terça-feira, 21 de julho de 2009

OBSERVATÓRIO



"No meio do caminho tinha uma pedra/ tinha uma pedra no meio do caminho/ tinha uma pedra/ no meio do caminho tinha uma pedra.

Nunca me esquecerei desse acontecimento/ na vida de minhas retinas tão fatigadas./ Nunca me esquecerei que no meio do caminho/ tinha uma pedra/ tinha uma pedra no meio do caminho/ no meio do caminho tinha uma pedra".
(Carlos Drummond de Andrade).

A PEDRA

A administração do Prefeito Carlos Felipe completou 200 dias. É um marco referencial para qualquer análise avaliativa. O visível desgaste popular, a decepção estampada no rosto cívico da urbe, o atropelo causado pela sucessão de fatos desairosos reclama uma profunda revisão. Por que o mágico tapete de encantamento que conduziu o jovem médico ao Paço Municipal velozmente se transmutou numa nuvem negra de desilusão? O que será que aconteceu para que uma das maiores promessas político-eleitoral da cidade tenha tão repentinamente se convertido em fiasco? Que pedra se interpôs no caminho?


POVO X PCdoB

Carlos Felipe foi guindado ao topo da municipalidade por um expressivo e contagiante movimento de massa, que atropelou as convenções tradicionais, simbolizadas nos partidos majoritários e nas lideranças históricas de Crateús. Porém, ao assumir a Prefeitura, o Prefeito virou refém de cúpulas partidárias divorciadas da realidade local, notadamente da legenda a qual pertence, o PCdoB. Ao invés de conclamar a população – pela mediação das entidades organizadas e pela inteligência da cidade – para a formulação de uma robusta agenda de governo, preferiu restringir a área de ação e aparelhar a Administração, nomeando figuras de fora em posições estratégicas. Entregou secretarias e cargos importantes para militantes desprovidos de qualquer passado curricular de excelência na gestão pública e com o agravante de desconhecerem completamente o tecido social local. Enfim, confundiu vontade popular com vontade partidária. Foi o seu primeiro grande equívoco.


OS COMPROMISSOS ESSENCIAIS

Porém, o que mais causou estupor e decepção às pessoas foi, indubitavelmente, a rapidez com que o Chefe do Executivo se transformou e olvidou dos compromissos essenciais celebrados em praça pública. Chocou muito o esquecimento das bandeiras essenciais: de que iria combater a corrupção e as práticas nepotistas, eliminar o clientelismo, as negociações politiqueiras, o protecionismo licitatório e a chantagem aos veículos de comunicação, dentre outros. Junte-se a isso a alteração de imagem: o médico quase sacro, sensível, humanitário, de fala mansa e que adorava alisar o braço das pessoas de repente se transformou em um gestor autoritário, pouco afeito ao diálogo transformador e inflexível com quem lhe contesta. Isso ficou patente no enfrentamento de três segmentos sociais que, pela força e capilaridade, ofereceram contribuição maiúscula à eleição do atual Prefeito: os profissionais do magistério, os comerciantes e os médicos.

OS CONFRONTOS


A dificuldade de interlocução com os professores provocou a mais renhida, duradoura e dolorosa greve já registrada no município, cujas seqüelas perdurarão por muito tempo. Na esteira desse movimento, seguiram os comerciantes. Pela vez primeira, o comércio da cidade fechou suas portas em sinal de repúdio à intransigência do Executivo. E, por último, se verifica uma enorme insatisfação no seio dos seus colegas de juramento de Hipócrates, exposta através de um pronunciamento do médico Gerardo Júnior que, semana passada, conclamou a Vigilância Sanitária e o Ministério Público a fiscalizarem o Hospital São Lucas por conta da ausência de barreiras à radiação no Centro Cirúrgico, o que expõe a riscos a saúde da população.


