Este espaço se quer simples: um altar à deusa Themis, um forno que libere pão para o espírito, uma mesa para erguer um brinde à ética, uma calçada onde se partilhe sonho e poesia!
terça-feira, 21 de abril de 2009
TIRADENTES
TIRADENTES - O MÁRTIR DA INCONFIDÊNCIA DO BRASIL
1792 - 1992
A história da Independência
poderia ser assim...
Estamos em Vila Rica,
anos oitenta no fim,
o século é dezoito
e para um grupo afoito
haverá batizado sim.
Na noite cheia de sombras
“amanhã é o batizado”
é a senha que corre célere
já com seu dia marcado
por alguns conspiradores
cujos sofrimentos, dores,
tornam qualquer, revoltado .
Assinara um decreto:
o local governador
ordenando a derrama
espalhando o terror
com rigorosa cobrança
de quem já sem esperança
se entregava ao medo e à dor.
E Vila Rica adormece
com a rebelião no ar,
sonhando com Independência
que cansavam de esperar,
numa luta sempre em vão
soprando na escuridão
mensagem que vai chegar.
E tal mensagem chegou
com vivas à liberdade
Palácio da Cachoeira
local de fraternidade...
Dragões de Minas à frente
de um povo mui sorridente
festejando na cidade.
Tomaram Real Fazenda
em plena revolução,
governo de Barbacena
o primeiro na prisão
e emissários, desvario
Bahia, São Paulo e Rio
dando as novas à Nação.
Minas agora está livre
tem governo Nacional
enfim, Independência,
guerra contra Portugal.
A liberdade tardia
brotava naquele dia
provinda de um ideal.
Mas a verdadeira história
se fez muito diferente...
Governador não foi preso
o povo sempre indiferente
não se levantou jamais.
Tiradentes nunca mais
se viu livre novamente.
O Mártir preso no Rio
sofreu uma traição
delatado em Vila Rica
por um coronel vilão,
Joaquim Silvério dos Reis
por causa de alguns mil réis
entregou cirurgião.
Joaquim José da Silva,
parte de mãe , Xavier,
de sete irmãos , era o quarto
filho como outro qualquer
ficou órfão aos onze anos
foi esquecer desenganos
com o padrinho e a mulher.
Ouviu histórias de ouro
na Vila de São José
conheceu todas as lutas
sonhou com Europa até.
Viu fortunas se fazerem
minas de ouro empobrecerem
mas no país tinha fé.
Desiludido tropeiro
e minerador sem sorte,
resolveu ser um alferes
alto, magro, vesgo e forte.
Descendente português
bom conversador se fez
tendo em coragem suporte.
Da Capital da Colônia
a bela Rio de Janeiro,
voltou para Vila Rica
comandante patrulheiro
de um caminho de diamantes
onde nunca viu como antes
ser roubado o brasileiro.
Vila ...Rica? O ouro preto?
Um Joaquim ... Mais um José ...
Capitania de Minas
Tira ouro...Tira fé.
Barbaria, Barbacena
Lusa Coroa sem pena,
sobra de ouro pouca é.
Mas o tempo foi passando
nenhuma promoção vinha
por ser ele brasileiro
que bajulação não tinha.
Levantou então a voz
ante uma opressão feroz
que dominação continha.
Tira esperança, futuro
tempo é duro, sobra é pouca
tudo vai para Lisboa
a Rainha é uma louca
opressão, derrama, lágrimas
de gritar a voz é rouca.
E na Vila Rica em ouro
Igrejas e procissões,
sobradões de muito luxo
e mais manifestações.
Surgiram Cartas Chilenas
escritas a duas penas
cantando as situações.
Qual n’outras partes do mundo,
luta contra tirania
viva, movia as nações.
O homem, ser livre, devia,
poder pensar livremente
e matar rapidamente
o medo que emudecia.
E em vista a Declaração
de que homens nascem iguais
com inalienáveis direitos,
tornaram-se então normais,
busca da felicidade
da vida e da liberdade
de um novo mundo, ideais.
Maciel e Tiradentes
promovem reunião,
na Casa de Paula Freire,
em plena conspiração.
Muitos são os convidados
poetas e até prelados
em prol da libertação.
Proclamação da República,
Nova Constituição,
Sede em São João Del Rei
o final da escravidão,
com uma Universidade
em Vila Rica, a cidade,
como uma compensação.
Mas como aqui foi contado,
alguém de “mau coração“
fez divulgar surdamente
aquela revolução.
Foi a derrama suspensa
com a surpresa não se pensa,
surte fruto a delação.
Esmagada rebelião,
sem um tiro disparado,
começaram as prisões
em um grupo amedrontado.
Com o alferes ausente,
cada membro inconfidente
entrega-se apavorado.
Tiradentes enganado,
duplamente, por Silvério
parte do Rio p’rá São Paulo
envolto ainda em mistério.
Vencido pela tortura
Padre Inácio não segura
o seu segredo mais sério.
Relata onde está o alferes:
Na Rua dos Latoeiros
tramando planos de fuga.
E o herói levam armeiros
que com bacamarte na mão
uma última reação
tenta em gestos derradeiros.
Pouco a pouco, inconfidentes
sob agressão se renderam.
Primeiro foi Alvarenga,
e os demais o sucederam.
Só Gonzaga resistiu
pois contra, prova não viu,
e os fatos só o absolveram.
Tira o fado... Tira o medo
imprudência dos mazombos
caça à Maciel, Rolim,
devassa, estrondos e rombos.
A poesia naufraga
Peixoto, Manuel, Gonzaga
a causa se faz escombros.
Em três interrogatórios,
alferes tudo negou
mas no quarto, em janeiro,
resolveu e confessou
toda a culpa ele assumiu
ser chefe único, mentiu
e aos seus amigos salvou.
Dez vidas ele daria
se assim ele as tivesse
para salvar seus amigos.
E como assim Deus quisesse
uma única ele a deu
de um corpo que se abateu.
Ato que nos enrubesce!...
Cruel dar a vida... A única,
patíbulo sem gemido
feito em quartos, credo ora,
Cristo em sedição punido
único de trinta e quatro.
Pedro Américo no esquadro
o retrata embevecido.
Tiradentes está morto,
bater dos tambores cresce,
um ser balança no ar,
mas causa não adormece.
Do Largo da Lampadosa
a idéia maravilhosa
até hoje nos aquece.
Os pensamentos rebeldes,
gestos desobedientes,
desejos de liberdade,
são sempre ingredientes,
por homens livres, buscados
nas sombras dos enforcados
como o foi “O Tiradentes “.
Autor: Antonio Carlos Tórtoro
TRABALHO PREMIADO NO
I CONCURSO NACIONAL DE LITERATURA DE CORDEL
- AMOR- CPERP -
EM HOMENAGEM AO BICENTENÁRIO DE
JOAQUIM JOSÉ DA SILVA XAVIER
2o. lugar
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Um comentário:
Olá Júnior,
A Saga de "Tiradentes" narrada em versos, é mais uma das proezas dos cordelistas, que já chegaram as salas de aula apresentando de uma maneira diferente, a nossa história passada e presente.
Um abraço,
Dalinha Catunda
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