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sexta-feira, 24 de abril de 2009
FÓRUM DE COMANDATUBA
Conversas
- Deputado, ouvi uma pessoa falando de você...
Bem rápido, o deputado retruca:
- Quem foi? Até agora, não provaram nada, não é?
A piadinha corria solta nas conversas em torno do Fórum de Comandatuba, realizado no último fim de semana.
O clima esquentou em certos momentos. A tensão chegou ao pico por ocasião de cobranças do empresariado à classe política. Este escriba registra pinceladas de suas conversas com deputados federais (cerca de 20), senadores (6), governadores (uns 10) e ministros (7).
Campos, boa cabeça
O governador Eduardo Campos é uma das melhores cabeças da nova geração política. Possui visão de conjunto e se guia pelo conceito de focos e prioridades. Sabe ouvir muito bem. Registra uma aprovação espetacular à sua administração, em Pernambuco, Estado que soma os maiores recursos de investimentos (somei mais de R$ 10 bilhões) entre os 9 entes nordestinos. O presidente do PSB tem uma dúvida: a base governista deve sair com um(a) candidato(a) - Dilma Rousseff - ou dois no pleito de 2010? É conveniente lançar um segundo candidato para facilitar um segundo turno contra o candidato oposicionista, José Serra ou outro?
O segundo candidato
Leitura deste escriba: a conveniência do lançamento de dois candidatos vai depender das circunstâncias. A serem avaliadas no ciclo pré-eleitoral, no início do próximo ano. Se o clima de confortabilidade social e geral se mantiver em alta, a candidata Dilma poderá correr sozinha. A polarização certamente se desenvolverá de maneira quase natural. Se a crise resultar em mais desemprego e desconforto, o candidato de oposição tenderá a manter seus bons índices. Nesse caso, seria oportuno o lançamento de dois candidatos situacionistas.
Ciro, o briguento
Ciro exibe perfil briguento. Poderá ser o lutador para bater no ringue de Serra. E, assim, preservar Dilma Rouseff. O deputado do PSB sabe, porém, que seu índice deverá girar em torno de 10%. Ademais, Ciro pertence ao cordão do passado. Enquanto Eduardo Campos sinaliza a direção do novo, da diferenciação inovadora.
Aécio, o melhor
Aécio seria um bom candidato? Afora as opiniões de tucanos, senti certa convergência de ideias em torno dessa hipótese: Aécio Neves teria maior potencial de votos. Jovem, irradiando simpatia, cheio de sorrisos, e um discurso emotivo: "com a ajuda dos brasileiros, queremos resgatar o legado que Minas Gerais perdeu, com a morte de Tancredo. Minas precisa voltar a ter um presidente como o mineiro Juscelino Kubitschek". Atrás do palanque, podemos enxergar a foto do velho Tancredo, com aquele sorriso matreiro de Mona Lisa e, ao seu lado, a estampa sorridente de Juscelino. Minas Gerais tem 14 milhões de votos, o segundo maior colégio eleitoral do país.
Serra, o experiente
Dizem, porém, que a cúpula tucana não deixará Aécio ser candidato. E mais: ele seria quase forçado a aceitar ser o vice na chapa do Serra. Esse é o risco que poderá enfrentar. Até porque Aécio obteria facilmente o mandato de senador. O governador paulista, por sua vez, que venderá o produto experiência, terá imensa dificuldade em sustentar 45% de intenção de voto até o pleito de 2010. Essa é a taxa que ostenta hoje.
Alckmin, cheio de sorrisos
Sorriso permanente. Essa foi a cara de Geraldo Alckmin, em Comandatuba. Feliz ante o consenso de que deverá ser um candidato quase imbatível ao governo de São Paulo. Sorri até para quem lembra que o candidato in pectore de José Serra se chama Aloysio Nunes Ferreira, chefe da Casa Civil. Alckmin tem futuro. Ao contrário do que alguns podem imaginar, não chegou ao final da linha. Tem lastro. E voto.
