sexta-feira, 22 de maio de 2009

CASA NO CAMPO - DE ZÉ RODRIX E TAVINHO - NA VOZ DE ELIS



Eu quero uma casa no campo
Onde eu possa compor muitos rocks rurais
E tenha somente a certeza
Dos amigos do peito e nada mais

Eu quero uma casa no campo
Onde eu possa ficar do tamanho da paz
E tenha somente a certeza
Dos limites do corpo e nada mais

Eu quero carneiros e cabras pastando
Solenes no meu jardim
Eu quero o silêncio das línguas cansadas

Eu quero a esperança de óculos
E um filho de cuca legal
Eu quero plantar e colher com a mão,
A pimenta e o sal

Eu quero uma casa no campo
Do tamanho ideal, pau a pique e sapê
Onde eu possa plantar meus amigos
Meus discos e livros e nada mais

ZÉ RODRIX, NA “CASA DE CAMPO” DO CÉU!!!






Zé Rodrix, nome artístico de José Rodrigues Trindade, (Rio de Janeiro, 25 de novembro de 1947 — São Paulo, 22 de maio de 2009) foi um compositor, multiinstrumentista, cantor, publicitário e escritor brasileiro.

Estudou no Conservatório Brasileiro de Música, desenvolvendo a característica da multi-instrumentalidade: tocava piano, acordeão, flauta, bateria, saxofone e trompete. Tornou-se conhecido em 1967, ao participar do festival na TV Record daquele ano, acompanhando Marília Medalha, Edu Lobo e o Quarteto Novo em "Ponteio".

Na década de 1970, participou da banda Som Imaginário, que gravou com Milton Nascimento. Nessa época, Zé Rodrix compôs junto com Tavito a canção "Casa do Campo", uma de suas composições mais famosas, que foi um grande sucesso na voz de Elis Regina, logo em seguida fez um conjunto de rock rural com Sá e Guarabyra: Sá, Rodrix e Guarabyra, no qual compôs um famoso jingle para a Pepsi, notabilizado pelo verso: "só tem amor quem tem amor pra dar". Zé Rodrix saiu do trio antes do final da década de 1970, quando passou a fazer parte do grupo Joelho de Porco.

Abandonou a música pela publicidade nas décadas de 1980 e de 1990. Em 2001 reuniu-se novamente a Sá e Guarabyra.

No início da década de 2000 revelou que era maçom, chegando a lançar a trilogia de livros denominada "trilogia do templo" sobre a Maçonaria. A trilogia é composta dos títulos: Johaben: Diário de um Construtor do Templo, Zorobabel: reconstruindo o templo e Esquin de Floyrac: O fim do Templo.

Zé Rodrix morreu às 0h45 minutos do dia 22 de maio de 2009, após sentir-se mal e ser levado ao Hospital das Clínicas, em São Paulo, onde residia.

(Fonte: Wikipédia)

CORPO DE ZÉ RODRIX SERÁ CREMADO NESTE SABADO EM SÃO PAULO

O corpo do cantor Zé Rodrix será cremado às 12h deste sábado (23), no Crematório da Vila Alpina, em São Paulo. O serviço é realizado na GLESP (Grande Loja Maçônica do Estado de São Paulo), na Rua São Joaquim, 138. O compositor de "Casa no campo" (sucesso de Elis Regina) morreu na noite de quinta-feira (21), em São Paulo, devido a um infarto agudo no miocárdio.

José Rodrigues Trindade estava em casa, com a família, quando passou mal. Ele foi levado às pressas ao Hospital das Clínicas, na capital paulista. O artista tinha 61 anos e, segundo a mulher, estava muito bem de saúde.

Presente no velório, o cantor Zé Geraldo disse que Rodrix era "um grande amigo, generoso e amoroso" e que "era um grande e sensível compositor". Eduardo Araújo, músico famoso na época da Jovem Guarda, lembra ternamente do amigo, dizendo que este "pode ser um momento de tristeza para nós, mas logo ele vai fazer uma festa no céu" - sentimento compartilhado pela esposa de Rodrix, Julia, que diz que "ele se vai feliz como sempre viveu".

Zé Rodrix surgiu para o grande público nos festivais de música dos anos 60 – defendeu a música “Ponteio” ao lado de Edu Lobo e Marília Medalha em 1967, no III Festival de Música Popular Brasileira. Mas foi na década de 70, época de maior produtividade na música brasileira, que Zé Rodrix deixou sua marca.

