terça-feira, 4 de novembro de 2008

ELEIÇÃO NOS EUA

Criei-me à beira do rio Poty, em Crateús. Na entrada da cidade, esse rio se bifurca, formando um bairro chamado ilha (hoje, cidade nova). À frente, as águas se reencontram e seguem no mesmo leito. Por algum tempo, imaginei que o mundo era um rio de idéias separadas e que nunca se encontrava. Sou de uma geração que cresceu à beira desse rio ideologicamente binário, cujas cabeceiras eram compostas por águas maniqueístas. Impingia às pessoas rótulos conceituais e, a partir deles, construía os relacionamentos. Ser de esquerda era sinônimo de heroísmo; de direita, banditismo. Os Estados Unidos eram o símbolo maior do imperialismo; nada, de ou por lá, prestava.

Após algum tempo, passei por uma metamorfose ótica. Hoje, enxergo o mundo e as pessoas sob outro olhar. Descobri que o bem e o mal, o sagrado e o profano, o diabólico e o simbólico, a justiça e a injustiça combatem, em primeiro lugar, dentro de cada um nós. Descobri que o simples fato de pertencer a uma agremiação, entidade, grupo, partido ou instituição não torna as pessoas dignas de culto ou rejeição.

Hoje, procuro ver a América sob a lente desembaçada do bom senso. Daqui a pouco, saberemos quem vai ser o próximo dirigente da pátria de Lincoln. Torço, pois, por Barack Obama. Ele representa essa compreensão mais aberta do mundo. No seu livro Audácia da Esperança, Obama assim se pronuncia: “A ampla maioria dos americanos – republicanos, democratas ou independentes – está ciente da zona morta em que a política se encontra, onde pessoas e grupos procuram defender interesses pessoais e minorias ideológicas buscam impor sua própria versão da verdade absoluta. Sejamos republicanos ou democratas, sentimos falta de honestidade, rigor e senso comum no discurso político, e temos aversão ao que parece ser um menu contínuo de escolhas falsas ou restritas”.

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