A SAÍDA

O preocupante quadro em que se encontra a Prefeitura urge que se aja imediatamente. A começar por uma medida de impacto: um choque de gestão, que passa pela reconfiguração dos ocupantes de funções de direção. Mesmo precocemente, há que se abrir a Prefeitura para balanço. Parar tudo e iniciar um mutirão de planejamento. Deixar assentar as águas, que estão turbulentas. Conforme já reiteramos, a cidade parece suspirar por um Projeto. Falta-lhe o sumo, falta-lhe um rumo, falta-lhe um prumo! A cidade quedou-se a um estado mórbido de languidez. Urge sacudi-la! Impõe-se agitá-la! De preferência, fortemente. Com desejos vitais, com possibilidades nunca dantes imaginadas.


LANÇAMENTO DE LIVRO


Estaremos lançando em Fortaleza nesta quinta-feira, dia 23, o livro AMORES E CLAMORES DA CIDADE (vide “Orelha”, na Crônica abaixo). O evento terá início às 19:00 hs, no Centro Cultural OBOÉ, na Rua Maria Tomásia, 531, bairro Aldeota, por detrás do Shopping Del Paseo. O poeta, biógrafo, cronista e historiador Juarez Leitão, da Academia Cearense de Letras, fará o discurso de apresentação. Todos estão convidados.



PARA REFLETIR


"Destranquemos as portas. Escancaremos as janelas. Vasculhemos os tetos, os vãos, as frinchas, as luras. Não poupemos o ácido fênico, a creolina, o formol. Renovemos o ar. Enxotemos os bichos. Sacudamos o mofo. Acabemos com o bafio. Introduzamos a luz. Chamemos a higiene". (Rui Barbosa)


(Por Júnior Bonfim – publicado na edição de hoje do Jornal Gazeta do Centro Oeste)


====================================================================================

ORELHA


O dileto amigo Júnior Bonfim, em boa hora, decidiu editar sua segunda obra literária – Amores e Clamores da Cidade – um enfeixe de belíssimas crônicas publicadas quinzenalmente na Gazeta do Centro Oeste, a partir de 2005, bem como outras contidas na Revista Gente de Ação, editada pelo poeta Dideus Sales.

O livro é um canto telúrico, um lamento, um hino a Crateús; um louvor ao tempo, passado, presente e futuro, aos amigos, aos grandes homens, aos sábios, à Natureza, às pessoas com suas inclinações, aptidões e vocações, aos que são capazes de construir para que nos maravilhemos diante dos seus feitos, sobremodo, ao que nos deixam como legado.

Fui colhido de surpresa ao saber que o jornal que edito – que também cuida do mesmo tema, mas com outra forma de trato – serviu de esteio em suas páginas à belíssima obra.

Com outra surpresa me deparei ao sabê-la dedicada a este humilde escriba de notícias, falto de sensibilidade e inspiração, que apenas sabe se encantar com a poesia e os poetas, e ao qual não falta gratidão pela honraria.

O autor de “Poesias Adolescentes e... Maduras’, obra publicada em 2000, onde se auto-retrata e se apresenta desnudo, apenas envolto pelo diáfano manto de poesia, reaparece em Amores e Clamores da Cidade que, para mim, redundam em obra única, a segunda em continuidade à primeira, no sentido de que, tudo que Júnior Bonfim escreve é adoçado com o mel da poesia.

Em tudo, a elegância, o primor, o aprumo, a simetria, a educação, a mensagem inteligível, do simples bilhete que redige ao poema que compõe; da mera petição à complicada defesa em juízo.

Poeta verdadeiro, não consegue produzir em prosa, esquecer a metáfora, ocultar a métrica da coerência e da razão, o ritmo do conhecimento e a rima rica do pensamento.

Ousado, assume ares de Castro Alves no verso: ‘Eu sou – um pássaro que tem o sol como meta’. O condoreiro dizia: ‘sou pequenino, mas só fito os Andes’. “Aqui dançaram os índios Karatius, tendo o rio Poti como palco e a natureza como platéia’. O poeta dos escravos: ‘ontem a Serra Leoa, a guerra, a caça ao leão, o sono dormindo à toa sob as tendas da amplidão’.

Os poetas são assim.

Diferem, mas se assemelham e se encontram.

Têm eles a mesma matriz, a mesma forja e ímpeto.


(Por César Vale – publicado na edição de hoje do Jornal Gazeta do Centro Oeste)

Nenhum comentário: