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quinta-feira, 23 de abril de 2009
NA REAL
O furacão tornou-se uma brisa fria
Na semana encerrada no dia 17/4, os principais mercados de ações globais consolidaram uma alta contínua de seis semanas. Se considerarmos a elevação dos preços das ações norte-americanas nas últimas quatro semanas a conclusão é impressionante: trata-se da maior alta em setenta anos. Algo notável se observarmos que as variáveis fundamentais mais importantes (situação do emprego e do consumo, a produção industrial, a melhoria da liquidez e a estabilidade do sistema financeiro) ainda não apresentaram uma reversão marcante nas expectativas. De toda forma, é possível ser afirmativo no sentido de que a estratégia de provisão de muita liquidez por parte de governos e bancos centrais está a funcionar. Há que se notar também que os resultados do primeiro trimestre do ano do setor financeiro têm sido em linha ou melhores que o esperado pelos investidores e analistas. De uma forma geral, os desempenhos não são nada bons. Ao contrário: a queda de rentabilidade das empresas globais é gigantesca. Todavia, analistas e investidores parecem acreditar que grande parte destes fatos já está refletida nos preços dos ativos. Se isto é verdade ou não, verificaremos no futuro. Mas há sinais sólidos de estabilização da crise. É preciso reconhecer este fato. Sem entusiasmo, ainda.
Dois riscos que merecem atenção: inflação e moedas
Nos últimos doze meses economistas proeminentes consideravam o risco de deflação considerável e alguns o julgavam muito provável. Depois da injeção de trilhões na economia, começam a pipocar por todos os lados análises de quando o Fed e seus parceiros internacionais começarão a subir as taxas de juros básicos com o objetivo de evitar a inflação. Nada mal que surja esta discussão. Trata-se de algo saudável levando-se em conta o quanto se discute abertamente a possibilidade de uma longa depressão (cujo risco ainda não está totalmente afastado). Somente o Fed injetou US$ 800 bi no sistema financeiro nos últimos oito meses. Na reunião da próxima semana do banco central americano não se espera nenhuma ação. Contudo, é muito provável que daqui para frente os diretores do Fed e dos principais BCs do mundo comecem a dar sinais de como sairemos deste processo de forte estímulo monetário. O objetivo é não criar novas bolhas especulativas. Preste atenção neste noticiário que deve também influenciar fortemente a política monetária do banco central brasileiro. As taxas de juros dos títulos de 5 e 10 anos do Tesouro Americano serão os indicadores mais importantes deste processo. O segundo risco é o possível movimento entre as principais moedas do mundo. O dólar foi o repouso do capital medroso nos últimos meses. Não é certo que o será num cenário mais tranqüilo. Há fortes apostas de que a moeda dos EUA possa sofrer ataques especulativos nos próximos meses. Processos especulativos com moedas são ainda mais nefastos que os processos inflacionários.
Por falar em economistas...
...vale a pena ler o que escreveu sobre eles o economista britânico Anatole Kaletsky, num artigo intitulado "Adeus homo economicus", reproduzido nas páginas do UOL.
Vai um aperitivo:
"Adam Smith foi um economista? John Maynard Keynes, David Ricardo ou Joseph Schumpeter também foram? Segundo os padrões dos economistas acadêmicos de hoje, a resposta é não. Smith, Ricardo e Keynes não produziram modelos matemáticos. O trabalho deles carecia do 'rigor analítico' e da lógica dedutiva precisa exigida pela economia moderna. E nenhum deles produziu uma previsão econométrica (apesar de Keynes e Schumpeter terem sido matemáticos competentes). Se qualquer um destes gigantes da economia se candidatasse hoje a um emprego em uma universidade, eles seriam rejeitados. Se você acha que estamos exagerando, pergunte a si mesmo que papel os economistas acadêmicos exerceram na atual crise. Quantos tiveram algo útil a dizer a respeito do maior colapso em 70 anos? A verdade é ainda pior do que esta questão retórica sugere: não apenas os economistas, como profissão, fracassaram em conduzir o mundo para fora da crise, como também foram os principais responsáveis por nos conduzir até ela."
