quarta-feira, 3 de março de 2010

CONJUNTURA NACIONAL

HISTORINHA DA PARAÍBA

Aloísio Campos foi candidato a senador três vezes e três vezes foi derrotado por Ruy Carneiro. Em 66, o governador João Agripino encarregou Ivan Machado e Osvaldo Trigueiro do Vale de coordenarem a campanha de Aloísio na capital. Já no fim, planejaram uma grande concentração popular no bairro da Torre, onde o candidato faria o pronunciamento final. Ivan e Osvaldo desdobraram-se. No dia, nove da noite, João Agripino e Aloísio dirigiram-se para o bairro da Torre. Uma decepção. Palanque, luzes, escola de samba, tudo lá, mas povo quase nenhum. Aloísio mandou chamar Osvaldo:

- Tudo bem, Osvaldo?

- Tudo bem, senador. Tudo arrumado, como o senhor mandou.

- Mas, e o povo, Osvaldo?

- Ora, doutor, eu consegui escola de samba, armei o palanque, fiz iluminação, preparei a lista de oradores. Agora, se ainda tivesse de trazer o povo, o candidato era eu.

Não houve comício. Nem voto para Aloísio. Historinha contada por Sebastião Nery.

DILMA DECOLOU

Quem acompanha esta coluna não teve surpresas. Dilma Rousseff decolou nas pesquisas. Alcançou 28% no Datafolha, que é um instituto de grande credibilidade. Encostou em Serra. Claro, ela faz campanha há mais de um ano. Serra, até hoje, mostra-se indefinido. Apesar de sabermos que o governador de SP já não tem condições de abortar seu avião, que já decolou. Serra caiu 5 pontos. E pode-se esperar mais ainda : na próxima pesquisa, Dilma estará colada em Serra, se não já ultrapassando a marca dos 35%.

EIXOS DE DILMA

Previ essa situação há um bom tempo. E cheguei até a escrever, no domingo passado, sobre as potencialidades da ministra chefe da Casa Civil. Meu artigo no Estadão levantava as quatro abordagens que formam a identidade de Dilma: a técnica, a política, a feminina e a histórica. A identidade técnica canibaliza a identidade política. Por isso, se ela ganhar a eleição precisará de um forte articulador político, tipo Michel Temer, por exemplo. Mas a identidade técnica será vantajosa no que diz respeito ao comando da máquina. Impõe autoridade. Ou seja, não admitirá monitoramento/patrulhamento do PT.

"A melhor maneira de fazer entrar um cidadão na ordem – é fazê-lo entrar no cemitério." (Eça de Queirós)

MULHER E GUERRILHEIRA

O fato de ser mulher não atrapalhará. As mulheres conquistaram a simpatia dos eleitores. Há mulheres na política por toda a parte. Empresárias, prefeitas, vereadoras, deputadas estaduais e federais e senadoras. Há mulheres presidentes, inclusive aqui pertinho. Michelle Bachelet, que deixa agora a presidência do Chile, e Cristina Kirchner, na Argentina. Dilma, aliás, tem um perfil de gerentona, mandona, exprimindo até certa arrogância. Por isso, o eixo histórico ainda é lembrado. Fosse mais suave, a história da guerrilheira seria apenas mera curiosidade. De qualquer maneira, não afetará sua campanha.

LULA, O GRANDE ELEITOR

O fato é que Dilma já é tão conhecida quanto Serra. E, na pesquisa espontânea, atinge um índice maior do que o do governador paulista. Isso é importante. Outro índice que deve estar causando perplexidade é o da rejeição. Serra aumentou em 5 pontos percentuais a rejeição. Chegou aos 26%. Dilma tem rejeição menor. Olhem para esse dado. Pode ser o calcanhar de Aquiles do candidato. O que de fato aconteceu?

CAMPANHA MACIÇA

Ora, Dilma corre o país com Lula subindo em palanques, abraçando o povo, inaugurando obras. Serra encastela-se no Palácio dos Bandeirantes. Vai, vez ou outra, a um Estado. Mas é paft-puft. Passa pouco tempo. Não esquenta os climas ambientais. Serra se acha o máximo. É o dono da perfeição. Só ouve o que sua boca fala. Deve, agora, ter tomado um grande susto. As más línguas dizem que vai anunciar a candidatura dia 1º de abril. Dia da Mentira. Dilma, enquanto isso, continuará navegando pelas ondas dos pacotes assistencialistas de Lula.

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Seu Lunga, apertando o botão do elevador, passa um mané.

- Seu Lunga, esperando o elevador?

E ele:

- Não... tô esperando que o apartamento desça.

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LÓGICA GANHA CAMPANHA?

A lógica dá vitória no pleito de outubro a Dilma Rousseff. Os mais de 20 programas que Lula implantou para "comprar" - cooptar - as bases da pirâmide, o meio e o topo, não podem ser desprezados. O Bolsa Família agarra 46 milhões de brasileiros. Outros milhões estão cobertos pelos Programas Luz Para Todos; Minha Casa, Minha Vida; assistência aos pequenos agricultores; isenções fiscais para carros, geladeiras e fogões (a festa da cozinha dos pobres); auxílio estudante; cotas e, agora, a campanha do Pré-Sal, que eleva a auto-estima com essa ideia de potência petrolífera. Essa é a lógica que poderá dar a Dilma uma grande vitória.

