sexta-feira, 27 de agosto de 2010

UMA MULHER CHAMADA TERESA

Muitos são os que afirmam que “por trás de um grande homem existe sempre uma grande mulher”. Outros, no afã de externar generosidade, fizeram um reparo e asseveraram que é “ao lado do homem que encontramos a grande mulher”.

Perdoem-me, mas penso diferente. Mulheres há que, sem fixação, indiferença ou rejeição ao companheiro, constroem marca própria!

Nunca desfraldei bandeiras feministas, mas sempre admirei as mulheres talentosas que, conservando a ímpar doçura maternal, exibem a fortaleza das descendentes de Eva. O útero da História é pródigo em exemplos: Cleópatra - uma das mulheres mais festejadas da história da humanidade – além de deslumbrante, era inteligente e culta, e sua notória esperteza manteve as fronteiras do seu reino; Joana D’Arc, jovem camponesa que vestiu a farda militar e foi protagonista de uma guerra que restabeleceu a dignidade francesa, além de ser queimada pela mesma Igreja que, séculos depois, reconheceu sua santidade; a catarinense Anita Garibaldi, combatente da Revolução Farroupilha, mulher muito à frente de seu tempo... A lista é, pois, numerosa...

Antes de rabiscar estas linhas, pensei em homenagear uma mulher de forma singular.

Imaginei, primeiramente, que poderia ser aquela que me gerou, cujo convívio me foi subtraído prematuramente.

Depois, pensei que poderia ser a minha esposa, a quem prefiro chamar de consorte, porque compartilha comigo o sonho, a sesta, a saudade, o silêncio, a sonoridade, a soledade, os surtos, os sustos... enfim, a sorte de viver.

Mas há uma que, pela colossal história de vida, galgou um tipo tão superior de destaque que merece um registro todo especial.

Antes do mais, foi considerada pelo então Secretário Geral das Nações Unidas, Pérez de Cuéllar, como “a mulher mais poderosa do mundo”.

Sem ter gerado um único filho, transformou-se, pela esplendorosa fé e pelo oceânico amor, na mãe mais fecunda do planeta.

Sobre ela, a diretora de uma revista feminina escreveu um chamativo artigo intitulado “UMA MULHER QUE NUNCA PASSARÁ DE MODA”. De início, afirmava: “Não é Cindy Crawford nem Cláudia Schiffer. Provavelmente, nunca entrou numa boutique, mas é uma das mulheres que marcam o passo à Humanidade e que deixarão um rasto indelével no século que termina. É muito possível que a preocupação pelo seu look não passe da água e do sabão, mas o seu olhar irradia uma força especial”.

A passarela por onde desfilou e exibiu seu glamour e sua beleza extraordinária foi o espaço onde reluzia a dor e a miséria mais comoventes, nos corredores desprezados dos aidéticos, nos esgotos onde se escondiam os vitimados pela lepra. Ruanda e Angola, Ulster e Biafra, a Etiópia e a Somália, o Harlem e o Bronx, o Tondo de Manila e o Líbano estão entre os palcos de sua vida. Diuturnamente, comendo de maneira frugal e dormindo apenas três horas diárias, em solene e incansável vigília de amor, operou sua missão sob o pálio do ‘ora et labora’.

Nascida em 26 de agosto de 1910, em Skoplje, um lugar entre a Albânia e a antiga Iugoslávia, atual República da Macedônia, construiu um verdadeiro império de amor e caridade. Hoje, são mais de 450 centros de assistência em mais de cem nações de todo o mundo, inclusive no Brasil, e quase cinco mil religiosas e duzentos missionários, espalhados em albergues para adolescentes grávidas, cozinhas gratuitas para famintos e refúgios para pessoas sem lar.

No dia 5 de setembro de 1997, o coração dessa mulher iluminada parou de palpitar. Seu nome: Inês (Agnes) Gonscha Bojaxhiu, eternizada como Madre Teresa de Calcutá, a missionária do século XX.

Sua mensagem, estrela flamejante em defesa da vida, continua contundente:

- “O mundo que Deus nos deu é mais do que suficiente, segundo os cientistas e pesquisadores, para todos; existe riqueza mais que de sobra para todos. Só é questão de reparti-la bem, sem egoísmo. O aborto pode ser combatido mediante a adoção. Quem não quiser as crianças que vão nascer, que as dê a mim. Não rejeitarei uma só delas. Encontrarei uns pais para elas. Ninguém tem o direito de matar um ser humano que vai nascer: nem o pai, nem a mãe, nem o Estado, nem o médico. Ninguém. Nunca, jamais, em nenhum caso. Se todo o dinheiro que se gasta para matar fosse gasto em fazer que as pessoas vivessem, todos os seres humanos vivos e os que vêm ao mundo viveriam muito bem e muito felizes. Um país que permite o aborto é um país muito pobre, porque tem medo de uma criança, e o medo é sempre uma grande pobreza”.

Mulheres desse naipe nos instigam a celebrar, com o incenso da profundidade, a Mulher!

(Júnior Bonfim)

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