Metais preciosos em baixa
Nem tudo que brilha é ouro. Nos últimos tempos o desempenho dos metais preciosos foi brilhante. Altas e mais altas em função do medo em relação à estabilidade do sistema financeiro, bem como os temores de que a inflação se intensifique ou mesmo torne-se descontrolada no futuro (hiperinflação). O cenário mais calmo está jogando as cotações dos metais preciosos para baixo. Um bom sinal, sem dúvida. É parte da boa safra de notícias nas últimas seis semanas. É possível que esta tendência de curto prazo possa se cristalizar em um processo de queda de médio prazo. Atenção!
Volatilidade ainda alta
Apesar do cenário melhor nas últimas semanas isto não significa que estamos convencidos de que a crise está sendo superada. Ainda temos um longo processo para que isto possa ser afirmado. Para ilustrar o que estamos a afirmar utilizemos dois índices de volatilidade: o índice de volatilidade da Bolsa de Chicago que mede o risco (volatilidade) embutido nas 100 principais ações do NASDAQ. Este índice gravita no momento ao redor de 39-42 pontos. No período de outubro a dezembro do ano passado, estava ao redor de 70 pontos. Vê-se uma grande melhoria. Todavia, antes da crise do ano passado, por volta de agosto, este índice estava entre 18-23 pontos. No caso do índice de volatilidade da Bolsa de Chicago que mede o risco das ações do S&P500 (500 maiores empresas dos EUA), os números são semelhantes: entre outubro e dezembro o indicador estava ao redor de 75-80 pontos, no momento gira ao redor de 40 pontos e por volta de agosto estava entre 16 e 20 pontos. De uma forma geral, podemos dizer que o risco hoje á o dobro de antes da instalação da crise financeira em meados no ano passado. Algo muito sério.
Meirelles dá sinais sobre o momento e o futuro
As várias entrevistas e declarações do Ministro Presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, sobre o cenário econômico devem ser lidas nas entrelinhas. Como costuma ser o caso dos presidentes de BCs os quais lidam, digamos assim, com assuntos conjunturalmente delicados. Quando Meirelles afirma que (i) é "prematuro" dizer que a taxa de juros de um dígito será alcançada no curto prazo em função de "fatores conjunturais (queda da atividade)" e "fatores estruturais (queda do risco país)" e que (ii) "não sabemos como será a conjugação destes fatores no futuro", ele muito provavelmente quer dizer que tudo depende da crise externa no curto prazo e de maior controle fiscal no médio e longo prazo. Há alertas de todos os lados por parte do presidente do BC. A queda da arrecadação e a estabilidade da relação dívida X PIB são destaques dentre as maiores preocupações do Presidente do BC. "Vamos aguardar o desenvolvimento da crise, a retomada das atividades, para ver como a economia brasileira vai se equilibrar (grifo nosso) mais a frente". Vê-se aqui uma afirmação de moderação frente ao intenso processo de maiores gastos públicos, bem como relativa folga monetária. No que se refere ao spread bancário há certo silêncio de Meirelles. Ele disse que "O Banco Central e a Fazenda estão trabalhando nisso...". Ora, Meirelles sabe que a questão é bem mais complexa do que tem sido comentado na imprensa e dentro e fora do governo.
O Calendário não ajuda muito (ou nada)
É provável que a crise internacional afete o Brasil bem menos que o esperado. Há sinais de que é isto que pode acontecer. Um início de recuperação da atividade econômica, sobretudo do emprego, pode ocorrer entre o último trimestre deste ano e o primeiro do ano que vem. Todavia, há mais coisas entre o céu e a terra nesta matéria... O tal "equilíbrio" sobre o qual menciona Henrique Meirelles é uma relação sadia entre (i) a taxa de inflação, (ii) o superávit primário que permite uma queda consistente do endividamento público e (iii) a retomada do crescimento do PIB. O problema desta equação é que, numa fase de forte expansão fiscal, não há razão objetiva para que o governo (liderado pela Fazenda e pelo gabinete presidencial) retome uma política de maior contenção fiscal no exato momento do processo eleitoral de 2010. Convenhamos que é difícil imaginar o ministro Guido Mantega e ainda muito mais difícil no caso do presidente Lula anunciando medidas de contenção fiscal em meio à campanha eleitoral do ano que vem. Meirelles sabe disto e já começou a sinalizar agora que moderação fiscal é essencial. Talvez esta seja a senha para a saída de Meirelles do BC, sabidamente um apaixonado pela idéia de ser candidato ao governo de Goiás.