"Uma onça de paz vale mais que uma libra de vitória." (Machado de Assis)

BOLSO E ESTÔMAGO

Tenho dito e repetido. Quem ganha uma campanha é o eleitor influenciado pelo estômago. E o estômago é alimentado pelo bolso. Quanto mais grana no bolso, mais barriga cheia. Pois eu acho que as barrigas dos brasileiros estão cheias. Não vejo calamidade social. Comércio cheio, shoppings centers estourando de gente, supermercados bombando, economia inflada. Ora, essa moldura social e econômica favorece a candidata governista. O que Serra poderá fazer para desconstruir esse tecido?

SE FICAR O BICHO PEGA

Se Serra disser que as coisas estão indo mal, perderá. O eleitor sabe que não é bem assim. Por isso, o discurso sobre as ruindades deve ser seletivo. Escolher alvos. Por exemplo, em matéria de saúde pública, o governo Lula vai mal. Em matéria de segurança social, o país não vai bem. A criminalidade assola. Em matéria de educação, apesar do grande esforço do ministro Fernando Haddad, as coisas caminham de maneira capenga. Se o governador paulista se concentrar em alguns focos, acertará. Mas a comparação entre a era Lula e o ciclo FHC dará vantagem ao primeiro. Por isso, o bicho vai pegar para Serra.

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Um velho amigo de Seu Lunga, depois de muito tempo, o encontra e logo faz aquela alegria:

- Luuungaaa! Quanto tempo...! Por onde você tem andado?

Responde ele com sua delicadeza:

- Pelo chão! Num aprendi a voar ainda!

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E SE CORRER O BICHO COME

Se José da Mooca, aliás Serra, disser que não vai mudar mas vai melhorar, precisará de criatividade para se expressar. Como fazer isso? Melhorar é um verbo muito abstrato. Genérico. Genérico que funciona é remédio, o qual, aliás, nasceu na gestão Serra no Ministério da Saúde. O governador paulista é considerado, ainda, uma pessoa arredia aos interesses de outras regiões. A cara dele é a projeção de SP, razão pela qual carece de um banho nas periferias do país.

CIRO VAI OU VEM?

Já não tenho paciência para interpretar os movimentos de Ciro Gomes. Uma hora, o pindacearense diz que vai. Desfralda sua candidatura ao Palácio do Planalto. Outra hora, premido pelas circunstâncias, e agora acuado pela pesquisa que mostra a autosuficiência de Dilma, Ciro sinaliza que pode vir. Desfralda, então, a bandeira da candidatura ao governo de SP. Será uma campanha contundente. Pegará pesado contra o candidato tucano, possivelmente Geraldo Alckmin. Mas fará o jogo de Lula, que é o de abrir palanque forte para Dilma em SP.

AÉCIO, VICE? NÃO APOSTEM

Aécio Neves está comemorando os 100 anos do avô Tancredo. MG embandeirada. Em festa. Sorriso de Juscelino. Cara de Tancredo pelas ruas. Aécio surge como chefe, herdeiro do espólio político. Sob essa moldura, não dá para apostar em Aécio na segundona. Como vice. Neves fora da chapa de Serra. Aécio dentro do pleito para o Senado. Quer eleger Anastasia governador. Será possível. Eleito senador, elege-se presidente do Senado, ganha status. E será candidato na próxima eleição. Em um cenário ainda dominado pelas bandeiras vermelhas do PT.

"O abdômen é a expressão mais positiva da gravidade humana." (Machado de Assis)

PMDB INDICARÁ VICE?

Tudo indica que o PMDB indicará o vice na chapa de Dilma. É claro que algumas alas petistas temem a aliança com um PMDB forte. Lula, até, pode não desejar que Michel Temer seja o vice de Dilma. Receia que o presidente do PMDB e da Câmara, passando a morar no Palácio do Jaburu, passe a ser um vice-presidente de peso. Recebendo caravanas de políticos. Michel, no entanto, por seu perfil cordato, não cometeria o deslize de fazer um governo paralelo como temem alguns petistas. Há de considerar, ainda, que se Dilma ganhar vai precisar do apoio do PMDB. E se o PMDB não indicar o vice, será que entregará este apoio com tanta facilidade? Mesmo com ministérios e cargos postos à disposição do partido?

Os vícios do poder

"Os vícios do poder são fundamentalmente quatro: atrasos, corrupção, brutalidade e fraqueza. Para evitar atraso dá facilmente acesso, cumpre os prazos fixados, não deixes de concluir o processo que te chegou às mãos, e não mistures negócios senão por necessidade. Para evitar a corrupção, não basta que prendas as tuas mãos e as dos teus servidores para que não tomem o alheio, mas prende também as dos solicitadores para que nada possam oferecer. Procede com integridade para com os primeiros; mas integridade declarada, e com manifesta repulsa pelo suborno quando se tratar dos outros; não evites somente a falta, mas também a suspeita." (Francis Bacon)

DEM AOS PEDAÇOS

O DEM está despedaçado. Os quadros que sobrarão de um partido em crise procurarão recompor as bases do edifício DEMolido. Paulo Bornhausen, líder na Câmara; Zé Agripino, líder no senado; Demóstenes Torres, Ronaldo Caiado e mais um grupo de 8 a 10 farão esforço extraordinário para reacender as luzes partidárias. Apagadas pelo Arrudagate.

