terça-feira, 23 de dezembro de 2008

OBSERVATÓRIO

(Por Júnior Bonfim)

Poucos dias após assumir a Secretaria de Educação de Crateús, fui informado, em meio a uma reunião com coordenadores pedagógicos, que meu pai (de saudosa memória) insistia em ser recebido. Com a tranqüilidade que sempre procurei cultivar, respondi que era impossível atendê-lo naquele momento. Uma das coordenadoras ponderou que, caso eu interrompesse a reunião para recebê-lo, todos compreenderiam. Afinal, era meu genitor. Mantive-me firme na recusa. Ele se retirou extremamente magoado comigo. Aquele gesto era emblemático. Queria demonstrar que, a despeito do afeto filial, a coisa pública não era um espaço alcançado pela hierarquia familiar. Aliás, durante todo o período em que vesti o fardão de agente político jamais pedi uma portaria sequer para alguém da minha prole. Sempre tive bem claro na mente a idéia de que a família habita o território inviolável da nossa intimidade. Ao contrário, o exercício de função pública, como o próprio nome indica, se estende pelo vale devassável ao sabor da vontade popular. Misturá-los pode gerar uma combinação explosiva.

O PESO DA FAMÍLIA I

Senti, nos últimos dias, certa apreensão das pessoas em relação ao grau de influência dos familiares do Prefeito eleito na gestão do município. Ouvi opiniões preocupadas, inclusive entre profissionais da saúde, quanto ao grau de ousadia dos irmãos de Carlos Felipe em dar pitacos sobre o futuro do seu governo. Falam que, como conseqüência dessa influência, já se produziu a primeira e significativa baixa na equipe governamental: o ex-prefeito de Viçosa do Ceará, Evaldo Soares, que seria um misto de chefe da contabilidade e eminência parda em assuntos administrativos, decidiu bater em retirada e não mais integrará os quadros da futura gestão. Sua saída fragiliza o esquema hegemônico montado por Elder Leitão, que tinha em Evaldo uma das pilastras principais.

O PESO DA FAMÍLIA II

O doutor Felipe é homem do lar, que aprecia e cultua o respeito à família. Deve ser delicado para ele administrar essa paradoxal situação de compatibilizar a harmonia doméstica com a sintonia ao compromisso popular. Foi eleito segurando o mastro da bandeira de uma vida nova para Crateús, que suplantaria todas as velhas práticas, inclusive as de nepotismo. Já nomeou a esposa, que é uma qualificada técnica, para a Secretaria da Assistência Social. Malgrado isso não caracterizar, pela dicção legal, prática nepotista, houve quem reclamasse. O seqüencial desse filme está em suas mãos.

DIPLOMAÇÃO

Causou estranheza, na solenidade de diplomação dos eleitos, a verve do douto Promotor de Justiça José Arteiro Goiano. Com a desenvoltura de um militante partidário, fez estátua se mover. A contundência da fala (antipática ao cenário atual e simpática ao futuro) incomodou até mesmo o sempre frio e impávido prefeito que sai, doutor José Almir Claudino Sales. Obviamente, nada há de estranho nisso. Antes de ser membro do Ministério Público e empunhar o escudo de fiscal da lei, doutor Arteiro é filho da terra. Difícil imaginar que seja impermeável aos sentimentos da polis, vez que em sua veia corre sangue político. Sucede que, por imperativo da função que exerce, há que evitar excessos.

BETINHA

Ainda caminhando sobre o tapete azul da maior consagração urnística para o Parlamento Mirim de Crateús no último pleito, a Vereadora Betinha Machado persiste na luta pela Chefia do Legislativo Municipal. Versátil e midiática (foi capa de recente edição da Revista Gente de Ação), Betinha tem na retaguarda o trabalho de duas importantes famílias - Machado e Leitão - ambas com tradição política e experiência no traquejo das disputas intestinas da Câmara Municipal. A bem da verdade, o grupo que representa esteve na linha de frente das articulações que resultaram na eleição de Carlos Felipe. A estrutura que o PR colocou à disposição do candidato comunista foi decisiva para que a candidatura deslanchasse na fase inicial de campanha. Parafraseando outro candidato, talvez considere que é hora do reconhecimento.

GRUPO ITA

Mesmo em meio à aparente letargia em que se encontra a nossa urbe, há pessoas empreendedoras e obstinadas que continuam acreditando no potencial mercadológico da terra. O grupo ITA, capitaneado pelo empresário Lourival Rodrigues, apresentou à cidade de Crateús, na última quinta-feira, dia 18, as modernas instalações do seu mais recente empreendimento: um laboratório e uma farmácia de manipulação, localizado no cruzamento das ruas Moura Fé com Desembargador Olavo Frota.

BYRON

Por falar em Frota, o desembargador Byron Frota (filho de José Olavo de Rodrigues Frota) foi eleito pelos seus pares do Tribunal de Justiça como o novo Corregedor-Geral daquela Casa Julgadora. Único crateuense a integrar a mais alta Corte de Justiça cearense, onde dirige atualmente a Escola Superior da Magistratura do Estado do Ceará (ESMEC), doutor Byron é figura respeitada mercê do invejável currículo que lapidou ao longo de décadas de coerente labor. Embora de ascendência sobralense, à beira do Poty enterrou o umbigo e recebeu as primeiras luzes do saber, precisamente no Instituto Santa Inês, dirigido pelas educadoras Francisca de Araújo Rosa e Leonor Rosa Veras. Orador meritório, foi ele quem proferiu o discurso de saudação a Dom Fragoso na solenidade de posse ocorrida no dia nove de agosto de 1964, em palanque armado no pátio da Catedral do Senhor do Bonfim. No último dia 15, tive o prazer de encontrá-lo na solenidade de posse de novos acadêmicos da AMLECE, academia que integro, ocasião em que foi prestigiar o seu colega desembargador José Claudio Nogueira e o amigo de banco escolar na juventude, Ubiratan Aguiar (este foi homenageado e aquele estava ingressando na Arcádia). Confessou-me ser leitor assíduo do jornal Gazeta do Centro Oeste. Parabéns ao ilustre magistrado e sucesso na nova empreitada.

PARA REFLETIR

“O segredo da justiça está em sua humanidade sempre maior e em uma proximidade humana sempre maior entre advogados e juízes, na luta comum contra a dor. De fato, o processo, e não só o processo penal, de per si é uma pena, que juízes e advogados devem abreviar, administrando justiça”. (Piero Calamandrei)


(Publicado na edição de hoje do Jornal Gazeta do Centro Oeste)

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