quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

GENTE QUE BRILHA - ANTONIO DOS SANTOS



Outro dia, no aeroporto Juscelino Kubistchek, em Brasília, deparei-me com a inconfundível figura do conterrâneo. Com seu olhar entusiasmado e jeito extrovertido, me cumprimenta e diz para o doutor Wilson Vicentino, que estava ao seu lado: - “Wilson, o pai dele, Jesomar, votou comigo; ele, não. Mas... nunca soube deste rapaz falando mal de mim!”

Este é Antonio dos Santos Soares Cavalcante, um sujeito que ejeta cometas de bom humor por onde passa, que faz da leve e envolvente ironia um pão de todo dia, que impressiona pela entonação solene da voz, que vive com a alma permanentemente em festa. Em verdade, quem aperta sua mão sem a luva do preconceito ideológico, descobre que está diante de uma criatura do bem e da paz, da concórdia e da alegria. É presença requisitada em significativas rodas da sociedade fortalezense.

Até hoje inexiste registro de outro parlamentar crateuense com vida eleitoral tão portentosa quanto Antonio dos Santos. Enquanto foi candidato, obteve êxito em todas as refregas. Encarnando uma harmoniosa combinação de estrela popular e carismático pastor de massas, Santos desenvolveu um discurso intimista e parabólico que se hospedava com facilidade no coração da gente simples de sua terra. Desde 1970, quando pela vez primeira abiscoitou um assento no Legislativo Estadual, foi sempre se reelegendo com votação crescente. No inicio da década de 1980, ocupou galantemente a Presidência da Assembléia e, por interinidade, segurou nas mãos o leme do Governo Estadual. Em 1990, substituindo o sogro Furtado Leite, foi guindado duas vezes à Câmara Federal.

Dessa época, recordo-me de um episódio que se deu conosco. Andando pelos corredores do Congresso, ouvi sua voz forte: - ‘Júnior Bonfim, meu conterrâneo! Como vai você? Dê-me o prazer de uma visita ao meu gabinete!’ - instigou de braços abertos. Em lá chegando, fez uso da loquacidade característica e argumentou: - Júnior, eu não espicho bode na feira, eu não tenho máquinas para fazer estradas, não possuo firma de construção. A única coisa que sei fazer é política. Por isso, me sinto bem quando vejo uma pessoa da minha terra. Fique à vontade. O que quiser dispor de mim pode falar. Confirmei ali a essência desse ser gregário por natureza, amante da boa conversa, apreciador de rodas de bate papo, escravo da liberdade de conviver. (Outro dia, encontrei-o numa caminhada matinal pela beira-mar e confirmei essa qualidade que ainda cultiva. Diferentemente da maioria dos transeuntes, que caminhavam ou corriam sem se importar com o que se passava ao derredor, Santos parava para cumprimentar conhecidos, indagava ao vendedor se o queijo ali exposto era tão gostoso quanto o que vinha da região de Crateús etc...).

Esse magnetismo arrebatador é uma marca inata do filho do comerciante João Melo e D. Leonor, respeitado casal da ribeira do Poty. Desde quando fitou este mundo originalmente em primeiro de novembro de 1943, Dos Santos foi bafejado pela celestial aura da agregação. Ainda na fase infanto-juvenil, como a maioria dos filhos bem-nascidos da cidade, foi enviado ao Seminário Menor de Sobral. Já na auto-apresentação inicial, destacou-se pelo jeito desconcertantemente agradável. Magérrimo e narigudo, postou-se imponentemente na frente de D. José Tupinambá da Frota e proclamou: “Eu sou Antonio dos Santos Soares Cavalcante. O mais feio, porém o mais inteligente!” Entrava já conquistando a todos, inclusive o severo prelado. Quando deixou o Seminário, ingressou na Faculdade de Direito. Durante as férias, cativou a juventude crateuense comandando um programa na Rádio Educadora denominado “Alô, Brotos!” Daí, foi um passo para aportar no território complexo da política, para onde levou também a figura do candidato cantor.

A versatilidade para contornar as situações mais embaraçosas é uma marca registrada sua. Juarez Leitão conta que, na condição de Deputado e buscando melhoramentos, engendrou uma peripécia que foi batizada de a presepada do queijo: Certa verba, destinada à construção de um hospital, estava dependendo da assinatura de um figurão da república para ser liberada. Dada a demora, Antonio teve que apelar para o método do queijo. Preparou uma boa quantia de dinheiro num pacote e cortou um queijo de igual tamanho, embrulhando-o num papel idêntico. Fez uma visita ao funcionário levando os dois pacotes e, no meio da troca de simpatias, disse que lhe trouxera de presente um queijo, pequena amostra da produção leiteira de sua terra. Despediu-se e entregou nas mãos do doutor o pacote do “agrado”, saindo com o do queijo. Deixou passar dois dias e então telefonou para o homem, preparado para, caso houvesse melindrado seus brios éticos, acudir que se enganara de pacote: - “Então, gostou do presente?” Gostei muito – disse o outro – seu “queijinho chegou em boa hora. E a verba foi liberada.

Do entrelaçamento afetivo com Ana dos Santos advieram Antoniana, João Jorge e Mariana. Já sentiu no coração o pulsar redobrado da condição de avô. Hoje mais dedicado ao mundo dos negócios e ao afeto familiar, prossegue no labor comercial a partir da empresa Sanctorum, raiz latina do seu nome.

Antonio, que continues sendo esse dínamo que acende o farol do bom diálogo, suando a alma com a conversação benfazeja de irmão camarada, cavalgando sobre a larga pista da fraternidade política e exibindo o sedutor talismã da solicitude servidora de um amigo de fé!

Por Júnior Bonfim
(Publicado na edição de hoje da Revista Gente de Ação)

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