Junto com Sá e Guarabyra, criou o chamado “rock rural” – nessa época, compôs com Tavito o grande sucesso “Casa no campo”. Cantou com Elis Regina e com o grupo Joelho de Porco. É dele também a canção “Soy latino americano”, e outras baladas ao piano.

Publicitário, Rodrix passou a se dedicar na década de 80 à criação de jingles para comerciais, até que em 2001 se reuniu com os antigos companheiros Sá e Guarabyra, lançando um CD comemorando os 30 anos de carreira. O cantor deixa mulher, seis filhos e dois netos.

Trajetória

Zé Rodrix formou em 1966 o conjunto Momento Quatro, com o qual gravou, no ano seguinte, um compacto simples contendo a faixa “Glória”, primeiro registro de uma composição de sua autoria.

Em 1967, o músico venceu o III Festival de Música Brasileira (TV Record) ao apresentar a música "Ponteio" com o quarteto, ao lado de Marília Medalha, Edu Lobo e o Quarteto Novo.

No Rio de Janeiro Zé Rodrix formou em 1970 o grupo Som Imaginário com Wagner Tiso, Robertinho Silva, Tavito, Luís Alves e Laudir de Oliveira. O grupo se apresentou ao lado de Milton Nascimento.

Rodrix desligou-se da banda em 1971. Naquele mesmo ano, venceu o Festival de Juiz de Fora com sua canção “Casa no campo” (com Tavito), que se tornou grande sucesso na interpretação de Elis Regina.

Ainda no início da década de 1970, participou, como compositor, da trilha sonora do filme "Como era gostoso o meu francês", de Nelson Pereira dos Santos, e dos musicais "Tem piranha na Lagoa", de Paulo Affonso Grisolli, e "Independência ou morte", de Hélio Bloch.

Também em 1971 formou com Luiz Carlos Sá e Gutenberg Guarabyra o famoso trio Sá, Rodrix e Guarabyra. Com o trio, Zé Rodrix lançou o disco “Terra” em 1973. No mesmo ano o músico iniciou sua carreira solo, como LP "I Acto".
________________________________________

De acordo com o “Dicionário Cravo Albin da Música Brasileira”, ainda na década de 1970 Rodrix participou, como compositor, das trilhas sonoras do musical "Miss (Apesar de tudo) Brasil", da peça "O refém", do filme "Motel" e das novelas da Rede Globo "O espigão" e "Corrida do ouro". Mais tarde, em 1986, participou da trilha sonora da novela “Cambalacho”.

Em 1983, o músico passou a integrar o grupo Joelho de Porco, com o qual gravou o LP “Saqueando a cidade”.

Entre 1989 e 1996 assinou a direção musical dos espetáculos "Não fuja da Raia" e "Nas Raias da loucura", de Sílvio de Abreu, e do programa "Não fuja da Raia" (Rede Globo), estrelado por Claudia Raia.

Em 1993 foi contemplado com o prêmio Kikito, no Festival de Cinema de Brasilia, pela trilha sonora do filme "Batman e Robin".

Em 2001, Zé Rodrix voltou a se reunir com Sá e Guarabyra, apresentando-se no festival Rock in Rio. Nesse mesmo ano, o trio gravou o disco ao vivo "Outra vez na estrada".

(Do G1)

ENTREVISTA COM ZÉ RODRIX

Clubeonline: Como você dosa seu tempo entre as diversas atividades que exerce?

Zé Rodrix: Aprendi há muitos anos, com o Chico Anysio, que é um cara multicapacitado, uma verdade inegável: quanto mais coisas você tem para fazer, mais tempo lhe sobra. Você tem que se organizar, ou seja, determinar os espaços no seu dia para fazer algo e ter um foco muito preciso. Assim você consegue efetivamente fazer tudo. Nós somos muito dispersos e quando temos muita coisa para fazer temos que conseguir nos concentrar e focar. Tem que pegar um trabalho e fazer rápido, não deixar para a última hora.

Clubeonline: Quais são suas atividades hoje em dia?

