quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

DISCURSO DO PE. GERALDINHO POR OCASIÃO DA INAUGURAÇÃO DO MONUMENTO À COLUNA PRESTES. CRATEÚS - CEARÁ - EM 14 DE DEZEMBRO DE 2006


Para entender-se o significado histórico deste monumento a Luis Carlos Prestes e à Coluna Prestes, mister se faz contextua-lo, embora horizontalmente, no amplo mural das grandes marchas, contramarchas e caminhadas da história universal.Isto para explicar que a Inauguração deste monumento |à Coluna Prestes não é um ato restrito a Crateús, à região do Centro-Oeste, ao Ceará, ao Nordeste, à América Latina, ao Brasil, enfim.

Trata-se de um Memorial, plasmado em concreto, mas conectado às sagas dos grandes acontecimentos bélicos universais. Este monumento a Prestes, subtendendo à Coluna, não se insere num microcosmo, mas sim, em macrocosmo. Não é um monumento adistro a Crateús, mas um evento que demarca fronteira...Tem ilação universal. Os monumentos, estátuas, estatuetas e bustos têm raízes - proto - em duas civilizações ancestrais: a Egípcia e a Grega. Todo monumento ou estátua traz um significado transcendental. Como assim, perguntai vós? É que o ser humano tendo vida biológica mensurável criou símbolos a fim de perpetuar-lhe o nome, os feitos, a memória.

A civilização ancestral Egípcia fora a proto nos memorandos de pedra e argamassas cujos exemplos frisantes são as pirâmides de Quéops, Quefrém e Moquerinos. Estas, embora sendo jazidos funerários, objetivavam perenizar a vida humana ad sempre.Eram uns legados aos pósteros para que estes mantivessem as pessoas e as coisas do passado em perene vida. De igual modo, a civilização Grega, ante Cristo, projetou e sacudiu o seu presente, sobretudo no apogeu de Péricles, na execução de estátuas e estatuetas, dando um sentido transcendental à relatividade biológica do homem em seu decesso. O Partenon de Atenas não é simplesmente uma ode às artes, à estética, à escultura, à arquitetura. O é, sim, mas principalmente, uma interação do finito com o infinito, do temporal com o intemporal, do terreal para o além... Numa palavra, os monumentos e estatuários das civilizações Egípcia e Grega cultuaram a memória, a história e hoje nos transportam ao além, ao transcendental... As civilizações Egípcia e Grega nos deram este exemplo.

O monumento à Coluna Prestes, em Crateús, ora inaugurado pelo Governador Lúcio Alcântara, insere-se neste grande leque historiográfico a que fizemos alusão. Este monumento não é redoma no estilo museu. Significa uma referência existencial. De coragem, pujança, de dedicação e de sacrifícios mil. Este monumento, historiograficamente, é comparável, na Idade Antiga, à marcha de Aníbal, partindo de Cartago sobre Roma. Já na Idade Moderna, quanto a mim e respeitando opiniões em contrário, a Coluna Prestes, é a maior marcha de guerra, ultrapassando à Grande Marcha de Mao Tse Tung, na China - de caráter ideológico - mas a Coluna Prestes a suplantou em números de quilómetros e sacrifícios. "(...) Mais de 24 mil Km. percorridos, não parando mais de 48 horas em lugar algum; eram 800 a 1.000 homens; utilizaram 100 mil cavalos; abateram 30.000 reses; morreram perto de 600 soldados e 70 oficiais -dentre estes, 68 caíram em combate; mais de 80% da tropa fora ferida nas refregas; gastaram-se 350.000 tiros, quando só em Iguaçu, em cinco meses, foram disparados mais de dois milhões pelos legalistas: travaram-se 53 combates, dos quais o Diário Nacional deu pormenores de um a um”. (Paulo Nogueira Filho – “Idéias e Lutas de um Burguês Progressista”. Pags. 162/163.)

Prestes, por sua visão de estrategista militar, fora, sem batizar o nome, o criador da guerra de guerrilhas...Antecedeu-se à guerrilha de Fidel Castro, em Sierra Maestra... Seu nome figura, ao lado de brilhantes estrategistas, como Giap. que derrotou os franceses na Argélia e os americanos no Vietnam. Em seu reide fulminante, a Coluna Prestes percorreu 12 estados da Federação, lutando contra as forças do exército, polícias militares, jagunços e ainda tropas paramilitares de latifundiários. Guerreando com escassez de armas, pouca munição, sem reposição de peças, sem fontes de abastecimentos, alimentando-se do que encontrava às margens das estradas, sem serviço médico, onde as cirurgias eram efetuadas in dolorem e a céu aberto aos gritos terrificantes e lascinantes dos pacientes, por falta completa de anestesia... Sem provisão de alimentos e bebendo água suja e toldada dos açudes públicos e poucos, na época, a Coluna Prestes chegou ao Ceará. Sem Juarez Távora, que foi preso em Teresina, e o único oficial cearense da Coluna, os Revoltosos desempenharam uma guerra-relâmpago, - blitzkrieg -, havendo combate somente em Crateús em razão da marcha diversionista a cargo do 2° Destacamento João Alberto, onde a Coluna perdera dois homens - tenente Tarquínio, gaúcho, e Antonio Cabeleira. Eis a motivação histórica porque Crateús fora escolhida para sediar, no Ceará, o monumento à Coluna Prestes.

(Pe. Geraldinho é ex-Vigário de Crateús, historiador, poeta e contista. Um grande mecenas da nossa historiografia, mantendo as expensas do seu trabalho, um Museu Historiográfico, aberto à visitação pública, na cidade de Crateús-CE).

QUEM FOI PRESTES

Luis Carlos Prestes nasceu em Porto Alegre, no dia 3 de janeiro de 1898. Filho de Antônio Pereira Prestes e Leocádia Felizardo Prestes, professora primária com quem Prestes teve seus primeiros estudos. Era o único homem entre cinco irmãos.

Em maio de 1909, ingressou no Colégio Militar do Rio de Janeiro. Formou-se em Engenharia pela Escola Militar do Realengo em 1919.

Por contrair tifo – doença infecciosa que causa febre e diarréia, caracterizada por perturbações nervosas – não participou do levante do Forte de Copacabana, o primeiro dos três movimentos de tenentes armados contra o governo de Arthur Bernardes em 1922.
Comandou movimento contra o governo chamado de Coluna Prestes, de 1925 a 1927, terminando com Prestes e mais 600 comandados exilados na Bolívia.

Em 1930, tornou-se marxista e rompeu com o tenentismo. Dirigiu o Partido Comunista Brasileiro (PCB) e lançou a Aliança Nacional Libertadora (ANL).

A volta ao Brasil foi somente em 1935 e de forma clandestina, já casado com Olga Benário, revolucionária alemã.

Depois de um ano no Brasil, em 1936, foi preso pela polícia no subúrbio carioca e condenado a 40 anos de prisão. Olga Benário, presa junto com o marido, foi deportada para Alemanha, onde sofreu tortura e morreu num campo nazista.

Em 1971, exilou-se em Moscou com a família – a segunda esposa, Maria Prestes, com quem se casou em 1950, e os sete filhos.

Morreu no Rio de Janeiro, aos 92 anos, com leucemia e insuficiência renal, no dia 7 de março de 1990.

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