domingo, 2 de novembro de 2008

PERFIL - ARCELINO GOMES

As tradições dos povos e o Livro Sagrado, no Gênesis, nos ensinam que somos filhos da terra (homem e húmus provêm da mesma seiva etimológica). Ou seja, como os jardineiros, devemos amá-la, cultivá-la e, em especial, torná-la mais bela. Também habita o mais íntimo do espaço profundo da alma humana, também palpita no recôndito mais sublime da consciência de todo ser um forte senso de justiça. Que dizer, então, de um homem cuja existência tem se estribado nesse binômio luminoso?

Antonio Arcelino Oliveira Gomes é seu nome. Nascido em trinta de setembro de 1954, na fazenda Santos Dumont, em Crateús, Arcelino herdou das raízes familiares a paixão pelo barro sertanejo e por tudo o que o orna: pessoas, plantas, animais...

O caminho da normalidade indicava que o filho do abastado casal Francisco Gomes de Freitas e Maria Linete de Oliveira Gomes seguiria, como o irmão Narcélio, a então promissora carreira de engenheiro agrônomo. Porém, algo o arrastava para engrossar as fileiras dos fiéis que prestariam reverência permanente à deusa Thêmis. E foi assim que, já cursando o segundo ano de agronomia, saiu um dia de casa dizendo que ia fazer um curso de férias. Voltou com um jornal na mão onde o seu nome figurava dentre os aprovados para o Curso de Direito.

Formado pela Universidade Federal do Ceará, em 1979, foi contemporâneo de faculdade de grandes nomes da vida pública cearense, como o ex-governador Ciro Ferreira Gomes. Este, quando comandava o estado, fez várias visitas a Crateús. Numa delas, divisou o ex-colega e deixou tudo de lado para cumprimentá-lo com deferência especial dizendo em alto e bom som: “permitam-me saudar um cidadão, doutor Arcelino é um homem digno. Eu o conheço.” – provocando o seguinte comentário do Prefeito Zé Almir: - “Não sei se você gosta do governador, mas que ele o estima muito está bem claro”.

Em verdade, o comentário que fez o ex-governador é o mesmo que se escuta de todos os seus conterrâneos. Ao se referir a ele, há uma dessas raras unanimidades inteligentes: é um homem de bem.

O filósofo francês Luc Ferry proclamou recentemente que “no Ocidente, não se aceita mais morrer por um deus, uma pátria ou uma revolução. Mas não conheço pai que não arriscaria a vida pela prole.” Noutras palavras: a família virou sagrada. Arcelino é um protótipo cultor dessa sacralidade. Casado com Maria Alice Azevedo Gomes, pai de Ramón – professor de grego e latim em Teresina – e Caio Santana – advogado militante em Fortaleza, ele é o esteio maior da sua célula mater. Em meio ao exaustivo labor profissional à frente da Promotoria de Defesa do Idoso e do Deficiente Físico, de cujo Conselho Estadual também é membro, encontra espaço para se dedicar aos cuidados com a mãe e com os demais irmãos que invariavelmente a ele recorrem em qualquer situação.

Distribuidor de gentilezas, distinto por natureza, fez da polidez um pão de cada dia que sempre reparte com indisfarçável afabilidade. Esse inato espírito gregário o fez conquistar os colegas de Ministério Público, instituição a que pertence desde 1988.


Embora Promotor de Justiça de Comarca do interior (já respondeu por trinta módulos judiciários diferentes), figurou por duas vezes consecutivas na lista tríplice para Procurador-Geral de Justiça (PGJ). Integrou a Diretoria da Associação Cearense do Ministério Público (ACMP), onde ocupou a Vice-Presidência. Foi de sua lavra a proposta de criação da Promotoria do Idoso encaminhada à PGJ pela ACMP.

Numa das ocasiões em que seu nome esteve cotado para a Procuradoria-Geral, um amigo comum intermediou uma audiência com o Governador e foi buscá-lo. Como havia firmado um pacto com os demais integrantes da lista que nenhum deles faria qualquer entendimento à revelia dos demais, recusou educadamente os préstimos do amigo. Indagado por um irmão as razões da escusa, respondeu: tenho que zelar pelo galardão ético do nosso tio. Referia-se a José Maria Oliveira, o primeiro homem a exercer a função de Procurador no Ceará.

No labor ministerial, internaliza o que o mestre italiano Calamandrei ensinou: um senso de equilíbrio especial, sem o risco de perder, por amor à serenidade, a generosa combatividade do defensor ou, por amor à polêmica, a desapaixonada objetividade do magistrado.

Embora atualmente resida em Fortaleza, onde é titular da 17ª Promotoria Cível, Arcelino permanece amorosamente ligado à fazenda Santos Dumont, em Crateús, onde repousa o umbigo. Mesmo quando amargou desilusões com os rumos gerenciais da cidade natal, foi aquele espaço telúrico que sempre lhe devolveu a esperança. Ali se reanima, se revitaliza, se rejuvenesce. “Não o troco nem por Paris” – costuma dizer.

Em determinada ocasião uma pessoa lhe disse que sentia inveja dessa vida que ele leva. Respondeu: - Meu caro amigo, nada há na minha vida passível de alguém invejar. Aliás, o que de mais valioso possuo é a humildade. Nada que qualquer pessoa, olhando para dentro de si mesmo, não possa cultivar.

Continuai, cidadão do mundo, filho da decência, discípulo da lisura, a salpicar centelhas de humildade, a derramar fagulhas de bom senso, a acender as brasas da retidão, a espalhar delicadas flores de generosidade. Continuai, doutor Arcelino, o vosso duplo mister de amante da terra e promotor da Justiça!

Publicada na Revista GENTE DE AÇÃO (Aracati - Ceará)

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