quarta-feira, 19 de novembro de 2008

A NOITE DE DOLORES!

DOLORES DURAN GANHA HOMENAGEM DE QUATRO MAGISTRAIS INTÉRPRETES: LENY ANDRADE, DORIS MONTEIRO, CLAUDETTE SOARES E SORAYA RAVENLE

As comemorações pelos 200 anos do Banco do Brasil continuam mostrando toda a riqueza da cultura brasileira. Depois da exposição de Francisco Brennand, em julho, agora é a vez da música ser apresentada ao público de Fortaleza, através do show “Dolores Bis”, uma homenagem a Dolores Duran, nas vozes de Leny Andrade, Doris Monteiro, Claudette Soares e Soraya Ravenle. A programação do Centro Cultural Banco do Brasil Itinerante acontece hoje, a partir de 21h, no Theatro José de Alencar.

Com uma trajetória breve, mas inesquecível, a cantora e compositora Dolores Duran representou o auge do samba-canção, aquele marcado pela fossa e que também está associado à obra de compositores como Herivelto Martins e Lupicínio Rodrigues. Morreu jovem, aos 29 anos, deixando uma obra que também antecipou a Bossa Nova, oficialmente surgida um ano antes de sua morte. A relação com o gênero estava na interpretação até certo ponto intimista e ainda em ao menos uma canção, em parceria com Tom: “Estrada do Sol”.

DOLORES EM QUATRO TEMPOS

Leny, Claudette, Doris e Soraya apresentam suas visões do repertório de Dolores. Apesar de ser a mais jovem, a cantora e atriz Soraya Ravenle já a interpretou em um musical, premiado com o Shell no fim dos anos 90. No Rio, ela vem se destacando no gênero, em projetos como “Sassaricando”, em torno do repertório das marchinhas de Carnaval. É ela quem dá início ao espetáculo, interpretando “Manias” (de Flávio e Celso Cavalcanti, e depois sucesso com Doris Monteiro e Tito Madi, em 73), “Noites de Paz” (Dolores Duran) e “O que é que eu faço” (Ribamar e Dolores).

Na seqüência, Leny Andrade, esta já bem mais assídua entre os palcos cearenses, traz “Por Causa de Você” (de Tom e Dolores, em que ela “roubou” a música de Vinicius, que teve que reconhecer a força dos versos de Dolores e que se tornariam um de seus maiores sucessos, lançado em 57 por ela e por Sylvia Telles e logo depois registrada por Leny Eversong, Maysa, Angela Maria, Elizeth Cardoso e Helena de Lima), “Fim de Caso” (clássico do repertório de Tito Madi e ainda de Lúcio Alves e de Doris Monteiro) e “O negócio é amar” (Carlos Lyra e Dolores Duran, em um clássico do repertório da própria Leny).

Claudette Soares chega com “Ternura Antiga” (Ribamar e Dolores, também conhecida na voz de Tito Madi), “Não me Culpe” (Dolores) e “Canção da Tristeza” (Edison Borges e Dolores, também do repertório de Lúcio Alves e Marisa Gata Mansa, outra das suas grandes intérpretes). No fechamento, Doris Monteiro, como as anteriores, uma das mais importantes intérpretes do país, apresenta “Castigo” (Dolores, também sucesso com Maysa), “Tome Continha de Você” (Edison Borges e Dolores, gravada por Paulinho Nogueira, Elizeth Cardoso e Elza Laranjeira) e “A Banca do Distinto” (Billy Blanco, que ganhou também gravações de Isaura Garcia, da própria Doris e Elis Regina). Agora, o “gran finale”: todas juntas em “A noite do meu bem”, clássico de Dolores que já seduziu outros símbolos, como o grupo Kid Abelha, Martinho da Vila, Alcione e o iconoclasta Tom Zé.


UMA CARIOCA COM NOME E JEITO LATINO

A carioca Adiléia da Silva Rocha ganhou seu primeiro prêmio no programa ´Calouros em Desfile´, do carrancudo compositor e produtor cultural Ary Barroso. Tinha 10 anos. Repetia-se a mesma história de outros ícones desta nossa resistente música popular brasileira, como Elza Soares, trataa pelo própria Ary, a princípio, como um ser de outro planeta. ´O Planeta Fome´, asseverou a genial intérprete. Adolescente, Adiléia já mantinha a família com o que ganhava cantando, envolvendo-se em boleros e em outros ritmos latinos, motivo por que logo passou a ser conhecida como Dolores Duran. Gravou sambas de Carnaval no início dos anos 50 e logo foi contratada da Rádio Nacional, fazendo parceria com Chico Anysio. Fazendo sucesso cantando inclusive suas composições, como ´Por Causa de Você´ (em parceria com Tom Jobim), virou um ícone da transição entre o samba-canção e a bossa nova, até sucumbir a uma cardiopatia congênita, em 23 de outubro de 1959. Seus sucessos, gravados por grandes intépretes da música brasileira, pertencem à sua melhor estirpe , como comprova a apresentação de hoje à noite, envolvendo Leny Andrade, Dóris Monteiro, Claudette Soares e Soraya Ranvele.


(Henrique Nunes, Repórter do Diário do Nordeste)

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