Este espaço se quer simples: um altar à deusa Themis, um forno que libere pão para o espírito, uma mesa para erguer um brinde à ética, uma calçada onde se partilhe sonho e poesia!
terça-feira, 19 de maio de 2009
OBSERVATÓRIO
Outro dia acompanhei em audiência, aqui em Fortaleza, o centrado ex-prefeito de Quiterianópolis, Antonio Luiz Carvalho. A certa altura, lamentei a interdição do seu projeto reeleitoral em 2004. Ele ponderou: “Já refleti muito sobre isso. Ao invés de culpar os outros, penso mais nas minhas falhas. Debito grande parte desse insucesso a mim mesmo. Cometi erros de avaliação, subestimei pessoas e lideranças indevidamente. Equivoquei-me. Hoje, faria diferente...”
OLHAR PARA SI MESMO I
Fiquei impressionado com o exercício de auto-avaliação do ex-gestor. Antonio Luiz me relembrou a importância de olharmos para nós mesmos. Caldeira fervilhante, vulcão em erupção, verdadeira panela de pressão, o mundo da política é paradoxal: ao mesmo tempo em que nos possibilita o altruísmo da realização de grandes obras em favor da coletividade inteira, também desperta em nós o egoísmo individualista de nos considerarmos donos da situação, superiores aos demais. E aí descambamos para o autoritarismo. Via de regra, na política, enxergarmos nitidamente o cisco no olho do outro, mas esquecemos a trava que cobre o nosso.
OLHAR PARA SI MESMO II
Faço essas ponderações quando lembro o caso de Crateús. Apesar do pouco tempo, agiganta-se um clima de inquietude em relação à nova gestão. Cresce a decepção popular. Cômodo seria explorarmos os focos de fragilidade, nos unirmos ao coro da insatisfação majoritária e buscarmos faturar em cima do desgaste alheio. Esse é o percurso usual. Porém, já sabemos onde deságua: na vala repetitiva, no lugar comum, na mesmice. E esse itinerário jamais libertará nosso município das suas mazelas históricas.
OLHAR PARA SI MESMO III
Já descobrimos que o homem mediano é exigente com os outros; o homem superior é exigente consigo mesmo. Quem já ocupou qualquer função pública sabe bem a diferença de clima entre o gramado do campo e o espaço da arquibancada. Por isso, ao invés de apontar o dedo acusatório, quero provocar a mente à reflexão. A hora, repise-se, é de autocrítica, voltarmo-nos para dentro de nós mesmos, meditar sobre a nossa própria prática. É nessa esteira que o gestor há que ser instado. Senhor Prefeito: quero lhe convidar à reflexão, compartilhando interrogações. Basicamente sobre: o rumo escolhido, o rigor contra a corrupção, o rito da publicidade e o respeito relacional.
O RUMO ESCOLHIDO
A primeira interrogação é: para onde estamos indo? Qual o rumo dessa administração? Onde se pretende chegar no que tange aos desafios institucionais, aos obstáculos econômicos, às mazelas sociais? Seguirá essa gestão apenas a reboque de ações previstas por gestões anteriores e pelos Governos Estadual e Federal ou buscará atingir metas locais de desenvolvimento, elaboradas e viabilizadas por seus próprios méritos?
O RIGOR
Um dos mais contundentes compromissos assumidos em campanha foi o do combate rigoroso à corrupção e às práticas antiéticas de governo. Que inovações estão sendo implementadas nesse campo? Podemos afirmar, em alto e bom som, que o nepotismo – em suas formas direta ou cruzada – foi verdadeiramente extirpado? Ou que o conjunto dos contratos firmados, todos os negócios pactuados são límpidos ao ponto de resistirem a qualquer auditoria séria e independente?
O RITO DA PUBLICIDADE
Como está se materializando o cumprimento do princípio constitucional da publicidade? A divulgação transparente dos atos representa a higienização de um governo. Semana passada, o ex-candidato a prefeito do PSOL, Alexandre Maia, lamentou que, no site da Prefeitura, embora tenha um ícone destinado a Licitações, inexiste a mínima informação sobre qualquer certame. Será correto isso?
