Este espaço se quer simples: um altar à deusa Themis, um forno que libere pão para o espírito, uma mesa para erguer um brinde à ética, uma calçada onde se partilhe sonho e poesia!
quinta-feira, 21 de maio de 2009
CONJUNTURA
QUE ESPETÁCULO DE COMÍCIO
1986. Comício de encerramento da campanha de Freitas Neto (PFL) ao governo do Piauí. Os carros de som anunciavam, desde cedo, o grande comício de fechamento da campanha. Um espetáculo com o showmício da grande cantora Elba Ramalho. Na época, as carretas com imensos aparelhos de som saíram do Rio de Janeiro, dez dias antes da data. Mas as fortes chuvas na região atrapalharam o transporte. A lama nas estradas atrasou a chegada. O som chegou quase em cima da hora do comício na Praça do Marquês. Coordenador da campanha do candidato, cheguei ao local um pouco antes para ver o ambiente.
O TORÓ...
Os técnicos se esforçavam para instalar os aparelhos e arrumar os grossos cabos. 18 horas. Um toró (como se diz no Nordeste) começa a cair. A chuva torrencial começou a fazer a grande festa. Praça lotada. Três mil piauienses pulavam entusiasmados sob a água que caia. As garrafas de cachaça corriam de mão a mão. De repente, um estrondo, seguido de outros. Fogo e fumaça nos cabos. Corre corre dos técnicos e o aviso: "Acabou o som. Não há condição." Não havia aquele tipo de cabo. Elba Ramalho foi logo atirando:
- Está aqui meu contrato. Sem som, não canto.
Conversa daqui, conversa dali, aflição por todos os lados. Depois de muita insistência, ela admite:
- Cantarei uma música, só, e me arranjem um acompanhamento.
Saiu não sei de onde um cara com um banjo. O povão gritava:
- Elba, Elba, Elba, cadê a Elba?
Bate, bate, bate, coração...
A cantora saiu de trás. A multidão explodiu. E lá vem a música:
- Bate, bate, bate, coração!
Nem bem terminava a estrofe, Elba parou. Presenciei, ali, uma das maiores aflições de minha vida, um esculacho na massa:
- Seus imbecis, seus loucos, covardes, miseráveis. Como podem fazer uma coisa dessas?
O que era aquilo? Por que aquele carão?
Olhei para o meio da multidão. E vi a cena: um sujeito abrindo a boca de um jumento, enquanto outro despejava nela uma garrafa de cachaça. Foi o toque que faltava para o anticlímax. Quanto mais Elba xingava a multidão, mais apupos, mais vaias. No dia seguinte, Teresina respirava um ar de gozação. O showmício de Freitas Neto foi um desastre. Senti o ar pesado. Pesquisas nos davam 3% de maioria sobre Alberto Silva, candidato do PMDB. Perdemos a campanha por 1%. O desastre virou o clima. Quando faço palestras sobre Marketing Político, costumam me perguntar:
- Professor, qual é o fator imponderável em campanha eleitoral?
Na bucha, grito:
- Um jumento bêbado no Piauí.
A ESTÉTICA DA PRÉ-CAMPANHA
A estética da pré-campanha abriu os primeiros sinais. No aeroporto de Brasília, a ministra Dilma Rousseff põe as mãos na cabeça num gesto que parecia segurar a peruca. Era a foto que os jornais começaram a perseguir desde que a candidata in pectore de Lula à presidência da República anunciou seu tratamento contra um câncer linfático. Doravante, essa foto continuará a estampar os espaços jornalísticos. Os limites entre vida privada e vida pública são extremamente tênues. Que, no caso da ministra, serão escancarados.
UMA LEVE DOR DE CABEÇA
Pois é, a ministra, agora, atravessará um gigantesco corredor polonês. Se tiver uma leve dor de cabeça, pulará para a primeira página dos jornais. Dor nas pernas? Tome manchete. Dor nos ombros? Tome espetáculo. Esse é o terrível e custoso preço por que passam as figuras públicas. Mas, com todo respeito pela ação midiática em direção ao furo jornalístico, a ministra Dilma merece também respeito. E solidariedade. Que implica contenção e propensão ao sensacionalismo.
CPI DA PETROBRAS
A CPI da Petrobras acentuará a arenga entre governistas e oposicionistas. O governo terá ampla maioria na CPI. Os membros da oposição farão barulho, mas não a ponto de deflagrar mais uma crise. A razão? A Petrobras é uma empresa que mora no coração dos brasileiros. Insinuação mais forte a respeito de interesses privativistas no entorno dessa mega empresa causará danos. A oposição, se quiser ir com muita sede ao pote, deixará de beber água. Ademais, ao que parece, o DEM não tem intenção de obstruir os caminhos do óleo.
