terça-feira, 6 de novembro de 2012

OBSERVATÓRIO

Antonio Osvaldo Oliveira, que ganhou simpatia popular como “Osvaldo Panelada”, foi comerciante por muitos anos no Mercado Público de Crateús e exerceu mandato de vereador na cidade nas décadas de 1980 e 1990. Com um fenótipo similar ao de José Sarney, Osvaldo tinha base eleitoral na zona urbana e nos distritos de Ibiapaba e Poty, onde deitava raízes. Na eleição de 1992, vinha descendo do palanque em um comício no bairro Altamira quando foi cercado por um grupo de jovens. Um deles, certamente líder do grupo, com ar de espertalhão e sotaque de malandro, iniciou o assédio: - Vereadorrr... Osvaldo respondeu laconicamente: - Oba! O sujeito foi direto ao ponto: - Vereador, arruma aí cinco conto prá gente comprar um litro de cana... A resposta: - Tenho não. O sujeito, em tom de censura e exaltado, falou: - Oh! Vereador fraco! Osvaldo arregalou os olhos, aumentou ainda mais o timbre da voz e fulminou: - Fraco é você, que está me pedindo. Eu não estou lhe pedindo nada! E seguiu adiante, deixando o grupo embasbacado.

A ELEIÇÃO

Sem saber, Osvaldo foi precursor de uma relação entre candidato e eleitor marcada pela ausência de pieguismo. Apesar de bonachão e camarada, Panelada não tinha papa na língua. Ao contrário da maioria dos seus colegas, que se submetiam aos achaques e chantagens dos eleitores, Osvaldo costumava dizer que líder era para liderar e não, ser liderado. Tratava de maneira sincera o eleitorado.

A ELEIÇÃO II

A eleição deste ano deixou um saldo positivo: há um avanço na relação política. Gesta-se um vigoroso processo de conscientização. É crescente e numeroso o contingente de eleitores que está votando a partir de uma análise criteriosa, sem pedir migalhas ou favores pessoais. No entanto, ainda existe uma considerável parcela da população cativa do modelo antigo, que faz do voto um objeto de transação comercial. A legislação evoluiu na punição de políticos que “compram voto”. Mas também temos que ficar atentos para a figura típica da “venda de voto”. Não merece censura apenas o político que compra, mas também o eleitor que vende o voto.

CONJECTURAS

O calendário eleitoral é imperativo, sequencial, concatenado. De dois em dois anos ocorre eleição e, normalmente, uma guarda relação com outra. Mal termina uma e já se aciona a fábrica especulativa das seguintes. Quem se habilita para a próxima? Nas oposições majoritárias, é óbvio que Ivan se credenciou para uma recandidatura. Foi para o sacrifício agora e é o nome natural para o futuro. Deverá fazer um trabalho de manter acesa a militância. Há um consenso de que se o seu nome estivesse habilitado há mais tempo já teria sido vitorioso este ano.

CONJECTURAS II

No grupo da situação, especula-se que para a sucessão os nomes mais destacados são o de Elder Leitão e Mauro Soares. Os dois, no entanto, enfrentam um obstáculo: não pertencem ao partido do Prefeito. No PCdoB há nomes de peso, como os médicos Pierre e Nonato Melo.

GESTÃO

Para eleger um sucessor, salta aos olhos que o Prefeito terá que exibir bons índices de aprovação popular. Para isso, urge que promova uma guinada na gestão. Seu primeiro mandato, apesar de operoso em algumas áreas, atraiu uma expressiva antipatia em outras. O que fazer, então? Dispensa maiores esforços de análise para se concluir que há necessidade de um choque de gestão. Um corte drástico nas gorduras financeiras, redefinindo o funcionamento da máquina. Regularização do quadro de pessoal através de concurso público, eliminando excessos, extirpando o apadrinhamento político e a proeminência familiar. É hora de profissionalizar a gestão, zerar as dívidas e priorizar investimentos. Outra ação reclamada é a efetivação da transparência. Ser transparente é mais do que prestar contas formalmente. É tornar todas as informações essenciais acessíveis ao olho crítico do cidadão comum. Mais à frente, em edição seguinte, pontuaremos outras questões que desafiam a governança local.

ADVOGADOS

A região de Crateús perdeu recentemente dois advogados: João Facundes Gomes Neto, 49 anos, munícipe da cidade de Independência e Francisco Bonfim Neto, 62 anos, que residia em Crateús. Ambos pertenciam à mesma oiticica familiar fundada por Alexandre Ferreira Bonfim. Do João Facundes recordo o espírito de luta, a militância política, a combatividade permanente. Agia com destemor. Nada o detinha no exercício da profissão: nenhum receio de desagradar a magistrado ou a qualquer autoridade, muito menos de incorrer em impopularidade. Neto Bonfim deixou um legado de superação. Há alguns anos vivia como quem abandonara o gosto vital. A bebida consumia a sua saúde pessoal e o prestígio profissional. Estava no fundo do poço da solidão. Dessa situação extrema se reergueu. Abandonou os excessos e retomou a rotina laboral. Erigiu uma das mais expressivas bancas advocatícias da região e foi bafejado pelos ventos da fortuna material.

PARA REFLETIR

“As pessoas mais felizes são aquelas que conhecem a alegria de trabalhar e estudar. O trabalho e os estudos são os meios pelos quais o Homem, ao mesmo tempo que beneficia outras pessoas e o mundo, beneficia também a si mesmo, progredindo e experimentando uma imensa alegria em seu Coração”. (Masaharu Taniguchi)

(Júnior Bonfim, na edição de hoje do Jornal Gazeta do Centro Oeste, Crateús, Ceará)

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