ZR: Trabalho na Crianon, que faz criação, produção de imagem e som, promoções, eventos, documentários, como o que eu dirigi para a Alonso Menendez (fabricante de charutos). Cuido de toda a parte musical da TV Cultura, da TV Rá-Tim-Bum e das rádios Cultura AM e FM, para as quais fiz um trabalho de criação de uma identidade sonora. Faço muita palestra para estudantes de publicidade. Minha apresentação nesse caso se chama “A Comédia dos Erros”, ou seja, eu não uso as palestras para glorificar meu trabalho, mas sim para mostrar as cagadas que a gente faz e enfrenta na profissão. Só os erros ensinam. Tenho um trabalho com a editora “A Girafa”, no que diz respeito à compra de coleções, visando dar uma cara para a empresa, e sou diretor da APP (Associação dos Profissionais de Propaganda). Além disso tudo, componho, tenho o trio (Sá, Rodrix e Guarabira), faço meus shows solo, sou curador do Clube Caiubi de Compositores, no bairro de Perdizes, e escrevo livros.

Clubeonline: Como você vê as mudanças na TV Cultura?

ZR: Finalmente a Fundação Padre Anchieta (mantenedora da TV Cultura) caiu no mundo real e criaram um departamento comercial. Não é o fato de ser um projeto cultural que impede uma TV de ter anunciantes.

Clubeonline: Como anda sua atividade como escritor de livros?

ZR: Eu lancei o segundo livro de uma trilogia que completarei mais para frente. Se chama “Zorobabel: reconstruindo o templo”. A primeira das três partes é a “Johaben: Diário de um Construtor do Templo” e está na oitava edição. Esses livros foram e são até hoje muito bem recebidos pelo público, não só no meio maçônico, como já era esperado. No lançamento do “Zorobabel” eu consegui juntar todas as minhas tribos. Tinha gente de teatro, publicidade, cinema, música, jornalistas, escritores, mais o pessoal da maçonaria.

Clubeonline: A trilogia sempre esteve pronta na sua cabeça?

ZR: Não. Tudo começou com o primeiro livro, que conta a história da construção do Templo de Jerusalém, que foi erguido por Salomão no ano 1000 AC. Quando entrei para a maçonaria, eu vim saber que essa história seria o eixo da trilogia. Não apenas o aspecto histórico simplesmente, mas sim o que ela tem de alegoria e simbologia para o teu trabalho interno e pessoal. As pessoas constroem templos durante sua vida, que podem ser destruídos e reconstruídos. Na maçonaria a gente conhece esses fatos de maneira fragmentada. Na medida em que eu fui avançando nos graus maçônicos, fui pensando em contar essa história inteira. Levei três anos pensando, pesquisando e escrevi o livro em sete meses.

Clubeonline: O que conta a segunda parte?

ZR: A história do Zorobabel se passa no século VI AC e conta a reconstrução do templo, que foi destruído pelos babilônios. Eu já estou escrevendo a parte final da trilogia, que se chamará "Esquin de Floyrac: O Fim do Templo" e se passa entre os seculos XIII e XIV DC. O interessante de contar uma história que se passa há tanto tempo é que você consegue perceber que tudo é muito similar ao que vivemos hoje, pois os sentimentos humanos não mudam. O final da trilogia conta uma história, que está na moda atualmente, que é a da Ordem dos Cavaleiros Templários. Também vou terminar um livro que eu já comecei a escrever, chamado “O Cozinheiro do Rei”, que se passa no Brasil e vai ser muito interessante.

Clubeonline: E a publicidade?

ZR: Em março de 2000 eu deixei a produtora Voz do Brasil. Meu sócio, o Tico Terpins, morreu em 1998. Só voltei a mexer com publicidade em 2003, quando o trabalho para um cliente demandou a construção de um estrutura, que ficou legal e começamos a atender outros clientes. Foi assim que surgiu a Crianon. Nossa filosofia é focada no cliente e não na equipe, no ego. Por isso o nome, Crianon, que significa Criativos Anônimos.

Clubeonline: Como você vê a publicidade hoje em dia?

ZR: A publicidade passa por um problema que é não conseguir aglutinar posturas positivas. Durante um bom tempo, os profissionais estiveram preocupados apenas com o lado material das coisas, no qual o único padrão de excelência era o dinheiro. Mas e o que acontece dentro de cada um? E sua verdade interior e a relação com seu público? Se não existe fidelidade com quem você exerce sua profissão, como você vai gerar fidelidade com seu público? As pessoas estão começando a rever alguns conceitos que são muito bons para a publicidade materialmente, mas que comem ela por dentro, como um cupim. A saída é não ter medo da mudança.

