quinta-feira, 7 de maio de 2009

ANÁLISE DOS FATOS POLÍTICOS



Cuidado com os ladrões...

Cabralzinho, líder estudantil em Campina Grande, foi passear em Sobral, no Ceará. Chegou em dia de comício. No palanque, longos cabelos brancos ao vento, o deputado Crisanto Moreira da Rocha, competente orador da província:

- Ladrões!

A praça, apinhada de gente, levou o maior susto.

- Ladrões! Ladrões, porque vocês roubaram meu coração!

Cabralzinho voltou para Campina Grande, candidatou-se a vereador. No primeiro comício, lembrou-se de Sobral e do golpe de oratória do deputado, fechou a cara, olhou para os ouvintes com ar furioso:

- Ladrões!

Ninguém se mexeu. Cabralzinho sabia que política em Campina Grande era briga de foice no escuro. Queria o impacto total.

- Cambada de ladrões!

Foi uma loucura. A multidão avançou sobre o palanque. Pedra, pau, sapatos. O rosto sangrando, acuado, Cabralzinho implorava:

- Espera que eu explico! Espera que eu explico!

Explicou. Ao médico, no hospital.

A historinha é narrada pelo insuperável Sebastião Nery.

Revelação

Lina Vieira, a bonita e competente Secretária da Receita Federal, é um dos melhores quadros do governo Lula. Técnica, afável, ágil, suprapartidária. Trata-se de um perfil que encarna uma nova geração de administradores. Que vê o país como a Pátria de Todos. Não deve avançar mais que o tamanho do passo. Não deve permanecer no passo do passado. Caminhar de acordo com as condições das estradas. Sem percalços. Ouvindo os caminhantes do caminho. Eis aí uma boa forma de avaliar o país.

Gripe suína, fome bovina

A gripe suína não tem sido capaz de atenuar a fome bovina. Estamos falando, claro, da fome insistente e persistente que assola os estômagos políticos. Não há gripe que atrapalhe a vontade da política em abrir espaços e conquistar territórios. Vamos aos movimentos perceptíveis: o PT ensaia as primeiras rusgas por conta da disputa entre alas e atores. O caso mais visível é o do Rio Grande do Sul, onde Tasso Genro se articula para sair como candidato petista ao governo. Encontrará resistências. O próprio presidente do partido, Ricardo Berzoini, parece inclinado a amparar os adversários do ministro da Justiça. O PMDB aguça os sentimentos e começa a ouvir as orquestras da situação, onde está por ora abrigado, e da oposição, onde poderá assentar praça.

PMDB: para onde ir?

O maior partido brasileiro poderá permanecer na base governista que se reunirá em torno da candidata Dilma Rousseff. Condições: 1ª) a ministra deve apresentar condições pessoais e políticas para se viabilizar eleitoralmente; 2ª) o partido precisa integrar o núcleo duro do governo, ou seja, ter voz ativa na cúpula governista, com assento no Palácio do Planalto; 3ª) o partido tem direito ao espaço de vice na chapa presidencial; 4º) os espaços partidários na administração federal devem ser preservados e, mais adiante, até expandidos. Sob estas condições, o PMDB se motivará a permanecer no entorno de Lula. Mesmo assim, vale dizer, não se espere fechamento pleno de posição. Em alguns Estados, a partir de São Paulo, o partido caminhará com a oposição.

"Os velhos amigos são os melhores. O rei Jonas costumava pedir os seus velhos sapatos, porque eram mais folgados para os seus pés." (John Selden, jurista inglês)

DEM: como permanecer?

O DEM, por sua vez, ensaia os primeiros movimentos na direção do adensamento partidário. Recordando: este partido, até bem pouco, era considerado uma espécie de linha secundária do PSDB. Hoje, é visto com respeito e força. Quem está por trás dessa estratégia é o habilíssimo prefeito Gilberto Kassab, um dos mais competentes políticos da nova geração. Kassab costura apoios à direita e à esquerda, sem esquecer de olhar adiante. Põe muita vitamina na estratégia de fortalecimento do partido com vistas a um eficaz desempenho em 2010. O DEM começa a mostrar mais independência. Não quer ser considerado apêndice, meia sola. Dessa forma, os Democratas começam a desenhar letras maiúsculas no abecedário da política.

PSDB sem rumos

Quem parece sem rumos é o PSDB. A maior liderança do partido é José Serra. Confinado no Palácio dos Bandeirantes, não tem olhos e ouvidos para a realidade. Reúne autoridades internacionais, faz recepção festiva a autoridades internacionais, como a premiação ao ex-presidente James Carter, um ícone dos Direitos Humanos. Mas os nossos grandes eleitores - lideranças de partidos, prefeitos de metrópoles, governadores de Estado, líderes de categorias profissionais, enfim, gente com cheiro das ruas - não são muito de freqüentar a monumental construção palaciana naquele morro do Morumbi.

