quarta-feira, 10 de outubro de 2012

CONJUNTURA NACIONAL

Falem com o Cráudio

Ex-governador de Minas e ex-vice-presidente da República no período do general João Baptista de Figueiredo, último do regime militar, o mineiro Aureliano Chaves lançou sua candidatura à presidência da República na primeira eleição direta depois da ditadura, em 1989, pelo PFL. Em suas andanças por SP, visitou a sede de um grande jornal acompanhado do presidente do partido em São Paulo, Cláudio Lembo, que era seu candidato a vice-presidente. Mas a hora passou depressa, o motorista veio buscá-lo para levar ao aeroporto e, na despedida aos editores, falou alto e bom som no seu mineirês arrastado:

- Bom, gente, eu to indo. Qualquer coisa, falem aí com o Cráudio...

Lembo percebeu a estupefação dos editores e emendou:

- Sabem como é, doutor Aureliano é um homem muito simples...

Aureliano ficou em nono lugar naquele pleito que elegeu Collor de Mello. (Quem conta a historinha é Luciano Ornelas)

A campanha mais racional

Há muito a comemorar na esfera político-eleitoral-cívica. A campanha eleitoral foi a mais racional da contemporaneidade. Vimos um eleitor atento, acompanhando a cena, ouvindo os candidatos, fazendo comparações entre perfis e até mudando de posições. O voto, como sempre tenho lembrado, cada vez mais sai do coração para se fixar na cabeça. O eleitor emotivo dá vez ao eleitor racional. Qual o pano de fundo que acolhe tal racionalidade? Saturação das velhas querelas, esgotamento da polarização entre partidos, desgaste de velhos perfis, desejo de abrir novas janelas no edifício político.

A descida do Russomano

Esta coluna sempre indagou: Russomano consegue segurar o alto índice? A pergunta embutia uma grande dúvida: como pode um candidato sem máquina partidária, sem bom tempo de mídia eleitoral, sem estrutura forte de campanha, sem programa substantivo de governo resistir ao rolo compressor dos candidatos poderosos? Russomano pode se considerar vitorioso. Resistiu muito mais tempo que o limite da previsibilidade. Sua queda se deve a um conjunto de fatores: desconstrução do perfil por opositores, a ideia do bilhete mais caro para percursos mais longos, o estreito tempo midiático e a falta de um programa de governo. Tornou-se alvo de um tiroteio geral. Entrou, então, no que se chama de voo da galinha. Subiu e, mais adiante, caiu. Uma galinha mais forte, que conseguiu o feito de subir mais que outras, consideradas as condições do candidato.

Polarização?

Pois é, PT e PSDB resgataram seus espaços históricos de votos em SP? Em termos. Na verdade, os votos petistas e tucanos na capital situam-se entre 30% a 35%. Nesse primeiro turno, Serra e Haddad obtiveram um pouco menos. Apesar da chegada de ambos ao segundo turno sinalizar a clássica polarização entre as duas alas, é possível inferir que o eleitorado paulistano está saturado desse fenômeno. Quer decidir olhando para as propostas, examinando os programas dos candidatos, decidindo, portanto, de acordo com a micropolítica, a política das zonas, regiões, bairros e distritos. E por que Serra e Haddad vão para o segundo turno? Razões: 1. máquinas partidárias (Serra-estadual, municipal; e Haddad, Federal); grande visibilidade; cabos eleitorais de peso; fortes programas eleitorais com ideias fortes.

Mensalão influirá?

Menos do que os candidatos imaginam. O julgamento do mensalão pelo STF dissemina ares de moralidade e ética. O país resgata sua crença na Justiça para todos. Mas não se pense que o eleitor votará em candidatos que se abrigarem no escudo do mensalão. O eleitor tende a distribuir o ônus da política - roubalheira e escândalos - por todos os atores e partidos, não distinguindo uns de outros. Portanto, muito cuidado.

Chalita em ascensão

Interessante observar a escala ascendente de Gabriel Chalita, que obteve mais de 13% de votos válidos. Teve boa performance. Foi o candidato que sempre cresceu, não descendo na escala de intenção de voto. Não conseguiu quebrar a polarização entre Serra e Haddad, mas fixou estacas na seara político-eleitoral.

PMDB com Haddad

O vice-presidente da República, Michel Temer, comandante maior do PMDB paulista conversou, segunda-feira pela manhã, com a presidente Dilma. E ontem, com Lula, acertando o ingresso do partido na campanha do petista. Presentes à reunião Haddad e Chalita. O candidato petista assumiu o compromisso de incorporar a seu programa importantes bandeiras e projetos de Chalita. A composição contribui para reforçar a parceria entre os dois partidos na esfera Federal.