Clubeonline: Qual a maior mudança na publicidade brasileira nos últimos anos?

ZR: A grande quebra de paradigma na publicidade brasileira foi na década de 90, quando os anunciantes se organizaram sob a forma da ABA (Associação Brasileira de Anunciantes). Ela chegou mostrando ao mercado que as empresas estavam unidas e entendiam do negócio. A partir dali, os clientes mostraram que realmente sabiam como funcionavam as coisas. De certa maneira, os publicitários, durante as décadas anteriores, vieram matando a galinha dos ovos de ouro. Grande parte da publicidade era conversa fiada para enganar os clientes. E uma hora eles disseram “Chega! Ninguém aqui é otário”.

Clubeonline: Como você vê o trabalho dos publicitários?

ZR: Sempre comparei o trabalho dos publicitários como o de um protético, profissional que faz dentaduras. Nós somos pagos para embelezar a boca de alguém que nos paga para isso. Não é nada mais do que isso no mundo inteiro e não podemos ir além da prótese. De repente o publicitário passa a ser um parâmetro de ideologia, de raciocínio político ou de comportamento. Nós somos apenas publicitários e temos que sentar e fazer o melhor trabalho possível. No final do dia, nós temos que nos dar conta de que não salvamos nenhuma criança de morrer de câncer e que não acabamos com a fome na Nigéria. Trabalhamos para vender e temos que aceitar nosso verdadeiro tamanho.

Clubeonline: E o mercado?

ZR: As médias agências irão acabar. As 15 principais agências estão nas mãos de seis grandes conglomerados. Depois temos de 500 a 600 médias e essas viverão um momento complicado, pois elas só enxergam o caminho do crescimento. O correto seria o caminho do bom serviço prestado. Algumas agências têm o vício de achar que só se justifica estar no mercado se for para ficar cada vez maior e mais rico. Acho que não é isso e acredito que às vezes temos que diminuir de tamanho. No exterior, as pequenas butiques de criação, que são ágeis justamente pelo seu formato e tamanho, têm alcançado resultados melhores. Tudo mudou e nosso equívoco é tentar preservar a qualquer preço uma realidade que já acabou.

Clubeonline: E qual sua visão do futuro?

ZR: O marketing direto é um caminho fundamental e quando as pessoas estabelecerem processos corretos para essa ferramenta, não tem cliente que não irá optar por ela. Quando você consegue unir sua publicidade com seu ponto de venda, você tem um rendimento muito maior. Vejo isso pelo mercado de discos. Nos shows é que os artistas vendem mais discos.

Clubeonline: E as gravadoras? O que mudou nesse mercado?

ZR: As gravadoras antigamente experimentavam e ousavam mais do que hoje em dia. Era assim que funcionava: você tinha os artistas populares, que vendiam muito. Algo parecido com o pagode e o axé de hoje. O lucro com esse tipo de artista era repassado para outras produções, que não iriam vender muito, mas que encontrariam, em algum momento, seu público. A partir de 1981 esse modelo acabou e as gravadoras colocaram para fora quem não vendesse bastante. Por conta disso, hoje em dia, as experimentações são feitas no mercado independente.

Clubeonline: Qual sua opinião sobre a atual fase a MPB?

ZR: A MPB não significa mais nada, pois não tem nenhum ponto de contato com a alma brasileira. Ela fala para uma camada muito pequena da população que está dogmatizada e aprendeu a dizer apenas “isso é bom e isso é ruim”. O camarada liga o rádio, bota na Nova FM e acha que está cumprindo uma missão ideológica. Quem gosta de MPB gosta de artista e não de música. Do Caetano, por exemplo, eu gosto das músicas boas que ele fez. Das ruins eu não gosto mesmo e não sou obrigado a gostar. Aí vão dizer: “Pô, mas é o Caetano!”. Dane-se.

Clubeonline: E o trabalho com o trio Sá, Rodrix e Guarabira?

ZR: O trio continua fazendo o mesmo estilo que foi chamado pela crítica especializada no início da década de 70 de Rock Rural. Nós nos separamos em 1973 e o Sá e Guarabira continuaram. Em 2001, nós voltamos para fazer o Rock in Rio. Aí gravamos um CD e um DVD ao vivo, com algumas músicas inéditas, como “Jesus numa Moto”. Nos nossos shows conseguimos levar três gerações: os nossos fãs originais, os filhos e os netos deles.


