resgate de novas formas de engorda do Estado. Haja vista a República Sindicalista. Ciro, se for candidato, embarcará na canoa de integração entre Estado e iniciativa privada, maior investimento na área educacional e esforço para que o país tire o atraso tecnológico. E Marina, claro, vestirá o traje verde da sustentabilidade ambiental.

RECONVOCAÇÃO DE LINA?

Essa idéia de reconvocar Lina Vieira para confirmar a existência de uma agenda e, assim, acender a fogueira contra a ministra Dilma é, aqui pra nós, ausência de discurso substantivo. Velhas feridas tampadas só jorram sangue depois de novos e contundentes ferimentos no mesmo local. Ao que parece, o que vê, naquele espaço, é imagem cicatrizada. E muito esparadrapo.

ADEUS AO "PIRA"

Meu comovido adeus ao grande publicitário e amigo Luiz Celso de Piratininga, figuraça da história da propaganda. Tive a honra de participar, na ECA - USP, de sua banca de mestrado em tempos idos. E a satisfação de dar-lhe a nota máxima. Humano, gentil, espirituoso, criativo. Que Deus o conserve no melhor dos cantinhos do céu.

MISTURA DE CORES E SABORES

Esse consultor, vez ou outra, brinca com a salada mista que se exibe nas mesas da política partidária. E sai por aí mostrando incongruências. O que tem a ver Paulo Skaf com o socialismo do PSB? O que tem a ver o bom deputado Armando Monteiro, presidente da CNI, com o petismo? Pois bem, em Pernambuco, Monteiro deverá fazer aliança com o PT, saindo ele e João Paulo, ex-prefeito de Recife, como candidatos ao Senado. Sinais dos tempos. Com exceção das siglas radicais, os grandes e médios partidos são geléia partidária, pasteurizados, amorfos. Então, não há muita razão em se criticar algo que inexiste, como doutrina ou ideologia.

PÉROLAS DO ENEM

Vejam as pérolas dos alunos no Enem:

'O sero mano tem uma missão….'

'O Euninho já provocou secas e enchentes calamitosas.'

'O problema ainda é maior se tratando da camada Diozanio!'

'Enquanto isso os zoutros… tudo baixo nive.'

'A situação tende a piorar : os madereiros da Amazônia destroem a Mata Atlântica da região.'

'O que é de interesse coletivo de todos nem sempre interessa a ninguém individualmente.'

'Não preserve apenas o meio ambiente e sim todo ele.'

'O grande problema do Rio Amazonas é a pesca dos peixes.'

'É um problema de muita gravidez.'

'A AIDS é transmitida pelo mosquito AIDES EGIPSIO.'

'Já está muito de difíciu de achar os pandas na Amazônia.'

'Vamos deixar de sermos egoistas e pensarmos um pouco mais em nos mesmos.'

'Eu concordo em gênero e número igual.'

'Precisa-se começar uma reciclagem mental dos humanos, fazer uma verdadeira lavagem celebral em relação ao desmatamento, poluição e depredação de si próprio.'

CONSELHO A EDUARDO SUPLICY

Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na edição passada, o espaço foi destinado aos marqueteiros. Hoje, volta sua atenção ao Senador Eduardo Suplicy:

1. Lembre-se do conselho do general Sun Tzu: "há estradas que não devem ser percorridas e cidades que não devem ser sitiadas". Ou seja, há vestes que não devem ser vestidas. Há sungas vermelhas que não devem ser experimentadas, mesmo se uma sereia cantar loas no seu ouvido.

2. Dê interpretação adequada ao princípio de Maquiavel: "os fins justificam os meios". Quando os meios são mais esdrúxulos e ridículos que os fins a que servem, o tiro sairá pela culatra. No caso, o tiro da sunga foi um bumerangue.

3. Pense uma, duas, três vezes antes de enfrentar uma situação que pode resvalar pelo ridículo. Que pena. Desta feita, sua índole não o ajudou. Por quê? Pelo fato de Vossa Excelência ser considerada pessoa que pensa tão devagar a ponto de a palavra sair antes da idéia.

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(Por Gaudêncio Torquato)

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