OBSERVATÓRIO

Júnior Bonfim

No final de 2002, o sistema de saúde de Tauá estava um caos. Ou melhor, praticamente não existia. Era a primeira gestão de Patrícia Aguiar. Angustiada, a Prefeita compartilhou a inquietação com o esposo e líder, Deputado Domingos Filho. Sem espaço no governo do estado, comandado por Lúcio Alcântara, e ainda sofrendo as estocadas de virulência verbal do desafeto e também Deputado Estadual Idemar Cito, Domingos laborou uma jogada de mestre. Procurou um amigo pessoal, o então Secretário de Estado da Saúde, Jurandir Frutuoso. Em audiência, narrou-lhe as dificuldades e jogou uma cartada decisiva: entregou a Jurandir a prerrogativa de indicar um nome competente e “in pectore” (do peito) para comandar a saúde da capital dos inhamuns. Foi assim que, em 05 de fevereiro de 2003 o crateuense Moacir Soares virou Secretário de Saúde de Tauá. E, em pouco tempo, fez um trabalho revolucionário. A transformação foi tão marcante que, de vilão, o setor de saúde passou a ser o grande filão eleitoral garantidor da reeleição de Patrícia.

A SAÚDE

Um dos maiores gargalos da futura gestão de Crateús é a área de Saúde. O prefeito eleito anunciou o nome da técnica Maria da Paz para o comando da pasta a partir de janeiro. Figura agradável, a futura Secretária de Saúde de Crateús já esteve à frente deste setor em algumas pequenas cidades do entorno da serra de Guaramiranga, pontificando por último em Baturité. Comenta-se a boca miúda que a indicação partiu do doutor João Ananias, Secretário de Saúde do Estado. Diferentemente do prefalado caso de Tauá, o Prefeito eleito de Crateús tem todo acesso ao Palácio Estadual. Aliás, o Secretário João Ananias é do mesmo partido de Carlos Felipe. Este não precisava ter recorrido a uma articulação dessa natureza, pois tem livre trânsito, porta aberta e todos os canais de acesso desobstruídos. Gastou um cartucho onde não devia.


O DESAFIO

A rigor, o maior desafio da saúde de Crateús não é exógeno (externo), mas endógeno (interno). Como fazer as alterações prometidas? Como unificar uma categoria historicamente separada pelas demandas individuais em torno de um projeto comum de renúncia e desprendimento? Apoiado pela quase totalidade dos profissionais de saúde de Crateús (dos médicos, apenas Paulo Nazareno e Zé Humberto não votaram no candidato vitorioso), Felipe poderia ter optado por um dos seus colegas crateuenses – onde existe gente no mesmo patamar técnico da respeitável indicada - até porque sua campanha foi muito enfática contra quem não era filho da terra. Também porque, mesmo não residindo no município, existem nomes do melhor quilate que poderiam ser acionados. Simbolicamente, numa das pastas principais esperava-se alguém com raízes locais. Além do mais, o Secretário, de fato, haverá de ser o próprio Felipe, pois esta é a área que mais domina em toda a Administração Pública.

A EDUCAÇÃO

Para outra megasecretaria, a de educação, foi noticiado o nome da professora Nair Soares, que goza de excelente reputação no seio dos artesãos do ensino. Se confirmada, a pedagoga irá enfrentar um desafio de grande monta – quiçá o maior de sua trajetória até aqui - posto que a Seduc Municipal exige de quem a comande muita versatilidade e, em especial, capacidade de interação com públicos de interesses antagônicos. Além de indispensável noção pedagógica, a gestão educacional de uma comuna como a crateuense reclama conhecimento técnico-gerencial, rudimentos de direito financeiro e bastante traquejo negocial, para conduzir a bom termo os constantes arrepios de uma categoria invariavelmente em luta.


SECRETÁRIO FORTE

Ao que tudo indica, Elder Leitão ganhou a queda de braço pela pole position do Secretariado. Aguarda liberação da Caixa Econômica Federal, onde tem vínculo empregatício, para autorizar a divulgação do seu nome como o homem forte da futura gestão. Almoçou com o prefeito eleito no último domingo, onde tratou de diversos assuntos. Ao que tudo indica, será o Prefeito de fato. Vai precisar azeitar muito os dotes de habilidade e contorcionismo que possui para atender os interesses conflitantes que começam a explodir dentro do grupo vencedor.

INSATISFAÇÕES

Em que pese a divulgada ausência de compromissos formais com quaisquer figuras individualmente, a confirmação de alguns nomes para a equipe governamental começa a gerar insatisfações no grupo que ascende ao poder. Comenta-se que o professor Agileu Nunes, sondado para a pasta de esportes, sentiu quando constatou a preterição do seu nome em favor do doutor Tarcísio Melo. Outro que tem externado inquietação é o jovem médico Nailton, que recebeu há algum tempo sinalização de que ocuparia a direção do Hospital e até agora nada se concretizou.


MÁRCIO

O Presidente da Câmara Municipal, Márcio Cavalcante, prepara-se para deixar de direito o PSDB. Na prática fora do ninho tucano há muito tempo, Cavalcante negocia uma saída “numa boa”, sem traumas, sem confusões. Arrancou do presidente do partido, Nenen Coelho, o compromisso de que não sofreria qualquer constrangimento por conta da decisão. Vinculado ao presidente da Assembléia Legislativa, Domingos Filho, por conta do apoio ao processo de emancipação do distrito de Ibiapaba, Márcio sonha ser Prefeito daquela terra. Enquanto isso, articula uma chapa para a eleição da Mesa Diretora do Parlamento Mirim crateuense, que ocorrerá em primeiro de janeiro de 2009.

O PSDB

Não é só o único vereador eleito pelo PSDB que planeja deixar as hostes tucanas. Em crise desde 2004, quando deixou de eleger o sucessor de Paulo Nazareno, o PSDB de Crateús amarga sérios problemas internos. Há um grupo significativo que se movimenta na construção de uma alternativa. O vale oposicionista é um espaço natural para reciclagem e revisão partidária. Ou a agremiação avalia com espírito desarmado e invulgar humildade os equívocos cometidos nos últimos tempos ou dificilmente conterá a debandada de um segmento considerável de seus filiados.

PARA REFLETIR

“Discordo daquilo que dizes, mas defenderei até à morte o teu direito de o dizeres”. (Voltaire)

(Publicado no Jornal Gazeta do Centro Oeste, de Crateús, Ceará)