"NÃO SOU DEUS, MAS POSSO SER"
De um cantador das feiras do interior do nordeste arrematando o mote "Não sou Deus, mas posso ser", respondendo ao rival:
"O ano tem doze mês,
O dinheiro é quem faz guerra
Adão foi feito de terra,
Não se morre duas vez;
Um Reinaldo com dois reis
Não houve nem há de haver,
O homem não tem poder
De fazer outro feliz
Como é que este bruto diz:
Não sou Deus, mas posso ser?"
MÃO CHEINHA
Mão Cheinha era louco e muito querido no Ceará, conta Sebastião Nery. Um dia, levaram-no para o Sanatório Meduna, no Piauí. Mão Cheinha, muito vivo, acabou virando louco-chefe. Tomava conta dos outros e era respeitado por isso. No sanatório, havia um pé de mangueira que nunca dava fruta. Mão Cheinha achava que a mangueira tinha de produzir manga. Chamou oito loucos:
- Olha, minha gente, vocês todos são mangas maduras. Vão lá para cima. Quando eu gritar, as mangas vão caindo, porque manga madura cai. Manga madura sempre cai. Uma a uma. E chispem. Subam.
Os oito subiram. Mão Cheinha, de baixo do pé de mangueira, gritou:
- Manga um!
Pluf! O primeiro louco se esborrachou no chão aos gritos de "ai, ai, ai".
- Manga dois! Manga três! Manga quatro!
Iam se largando lá de cima e arrebentando-se cá embaixo. Gritos e mais gritos. O louco-chefe mandou:
- Manga sete!
Nada.
- Manga sete!
Nada.
- Manga sete, seu p...!
O sete respondeu:
- Mão Cheinha, chama manga oito, pois eu ainda estou verde!
A GRANDE DÚVIDA
A pergunta é recorrente: quem é o melhor candidato da oposição – José Serra ou Aécio Neves? Pois bem, responderei, antes dizendo que a análise leva em conta fatores e vetores da política, não preferências pessoais. Vejam. O ciclo Lula fará o possível para não perder as chances de eleger a(o) sucessora(or) do mandatário petista. Para tanto, fez e faz uma política voltada para preencher todos os espaços da pirâmide social. Demandas do A ao Z estão sendo preenchidas.
OS TIJOLOS DA PIRÂMIDE
Lula tem sido um mestre na arte de tapar buracos. Basta conferir. Bolsa Família (12 milhões de famílias), 46 milhões de brasileiros; Luz para Todos; Pronaf (Agricultura familiar), com 16 bilhões; Minha Casa, Minha Vida; redução do IPI para a linha branca e automóveis (subindo os degraus da pirâmide); auxílio bolsa estagiário; ProUni; Pré-Sal (simbolismo de Brasil Potência, auto-estima dos brasileiros); propaganda farta; máquina engordada com milhares de petistas em postos-chave da administração; Fundos de Pensão (só Previ dispõe de 200 cargos nas maiores empresas do país); Centrais Sindicais com os cofres cheios (R$ 116 milhões distribuídos só este ano); PAC, mesmo pobre de obras, mas com pulverização de serviços nas unidades federativas etc.
PLEBISCITO
Nunca na minha vida de consultor político, assisti a tamanha utilização e manipulação da máquina do Estado a serviço de um projeto eleitoral. O ciclo Lula vai querer – e não porque achar que não conseguirá – fazer a comparação entre os 8 anos de FHC e a era de prosperidade desenvolvida pelo lulopetismo. O eleitor decide sob a pressão do bolso, mais que sob a emoção. Pensará antes de dar seu voto: estou bem, prezo e defendo minha situação ou quero mudar? Essa pergunta será forte no ânimo eleitoral.
E O MENSALÃO?
Não haverá mensalão ou episódio de corrupção capaz de empanar os feitos do ciclo lulista. Até porque acho que o senador Eduardo Azeredo será inserido nas margens da crise do mensalão. Sob essa moldura, acho a eleição do governador paulista para presidente da República bastante difícil. Ao contrário, não tenho receio de dizer que a eleição estadual seria para José Serra um vôo tranqüilo; a eleição federal, um vôo muito arriscado.