Tucanos partidos

Ademais, os tucanos se apresentam com os bicos partidos. José Aníbal não tem voz para comandar toda a bancada na Câmara. Geraldo Alckmin é secretário do governo Serra, mas faz parte de uma floresta afastada da mata serrista. Como se sabe, o candidato in pectore de José Serra é Aloysio Nunes Ferreira, chefe da Casa Civil. Que não exibe perfil para o Executivo. O presidente do tucanato é pernambucano. Uma banda vigorosa está sob as asas de Aécio Neves. Que lutará denodadamente para sair como candidato tucano à presidência. Quanto ao maior tucano, FHC, bom, este vive de glórias e homenagens. Tem voz, sim. Mas o ex-presidente não tem mais apetite para guerrear.

PTB e o terceiro mandato

E para onde vai o PTB? Para onde o PT decidir. Roberto Jefferson, presidente do partido, abre mais uma frente de polêmica, ao defender um terceiro mandato para Lula, caso Dilma Rousseff tenha problemas mais adiante. O senador Fernando Collor, que é o PTB (quem sabia?), igualmente defende esta idéia. Imaginem só. Collor e Lula eram azeite e água. Não se misturavam. Collor ganhou a campanha depois de muita matreirice midiática. Hoje, é cabo eleitoral de Luiz Inácio Lula da Silva.

"Dona Chiquita, minha velha mãe, quase 93 anos, lúcida e falante, sempre me lembra: 'meu filho, meu filho, nunca diga - desta água não beberei'. Quanta sabedoria!"

O PTB paulista

E em São Paulo, com quem ficará o PTB? Com quem Campos Machado quiser. Por enquanto, a definição é: Geraldo Alckmin, candidato ao governo de São Paulo, sem a simpatia de José Serra.

PMDB no RN

O PMDB está dividido até no seio das famílias. No Rio Grande do Norte, o deputado federal Henrique Alves tende a fechar aliança com o candidato da governadora Vilma Faria, em 2010. Já o senador Garibaldi Alves quer formar aliança com a candidata do senador do DEM, José Agripino, a senadora Rosalba Ciarlini. A equação se ampara na pragmática da política. Há duas vagas para o Senado e três candidatos: Garibaldi, Zé Agripino e Vilma. Um sobrará. As alianças a serem feitas terão como pano de fundo a equação do Senado.

"Se a dor de cabeça nos chegasse antes da embriaguez, guardar-nos-íamos de beber demais." (Michel de Montaigne)

Dilma, primeiro cenário

Dilma Rousseff administra de maneira positiva sua doença. Faz todos os exames e se submete ao rígido tratamento. Em princípios de 2010, se apresenta firme e resoluta no painel das candidaturas. Não apresenta nenhum traço estético como sequela da doença. Passou no teste. Será uma grande candidata. Com possibilidades de subir ao pódio.

Dilma, segundo cenário

Dilma Rousseff chega ao princípio de 2010 exibindo marcas da doença e dando continuidade ao tratamento. A fogueira política está alta. Vais e vens e vens e vais. Lula faz uma bateria de consultas. Decide ouvir a própria candidata. Que deixa o presidente livre para tomar a decisão que julgar mais adequada. Lula decide que a candidata será ela mesma. Fragilizada, a mãe do PAC comove a Nação e ganha um abraço geral de solidariedade. Tem condição de levar a melhor? Poucas chances ela terá. O eleitor sabe distinguir entre solidariedade humana e racionalidade eleitoral - o voto é um escudo para proteção ao futuro.

Dilma, terceiro cenário


Dilma Rousseff, abalada com o tratamento, toma a decisão de deixar a arena política. Desiste de sua candidatura mesmo sob o apelo de Lula. Cuidará da saúde. Os governistas partem para a luta. Cada ala quer lançar um candidato. O PMDB racha, mas a maior parte vai para a oposição. Outros partidos são tentados a fazer o mesmo. José Serra, nesse cenário, fará uma campanha triunfante.

Déficit orçamentário e roubalheira

Durante a campanha para a prefeitura de São Paulo, em 1985, Jânio Quadros contou com o apoio do deputado e ex-ministro Delfim Netto. Durante um comício para moradores de um bairro de periferia, Delfim terminou sua fala dizendo : "A grande causa do processo inflacionário é o déficit orçamentário!" Logo depois, Jânio chamou Delfim de lado e disse : "Delfim, olhe para a cara daquele sujeito ali. O que você acha que ele entendeu do seu discurso ? Ele não sabe o que é processo. Não sabe o que é inflacionário. Não sabe o que é déficit. E não tem a menor ideia do que é orçamentário. Da próxima vez, diga assim : - A causa da carestia é a roubalheira do governo !".

