Abro a coluna de hoje com uma historinha de advogado.
O rapaz era advogado novo em Princesa Isabel. Ia defender um criminoso de morte a faca. Procurou o coronel Zé Pereira, dono da cidade:
- Coronel, preciso conseguir pena mínima para meu cliente. Se não conseguir, não tenho carreira aqui.
O coronel prometeu. Terminou o julgamento, pena mínima. O advogado foi agradecer a vitória ao coronel, que valorizou a ajuda:
- Doutor, o senhor não calcula a força que eu fiz para conseguir a pena mínima. Todo mundo queria absolver o homem.
A força do PMDB
As eleições de Renan Calheiros e Henrique Alves para os comandos das duas Casas Legislativas reforçam a força do PMDB na tessitura do poder político do país. Trata-se do desdobramento de um processo de acumulação de poder, que leva em conta o fato de o partido ter o maior número de prefeitos - cerca de 1.100 -, o maior número de vereadores, o maior número de deputados estaduais e o maior número de senadores. E é a segunda maior bancada de deputados Federais. Com esse cacife, o partido chega às presidências do Senado e da Câmara, a par de abrigar, ainda, a vice-presidência da República, com Michel Temer.
Temer, o artífice
Michel Temer é o artífice dessa construção. Com seu perfil que agrega harmonia e equilíbrio, consegue juntar contrários, conter ímpetos de grupos ou pessoas, isoladamente, ouvir uns e outros, e, ao final de um longo exercício de administração de interesses, alcançar razoável dose de consenso. O fato é que o PMDB, desde os tempos de Ulysses Guimarães, é uma confederação que reúne federações regionais. Era muito dividido. Hoje, exibe maior unidade que nos tempos ulyssistas. Quando se pensa que as querelas internas farão do partido um amontoado de pedaços, eis que as partes se juntam no todo. Esse é o PMDB.
Parceria com PT
O desdobramento do projeto de poder do PT se alicerça na base peemedebista. O Partido dos Trabalhadores sabe que o PMDB tem capilaridade, algo construído desde 1986, quando o partido conseguiu eleger 22 governadores. Apenas Antonio Carlos Valadares, que pertencia ao PFL de SE, conseguiu quebrar a unidade dos governos estaduais peemedebistas. A consequência foi a eleição seguinte de uma gigantesca fornada de prefeitos e vereadores. Até hoje essa é a argamassa que explica o fato de ser o maior partido nacional.
A conta que soma
Essa é a conta que soma na hora das grandes decisões. É isso que se apresenta na hora de decidir sobre parceiros e perfis. Diz-se, por exemplo, que Lula gostaria de deslocar Michel Temer e colocar, em seu lugar, o governador Eduardo Campos como vice da presidente Dilma em 2014. Falta nexo nessa equação. O PSB é um partido médio. Tem cerca de 500 prefeitos. Foi o partido que mais subiu no pleito municipal passado, é verdade. Mas não chegou ao estágio de grande partido. Ou seja, a imagem de Eduardo Campos é maior que a identidade.
Identidade e imagem
Expliquemos esses conceitos. Identidade é uma soma de posições : porte, estrutura, história, quadros, organização, etc. Imagem é a projeção da identidade. Às vezes, a imagem de uma pessoa ou de um partido se apresenta bem maior do que sua identidade. É o caso do Eduardo Campos e seu PSB. Não tem a força que demonstra ter. Ambos, partido e ator, são menores do que realmente se apresentam. Nesse sentido, perdem a capacidade de mando em momentos decisórios. Lula, portanto, por mais que se esforce, terá dificuldades de deslocar um perfil mais denso para colocar em seu lugar uma identidade menor.