QUEDA E SUBIDA
José Serra tende a cair nas pesquisas, até porque, hoje, seu alto índice de intenção de voto – que beira os 40% – reflete recall da alta visibilidade, de ontem e de hoje. E índice de recall não pode ser considerado seguro. Em uma campanha, valerá o índice da exposição e dos programas apresentados. Sempre pinço o exemplo de Gilberto Kassab. Como se recorda, ele, quando candidato, começou com 4%. Em abril de 2008, patinava baixo. Ganhou a campanha.
AÉCIO SOBE
Diante dessa moldura – ligeira, é claro – aconselho os leitores a uma reflexão. Aécio Neves não tem o que perder. Serra tem e muito. Se perder a campanha presidencial, encerra a carreira. A idade atrapalharia nova jornada. Aécio Neves poderia ser o candidato tucano, até porque tem o segundo colégio eleitoral do país nas mãos, o terceiro lhe seria simpático (Rio de Janeiro) e o nordeste poderia contar com um candidato que tem um pedaço do Estado sob o solo nordestino (o norte de Minas, Montes Claros está sob a égide da SUDENE).
MELHORES CHANCES
Por essa razão, vou à conclusão. O governador mineiro reúne o maior conjunto de fatores, condições e potenciais de crescimento. Quebraria a polarização entre os ciclos Lula e FHC. Racharia o PMDB de modo mais contundente como hoje o partido se apresenta. Já José Serra, pelo bom governo que realiza, teria condições efetivas de obter consagradora votação em São Paulo como candidato à reeleição. O momento da decisão não é agora. Pode ser que o quadro mude. E mude, até, a favor do governador paulista, de modo a destruir argumentos e posicionamentos que expressei acima.
HERMES, O BURRO
Depois de Nilo Peçanha, assume o governo o marechal Hermes da Fonseca (1910/1914). Levava fama de burro. Conta-se que nos 10 meses em que, sob o governo Hermes, o país viveu em estado de sítio, a Polícia proibiu que o jogo do bicho aceitasse palpite no burro. O burro poderia ser alusão ao marechal. Quem se der à tarefa de pesquisar os jornais da época, vai encontrar palpites nos outros 24 bichos da série, menos no burro.
1 MILHÃO DE EMPREGOS?
O ministro do Trabalho, Carlos Lupi, anuncia com estardalhaço: o país criou um milhão de empregos. Nota triste de pano de fundo: nunca na história deste país, as relações do trabalho foram tão manietadas por uma gestão fechada, sob a égide de sindicatos e Centrais Sindicais que se movem à pecúnia.
DIANTEIRA
José Serra tomou decisão avançada. Assinou lei que estabelece como meta reduzir 20% da emissão de gases de efeito estufa em SP até 2020. Tomou a dianteira. Foi ousado. Serra tem dado bons exemplos.
ABANANDO A CABEÇA
Churchill estava sentado, sacudindo a cabeça de maneira tão vigorosa e perturbadora que o orador gritou exasperado:
- Quero lembrar ao nobre colega que estou apenas exprimindo minha própria opinião.
Churchill, raposa matreira, respondeu:
- E eu quero lembrar ao nobre orador que estou apenas abanando a minha própria cabeça.
QUADRO PAULISTA
Se José Serra não for o candidato à reeleição, em São Paulo, é mais provável que a vaga fique com Geraldo Alckmin. O ex-governador não é o candidato in pectore de Serra e de Kassab. Ambos, porém, são realistas. Se Geraldo for o perfil a sinalizar melhores condições de vitória, será ele o candidato. Aloysio Nunes Ferreira, o chefe da Casa Civil, poderia voltar à Câmara Federal. O vice de Alckmin caberia ao DEM e este, por sua vez, gostaria de indicar Guilherme Afif para compor a chapa.
CIRO UNE BASE
Da base oposicionista, em São Paulo, Ciro Gomes acena com o apoio do PT, PDT, PSB, PSL, PSC, PRB, PTN e PC do B. Por enquanto. Poderia agregar, ainda, PR, PP e parte do PTB. Ciro quer ser candidato ao governo e à presidência. A decisão será de Lula.
