O genial Filgueiras Lima - cuja biografia foi recentemente lançada pelo mais fino e lúdico Leitão que a nossa região já criou, o poeta Juarez – laborou uma frase memorável: “Ensino como quem reza”.
Por dentro dessas sílabas passeia um rio de ensinamentos, um córrego de sabedoria, uma fonte de vida! Reza, aqui, imagino eu em meu modesto arrazoado, significa ter uma deliberada atitude íntima de busca de profundidade.
Se em todos os atos significativos da nossa existência recorrêssemos a essa postura litúrgica, talvez muitos equívocos fossem evitados. Temos uma indisfarçável inclinação para tomarmos decisões sem antes meditar. Imaginemos quantos enlaces matrimoniais não se desfazem por ausência de uma reflexão anterior ao ato de firmar o compromisso legal...
Algo similar ocorre com o voto. Na maioria dos casos, votamos ao sabor do vento, sem qualquer fundamentação motivacional. Depois pagamos um enorme preço, pois “somos livres para escolher, mas escravos das conseqüências”.
Não raro vemos as pessoas esbravejando contra os que escolheram como representantes. Em regra, costumamos transferir para os outros o quinhão de culpa que é nosso. No entanto, quem de nós já parou, sincera e demoradamente, para refletir desapaixonadamente em quem vai votar? E, sobremaneira, as razões desse voto?
Pouco tempo nos separa do momento cerimonial do voto. Adentremos à urna conscientes de que estamos realizando uma tarefa cívica de grande envergadura.
No dia da eleição, lembremo-nos de um conselho antigo, mas muito atual, lançado por Rui Barbosa:
"Destranquemos as portas. Escancaremos as janelas. Vasculhemos os tetos, os vãos, as frinchas, as luras. Não poupemos o ácido fênico, a creolina, o formol. Renovemos o ar. Enxotemos os bichos. Sacudamos o mofo. Acabemos com o bafio. Introduzamos a luz. Chamemos a higiene".
Ou, para quem gosta de algo mais recente, da lição de Walter Franco, na música Serra do Luar:
“Viver é afinar o instrumento/ de dentro pra fora/ de fora pra dentro/ a toda hora, a todo momento/ de dentro pra fora/ de fora pra dentro./ Tudo é uma questão de manter/ a mente quieta/ a espinha ereta/ e o coração tranqüilo”.
Tenhamos com o voto o mesmo respeito e carinho que temos – ou deveríamos ter – com a vida! Ele é essencial à nossa existência!
(Júnior Bonfim, em Amores e Clamores da Cidade)
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