Clubeonline: Como foi voltar a compor depois de anos apenas fazendo jingle?

ZR: Eu passei 20 anos somente compondo por encomenda, só fazendo jingle. No dia em que decidi parar de fazer publicidade, eu acordei, sentei ao piano e fiz uma música. Eu percebi ali que minha capacidade de compor sem ser por encomenda estava preservada.

Clubeonline: Quais as diferenças entre compor uma canção e um jingle?

ZR: O processo de criação de um jingle e de uma música própria é o mesmo, no início. Você sabe o que tem que fazer, vai lá e faz, sempre buscando a melhor forma da obra. Por uma questão de prazo, um jingle não pode ser melhorado como uma música pode ser. Quando componho, eu passo diversas vezes a flanela na canção para deixá-la melhor, sempre. O foco no jingle tem que ser apurado e preciso. A publicidade é a exacerbação do direito de escolha. Se todo mundo faz bons trabalhos, resta ao público escolher o melhor produto para consumir. Hoje em dia, o público apenas toma conhecimento do produto pela propaganda. Antigamente, um bom jingle convencia um consumidor a comprar determinado produto. Hoje, nenhum jingle é feito para durar, como acontece com os trabalhos feitos há tempos.

Clubeonline: Usando a analogia dos templos, quais dos que você construiu foi mais marcante em sua vida?

ZR: Todos os meus templos construídos foram destruídos. A Voz do Brasil foi um deles. Passei 20 anos com o Tico e nesse tempo nós passamos buscando um negócio imponderável chamado segurança e ela não existe. Buscamos coisas que não eram essenciais para a gente. Temos que abolir todos os supérfluos de nossas vidas, é isso que eu aprendi. A morte o Tico foi um baque para mim, uma perda muito grande. Levei um bom tempo até ficar íntegro de novo, por isso deixei de fazer publicidade. Fiquei três anos longe do mercado. A Voz do Brasil continua viva e atuante nas mãos do Alan Terpins, filho do Tico Terpins. O que acabou foi a felicíssima sociedade que eu e Tico tivemos e que durou maravilhosos 20 anos.

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(Enviado por Gabriel Vale)

quinta-feira, 21 de maio de 2009

CONJUNTURA


QUE ESPETÁCULO DE COMÍCIO

1986. Comício de encerramento da campanha de Freitas Neto (PFL) ao governo do Piauí. Os carros de som anunciavam, desde cedo, o grande comício de fechamento da campanha. Um espetáculo com o showmício da grande cantora Elba Ramalho. Na época, as carretas com imensos aparelhos de som saíram do Rio de Janeiro, dez dias antes da data. Mas as fortes chuvas na região atrapalharam o transporte. A lama nas estradas atrasou a chegada. O som chegou quase em cima da hora do comício na Praça do Marquês. Coordenador da campanha do candidato, cheguei ao local um pouco antes para ver o ambiente.

O TORÓ...

Os técnicos se esforçavam para instalar os aparelhos e arrumar os grossos cabos. 18 horas. Um toró (como se diz no Nordeste) começa a cair. A chuva torrencial começou a fazer a grande festa. Praça lotada. Três mil piauienses pulavam entusiasmados sob a água que caia. As garrafas de cachaça corriam de mão a mão. De repente, um estrondo, seguido de outros. Fogo e fumaça nos cabos. Corre corre dos técnicos e o aviso: "Acabou o som. Não há condição." Não havia aquele tipo de cabo. Elba Ramalho foi logo atirando:
- Está aqui meu contrato. Sem som, não canto.
Conversa daqui, conversa dali, aflição por todos os lados. Depois de muita insistência, ela admite:
- Cantarei uma música, só, e me arranjem um acompanhamento.
Saiu não sei de onde um cara com um banjo. O povão gritava:
- Elba, Elba, Elba, cadê a Elba?
Bate, bate, bate, coração...
A cantora saiu de trás. A multidão explodiu. E lá vem a música:
- Bate, bate, bate, coração!
Nem bem terminava a estrofe, Elba parou. Presenciei, ali, uma das maiores aflições de minha vida, um esculacho na massa:
- Seus imbecis, seus loucos, covardes, miseráveis. Como podem fazer uma coisa dessas?
O que era aquilo? Por que aquele carão?
Olhei para o meio da multidão. E vi a cena: um sujeito abrindo a boca de um jumento, enquanto outro despejava nela uma garrafa de cachaça. Foi o toque que faltava para o anticlímax. Quanto mais Elba xingava a multidão, mais apupos, mais vaias. No dia seguinte, Teresina respirava um ar de gozação. O showmício de Freitas Neto foi um desastre. Senti o ar pesado. Pesquisas nos davam 3% de maioria sobre Alberto Silva, candidato do PMDB. Perdemos a campanha por 1%. O desastre virou o clima. Quando faço palestras sobre Marketing Político, costumam me perguntar:
- Professor, qual é o fator imponderável em campanha eleitoral?
Na bucha, grito:
- Um jumento bêbado no Piauí.