Michel e Lula
Por mais de uma vez, Lula tentou dar as cartas no PMDB. Primeiro, tentou jogar Nelson Jobim, saído do STF, como candidato à presidência do PMDB. Perdeu o jogo para Michel. Depois, tentou jogar Henrique Meirelles no colo do PMDB e, com essa sacada, incluí-lo na chapa da Dilma como vice-presidente. Mais uma vez perdeu. A seguir, Lula apareceu com a ideia de uma lista tríplice de candidatos do PMDB a vice na chapa da Dilma. A sugestão morreu no nascedouro. Leitura linear : Michel derrotou Lula três vezes. Por isso, a arremetida de Lula para deslocar Michel Temer da chapa presidencial em 2014 tende, mais uma vez, a fracassar. Ainda mais quando este partido, presidindo as duas Casas Congressuais, terá a força para definir a agenda político-eleitoral nos próximos dois anos.
Campos como candidato
Esta leitura abre a alternativa de uma eventual candidatura de Eduardo Campos à presidência em 2014. O governador pernambucano conta com a possibilidade de uma terceira candidatura, a de Aécio Neves e, por conseguinte, vislumbra entrar no meio e se apresentar como o perfil entre oposição e situação. Se a economia sair dos trilhos, o olhar eleitoral poderá se dirigir em sua direção, até porque o senador Aécio Neves se mostra cada vez mais um perfil cercado de dúvidas e incertezas. Se perder, Campos usará a ampla visibilidade alcançada no pleito em 2018. Ou seja, já teria pavimentado a estrada do futuro. Lembrança : nem sempre a menor distância na política é uma reta, como na geometria euclidiana. Pode ser uma curva. A derrota de hoje poderá se transformar na vitória do amanhã. Lula que o diga. Fernando Henrique, idem.
Temer no comando
Por volta de abril, o PMDB deverá fazer eleições internas. O vice-presidente da República, por consenso, deverá ser reeleito mais uma vez para comandar o partido. Afastar-se-á em função dos compromissos de vice-presidente, devendo o comando permanecer com o vice, o senador de RO, Valdir Raupp. O plano dos dirigentes é fortalecer o partido para disputar o pleito nos Estados, em 2014.
Em São Paulo
O PMDB tem planos de eleger o maior número de governadores e de deputados Federais e estaduais, a partir de SP. Como se sabe, Michel Temer está consolidando o partido no maior contingente eleitoral do país. O PMDB já tem um pré-candidato definido : Paulo Skaf, presidente da FIESP. Trata-se de um perfil arrojado, dinâmico e em condições de fazer uma campanha eficaz pela capacidade de articulação junto aos prefeitos e pela disposição de organizar uma forte estrutura. O partido quer resgatar a força que já deteve em SP, perdida ao longo das últimas décadas. Para tanto, precisa dispor de um perfil que consiga efetivamente realizar um pleito competitivo e, assim, quebrar a polaridade entre PSDB e PT.
Frases sobre o Brasil
A prosperidade de alguns homens públicos do Brasil é uma prova evidente de que eles vêm lutando pelo progresso do nosso sub-desenvolvimento. (Stanislaw Ponte Preta)
No Brasil, quem tem ética parece anormal. (Mário Covas)
Não sou especialista em Brasil, mas uma coisa estou habilitado a dizer : não creiam que mão de obra barata ainda seja uma vantagem. (Peter Drucker)
O Brasil precisa explorar com urgência a sua riqueza - porque a pobreza não aguenta mais ser explorada. (Max Nunes)
Descobri a fracassomania numa viagem ao Brasil, há mais de 40 anos. Toda vez que muda um governo os intelectuais brasileiros consideram que está tudo errado e é preciso começar tudo de novo. (Albert Otto Hirschman)
Parlamento e Executivo
O Parlamento, sob os comandos de Renan e Henrique, entrará em conflito com o Executivo ? Esta é a questão na ordem do dia das análises. Lembre-se, primeiro, que o PMDB faz parte da base governista. Ou seja, ajudará o Executivo a governar. Mas há o discurso de compromissos para o chamado público interno. A pauta de questões polêmicas é densa, bastando lembrar dois assuntos: MPs e Orçamento Impositivo. O Orçamento Impositivo é um antigo anseio dos deputados, que querem garantia de que os recursos efetivamente aprovados por eles chegarão ao destino. Será difícil à presidente Dilma represar esta vontade parlamentar. Vai haver tensão, mas não a ponto de ruptura. Quanto às MPs, haverá certamente maiores controles e cuidados, evitando-se que sirvam para caronear emendas que fogem aos critérios de relevância e urgência.
