domingo, 2 de novembro de 2008

UM POUCO DO AUTOR

Vim a este mundo dois anos após o último golpe militar brasileiro, mais precisamente no vigésimo dia do mês mais alegre e florido que existe, o saudável mês de maio.

Cresci na localidade denominada Mondubim, no mágico sertão de Crateús. Aos seis anos, vivi minha experiência memorável: vestido numa roupa branca como a mandioca pura, recebi minha primeira comunhão e recitei uma poesia. Mais do que decorar rezas e versos, havia descoberto a irresistível luz que arrasta o homem para o território transcendental. Ainda hoje, os pilares da poesia e da religião são os principais sustentáculos do meu edifício pessoal.

Em 1980, iniciei uma experiência vocacional na Diocese de Crateús. Sob as bênçãos do profético bispo Dom Fragoso, um grupo de cinco jovens reunia-se debaixo do mesmo teto para inaugurar um novo paradigma de formação religiosa – seminaristas no meio do povo – numa resposta ao velho estilo de Seminário convencional. Aquela Diocese, com sua postura de vanguarda no campo da Teologia da Libertação, proporcionou-me uma arrojada aventura de alteração conceitual. Navegando no oceano do Movimento Popular, entre as ondas tempestuosas das Associações de Bairros, Comunidades de Base e Sindicatos de Trabalhadores, encontrei a bússola de compreensão do mundo: o abismo que separa as classes sociais, as engrenagens que distinguem os diversos modos de produção, o instrumental da injustiça, a sociedade piramidal.

Seis anos de convivência na arena da igreja foram suficientes para eu descobrir que, apesar de serem sinônimas, Padre e Pai no dicionário católico tinham se tornado palavras antônimas. Tive que fazer a opção: resolvi ser Pai. O ímpeto adolescente de ser sacerdote estava superado, pois já tinha saboreado as primeiras frutas maduras da árvore dos vinte anos. (Aliás, por falar em paternidade, abro este parêntese para sublinhar que, após alguns pares de anos de casamento com Francisca Maria, pai de Marília, Marguerrite e Hermano, sou daqueles que acreditam na família como lócus afetivo primeiro, ambiente privilegiado de integração e espaço fundamental para o processo de formação humana).

Perdi o vínculo com o campo eclesial, mas não perdi o amor à seara social: o ofício de plantar a Justiça é permanente. Com o coração resoluto, lancei-me à militância político-partidária.

Ao mesmo tempo em que exerci um mandato de vereador, cursei a Faculdade de Pedagogia, através da Universidade Estadual do Ceará – UECE (alguns anos depois, concluí pós-graduação em Gestão Educacional). Nesse período, deixei de lado os ímpetos sectários, aprofundei minhas concepções ideológicas e, como lecionou o filósofo, aprendi que “a virtude está no meio”.

Creio na construção de uma terceira via, alternativa tanto ao desenho excludente da idolatria ao mercado quanto ao modelo centralizador do socialismo real/estatal. Sob este farol, assumi mandato em parlamento mirim, ocupei funções e prestei assessoramentos no município de Crateús por dezesseis anos.

Sucede que, a par da militância sócio-política, jamais descurei de folhear os velhos e novos alfarrábios, objetos de fascínio, meios de transporte para o vale da profundidade.

Entre 1987 e 1988, residi em Brasília, onde vivi experiência fascinante de labor e convivência.

Em 2000, juntei uns versos cheios de fulgor e outros temperados pela experiência e publiquei um livro chamado “Poesias Adolescentes e Maduras”.

Bacharelei-me em Direito pela Universidade de Fortaleza – UNIFOR. Em seguida, cursei uma pós-graduação em Direito Público Municipal. Hoje, nos fóruns aquecidos pelo sol do nosso sertão e nos Tribunais bafejados pela brisa do litoral, milito na advocacia com paixão e alegria. Nas folgas, inventando sabores, adoro queimar aborrecimentos, restaurar energias e aquecer amizades à beira de um fogão.

Em 2007, entrei na Academia Municipalista de Letras do Estado do Ceará - AMLECE, onde ocupo a cadeira 18, que tem como patrono o planetário poeta das Ipueiras, Gerardo Mello Mourão.

A experiência naquele Sodalício de Letras reacendeu em meu peito o ardor pela escrita. Publiquei recentemente um conjunto de crônicas sobre a urbe em que nasci, Crateús, sob o nome de “Amores e Clamores da Cidade”. Assino uma coluna no Jornal Gazeta do Centro-Oeste (http://gazetacrateus.com.br) e outra na Revista Gente de Ação (http://gentedeacao.net/site).

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