AÉCIO VAI OU RACHA
Aécio Neves nunca esteve tão entusiasmado com a possibilidade de vir a ser candidato à presidente da República como agora. A seu redor, circula um grupo de deputados e assessores, cujo mantra é ouvido das montanhas de Minas aos grotões do Nordeste: "quem sabe faz a hora, não espera acontecer". Neves faz as contas: perde na cúpula tucana, mas tem condições de ganhar nas bases. Com a doença da ministra Dilma, seus ouvidos passaram a ser incomodados com mais um refrão: "se acontecer aquilo, você é a moeda da vez". Essa zoada tem batido nos ouvidos deste escriba.
MAIS DE 6 BI
Luiz Inácio é bom de boca. Exibe um canto mavioso para as massas. Atravessa o meio social e fala para as margens. Passa por cima das críticas da mídia. Não dá a mínima pelota para os formadores de opinião. Construiu círculos de poder: Bolsa Família, laçando 46 milhões de brasileiros; um milhão de casas populares, que começarão a ser entregues em 2010; o PAC, que faz do país um canteiro de obras; diminuição do IPI para automóveis e motos; juros diminuem; o desemprego começa a ceder e os sinais da crise se tornam mais tênues; o agronegócio retoma seu fluxo; a agricultura familiar recebe um "adjutório". E, ainda por cima, o cara gastou mais de R$ 6 bilhões com propaganda. Isso mesmo: 6 bi.
ESCALAR A MONTANHA
Essa é a montanha que o candidato oposicionista – seja José Serra ou outro – deverá escalar. Lula não conseguirá transferir votos. É o que se diz e o que se sabe. Não o fez por ocasião da campanha municipal. Vamos com calma com o andor. Toda campanha tem um clima, circunstâncias próprias. Ele poderá, até, não transferir votos, mas a situação de estabilidade e normalização no campo do trabalho poderá facilitar a vida de um candidato situacionista, seja Dilma ou outro. O candidato das oposições terá de passar por mil obstáculos. Um candidato da situação enfrentará menos obstáculos.
E OS ÍNDICES?
E os índices de intenção de voto, não contam? Não servem para nada? Aqui, vai a resposta: índice de intenção de voto, a essa altura, é igual ao desenho do elefante visto nos céus. Dentro de pouco tempo, o que era elefante se esgarça e se transforma em gafanhoto; e o que era uma nesga de nuvem, parecendo um gafanhoto, se agiganta, mais parecendo o incrível Hulk. Durante uma exposição massiva, de 45 dias seguidos e intensos, qualquer desconhecido se transforma em astro, celebridade. As campanhas eleitorais fazem esse milagre.
TUDO BEM, E DAÍ?
Daí, podem ser feitas as seguintes observações. A eleição de um candidato depende do momento, das circunstâncias, da temperatura social, dos versos e reversos da economia, do perfil dos adversários, dos debates e combates na arena eleitoral, dos climas regionais, da força da mídia eleitoral (significando tamanho dos programas eleitorais), dos inputs momentâneos (uma crise abrupta, um caso espetaculoso) – enfim, de uma escala de elementos ponderáveis e imponderáveis. Os fatores imprevisíveis abrem as possibilidades. Única verdade: peru não morre de véspera.
PRÓS E CONTRAS
Em uma comparação regulada pela régua do rigor – capacidade, experiência, história política, visão global – José Serra assume o topo do ranking. Mas conserva uma imagem exageradamente paulista. E, como sabemos, há um certo preconceito contra o peso de São Paulo no desenho federativo. Aécio Neves tem muitos atributos, mas estaria abaixo de Serra no ranking. Agrega, porém, em torno do seu perfil elementos que podem impressionar: jovialidade, modernidade, centralidade (Minas Gerais não desperta tanto ciúme ou desconfiança quanto São Paulo), espontaneidade. Contra ele, a percepção de que tem muito que aprender; não está ainda preparado para chegar ao topo. Já Dilma Rousseff reúne elementos como: capacidade gerencial, a condição feminina (diferencial a ser trabalhado), novidade, perfil bem assentado na estrutura de estabilidade social e econômica do país. Mas é vista como o eco da voz do presidente. Lula é poderoso, mas não é Deus.
O VICE CABRAL
Sérgio Cabral teria melhorado sua posição no ranking da aprovação pública. Por conta desse crescimento, sobe uma posição no ranking dos vices da candidata Dilma. Lula gostaria de escolher um vice do PMDB com voto. Como é amigo do governador do Rio, qualquer inferência nesse sentido tem muita lógica.
YEDA
Até quando irá o calvário de Yeda Crusius? Diz-se que o PSDB, a essa altura, já a considera uma carta fora do baralho de 2010 no RS.