O RESPEITO RELACIONAL I
O imbróglio com os professores é emblemático. Uma greve, por tanto tempo, indica que algo precisa ser revisto. Os professores, sabemos, compõem a mais nobre das profissões. Engenheiros, escritores, médicos, advogados, magistrados – todos um dia passaram pela mão de um professor. Por que contribuir para o enfraquecimento dessa categoria? É recomendável a um governo que se reclama de ‘esquerda’ propagar que o movimento dos educadores é aparelhado por partido A, B ou C ou falar de ‘infiltração’? Essa linha de argumentação reacionária sempre foi o escudo dos setores da direita mais empedernida... Sei que são muitos, e todos lhe estão próximo, os que o aconselham a endurecer, radicalizar e humilhar. Será esse o melhor caminho? Aonde chegaram os que assim procederam?
O RESPEITO RELACIONAL II
Prefeito: poucos homens receberam o lume do Executivo Municipal sob o conforto de condições objetivas tão auspiciosas como Vossa Excelência. Poucos tiveram tanto apoio para tornar realidade a sonhada pacificação política e social da nossa terra e insuflar o florescimento de uma safra de sustentável progresso. A corrosão institucional do seu governo pode significar um duro golpe na pedra preciosa da cidadania. E isso será ruim para todos. Por isso, um conselho final: ao invés de defenestrar os que já passaram pela Prefeitura ou procurar desqualificar os que criticam, seria mais prudente recolher as lições do passado e considerar o cerne das ponderações independente de onde se originem. Dalai Lama assevera: “Quem te ensina a tolerância? Teus filhos podem te ensinar a seres paciente, mas só teu inimigo te ensina a tolerância. Ele é como teu professor. Se experimentares respeito pelo teu inimigo em vez de cólera, tua compaixão se desenvolve”. Inove: ausculte, com sereno respeito e redobrada atenção, as críticas do suposto inimigo, não faça uma gestão de súditos e convide para sentar, na mesa de discussão, quem pensa radicalmente contra suas maiores crenças. Ao fazer isso de maneira transparente, sem deslizar para o vício da barganha, sem procurar cooptar os dissidentes, Sua Excelência poderá descortinar outro horizonte. Ainda há tempo!
PARA REFLETIR
"Meu coração não mudou. O coração de meu pensamento não mudou. Evoluiu, decerto, com o que me ensinaram meus mestres e meus livros. Evoluiu com o que me ensinaram meus alunos. Evoluiu com o que a trama da vida me ensinou. Mas evoluiu como quem sobe os degraus de uma escada, levando consigo os degraus já galgados. Evoluiu, não como quem acrescenta conhecimentos a conhecimentos, mas como quem realiza a comunhão desses conhecimentos, fundindo-os num só conhecimento de nível mais elevado, conjugando-os para que formem um só todo, uma só organização, uma só melodia." (Goffredo Telles Jr.)
(Por Júnior Bonfim. Publicado na edição de hoje da Gazeta do Centro Oeste).
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Paulo Nazareno disse...
ALIMENTANDO O LOBO ERRADO
Mestre Zen ensina a um seu discípulo:
- Dentro do homem dois lobos travam eterna luta.O bom,cultua o perdão,a compreensão,a amizade,a tolerância e a compaixão;o outro o ódio,a vingança,a força e a arrogância.
Pergunta o discípulo:
- Qual dos dois vencerá?
Responde o mestre,calejado por tantas e tantas batalhas:
- Aquele que você alimentar!
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ALIMENTANDO O LOBO ERRADO
Mestre Zen ensina a um seu discípulo:Dentro do homem dois lobos travam eterna luta.O bom,cultua o perdão,a compreenção,a amizade,a tolerância e a compaixão;o outro o ódio,a vingança,a força e a arrogância.Pergunta o discípulo.Qual dos dois vencerá?Responde o mestre,calejado por tantas e tantas batalhas:Aquele que voçe alimentar.
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