Na campanha eleitoral de 1990, Manoel Veras e Sérgio Moraes polarizavam, no município de Crateús, a disputa por uma vaga à Assembléia Legislativa. Amigo de ambos, José Pereira de Sousa, o “Pereirinha”, figura leve e descontraída, encontrou uma solução para agradar os dois lados. Colocou em cada um dos bolsos os “santinhos” (fotos) dos dois candidatos. Quando encontrava partidários de Manoel Veras, ressaltava que era amigo de infância do candidato e puxava do bolso direito a foto de Veras. Ao se deparar com militantes de Sérgio, exaltava as virtudes do postulante e sacava do bolso esquerdo o ‘santinho’ do pleiteante. Certo dia, ao passar defronte à barbearia do senhor Joãozinho Freire, avistou Sérgio Moraes, que fazia a barba. Aproximou-se. Sabendo das peripécias de Pereira, Sérgio indagou incisivamente: - ‘E aí, Pereirinha, você está comigo mesmo?’ Nervoso, Pereirinha pôs a mão no bolso errado e respondeu, exibindo – sem se dar conta - a foto de Manoel Veras: - ‘Claro, meu chefe, inclusive ando sempre com o seu retrato prá fazer a propaganda’.
MUITOS NOMES
O Prefeito de Crateús, quiçá pensando no melhor para a sua gestão, laborou um gesto de sagacidade política que pode lhe trazer complicações: prometeu, para o pleito de 2010, apoio a vários candidatos a deputado federal diferentes. João Ananias está crente que será o nome oficial, ou seja, o mais votado no município. José Guimarães sonha sair de Crateús com algo em torno de dez mil votos. O comunista histórico Chico Lopes imagina que seu quinhão está assegurado. Gorete Pereira, pelas emendas que disponibilizou, está ciente que receberá uma resposta à altura dos ‘empenhos’ (em seu duplo sentido). Lúcio Alcântara, de quem o Prefeito sempre se disse ‘amigo’, acionou o filho Léo para viabilizar obras cuja contrapartida está apalavrada em retorno eleitoral. Como na política é difícil se agradar a vários senhores ao mesmo tempo, essa estratégia precisa ser reavaliada.
CÂMARA
Exemplo de quão complexa é a teia das articulações políticas foi o que ocorreu na Câmara Municipal. Visando obter maioria folgada, o Chefe do Executivo encetou um acerto político com um setor do PMDB local. Passou a contar com o voto de mais dois vereadores (Paulo Teles e Eudes) na sua pilastra de apoio. Resultado: dois integrantes de sua base original (Betinha e Nego do Bento) se rebelaram e se uniram aos três da oposição. No placar - como o Presidente só vota em caso de desempate ou em alguns casos de maioria qualificada – o resultado é cinco a quatro. Ou seja, trocou seis por meia dúzia.
ADMINISTRAÇÃO
Se o terreno político está minado por essas escaramuças, o pátio administrativo começa a reagir. Várias obras foram anunciadas como forma de reação ao desgaste. Os governos federal e estadual, de olho na refrega eleitoral vindoura, estão sendo generosos na liberação de recursos. E isso beneficiará, indubitavelmente, a Administração Municipal. Porém, o Município, para viabilizar a maioria dessas obras, tem que exibir contrapartida financeira. Ou seja, terá que comprovar dinheiro em caixa. E aí esbarra em outro inconveniente: disponibilidade financeira. Há muito tempo a Prefeitura sofre as agruras de viver sob o signo do aperto. As despesas crescem de maneira inversamente proporcional às receitas. Ao invés de tomar medidas corretivas e estancar essa crônica situação, a atual gestão a agravou. Alargou o já imenso ralo maior das despesas com pessoal, superando inclusive o limite legal estabelecido pela Lei de Responsabilidade Fiscal. Subiu, também, o volume de despesas correntes. Resultado: o déficit financeiro só aumenta. Segundo os balancetes, apenas com despesas empenhadas, a Prefeitura já registra um passivo superior a cinco milhões de reais.
A OPORTUNIDADE
Respaldado pelo maior tapete de apoio e entusiasmo popular que um candidato já obteve no município, o Prefeito assumiu as rédeas da Prefeitura com a faca e o queijo na mão. Soltou a faca e menosprezou o queijo. O sentimento generalizado que o levou à vitória sinalizava para uma alteração substantiva na forma de fazer política e, em especial, de gerenciar a coisa pública. Cansado das velhas práticas, o povo enxergou em Carlos Felipe o nome capaz de liderar uma revolução nos costumes políticos e na forma de administrar. E o que fez o Prefeito eleito, então? Ao invés de convocar a população para o grande debate e elaborar uma agenda agregadora sobre o essencial à municipalidade, enveredou pelo mesmo caminho que tanto criticou: reativou a roda da barganha política e repetiu os equívocos administrativos anteriores. Perdeu a oportunidade inicial. Como a esperança é imorredoura, espera-se que, ao cabo deste primeiro ano, seja feita uma auto-avaliação sincera e a rota, alterada.
NENEN
Por conta dos problemas acima e, sobretudo, porque inexiste um nome local competitivo, Nenen Coelho caminha célere para repetir ou superar a mesma vultosa votação para Deputado Estadual que obteve na eleição passada. Político habilidoso e disposto, Nenen, que já penetra com facilidade nas camadas populares, começa a fazer uma inflexão junto aos setores de classe média e à massa crítica do município, que sempre lhe foi hostil. Prova disso foi a sua presença, quinta-feira passada (05 de novembro), na solenidade de colação de grau das turmas da FAEC - Faculdade de Educação de Crateús. Ante um auditório superlotado, instou o Reitor da UECE, professor Araripe, a anunciar que estava destinando, através da sua cota de emenda individual, R$ 200.000,00 (duzentos mil reais) para a FAEC. Foi ovacionado.
ACADEMIA
A Academia de Letras de Crateús (ALC) começa a saborear os primeiros frutos do seu trabalho. Inaugurou, no começo do mês, a sua página na internet: http://academiadeletrasdecrateus.blogspot.com/. Na reunião passada, deliberou que iria lutar com todas as forças para evitar a demolição da Biblioteca Pública Municipal Norberto Ferreira Filho (Ver Crônica ao lado). Na noite de sexta-feira (06.11), o acadêmico Lourival Veras recebeu uma ligação do vice-prefeito, Dr. Mauro Soares, comunicando que a administração municipal havia entrado em contato com o engenheiro responsável pelo projeto de reforma da Praça dos Pirulitos para que fosse suspensa a idéia de demolição da Biblioteca Municipal. Segundo o Vice-Prefeito, aquele prédio será preservado. Lourival credita esta vitória à Academia e aos esforços da família Norberto Ferreira.
PARA REFLETIR
"No Egito, as bibliotecas eram chamadas 'Tesouro dos remédios da alma'. De fato é nelas que se cura a ignorância, a mais perigosa das enfermidades e a origem de todas as outras." (Jacques-Bénigne Bossuet)
(Por Júnior Bonfim - na edição de hoje do Jornal Gazeta do Centro-Oeste)
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