A ESTÉTICA DA PRÉ-CAMPANHA

A estética da pré-campanha abriu os primeiros sinais. No aeroporto de Brasília, a ministra Dilma Rousseff põe as mãos na cabeça num gesto que parecia segurar a peruca. Era a foto que os jornais começaram a perseguir desde que a candidata in pectore de Lula à presidência da República anunciou seu tratamento contra um câncer linfático. Doravante, essa foto continuará a estampar os espaços jornalísticos. Os limites entre vida privada e vida pública são extremamente tênues. Que, no caso da ministra, serão escancarados.

UMA LEVE DOR DE CABEÇA

Pois é, a ministra, agora, atravessará um gigantesco corredor polonês. Se tiver uma leve dor de cabeça, pulará para a primeira página dos jornais. Dor nas pernas? Tome manchete. Dor nos ombros? Tome espetáculo. Esse é o terrível e custoso preço por que passam as figuras públicas. Mas, com todo respeito pela ação midiática em direção ao furo jornalístico, a ministra Dilma merece também respeito. E solidariedade. Que implica contenção e propensão ao sensacionalismo.

CPI DA PETROBRAS

A CPI da Petrobras acentuará a arenga entre governistas e oposicionistas. O governo terá ampla maioria na CPI. Os membros da oposição farão barulho, mas não a ponto de deflagrar mais uma crise. A razão? A Petrobras é uma empresa que mora no coração dos brasileiros. Insinuação mais forte a respeito de interesses privativistas no entorno dessa mega empresa causará danos. A oposição, se quiser ir com muita sede ao pote, deixará de beber água. Ademais, ao que parece, o DEM não tem intenção de obstruir os caminhos do óleo.

AÉCIO VAI OU RACHA

Aécio Neves nunca esteve tão entusiasmado com a possibilidade de vir a ser candidato à presidente da República como agora. A seu redor, circula um grupo de deputados e assessores, cujo mantra é ouvido das montanhas de Minas aos grotões do Nordeste: "quem sabe faz a hora, não espera acontecer". Neves faz as contas: perde na cúpula tucana, mas tem condições de ganhar nas bases. Com a doença da ministra Dilma, seus ouvidos passaram a ser incomodados com mais um refrão: "se acontecer aquilo, você é a moeda da vez". Essa zoada tem batido nos ouvidos deste escriba.

MAIS DE 6 BI

Luiz Inácio é bom de boca. Exibe um canto mavioso para as massas. Atravessa o meio social e fala para as margens. Passa por cima das críticas da mídia. Não dá a mínima pelota para os formadores de opinião. Construiu círculos de poder: Bolsa Família, laçando 46 milhões de brasileiros; um milhão de casas populares, que começarão a ser entregues em 2010; o PAC, que faz do país um canteiro de obras; diminuição do IPI para automóveis e motos; juros diminuem; o desemprego começa a ceder e os sinais da crise se tornam mais tênues; o agronegócio retoma seu fluxo; a agricultura familiar recebe um "adjutório". E, ainda por cima, o cara gastou mais de R$ 6 bilhões com propaganda. Isso mesmo: 6 bi.

ESCALAR A MONTANHA

Essa é a montanha que o candidato oposicionista – seja José Serra ou outro – deverá escalar. Lula não conseguirá transferir votos. É o que se diz e o que se sabe. Não o fez por ocasião da campanha municipal. Vamos com calma com o andor. Toda campanha tem um clima, circunstâncias próprias. Ele poderá, até, não transferir votos, mas a situação de estabilidade e normalização no campo do trabalho poderá facilitar a vida de um candidato situacionista, seja Dilma ou outro. O candidato das oposições terá de passar por mil obstáculos. Um candidato da situação enfrentará menos obstáculos.