"O gato com sentido em três ratos não pega nenhum." (Eduardo Campos, conversando com este escriba, pinçou o axioma nordestino)
Meirelles será candidato
O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, em sua exposição de teor muito técnico, mostrou que o Brasil tem um bom suporte para enfrentar pequenos e médios dissabores. Não deu para distinguir se o pior da crise já passou. O cara é muito cauteloso. Só escancarou a boca quando ouviu o senador Aloízio Mercadante esbanjar otimismo. Foi quando disse que, sem os elos que o prendem ao governo, poderia ser mais eloquente e incisivo. Este momento poderá surgir como um tapete estendido em direção ao governo de Goiás ou mesmo à cúpula do Senado.
Mercadante esbanja otimismo
Já o senador Mercadante esbanja otimismo quando diz que, logo, logo, o Brasil sairá da 10ª economia mundial para ficar na 5ª. E sairá da crise melhor do que está hoje. Fez uma boa exposição, com aplausos gerais. Sua fala sugere que o pior da crise já passou. Bom de papo, mas ruim de vôlei de piscina. Essa é a retribuição do escriba à comparação que ele fez entre minha análise política e a performance esportiva. Minha equipe, com a ajuda da atriz Regina Duarte, perdeu feio. Não adiantou a corrente comandada por Regina, sob nosso brado de guerra.
"Não gosto de São Paulo, prefiro o Rio de Janeiro. Quando vou a São Paulo, penso que estou procurando emprego." (Ao ouvir este desabafo, este escriba replicou: "como boêmio, você não conhece a noite paulistana. Fervente e densa. Pensa que o Rio ainda é a capital da boemia. Isso é passado". O ministro das Relações Institucionais não se convenceu. Ficou o dito pelo não dito.)
Stephanes, o bom senso
O ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes (PMDB-PR), é um sujeito de linguagem objetiva e concisa. Diz o que pensa, de maneira densa, sem colocar adjetivos a mais nem substantivos a menos. Fez ótima exposição chamando a atenção para os desvios burocráticos que acabam desincentivando investimentos em muitos Estados. É muito saudável ouvir um ministro do governo Lula execrando a burocracia no campo da sustentabilidade ambiental. O que ele disse endossa a abordagem do artigo Idade da Razão, que escrevi no Estadão do último domingo.
Um escudo para cobrir 80%
Stephanes apresentou dado que causou impacto. Somando as terras indígenas, os espaços dos quilombolas, as encostas de determinados espaços preservados, locais que formam o patrimônio público, terrenos da marinha, enfim, todos os espaços cobertos pela legislação protecionista, cerca de 80% do Brasil ficam sob esse gigantesco escudo. Parcela ponderável desse gigantesco território é alimentado pela burocracia.
"As mulheres paulistas são exímias na arte de interpretar e assumir a ginga das baianas quando dançam. Mas as baianas não conseguem acompanhar o ritmo das paulistas em matéria de trabalho." (Senador Mercadante, brincando com os baianos, ao contemplar o desempenho de uma paulista, convocada pelo líder da banda Chiclete com Banana, "a mostrar o que paulista tem".)
Braga, a carga técnica
O governador do Amazonas, Eduardo Braga (PMDB), expressa argumentos sólidos sobre a sustentabilidade ambiental do Amazonas e da Amazônia Legal em comparação com o mundo. Usa gráficos, desenhos e estatísticas, adornadas de adereços lingüísticos, que denotam o esforço do governador para fazer bonito em apresentações nacionais e internacionais. Passa a ideia de ter passado no vestibular da Embrapa a agências congêneres espalhadas pelo mundo. Fez a lição de casa.
Luiza Ferina Trajano
Luiza Trajano, a comandante do Magazine Luiza, é conhecida por não ter papas na língua. Cobrou dos políticos moralização de costumes e padrões. Mas não fez a distinção entre atores e instituição política. Recebeu uma resposta educada, mas firme, do presidente da Câmara dos Deputados, Michel Temer, mostrando a importância do Poder Legislativo, o mais aberto dos Poderes, e uma locução mais incisiva do senador Heráclito Fortes, primeiro secretário do Senado
: "quando um empresário é acusado de corrupto, não achamos que todos os empresários também o são". Heráclito, com seu jeito bonachão, não aceita que se faça generalização nas críticas aos representantes do povo e dos Estados.