O calendário é da política
Meirelles deu de negar, nos últimos dias, que esteja de malas prontas para embarcar num partido político até setembro e desembarcar do Banco Central. Diz que seu compromisso com Lula vai até o fim do mandato do atual presidente. Pode ser. É bom, porém, não apostar alto nessa ficha. Meirelles está ainda mordido pela política e sua ida para o BC em 2003 foi um ponto fora da curva, que apenas adiou seus planos de governar Goiás e, quem sabe, chegar mais alto um pouco na República. Embora Meirelles esteja se mostrando um pouco menos "duro" na condução da política monetária e até se omitindo diante da farra fiscal que se delineia no horizonte, ele ainda é um incômodo nos novos rumos econômicos traçados por Dilma Roussef e Guido Mantega com o incentivo – mais até do que isso, sob pressão – do presidente Lula. A saída de Meirelles, ainda cioso da independência do BC, substituído por um funcionário de carreira do BC, facilitaria o trabalho do Planalto, que já tem bem enquadrados o BNDES, a Caixa Econômica Federal e mais recentemente o Banco do Brasil. Lula não fará força para Meirelles ficar. Pelo contrário...
Os números reais do Orçamento
Com a redução da meta de superávit primário de 3,8% do PIB para 2,5% (que pode virar 1,5%) deste ano, o governo informa que liberou mais ou menos R$ 40 bilhões para garantir os investimentos, que por sua parte, garantirão que o PIB nacional chegará com um crescimento positivo ao final do ano em pelo menos 2%. Isto no ano, pois no último trimestre, pelo binóculo de Mantega, ele estará aquecido em algo entre 4% e 5%. A questão é se este volume de recursos vai mesmo para investimentos produtivos ou para investimentos de bom retorno eleitoral. Somente com os aumentos devidos aos funcionários a partir de julho, serão consumidos mais R$ 29 bilhões. As novas renúncias fiscais – produtos da linha branca, mais materiais de construção – também não foram contabilizadas. Além do mais, o déficit da Previdência Social cresceu 16% de janeiro a março deste ano em relação ao mesmo período do ano passado. Convoque-se um contador, rápido!
Poupança: uma questão eleitoral
O governo inteiro já está convencido de que precisa mudar as regras de remuneração da caderneta de poupança, daqui até a próxima reunião do Copom. Caso contrário, os juros não poderão cair muito mais do que cairão no dia 29. Sabe, mas se "péla" de medo de sofrer algum desgaste político se não se explicar bem ou cometer alguma barbeiragem. O fantasma do "confisco da poupança" de Collor ronda o Planalto. Pelo mesmo motivo, o presidente Lula não quer se intrometer diretamente na confusão jurídica do ressarcimento de possíveis perdas que os poupadores tiveram com os planos econômicos heterodoxos anteriores ao Plano Real. Deixou para o Banco Central esta tarefa, mesmo sabendo também do interesse dos bancos estatais e que no final, conforme a decisão do STF, pode sobrar para o governo, pois foi ele quem impôs aos bancos as regras de correção que estão sendo agora contestadas.
Petrobras: gastos e mais gastos
Não se constituiu em uma "surpresa" as notas registradas na imprensa sobre os gastos da estatal do "petróleo é nosso" com a ONG Fórum das Entidades Negras da Bahia, terra do presidente da empresa José Sérgio Gabrielli e de seu amigo político Jaques Wagner. Há dúvidas sobre a qualidade dos gastos da estatal, sobretudo no quesito eficiência, já há tempos. Analistas especializados no setor de petróleo comentam "à boca pequena" sobre o aumento sistemático e relevante dos gastos da Petrobras desde o início da primeira administração do presidente Lula. Obviamente, a Petrobras é parte integrante (senão atriz principal) da promoção da cultura brasileira via apoio a uma gama elástica de eventos, projetos, filmes, etc. Logo, há poucos críticos dispostos a atentar e comentar sobre a evolução das contas e dos informes financeiros da empresa. Além disso, a Petrobras é grande emissora de títulos no mercado local e externo. Razão para a moderação dos analistas em seus relatórios. Assim sendo, tudo fica sob certo silêncio. De vez em quando, pipocam informações aqui e ali sobre os gastos da Petrobras. Tal qual surgem os poços de petróleo na vastidão do mar...