POVO É POVO
Alcides Carneiro veio ao Rio, procurou o coronel Massa, sogro do escritor José Lins do Rego, que foi chefe de Polícia na Paraíba e agora era senador.
- Sou apenas um jovem advogado. Mas, se o senhor me permite, acho que o senhor precisa dar um pouco mais de atenção ao povo.
- Ora, meu filho, esse negócio de povo ninguém entende mais do que eu. Povo só é povo quando é povo. Povo que não é povo não é povo.
QUÉRCIA E MICHEL
Orestes Quércia imagina que, até a convenção do PMDB, em junho, poderá reverter a atual tendência do partido na direção de uma aliança com a candidata do petismo/lulismo: Dilma Rousseff. Olhando para a frente, a leitura aponta para o fortalecimento da ministra da Casa Civil e consequente maior conjunto de forças a seu favor. Quércia, por exemplo, tem cerca de 60% dos convencionais de São Paulo contra 40% de Michel Temer. Daqui para a convenção, poderá, até, vir a perder a maioria em seu colégio eleitoral.
JUNG E O REI AFRICANO
Jung perguntou, uma vez, a um rei africano:
- Qual é a diferença entre o bem e o mal?
O rei meditou, meditou e respondeu às gargalhadas:
- Quando roubo as mulheres do meu inimigo, isso é bom. E quando ele rouba as minhas, isso é muito ruim.
SKAF VAI DE QUÊ?
Dúvida cruel: o presidente da FIESP, Paulo Skaf, vai de quê? De táxi, como candidato a deputado federal pelo PSB, ou de AeroSkaf, como candidato ao governo? O transporte dependerá de Ciro Gomes. Que, por sua vez, dependerá de Aécio Neves. Que, por sua vez, dependerá de José Serra. Que, por sua vez, dependerá do imponderável.
A LOIRA DA MINISSAIA
Geisy Villa Nova Arruda, 20 anos, estudante de turismo, é o pivô do caso mais estrambótico da história recente da discriminação no país. Mostrou as pernas, atiçou a turba, foi agredida e, pasmem, acabou sendo expulsa da Universidade por um dinossaurico reitor. Que mais parece réplica do Torquemada da Inquisição. E que, após muita pressão da Opinião Pública, recuou da decisão. A moça da minissaia abriu intensa polêmica. O affaire merece ligeira reflexão. Se fosse um marmanjo de cuecas, seria apupado? Se a galera aprecia pernas bonitas, por que o massacre? Não deveria ser aplaudida como em um desfile na passarela?
ELIAS CANETTI E A MASSA
Valho-me de Elias Canetti, o grande escritor e sociólogo, para buscar razões para a agressão. Pincemos características da turba. Massa exaltada. Que quer descarregar. Na descarga, diz Canetti, todas as separações são colocadas de lado. Todos se sentem iguais. Para atacar. Ferir. Apupar. Emerge um impulso de destruição. Que assume a forma de um ataque a todos os limites. A massa quer crescer. Até o infinito. O apupo se expande. O estado primitivo da massa chama a atenção. É o fogo da massa. A massa que incendeia julga-se irresistível. Tudo vai se incorporando a ela enquanto o fogo – o apupo – avança. A massa de fogo se expande. Sem limites.
GETÚLIO, EU FICO
Getúlio Vargas sempre conservou intenções continuístas. Um dia, foram procurá-lo para saber se era verdade. E ele:
- Não, meu candidato é o Eurico (marechal Eurico Gaspar Dutra); mas se houver oportunidade, eu mudo uma letra: Eu Fico.
CONSELHO A JOSÉ SERRA
Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na edição passada, o espaço foi destinado à ministra Dilma. Hoje, volta sua atenção ao governador do Estado de São Paulo, José Serra:
1. Avalie com muita acuidade os potenciais de cada perfil, a partir do seu, alinhando os ouvidos com fatores positivos e negativos, sem considerar o palavrório farto dos áulicos.
2. Sua candidatura à reeleição é um pássaro na mão; a candidatura à presidência da República, em 2010, são dois pássaros voando.
3. Seja realista. O risco é maior se deixar para a última hora – maio/junho – a decisão de se candidatar. Dezembro/janeiro seria um tempo mais que suficiente.
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(Por Gaudêncio Torquato)
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