Juscelino
Abro a coluna com Juscelino
Juscelino Kubitscheck, José Maria Alkmin e Odilon Behrens saíram juntos do seminário de Diamantina. Continuaram estudando juntos, farreando juntos. Uma noite, havia uma festa na cidade com entrada paga. As namoradas precisavam comparecer. Mas eles não tinham um tostão. Alkmin resolveu o problema:
- Vamos vender a alguém uma de nossas camisas.
Encontraram o comprador, mandaram passar uma camisa de Juscelino, enrolaram, disseram que era nova, pegaram o dinheiro, foram para a festa. No dia seguinte, o comprador chegou uma fera:
- A camisa não era nova, estava gasta, rasgou logo.
Juscelino tomou a palavra:
- Meu amigo, aonde você foi?
- A um baile.
- Dançou o quê?
- Tudo. Bolero, samba.
- Então a culpa foi sua. Esta camisa é muito fina; só serve para dançar valsa.
Outra do simpático presidente:
Estudante bolsista em Paris, Juscelino Kubitschek encontrou Odilon Behrens, que chegava com as notícias de Minas. Ex-colegas no seminário de Diamantina, passaram a relembrar os companheiros:
- E o Alkmin? Nunca mais soube dele.
- Está na Penitenciária de Neves.
- Eu sabia que ele ia acabar lá.
Era Diretor.
Campanha sem emoções
O clima que envolve o pleito é morno. Não há impactos nem grandes emoções. Afora uma ou outra campanha mais acirrada, em função das peculiaridades regionais, pode-se aduzir que as eleições de outubro deste ano se inserem entre as mais tranquilas da contemporaneidade. Os motivos apontam para um conjunto de vetores: 1) economia sob controle; 2) ausência de grandes novidades; 3) modelos de campanha tradicionais; 4) saturação de embates entre tucanos e petistas (polarização); desejo de alteração nos perfis dos gestores, significando tendência para escolher caras diferentes (não necessariamente o novo); 5) mobilidade social, significando inserção de milhões de eleitores na classe média e consequente engajamento de contingentes nas frentes de defesa do consumidor.
E o mensalão não é novidade?
Pois é, o julgamento do mensalão poderia ser considerado uma boa novidade. Mas a carga negativa que o caso agrega não terá o condão de mudar a posição dos contingentes eleitorais. Ou seja, tucanos e petistas consolidarão os pontos de vista já formados. Os petistas começam a falar do mensalão tucano em MG. Um empate de cargas negativas. Parcela do eleitorado, ante a tentativa de polarização, tende a optar por uma alternativa, Russomanno, em São Paulo, por exemplo. Por isso, o uso de FHC na campanha de Serra, lembrando o mensalão, não resultará em votos. Serão poucos os eleitores que poderão mudar de voto por conta do apelo de Dilma por Haddad.
O que um escritor não vê
Lo que un escritor no ve, no ha acontecido. (Elias Canetti - Hampstead)
Campos, o mais ativo
Eduardo Campos se apresenta como o cabo eleitoral mais ativo do país. Mais do que Lula. Porque lidera os processos em que partidários do PSB avançam sobre os próprios domínios do petismo, a partir de Belo Horizonte e Recife. Tenta, a todo momento, dizer que continua afinado à Lula e à presidente Dilma. Claro, quer continuar olhando para uns e piscando para outros. Por isso, não pode e não deve se afastar de correligionários. A verdade, porém, é que o governador de PE está jogando como um ás da política. Vai posicionar seu partido em importantes territórios eleitorais. Registrará importantes passos. Com grande cacife, espera negociar com os parceiros que lhe forem mais convenientes.
Geração pós-64
Sempre lembro uma confissão que ouvi dele em uma conversa cheia de revelações em um dos eventos promovidos por João Doria em Comandatuba: "meu sonho é juntar a geração pós-64 e tomarmos os rumos do país". Entendi a mensagem não como um rompimento à velha turma, até porque ele, Eduardo, respeita muitos da velha guarda, mas como um compromisso de levar adiante um programa de reformas, que só ocorreriam sob o comando de um grupo mais jovem e sem grandes amarrações à arvore do passado.
Um homem fascinado
Un hombre que toca fascinado a cada mujer porque nunca le pertenecerá. (Elias Canetti - Hampstead)
Junto com Aécio
Será difícil uma composição entre o PSB de Campos e o PSDB de Aécio Neves. A complexidade de uma aliança desse naipe seria menor se não houvesse no meio do campo jogadores do porte de Fernando Henrique, José Serra, Geraldo Alckmin e outros assemelhados em história e fama. Mas em política, tudo é possível. Até mesmo essa aliança. Que só ganharia viabilidade se o país entrasse em profunda crise econômica, com sequelas terríveis sobre o bolso e o estômago do eleitorado. Nesse caso, a credibilidade do lulismo/petismo seria impactada. A presidente Dilma, nesse caso, também correria o risco de ser envolta no celofane cinzento da crise.
O Brasil é maior que a crise
Em outra ponta, a leitura é bastante otimista. Leva em consideração a hipótese de que, qualquer que seja o impacto de uma crise mundial sobre o país, nossa base econômica tem firmeza para aguentar os abalos, mesmo que os sismos partam de catastrófica performance da China. Perderíamos, sim, um monumental espaço consumidor - o chinês - para onde vão as nossas commodities (principalmente da área de alimentos), mas haveria outros espaços como destino de nossas riquezas. Sempre haverá barrigas para alimentar, aqui e alhures. Há lastros de riquezas e desenvolvimento em outros setores vitais de nossa economia. Portanto, a tese de que o Brasil é maior do que novas crises mundiais tem sustentação. Sob essa perspectiva, Dilma abre horizontes promissores para 2014.