Skaf a todo vapor

Paulo Skaf, presidente da FIESP/CIESP, viaja hoje ao exterior, mas deixa uma mensagem ao vice-presidente Michel Temer manifestando o seu apoio e entusiasmo à decisão do PMDB, ao qual está filiado, de se integrar à campanha do candidato petista Fernando Haddad à prefeitura de SP. Skaf está na linha de frente do partido, visitando municípios, ajudando candidatos do PMDB, seguindo as diretrizes do comandante maior, Temer, e do presidente da legenda no Estado, deputado Baleia Rossi.

Campanha cara

O custo das eleições para prefeito e vereador nos 5.568 municípios brasileiros será o mais alto da história do país. O TSE conta com a dotação orçamentária de R$ 597 milhões para custear todo o processo, incluindo primeiro e segundo turno, contra os R$ 480 milhões que foram consumidos nas eleições de 2010, para presidente, governador, senador e deputado Federal e estadual. Essa é a grana pública. Não estamos falando do PIB informal, o caixa 2.

Ganhadores

O PSB foi o partido que mais cresceu. A sigla do governador Eduardo Campos elegeu mais de 120 prefeitos além do que havia eleito em 2008. Chegou a 420. É o maior crescimento absoluto e proporcional entre todos os partidos. O PSB ganhou mais no Nordeste e em MG. Além do PSB, só um grande partido elevou seu número de prefeitos eleitos em relação ao que conquistou em 2008: o PT elegeu 67 a mais. Suas novas prefeituras foram conquistadas, principalmente, no RS, no PR, em SC, no CE e na BA. Em SP, os petistas ficaram na mesma: tinham 60, e agora têm 63 prefeitos, mas podem ganhar a capital.

PSD

O PSD também sai maior da eleição: o partido foi criado no ano passado e, portanto, não disputou a eleição de 2008, mas levantamento da Confederação Nacional dos Municípios mostra que o PSD havia cooptado 272 prefeitos neste ano.

Saldo geral

Vejam os números: PSB cresceu 39,68%; PT, 12,82%; PDT perdeu 11,93%; PSDB, 12,17%; PMDB, 15,03%; PP, 15,61%: PTB, 28,05%; PR, 30,43% e DEM, 43,90%.

Planilha de vereadores

Eis a planilha de vereadores dos 10 partidos mais votados: PMDB, 7.951(13,9%); PSDB, 5.253(9,2%); PT, 5.169(9,0%); PP, 4.924(8,6%); PSD, 4.655(8,1%); PDT, 3.656(6,4%); PSB, 3.556(6,2%); PTB, 3.566(6,2%); DEM, 3,278(5,7%); PR, 3.187(5,6%).

Erro de pesquisas I

Nove de 11 pesquisas de boca de urna realizadas pelo Ibope nas principais capitais brasileiras não foram capazes de projetar dentro da margem de erro os resultados de votação das eleições municipais de 2012. A margem de erro das pesquisas é de dois pontos percentuais, para mais ou para menos. Em Curitiba, a pesquisa estimava segundo turno entre Ratinho Jr. (PSC), com 34% dos votos válidos, e Luciano Ducci, do PSB, com 29%. Gustavo Fruet (PDT) aparecia em terceiro lugar, com 24%. Deu 27,09% para Fruet, que passou Ducci e concorrerá com Ratinho Jr no segundo turno.

Erro de pesquisas II

No Rio, segundo o Ibope, Eduardo Paes teria ampla vantagem em relação a Marcelo Freixo, com 69% do peemedebista frente a 26% do candidato do PSOL. Paes reelegeu-se no primeiro turno, mas com 64,60%, enquanto Freixo ficou com 28,15%. Em Porto Alegre, apontava José Fortunati, do PDT, com 62% dos votos válidos e sua adversária, Manuela D'Ávila, do PCdoB, com 23%. Fortunati acabou superando a estimativa: marcou 65,22 %, enquanto Manuela atingiu 17,76%. Em Belém, projetava-se empate de Edmilson Rodrigues, do PSOL, e Zenaldo Coutinho, do PSDB, os dois com 33%. As urnas apontaram que nenhum dos dois atingiu a marca, com Rodrigues ficando com 32,58% e Coutinho com 30,67%.

