segunda-feira, 19 de outubro de 2009

OBSERVATÓRIO

“A imprensa é a vista da Nação. Por ela é que a Nação acompanha o que lhe passa ao perto e ao longe, enxerga o que lhe malfazem, devassa o que lhe ocultam e tramam, colhe o que lhe sonegam, ou roubam. (...) O poder não é um antro: é um tablado. A autoridade não é uma capa, mas um farol. A política não é uma maçonaria, e sim uma liça. Queiram, ou não queiram, os que se consagraram à vida pública, até à sua vida particular deram paredes de vidro. Agrade, ou não agrade, as Constituições que abraçaram o governo da Nação pela Nação têm por suprema esta norma: para a Nação não há segredos; na sua administração não se toleram escaninhos; no procedimento dos seus servidores não cabe mistério; e toda encoberta, sonegação ou reserva, em matéria de seus interesses, importa, nos homens públicos, traição ou deslealdade aos mais altos deveres do funcionário para com o cargo, do cidadão para com o país.”

NOSSO PAPEL

As palavras acima são de Rui Barbosa, crânio iluminado, gênio do direito, altivo tribuno, ícone do jornalismo combativo brasileiro há mais de um século atrás. Desde quando assumimos o compromisso de regar esta coluna, moldura analítica dos fatos atinentes à coisa pública, sempre procuramos insuflar a pluralidade, realizar o patrocínio do bem, professar a fé na democracia em ação. Sabemos que o debate político sempre é contaminado pela cegueira proveniente da obsessão pelo poder. Tinge-o a lama da ambição desmesurada. E isso leva, invariavelmente, ao terreno movediço do açodamento pessoal. A crítica a um projeto, imprescindível corretivo, é vista pelo sectário como um afronta à pessoa. E leva o homem público, ao invés de investigar o fato pontuado, a buscar devolver com uma ação para desqualificar quem critica. E perdemos a oportunidade do bom debate, aquele circunscrito à arena das idéias.

NOSSO PAPEL II

Temos uma posição nítida como a manhã de verão. Fazemos, em relação aos governantes, a cobrança em cima dos compromissos por eles celebrados em praça pública. É de conhecimento geral que o atual governo municipal de Crateús assumiu a revolucionária bandeira da alteração dos costumes políticos, da transformação social, da defesa dos trabalhadores, da “vida nova”. O ideário é belo, louvável. Cabe aos órgãos de imprensa, lentes da sociedade, perscrutar se o caminho pregado está sendo seguido. Na edição passada, postamos aqui uma observação sobre o projeto de lei que diminui o limite daqueles chamados requisitórios de pequeno valor. Ao invés de discutir o projeto, e apresentar justificativa plausível, houve quem preferisse assacar contra este escriba, disparando uma ironia: “parece que esse pessoal esquece que fez parte das administrações passadas”... Como se isso viesse ao caso. Ou possíveis equívocos de alhures fosse salvo-conduto para, no presente, quem está no poder assumir a rota da incoerência.

PSDB

A cúpula do PSDB crateuense se reuniu e resolveu acertar o ninho. Ao invés de continuar se bicando, os tucanos avaliaram o cenário político municipal e acertaram uma agenda mínima de trabalho. Escolheram, para presidir o partido, o professor e empresário José Vagno Mota, que vai se responsabilizar pela oxigenação do grêmio partidário, incorporando novos segmentos e desenhando uma agenda propositiva para a cidade. Demais disso, foi acertado manter acesa a chama oposicionista e cumprir os compromissos firmados na eleição passada: manter a parceria com o PMDB, a quem caberia indicar um candidato a Deputado Federal e votar no estadual tucano.

PMDB

Sucede que parte do PMDB se rendeu aos acenos da situação. Alguns raciocinam que é difícil sobreviver longe do poder. Esquecem que o fascínio da política reside no seu dinamismo - demonstrado no processo dialético de morte e ressurreição (um político, aparentemente morto, pode ressurgir das cinzas). Emblemático disso é o caso de Zé Almir, expressão maior do peemedebismo local. Em 2000, após uma pesada derrota, manteve-se firme na oposição. Quatro anos depois, retornava ao comando do Paço Municipal. Porém, o imediatismo tem falado mais alto. O vereador João de Deus, que se iniciou na radiofonia como comentarista esportivo, assumiu a Secretaria Municipal de Esportes. Fala-se que o apoio dessa facção do PMDB ao Prefeito está adstrito à esfera administrativa. É esperar para ver.

PARTICIPAÇÃO

Enquanto o prefeito conversa exaustivamente com os políticos tradicionais, esquece de dialogar com os setores mais avançados da sociedade civil organizada. É grande a queixa de que os setores populares estão marginalizados das essenciais decisões. Inexistiu um debate amplo e qualificado sobre os principais projetos gestados este ano. Lamentam o estilo personalista do Chefe do Executivo. Quando convida as pessoas para conversar, só ele fala e transparece uma auto-suficiência fora do normal. Sabe tudo e dispensa a opinião alheia. Essa postura tolhe a oportunidade de sentir a atmosfera de insatisfação que o rodeia, interna e externamente. Exemplo disso são as baixas na equipe. O desconforto já levou secretários a entregarem as pastas e, pessoas outras, uma vez convidadas, declinarem.

MUDANÇAS


Sexta-feira à tarde, no Auditório dos Servidores Municipais, ocorreu a posse da secretaria interina da Educação, Aurineide Aguiar. O ex-secretário Avelar, cujas reais razões de saída ainda são desconhecidas, evitou comparecer. Mauro Soares, o vice-prefeito que tem se desdobrado em contornar deslizes do Prefeito, assumiu mais um pepino: a Secretaria de Administração. Cabo Chico, o antecessor, foi cuidar das Relações Institucionais. E João de Deus, como já foi dito, vestiu a camisa de titular de Esportes.

ACADEMIA

A Academia de Letras de Crateús esteve reunida no domingo passado. Assuntos relevantes, como a sede do sodalício e a biblioteca Norberto Ferreira Filho (Ferreirinha), dominaram a pauta. A notícia de que o projeto de reconstrução da praça da estação contempla a demolição da biblioteca causou estupefação. Ora, é simplesmente injustificável destruir a única biblioteca pública da cidade. Uma comissão foi composta para levar ao Executivo Municipal posição da Academia municipal de letras: evitar que esse desatino se concretize. E mais: sugerir que a Prefeitura passe a observar o ditame legal da participação popular no debate dos temas mais importantes da comuna.


PARA REFLETIR

“Melhor é prevenir do que remediar, e é prevenindo, muitas vezes, que deste lugar se prestam os melhores serviços ao país. Vem o abuso amostrando a ponta da unha, dá-lhe o jornalista em cima com o bom senso, ou a lei, e ei-lo que recolhe incontinente a garra. Surde o erro a furta-passo, tenteando a coragem de assoalhar-se francamente; mas a imprensa, que o pressentiu, dá-lhe o rebate da censura, que o espera, e já não há mais que o recear. É uma das suas maiores utilidades esta função preventiva da imprensa”. (Rui Barbosa)

(Por Júnior Bonfim - publicado na edição de hoje do Jornal Gazeta do Centro Oeste, Crateús, Ceará)

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