O deputado Protógenes


Anotem aí: o delegado Protógenes será candidato a deputado em 2010. Provavelmente pelo PDT, numa chapa comandada por Paulinho da Força. Será apresentado como a "força moral". Que combateu a frente do Mal. Tarefa difícil será gravar seu nome. Por via das dúvidas, Paulinho lhe dará um número bastante popular. Como 12 é o número do PDT, uma ideia: acrescentar ao 12 o número de operações comandadas ou com a participação do delegado. Não é gozação: esperem! O marketing protogênico deverá seguir essa trilha.

Cruise Day

A Associação Brasileira de Representantes de Empresas Marítimas patrocinará nesta sexta-feira o maior evento do setor, o Cruise Day, que se destina a apresentar as novidades para a próxima temporada. Agentes de viagem de todo o Brasil estarão participando do evento que, no passado, reuniu 1,8 mil pessoas. Em paralelo, será realizado o II Fórum Abremar, voltado para o debate de questões institucionais, como o conceito de cruzeiros de longo curso, tributos, legislação trabalhista nos cruzeiros e impactos econômicos nos destinos.

Alavancagem turística

O turismo brasileiro ampliou suas possibilidades com os cruzeiros. O Brasil passou a ter endereço mais legível na agenda dos cruzeiristas internacionais. E as cidades-destino por onde passam os navios viram a alavancagem de suas economias em cerca de 40%. Por isso, os cruzeiros entraram na agenda governamental. Autoridades dos Ministérios da Justiça, Trabalho, da Anac, Anvisa, Fazenda e Secretaria dos Portos se farão presentes no II Fórum Abremar. Já o presidente da Comissão de Turismo da Câmara, deputado Afonso Hamm, achou conveniente não aparecer. A assessoria do parlamentar deve ter lá suas razões para desaconselhar sua presença num dos maiores eventos turísticos do país. Tomar um cafezinho em Passo Fundo ganha mais votos que ouvir lorotas nas metrópoles. Esse entendimento, infelizmente, ainda dá o tom da humanidade. Que o "Deus do Bom Senso" abençoe o boa-praça Afonso Hamm.

Narigudos


"Nariz, nariz e nariz,
Nariz, que nunca se acaba;
Nariz, que se ele desaba,
Fará o mundo infeliz;
Nariz, que Newton não quis
Descrever-lhe a diagonal;
Nariz de massa infernal,
Que, se o cálculo não erra,
Posto entre o Sol e a Terra,
Faria eclipse total!"

(Bocage)

Múcio firme ou capengando?

José Múcio, ministro das Relações Institucionais, mostrou interesse em habitar o Olimpo do Tribunal de Contas da União. Foi o sinal para uma grande disputa em torno de seu cargo. O PT quer colocar em seu lugar o deputado Arlindo Chinaglia. Uma ala do PMDB - a do Senado - gostaria de indicar um nome. Mas o PMDB da Câmara defende a continuidade de Múcio. O ministro-boa praça - dizem - está muito firme. Mas se o olhar continuar a enxergar o TCU, não há base que o sustente.

Suplicy é candidato?

O senador Eduardo Suplicy deu uma sumida. Desapareceu da mídia. Nunca mais ensaiou Bob Dylan no plenário do Senado. Talvez tenha sido alertado que, no meio da fogueira das denúncias, a melhor coisa é se esconder na moita. Mas, falante como é, não resistiu e pôs a boca no mundo: quer ser candidato ao governo de São Paulo. Uma boa ideia. Até porque o PT não tem grandes nomes. O melhor candidato ao cargo, o deputado Antonio Palocci, ainda espera pelo vestibular do STF. Suplicy, enquanto não se inviabiliza ou não for inviabilizado, desempenhará o papel de boi de piranha.

Obama e Lula

Dizem que Lula está fascinado por Barack Obama. Que cita dez vezes por dia o nome do presidente norte-americano. E que teria autorizado a produção de um blog na Internet, à maneira de Obama, para se comunicar com o povo. Com direito a muita gíria e imagens futebolísticas.

"Penso, logo existo." (René Descartes)

"Umas vezes, penso; outras, existo." (Paul Valéry)

Conselho aos congressistas

Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na edição passada, o espaço foi destinado aos parlamentares. Hoje, volta sua atenção aos congressistas:

1. Está na hora de o Congresso reentrar na agenda dos grandes debates nacionais.

2. A sociedade clama por um sistema tributário mais justo e menos oneroso; e por um sistema eleitoral mais próximo ao dia a dia dos eleitores.

3. Se os temas candentes da realidade nacional não entrarem na agenda deste ano, será quase impossível inseri-los na pauta do ano eleitoral de 2010. O tempo urge. Mãos à obra.

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