domingo, 2 de novembro de 2008

CRÔNICA DA CIDADE - O QUE FAZER?!

Como o próprio nome assenta, esta moldura é dedicada a meditações sobre a nossa urbe, assuntos do dia a dia que falam, calam, embalam ou abalam os seus habitantes. No entanto, há um problema que urge e que ataca toda urbe: a crise financeira que sacode a humanidade e que é apenas um aspecto de uma realidade maior e mais profunda: a crise civilizacional.

Os viventes dos tempos atuais amargam um mundo que dá pouca atenção aos valores sublimes e primordiais da humanidade. Quem se opõe à lógica mesquinha do egoísmo é olhado com desdém. Menospreza-se quem levanta a voz em favor das liberdades. Os corações estão cristalizados ante o drama de milhões de famintos e miseráveis. Perdemos o culto à bondade e à gentileza. É como se estivéssemos à beira de um colapso.

A grande pergunta é: qual o nosso comportamento diante de tudo isto? Como manter a paz interior, a tranqüilidade da mente, a liberdade da alma, o espírito criativo, o peito aberto, a consciência calma, o coração feliz?

O enorme dilema que se debate a humanidade nos remete à imagem de uma mulher sob o influxo das famosas dores do parto. Sabemos que essas dores são, via de regra, o prenúncio de uma indizível alegria.

A história da civilização também registra que os grandes seres de luz emanaram dos momentos mais sombrios, como Buda, Krishna e Jesus. Este, por exemplo, veio à terra por ocasião da decadência do Império Romano.

Por isso, longe de nos causa estupor, o atual momento deve nos remeter à resignação e à profundidade. Até porque a origem da palavra crise vem do grego “krísis” e significa purificar, limpar; daí existir no português “crisol” e “acrisolar”. A crise age como um crisol, purifica. Toda situação de crise, para ser superada, exige decisão. Passamos por diversas situações de crise na vida.

Bem lembra Leonardo Boff que “a vida só é possível quando se constrói um arranjo existencial e uma articulação integradora. Daí que numa situação de extrema crise a decisão irrompe como uma coação de dentro e de fora. Isso significa abandonar o mundo aconchegado das evidências anteriores, da domesticação e personalização do meio vital. Urge criar não uma coisa nova no seu mundo, mas um mundo novo. (...) Toda situação de crise, para ser superada, exige uma decisão. Esta marca a trilha nova e uma direção diferente. Por isso a crise é prenhe de vitalidade criadora; não é sintoma de uma catástrofe iminente mas o ‘momento crítico’ em que o homem se questiona radicalmente a si mesmo, seu destino, o mundo cultural que o cerca e é convocado ‘não a opinar sobre algo, mas a se decidir’. Sem essa decisão não há vida. Idéias nós as temos. Mas decisões nós a vivemos. Por isso a situação de crise é antropologicamente muito rica. Não constitui uma tragédia na vida. Mas sua pujança e regurgitamento. É chance de crescimento. Não é perda de chão debaixo dos pés. Mas desafio que esse chão vital lança para uma evolução ou definição melhor”.

Há uma música de Valter Franco, Serra do Luar, que eu imagino resumir a filosofia de vida que devemos internalizar em momentos como esse. Diz ela: “Viver é afinar o instrumento/ De dentro prá fora/ De fora prá dentro/ A toda hora, todo momento/ De dentro prá fora/ De fora prá dentro/ Tudo é uma questão de manter/ A mente quieta/ A espinha ereta/ E o coração tranqüilo”.

O mundo está à beira de uma nova expiação. Portanto, sejamos vigilantes!

Publicado no Jornal Gazeta do Centro Oeste (Crateús - Ceará)

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