PSB AGITADO
O partido que vive o maior rebuliço após o anúncio da doença da ministra Dilma não é o PMDB, como se pensa, mas o PSB. Ciro Gomes corre pelo centro e pelas margens com o intuito de aumentar suas chances como candidato. O conselho para ele de muita gente é: amacie a língua, domine a pantera que habita sua garganta.
TERCEIRIZAÇÃO EM FOCO
O deputado Michel Temer, presidente da Câmara, solicitou ao deputado Sandro Mabel (PR/GO) que procurasse reunir as partes interessadas no projeto 4.302/98, que versa sobre a Terceirização de Serviços e atualiza o Trabalho Temporário, com o intuito de alcançar uma base de consenso. É ideia do presidente inserir o Projeto na agenda da Câmara nos próximos 30 dias.
CUSTOS SÃO CONSEQUÊNCIA
"O problema é que as empresas buscam só redução de custo e acabam contratando as de preço mais baixo, sem qualidade. A Terceirização é importante quando otimiza a produção. A redução de custos deve ser uma consequência." (Jan Wiegerinck, presidente do Sindicato das Empresas de Prestação de Serviços a Terceiros, Colocação de Mão de Obra e de Trabalho Temporário no Estado de São Paulo - Sindeprestem), ao argumentar que aqueles que dizem que a responsabilidade solidária, prevista no projeto que regulariza a Terceirização, encarece a produção.
BARREIRA MINISTERIAL
Ocorre que, a esta altura, a Terceirização começa a ser disputada por candidatos a pai. O Ministério do Trabalho quer aparecer, também, como patrocinador do projeto. Por mais que se argumente sobre o 4.302/98, projeto pronto para ser aperfeiçoado e votado, o Ministério do Trabalho, por insistência do ministro Lupi, quer fazer valer a sua escrita. E, como se sabe, projeto novo entra em lista, devendo passar pelos trâmites congressuais. Haja tempo. Esse é o custo Brasil do atraso.
CADÊ O EDUARDO?
Onde está o governador Eduardo Campos, governador de Pernambuco? Desapareceu dos espaços midiáticos. Trata-se de um bom nome para figurar na chapa presidencial de 2010. Preparado, bem avaliado, bem articulado, símbolo de uma nova geração.
PR QUER AÉCIO
O PR quer Aécio como seu candidato à presidente da República. Neves desconfia do PMDB. E abre mais uma janela. Que pode ser usada em setembro próximo.
CHINESES NO BRASIL
Condição para que a China expanda seus investimentos no Brasil: mandar, junto, contingentes de chineses. Vai ser engraçado ver as Centrais Sindicais disputando para atrair os "chinas" para engordar seus cofres.
VISÃO DE RIGOTTO
Germano Rigotto é um dos políticos brasileiros que moram no ranking da qualidade. Eis sua observação sobre a CPI da Petrobras: "No meu modo de ver, a CPI da Petrobras poderá trazer, para uma empresa de capital aberto, grandes prejuízos, inclusive para os que nela investiram através da compra de ações. A pergunta que se faz é que se, antes da CPI, não teríamos etapas a vencer que pudessem determinar punições aos responsáveis por qualquer irregularidade encontrada, sem prejudicar a empresa." Grande, Rigotto.
FHC SEM PURO SANGUE
FHC continua a apostar na chapa puro-sangue tucana: Serra, na cabeça; Aécio, vice. Mas o mineiro diz que isso é pura piada. E assim o tucano maior continua a ver navios no deserto.
ALOYSIO NA MOITA
Aloysio Nunes Ferreira, o chefe da Casa Civil do governo Serra, continua fazendo política 24 horas. Seu gabinete é uma enchente de prefeitos. Articula, atende demandas, costura, remenda, providencia. Corre pelo interior. Ele sabe que a visibilidade de um candidato, em uma campanha, cria amplas possibilidades. Sabe que Geraldo Alckmin tem um bom recall – da última campanha presidencial – mas não se amedronta. Tem uma boa chance de ser o nome tucano ao governo de São Paulo.
CONSELHO AOS MEMBROS DA CPI DA PETROBRAS
Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na edição passada, o espaço foi destinado ao ministro do Trabalho e Emprego, Carlos Lupi. Hoje, volta sua atenção aos membros da CPI da Petrobras:
1. É evidente que quaisquer desvios na empresa-símbolo do Brasil devem ser apurados e denunciados.
2. Mas o patrimônio da Petrobras – história, identidade, simbologia – deve ser preservado. Ou seja, as coisas devem ser conduzidas de acordo com critérios técnicos e rigor nas apurações, sem estardalhaços que possam vir a comprometer o bom conceito da empresa.
3. Se houver comprovação de ilicitudes e desvios, que os ir(responsáveis) paguem por eles.
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(Por Gaudêncio Torquato)
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