Críticas que são elogios
O presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, seguindo a senda reaberta recentemente pelo presidente da Câmara, deputado Michel Temer (PMDB/SP), diante dos flagrantes registrados pela imprensa, de "patrocínios companheiros" da empresa que ele dirige, atacou a mídia por divulgar essas notícias. Está virando moda num mundo político em que o presidente da República não lê jornais para não ter "azia". Indignação de Gabrielli à parte, a realidade é que a Petrobras está ficando politizada demais. Aliás, o próprio admite que os preços da gasolina têm um componente político. Esta semana, a companhia, trocou o presidente de sua subsidiária de biocombustíveis, inaugurada há apenas nove meses: saiu o funcionário de carreira, Alan Kardec e entrou o ex-ministro do Desenvolvimento Agrário, Miguel Rossetto, um dos postulantes do PT ao governo do Rio Grande do Sul. E tem o caminhão de dinheiro para ONGs petistas na Bahia (nota acima) onde se diz que Gabrielli é candidato a um das vagas baianas no Senado no ano que vem. Quando às críticas à imprensa do tipo da sacada por Gabrielli e de outros, jornalistas sérios as consideram como um troféu. Graves e preocupantes, no caso, seriam os elogios.
O amor nos tempos do bispo
Fernando Lugo Méndez, atual presidente do Paraguai, ex-bispo que se tornou político proeminente da chamada "esquerda" de nosso continente, é daqueles personagens latino-americanos que cabem com perfeição na literatura de Gabriel Garcia Marquéz. O primeiro mandatário do Paraguai é conhecido pelas suas bravatas sobre a exploração que o Brasil impõe ao pobre país por meio da Hidrelétrica de Itaipu, além das clássicas idéias sobre a exploração capitalista do ser humano. Todavia, o que o ex-bispo gosta mesmo é daqueles amores noturnos com as moças pobres de seu rebanho religioso. É certo que teve um filho (agora reconhecido) de Viviana Carillo há cerca de dois anos "depois de uma longa relação". Vejam só! Agora aparece uma pobre senhora, Benigna Leguizamón, de 27 anos, que alega ter um filho com o bispo-galã Lugo de 57 anos. As mulheres indignadas de seu gabinete clamam ao presidente que faça um exame de DNA. Ou será um vexame de DNA? Não consta que as indignadas tenham renunciado a seus cargos junto ao presidente-bispo e galã. No romance Del amor y otros demonios, Gabriel Garcia Marquéz conta-nos sobre Sierva Maria Todos los Ángeles, uma menina abandonada por sua família e criada entre os escravos. Mordida por um cachorro raivoso, lá pelas tantas e depois de várias tentativas de tratamento, é internada num convento passando a receber a generosa ajuda do Padre Cayetano Delaura. Tentado "pelas coisas do demônio" aquele obrero de Dios torna-se um caliente apaixonado. Ah! O amor! Tudo isto (em Marquéz) se passa 200 anos atrás, mas poderia ser reescrito em terras paraguaias por estes tempos, não é mesmo?
A vice sucessão I
Todos os movimentos do presidente da Câmara, Michel Temer, têm um objetivo: ganhar a vaga de vice na chapa de Dilma Roussef, reservada pelo Planalto ao PMDB. Faltou combinar com Lula, a quem caberá a palavra final, e que tem uma alentada lista de nomes peemedebistas à frente do de Temer. Lula não tem nenhuma predileção por Temer, que no primeiro mandado do petista foi um dos líderes do chamado "PMDB (nem tanto assim) de oposição".
A vice sucessão II
Todos os movimentos do candidato a candidato presidencial Ciro Gomes e seu partidos visam unicamente ampliar o espaço dos dois para tentar alijar o PMDB da posição de o escolhido por Lula para formar a dupla governista com Dilma Roussef em 2010. Esforço vão. Lula não vai contrariar o PMDB que já está dando trabalho, em termos regionais em Minas Gerais, na Bahia, no Rio Grande do Sul, em Santa Catarina, no Pará, em São Paulo...
A vice sucessão III
Ciro Gomes às vezes aponta, como uma espécie de alerta para Brasília, para a possibilidade de fazer um dobradinha com Aécio Neves, que tem entre seus aliados em Minas o PSB. Neto de Tancredo, porém, Aécio não é de aventuras nem pode, mesmo com todo o seu prestígio nas Gerais, se dar ao luxo de ficar quatro anos sem mandato.
(Por José Marcio Mendonça e Francisco Petros)
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