Clandestino
Heráclito (DEM-PI), ao ser indagado pelo ex-presidente da Philips do Brasil e atual presidente do Grupo Maior, Paulo Zottolo, como entrar no Piauí sem ser xingado, respondeu de pronto: "entre como clandestino". Como se recorda, Zottolo, quando presidia a Philips, cometeu a frase: "não se pode pensar que o país é um Piauí, no sentido de que tanto faz quanto tanto fez. Se o Piauí deixar de existir ninguém vai ficar chateado". É evidente que o empresário produziu uma tremenda gafe ao fazer a comparação. Zottolo é, porém, um empresário preocupado com as grandes questões nacionais. E ganha em taxa de civismo para a média dos empresários nacionais.
O mundo é uma bola
"O mundo é uma bola. Gira e muda de posição todo tempo. Um dia, eu estou bem, no alto; no outro, estou em baixa. Quantas vezes tive de me esconder para não ser xingado na saída do Maracanã. Armando Marques sempre me dizia: não se afobe. Tenha calma. Na próxima partida, a m....vai ser maior." (Arnaldo César Coelho, em conversa com este escriba, recriminando a atitude de algumas pessoas que fazem acusações sem imaginar que elas, um dia, serão as figuras recriminadas). Grande Arnaldo.
O Lula dos empresários
Edson de Godoy Bueno, presidente do Grupo Amil, consegue criar impacto quando fala para a alta elite e as camadas mais carentes. O médico, que começou no primeiro degrau da escada social, é um mestre na arte de botar vitamina na fala. Por isso, ganha deste colunista o título: "Edson é o Lula dos empresários. Recebe palmas de todos os lados".
Brandão
Lázaro Brandão faz parte de uma Escola que tem poucos alunos. Chegou no final da tarde. Foi homenageado por Joao Dória. E após uma expressão curta e modesta, foi embora. Tinha de aparecer na segunda feira, véspera do feriado, para trabalhar. Hora de chegada: 6h30 da manhã. Entendi porque o Bradesco produz montanhas de lucros.
Bilac Pinto
O deputado Bilac Pinto (PR-MG) põe fé na hipótese: Aécio Neves é melhor candidato de oposição que José Serra.
Um ponto final
O deputado Nelson Marquezelli (PTB-SP) não vê a hora de o Congresso por um final ponto no capítulo da crise política.
Goes, o boêmio
O governador Waldez Goes, do Amapá, é um boêmio de carteira assinada. E comprovada. A performance de danças de carimbo, que executa com a esposa, impressiona. Não fosse político, poderia ganhar a vida como cantor e animador. O homem sabe se virar.
Garibaldi entre duas viúvas
O senador Garibaldi Alves, ex-presidente do Senado e presidente da Comissão de Assuntos Econômicos, foi sincero em sua locução. Referindo-se à bateria de denúncias que atinge as casas congressuais, disse estar emparedado por duas viúvas: a viúva do senador Jefferson Peres, que lhe solicitou e foi atendida no pleito de transformar em dinheiro os créditos de passagens não usadas pelo parlamentar; e a viúva, a União, que recebe o tiroteio da mídia.
O candidato Chinaglia
Arlindo Chinaglia (PT-SP) sonha em ser candidato ao governo de São Paulo em 2010. Trata-se de um perfil asséptico. Distante de grandes polêmicas. Sua condição dependerá do clima social e econômico no início do próximo ano.
Lobão, o energético
O ministro das Minas e Energia, Edison Lobão, garante que não faltará energia ao país. Temos energia por todos os lados, de fontes múltiplas. Pela conversa de Lobão, Deus decretou: "se faltar energia no mundo, o Brasil será a fonte de suprimento". Que Deus ajude Lobão a cumprir as promessas.
Dória, exemplo de eficácia
Por último, um exemplo de eficácia: Joao Dória. Que comandou um grupo de 350 pessoas. Sem usar muito o apito. O Fórum de Comandatuba passou o Brasil a limpo. Já começou a dar resultados. Câmara e Senado já começaram a definir novos rumos em matéria de passagens e verbas indenizatórias. Líderes políticos com poder de decisão, empresários com poder de influência, jornalistas com poder de formação de opinião podem, sim, fazer o Brasil avançar.
Conselho
Deixo, ao final, que os Conselhos aos mandatários e líderes do país, que formam a última Nota desta Coluna, sejam, excepcionalmente, pensados pelos leitores.
(Por Gaudêncio Torquato)
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