Parlamento e Judiciário
E a questão da última palavra em relação aos mensaleiros ? Pertence ao Judiciário ou à Câmara dos Deputados? O ministro Joaquim Barbosa fez a peroração definitiva: em matéria de interpretar a Constituição, o STF tem a última palavra. Quem duvida disso? Ninguém. Ocorre que o mandato parlamentar pertence ao povo. Portanto, a Casa que representa o povo deve se manifestar. A questão é de bom senso. Ou seja, a Câmara não pode contrariar uma interpretação constitucional do Supremo, mas deve se pronunciar a respeito da cassação de algum de seus membros. O bom senso aponta que a direção da Casa deve se manifestar. A liturgia recomenda que o caso tenha trâmite na Câmara. Este consultor acredita que o bom senso administrará a controvérsia.
PSDB e o discurso perdido
Os tucanos estão perdidos na floresta. Há muito tempo, o ex-presidente Fernando Henrique pede aos correligionários um discurso condizente com as ruas. O país avançou nos últimos tempos. Mas há imensos buracos na fisionomia social e na moldura da infraestrutura. Para onde caminhará o país ? Quais os grandes projetos que devem ser levados adiante ? Quais as estratégias para alavancagem da economia e crescimento do PIB? Como o país deve trabalhar para fazer as reformas pendentes no calendário político? Essas são questões que os grandes partidos precisam saber responder.
Anastasia anestesiado?
Esperava-se que o governador tucano Antonio Anastasia, de MG, emergisse como um dos líderes de maior destaque entre os atuais governadores do país. Parece que foi anestesiado. Tinha mais fama como braço direito de Aécio Neves do que como governador do segundo maior colégio eleitoral do país.
Congresso de hotéis
A hotelaria é fundamental para o sucesso dos grandes eventos esportivos marcados para o país neste ano, em 2014 e em 2016 : Copa das Confederações, Copa do Mundo e Olimpíadas. Por isso, nada mais oportuno do que um encontro entre hoteleiros de todo o país nos dias 25, 26 e 27 de março. Será o 55º Conotel (Congresso Nacional de Hotéis), no Expo Center Transamérica, com o tema Desafios e perspectivas regionais da indústria de hospitalidade. A iniciativa é da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (ABIH), em parceria com a Federação Brasileira de Hospedagem e Alimentação (FBHA), Fórum de Operadores Hoteleiros do Brasil (FOHB), Resorts Brasil e Grupo Fiera Milano, que traz ao Brasil pela primeira vez a feira Food Hospitality World, destinada à hotelaria e à gastronomia brasileira.
Mais frases sobre o Brasil
No Brasil, sucesso é ofensa pessoal. (Tom Jobim)
No Brasil, empresa privada é aquela que é controlada pelo governo, e empresa pública é aquela que ninguém controla. (Roberto Campos)
No Brasil cultuamos duas frustrações : a dos que têm poder mas não têm competência para exercer e a dos que têm competência mas não têm poder. (Paulo de Tarso de Moraes Souza)
Deixei de acreditar em Deus no dia em que vi o Brasil perder a Copa do Mundo no Maracanã. (Carlos Heitor Cony )
Conselho aos donos de espaços de lazer
Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes, membros dos Poderes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado às autoridades municipais. Hoje, volta sua atenção aos donos de espaços de lazer :
1. Que a tragédia de Santa Maria sirva de lição. Façam completa varredura em seus espaços de lazer, a partir de boates. Vejam as falhas, fechem temporariamente seus estabelecimentos, reabrindo-os quando estiverem em condições de plena segurança.
2. Não esperem pela fiscalização do poder público. Cumpram seu dever de cidadãos responsáveis.
3. Peçam para os órgãos públicos, depois de uma operação de reaparelhamento, fazerem rigorosa fiscalização. E assim o fizerem, estarão ganhando os aplausos da sociedade. Em caso contrário, serão execrados pela opinião pública.
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(Gaudêncio Torquato)
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