KASSAB E AS CHUVAS

Kassab é a grande esperança do partido. Para resgatar a imagem, terá de enxotar as chuvas e reabrir canais de simpatia com a sociedade. Ele perambula pelos bairros periféricos. Tem dado grande ajuda aos desvalidos. Chuvas e enchentes batem em SP há mais de dois meses. Continuarão a fustigar a cidade até abril. Este ano, a natureza apresenta sua fatura. Serra também sofre as consequências do clima. A capital fica enervada. Congestionamentos. Nervosismo por todos os lados. Imprecações. Votos contrários.

CONSELHO A JOSÉ SERRA

Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos juízes de primeira instância. Hoje, volta sua atenção ao governador José Serra:

1. Diga logo, logo, que será o candidato do PSDB. Apresse esse anúncio.

2. Mesmo antes da campanha começar, não tenha receio em correr o país para abrir campos de visibilidade, viabilizar acordos e firmar alianças.

3. Junte um repertório de pessoas de alta capacidade técnica em todos os campos de atividade. Convoque-as e peça a elas um programa de alta envergadura para o Brasil.

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* Gaudêncio Torquato

Um comentário:

lb disse...

Lei de Chico de Brito


Por Francisco Cartaxo

Escutei inúmeras vezes minha mãe e suas três irmãs relatarem, entre muxoxos e longos silêncios, as perseguições sofridas por meu avô, José Joaquim de Brito, pelos cabras do padre Cícero. A memória guardou este episódio impressionante. Para não ser aprisionado ou morto, meu avô materno escondera-se no mato próximo à casa grande onde morava e só regressava altas horas da noite, após certificar-se de que não havia estranhos na redondeza. A comida era levada pela filha mais velha, então menina-moça, que recebia da mãe a recomendação de dizer, se indagada, que o pai viajara para Fortaleza. Aliás, resposta verossímil, pois era sua rotina como negociante em Várzea Alegre, no início do século 20. A cena aqui resumida com frieza era narrada com emoção nas cores do medo, da ansiedade, da inquietação dominante numa família de fazendeiro/comerciante de porte médio. Apolítico, assegurava repetidas vezes minha mãe, sempre que eu queria conhecer as causas da perseguição a meu avô. O máximo que extraia das quatro irmãs era um “quem não era fanático do padre Cícero virava inimigo” e como tal sujeitava-se a toda sorte de molestamento.

José Joaquim de Brito, meu avô, se transferiu de Várzea Alegre para São João do Rio do Peixe “forçado a mudar de terra, em face das perseguições que sofreu após a vitória da Sedição de Juazeiro, em 1.914”, como registra o estudo genealógico de Mozart Soriano Aderaldo “Rolins, Cartaxos e Afins”, (Fortaleza, 1960). Nas leituras que faço de livros, ensaios, artigos e crônicas a respeito da história cearense, tento identificar um mínimo traço, por mais tênue que seja, da tragédia que se abateu sobre a família de minha mãe, obrigada a migrar para lugares estranhos, deixando os negócios de gado e comércio ao Deus dará.

Por que, sem envolvimento político explícito, teria José Joaquim de Brito pago tão elevado preço? Seria função do sobrenome? Explico. Reza a tradição oral, encampada por textos históricos, que quando o major do Exército, Franco Rabelo, assumiu o governo cearense, sob à égide salvacionista do marechal Hermes da Fonseca, os chefes políticos da oposição à mais longa oligarquia cearense, chefiada por Nogueira Accioly, passaram a tomar o poder local na marra. Assim fez no Crato o coronel Francisco José de Brito (Chico de Brito), desalojando da prefeitura o coronel Antônio Luiz Alves Pequeno. Na ocasião, teria havido entre os dois coronéis o seguinte diálogo:
Desocupe o cargo que, de hoje em diante, quem manda aqui sou eu.
Baseado em que lei?, perguntou o coronel Antônio Luiz
Nesta aqui, ó!, respondeu Chico de Brito, apontando o revolver para o adversário.

Vem daí a famosa lei de Chico de Brito. Teria sido meu avô, José Joaquim de Brito, vítima do parentesco (real ou apenas presumido) do rancoroso coronel Chico de Brito? Ou a versão familiar, ouvida anos seguidos de minha mãe e minhas tias, era uma nuvem para encobrir as ligações políticas de meu avô? Difícil saber a verdade. Todavia, se vivas fossem, as filhas do meu avô, católicas praticantes, as quatro, estariam escandalizadas com o esforço da Igreja em reabilitar padre Cícero Romão Batista para, no futuro, torná-lo santo.