Erro III

Surpresa em Salvador. ACM Neto (DEM), com 40,17%, passou Nelson Pelegrino (PT), 39,73%, contrariando a pesquisa Ibope, que cravava Pelegrino na ponta, com 43% e ACM atrás, com 36%. Em Natal, Carlos Eduardo (PDT) tinha, segundo a pesquisa, 36% da preferência nos votos válidos, enquanto Hermano Morais (PMDB) sustentava 25%. Carlos Eduardo está na frente com 40,42% e Hermano com 23,01%. Em Goiânia e Fortaleza, também mostrou erros. Paulo Garcia, candidato do PT, venceria a disputa pela prefeitura de Goiânia no 1º turno, com 56% dos votos válidos, deixando, Jovair Arantes, do PTB, com 18% para trás. Pois bem, Garcia marcou 57,68%, mas Jovair teve apenas 14,25%. Na segunda, Elmano, do PT, teria 28% dos votos válidos e Roberto Cláudio, 24%. As urnas apontaram diferença menor: Elmano ficou à frente com 25,44% ante 23,32% de Roberto Claudio. E em SP, José Serra chegou em primeiro lugar, com 30,75% dos votos válidos. Em segundo lugar, ficou Haddad com 28,99%. Ora, o Ibope viu Russomano, Serra e Haddad em empate. Todos estariam com 22%, ou 26% dos votos validos.

As maiores cidades

PT e PSDB estão no comando das 83 maiores cidades do país, aquelas com mais de 200 mil eleitores, que representam 1,5% das prefeituras e 36,5% do eleitorado. O PT venceu 8 prefeituras no primeiro turno e disputará segundo turno em 22. Quer chegar ao comando de 30, contra 21 que administra hoje. Além de SP, onde Fernando Haddad disputa segundo turno com José Serra, petistas estão na briga em outras cinco capitais, como Salvador e Fortaleza, e várias cidades de regiões metropolitanas, como Santo André/SP e Contagem/MG. O PSDB elegeu seis prefeitos nas 83 maiores cidades e tem amplo potencial de crescimento, com boas chances em 17 localidades no segundo turno.

Compra de votos

A coluna recebe denúncia de suposta cooptação de votos em cidade paraibana. Um radialista respeitado recebeu transcrição de uma gravação em áudio de uma suposta tentativa de cooptação de votos na cidade de São Domingos do Cariri. A gravação mostra o candidato a prefeito José Ferreira da Silva, "Zé Ferreira" (PSDB), participando de um evento na casa de um eleitor. Tenta cooptá-lo e aos demais presentes, conforme transcrição do vídeo. Que as autoridades ouçam a gravação e tomem as devidas providências.

Empate em Bananal

A eleição no município de Bananal, no interior de SP, terminou empatada. Com 100% das seções apuradas, os candidatos Peleco (PSDB) e Mirian Bruno (PV) somaram o mesmo número de votos: 1.849 cada. Segundo a legislação eleitoral, quando dois candidatos terminam empatados na primeira colocação, o eleito é o candidato mais velho. No caso da cidade do Vale do Paraíba, o desempate acabou favorecendo Mirian Bruno (PV).

Dirceu condenado

José Dirceu foi condenado pela maioria dos membros do STF por corrupção ativa. Era previsível. Vai virar uma página do livro de sua história. Consolidará sua consultoria. Continuará a ter voz ativa no PT. Terá tempo mais livre para fazer política de bastidor. Sem versões que falam de uma temporada fora do Brasil, etc.

Juscelino

Quem conta é Alex Salomon, grande pensador, escritor e eventual colaborador da coluna.

"Em 1975 estava eu trabalhando na Embratel indo e vindo no eixo Rio-SP. Numa das viagens sentei ao lado de JK. (de início nem o reconheci- as autoridades parecem encolher quando ao natural). Tímido e algo desinteressado, não tentei puxar conversa. Eis que de um banco de trás (ou teria sido da frente) aparece um sujeito que o cumprimenta efusivamente. Presidente....e presidente pra cá, presidente pra lá e JK gentil e sorridente, e trocaram banalidades. Não podia evitar de ouvir a conversa, o sujeito estava debruçado em cima de mim, e JK na janela. Lá pelas tantas, o indivíduo se sai com a pergunta. E o Benedito Valadares (falecido havia mais de ano) como está ele? Sem perder o sorriso, JK retruca: Não o tenho visto ultimamente! A conversa cessou, JK continuou lendo seu jornal".

Senhores candidatos

Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado ao eleitor. Hoje, sua atenção se volta novamente aos candidatos que disputam o segundo turno:

1. Tenham muita cautela na campanha do segundo turno. Há uma tendência, acentuada pelos assessores de marketing, para intensificar a estratégia de desconstrução do perfil de adversários. Campanha negativa gera mais prejuízos que vantagens.

2. O segundo turno propicia comparação mais objetiva entre perfis e propostas. Qual é o fator de eficácia? Um bom programa de governo, ideias claras, comunicação adequada e objetiva. Foco na PROXIMIDADE. Ou seja, foco no atendimento às demandas mais prioritárias da comunidade.

3. Organizem uma agenda que possa atender a todos os compromissos de articulação e mobilização. Entendam que precisam multiplicar sua presença nas regiões, bairros, distritos. Onipresença.

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(Gaudêncio Torquato)

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