E OS ÍNDICES?

E os índices de intenção de voto, não contam? Não servem para nada? Aqui, vai a resposta: índice de intenção de voto, a essa altura, é igual ao desenho do elefante visto nos céus. Dentro de pouco tempo, o que era elefante se esgarça e se transforma em gafanhoto; e o que era uma nesga de nuvem, parecendo um gafanhoto, se agiganta, mais parecendo o incrível Hulk. Durante uma exposição massiva, de 45 dias seguidos e intensos, qualquer desconhecido se transforma em astro, celebridade. As campanhas eleitorais fazem esse milagre.

TUDO BEM, E DAÍ?

Daí, podem ser feitas as seguintes observações. A eleição de um candidato depende do momento, das circunstâncias, da temperatura social, dos versos e reversos da economia, do perfil dos adversários, dos debates e combates na arena eleitoral, dos climas regionais, da força da mídia eleitoral (significando tamanho dos programas eleitorais), dos inputs momentâneos (uma crise abrupta, um caso espetaculoso) – enfim, de uma escala de elementos ponderáveis e imponderáveis. Os fatores imprevisíveis abrem as possibilidades. Única verdade: peru não morre de véspera.

PRÓS E CONTRAS

Em uma comparação regulada pela régua do rigor – capacidade, experiência, história política, visão global – José Serra assume o topo do ranking. Mas conserva uma imagem exageradamente paulista. E, como sabemos, há um certo preconceito contra o peso de São Paulo no desenho federativo. Aécio Neves tem muitos atributos, mas estaria abaixo de Serra no ranking. Agrega, porém, em torno do seu perfil elementos que podem impressionar: jovialidade, modernidade, centralidade (Minas Gerais não desperta tanto ciúme ou desconfiança quanto São Paulo), espontaneidade. Contra ele, a percepção de que tem muito que aprender; não está ainda preparado para chegar ao topo. Já Dilma Rousseff reúne elementos como: capacidade gerencial, a condição feminina (diferencial a ser trabalhado), novidade, perfil bem assentado na estrutura de estabilidade social e econômica do país. Mas é vista como o eco da voz do presidente. Lula é poderoso, mas não é Deus.

O VICE CABRAL

Sérgio Cabral teria melhorado sua posição no ranking da aprovação pública. Por conta desse crescimento, sobe uma posição no ranking dos vices da candidata Dilma. Lula gostaria de escolher um vice do PMDB com voto. Como é amigo do governador do Rio, qualquer inferência nesse sentido tem muita lógica.

YEDA

Até quando irá o calvário de Yeda Crusius? Diz-se que o PSDB, a essa altura, já a considera uma carta fora do baralho de 2010 no RS.

PSB AGITADO

O partido que vive o maior rebuliço após o anúncio da doença da ministra Dilma não é o PMDB, como se pensa, mas o PSB. Ciro Gomes corre pelo centro e pelas margens com o intuito de aumentar suas chances como candidato. O conselho para ele de muita gente é: amacie a língua, domine a pantera que habita sua garganta.

TERCEIRIZAÇÃO EM FOCO

O deputado Michel Temer, presidente da Câmara, solicitou ao deputado Sandro Mabel (PR/GO) que procurasse reunir as partes interessadas no projeto 4.302/98, que versa sobre a Terceirização de Serviços e atualiza o Trabalho Temporário, com o intuito de alcançar uma base de consenso. É ideia do presidente inserir o Projeto na agenda da Câmara nos próximos 30 dias.

CUSTOS SÃO CONSEQUÊNCIA

"O problema é que as empresas buscam só redução de custo e acabam contratando as de preço mais baixo, sem qualidade. A Terceirização é importante quando otimiza a produção. A redução de custos deve ser uma consequência." (Jan Wiegerinck, presidente do Sindicato das Empresas de Prestação de Serviços a Terceiros, Colocação de Mão de Obra e de Trabalho Temporário no Estado de São Paulo - Sindeprestem), ao argumentar que aqueles que dizem que a responsabilidade solidária, prevista no projeto que regulariza a Terceirização, encarece a produção.