A mulher em desespero
La mujer que ha conocido y sobrevivido a todos los grandes hombres. Uno de ellos se niega a morir. Su desesperación. (Elias Canetti - Hampstead)
Copo transbordando
Mesmo sob um eventual novo governo Dilma, as perspectivas indicam alterações de monta na fisionomia política. Os grandes partidos estão chegando ao ponto de quebra de seus pesos e potenciais. As velhas lideranças começam a dar sinais de esgotamento. Os modelos partidários carecem de novas vestimentas. As gestões da administração pública são questionadas. Os cidadãos, abrigados em seus núcleos de referência mais respeitada (movimentos, sindicatos, associações), exigirão serviços de maior qualidade. O Judiciário se aproxima das ruas. O Ministério Público abre a lupa por todos os espaços. A política haverá, necessariamente, de se refundir e reaparecer mais transparente e clara nos espaços da cidadania. Reformas terão que vir.
Lideranças
As campanhas seguem dentro da previsibilidade. Manuela D'Ávila (PC do B) tem boas condições de levar a melhor em Porto Alegre. Ratinho Júnior (PSC) e Luciano Ducci (PSB) estão empatados em Curitiba. Carlinhos de Almeida (PT) lidera com grande vantagem o pleito de São José dos Campos. Duarte Nogueira (PSDB) está na frente em Ribeirão Preto. Geraldo Julio (PSB) lidera em Recife. Carlos Eduardo Alves (PDT) está na frente em Natal. Marcio Lacerda (PSB), em Belo Horizonte. Tereza Jucá (PMDB), em Boa Vista. Arthur Virgílio (PSDB), em Manaus. Eduardo Paes (PMDB) está muito na frente no Rio. Luiz Paulo Vellozo Lucas (PSDB), em Vitória. Zé Maranhão e Cícero Lucena (PSDB) empatam em João Pessoa. Firmino Filho (PSDB) lidera em Teresina. Moroni Torgan (DEM), em Fortaleza. Edmilson Rodrigues (PSOL) está bem na frente em Belém. Paulo Garcia (PT), atual prefeito, lidera em Goiânia. João Alves (DEM) lidera em Aracaju. Rui Palmeira (PSDB) e Ronaldo Lessa (PDT) estão empatados em Maceió.
O empresário do ano
Otávio Azevedo (Grupo Andrade Gutierrez) foi escolhido Empresário do Ano pela Câmara Portuguesa do RJ. Trata-se de um dos mais celebrados perfis do empreendedorismo brasileiro. É um dos mais denodados defensores da aproximação entre Portugal e Brasil: "temos tentado motivar o governo português e o governo brasileiro a aproveitarem este momento para fazerem uma aproximação definitiva do ponto de vista empresarial e até legal". O Grupo AG está há 24 anos em Portugal, através da Zagope, que é 100% do grupo.
Zavascki no STF
O ministro Teori Albino Zavascki, do STJ, foi convidado pela presidente Dilma para assumir a vaga aberta com a aposentadoria de Cezar Peluso no STF. Natural de Faxinal dos Guedes/SC, tem 64 anos e está desde 2003 no STJ. Foi desembargador do TRF4. Zavascki também é professor de Direito. Alguns de seus livros : "Antecipação de Tutela"; "Processo Coletivo - Tutela de Direitos Coletivos e Tutela Coletiva de Direitos"; "Processo Coletivo e Processo de Execução : Parte Geral". Em tempo: o ministro nunca entrou em lista de possíveis nomes.
Iluminando os dias não vividos
Cuando ella se mueve velozmente a mi alrededor, se me iluminan los días no vividos. (Elias Canetti - Hampstead)
Burocracia
O excesso de burocracia prejudica a competitividade de 92% das indústrias brasileiras. A avaliação é da CNI, que divulgou duas pesquisas sobre o tema, uma envolvendo a indústria da construção e outra relativa à indústria de transformação e extrativa. No saldo geral, a Confederação aponta que além de afetar a competitividade de 92% da indústria, parcela de 850% dos industriais ouvidos considera que há um número excessivo de obrigações legais.
Marta na cultura
A senadora Marta Suplicy é a nova ministra da Cultura no lugar de Ana de Hollanda. Será que o novo cargo significa promoção? Marta é vice-presidente do Senado, onde tem oportunidade de dirigir importantes sessões. Na Cultura, circulará bastante nas rodas de badalação. Pode ser que se sinta melhor nesse espaço de corte.
Não confies em ninguém
"Quando alguém fala bem de ti, podes estar certo de que ele te escarnece. Não confies segredos a ninguém. Mesmo se frequentemente teu valor é ignorado, não te faças valer a ti mesmo, nem tampouco te desvalorizes. Os outros te espreitam e esperam teu primeiro momento de relaxamento para te julgar. Se alguém te interpela e te insulta, pensa que está pondo à prova tua virtude. Os amigos não existem, há apenas pessoas que fingem amizade". (Cardeal Mazarino - Breviário dos Políticos)
Conselho aos candidatos
Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado à presidente Dilma Rousseff. Hoje, sua atenção se volta aos candidatos:
1. A campanha entra nas semanas finais. E decisivas. É momento de dar as últimas cartadas. Urge arrematar com propostas coerentes, densas, críveis, que venham atender à demandas urgentes das comunidades.
2. Muito cuidado com campanhas negativas, recheadas de adjetivação pesada, voltadas para denegrir a imagem dos adversários.
3. As duas últimas semanas de programação eleitoral costumam expandir a audiência. O eleitorado quer tomar pé dos avanços feitos pelos candidatos, estabelecer as últimas comparações entre eles e os indecisos começam a avançar na direção de seus escolhidos.
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(Gaudêncio Torquato)
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