BARREIRA MINISTERIAL

Ocorre que, a esta altura, a Terceirização começa a ser disputada por candidatos a pai. O Ministério do Trabalho quer aparecer, também, como patrocinador do projeto. Por mais que se argumente sobre o 4.302/98, projeto pronto para ser aperfeiçoado e votado, o Ministério do Trabalho, por insistência do ministro Lupi, quer fazer valer a sua escrita. E, como se sabe, projeto novo entra em lista, devendo passar pelos trâmites congressuais. Haja tempo. Esse é o custo Brasil do atraso.

CADÊ O EDUARDO?

Onde está o governador Eduardo Campos, governador de Pernambuco? Desapareceu dos espaços midiáticos. Trata-se de um bom nome para figurar na chapa presidencial de 2010. Preparado, bem avaliado, bem articulado, símbolo de uma nova geração.

PR QUER AÉCIO

O PR quer Aécio como seu candidato à presidente da República. Neves desconfia do PMDB. E abre mais uma janela. Que pode ser usada em setembro próximo.

CHINESES NO BRASIL

Condição para que a China expanda seus investimentos no Brasil: mandar, junto, contingentes de chineses. Vai ser engraçado ver as Centrais Sindicais disputando para atrair os "chinas" para engordar seus cofres.

VISÃO DE RIGOTTO

Germano Rigotto é um dos políticos brasileiros que moram no ranking da qualidade. Eis sua observação sobre a CPI da Petrobras: "No meu modo de ver, a CPI da Petrobras poderá trazer, para uma empresa de capital aberto, grandes prejuízos, inclusive para os que nela investiram através da compra de ações. A pergunta que se faz é que se, antes da CPI, não teríamos etapas a vencer que pudessem determinar punições aos responsáveis por qualquer irregularidade encontrada, sem prejudicar a empresa." Grande, Rigotto.

FHC SEM PURO SANGUE

FHC continua a apostar na chapa puro-sangue tucana: Serra, na cabeça; Aécio, vice. Mas o mineiro diz que isso é pura piada. E assim o tucano maior continua a ver navios no deserto.

ALOYSIO NA MOITA

Aloysio Nunes Ferreira, o chefe da Casa Civil do governo Serra, continua fazendo política 24 horas. Seu gabinete é uma enchente de prefeitos. Articula, atende demandas, costura, remenda, providencia. Corre pelo interior. Ele sabe que a visibilidade de um candidato, em uma campanha, cria amplas possibilidades. Sabe que Geraldo Alckmin tem um bom recall – da última campanha presidencial – mas não se amedronta. Tem uma boa chance de ser o nome tucano ao governo de São Paulo.

CONSELHO AOS MEMBROS DA CPI DA PETROBRAS

Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na edição passada, o espaço foi destinado ao ministro do Trabalho e Emprego, Carlos Lupi. Hoje, volta sua atenção aos membros da CPI da Petrobras:

1. É evidente que quaisquer desvios na empresa-símbolo do Brasil devem ser apurados e denunciados.

2. Mas o patrimônio da Petrobras – história, identidade, simbologia – deve ser preservado. Ou seja, as coisas devem ser conduzidas de acordo com critérios técnicos e rigor nas apurações, sem estardalhaços que possam vir a comprometer o bom conceito da empresa.

3. Se houver comprovação de ilicitudes e desvios, que os ir(responsáveis) paguem por eles.

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(Por Gaudêncio Torquato)

quarta-feira, 20 de maio de 2009

HOJE ANIVERSARIO!!!

A rigor, aniversário é motivo de regozijo, de comemoração, de congratulação comunitária.

Não sei bem explicar o motivo, mas sempre senti uma certa resistência no ato de se transformar o natalício em momento exógeno, de extravasamento festivo, de exteriorização de alegria.

Quando aniversario, adoro me agarrar às asas da reflexão endógena e voar para o desconhecido território lúdico que faz contraponto ao conhecido cotidiano lúgubre.

Talvez seja porque a relembrança da data em que nascemos nos remeta ao mais íntimo e profundo de nós mesmos, refazendo o itinerário fantástico que nos fez romper com a cápsula de ternura, com a nave de conforto protetivo, com a bolsa de afeto do útero materno e permitiu que abríssemos os olhos marejados para o espasmo do universo, para o espetáculo da existência, para o êxtase da vida!

Hoje, lembro especialmente de uma poesia que escrevi quando completei dezesseis anos e que expressa um pouco minha alma de poeta. Está um pouco ensimesmada, porém isso é próprio de quem, naquela época, incursionava pelas trilhas imoderadas da adolescência:

Que poderia eu dizer-te
Pelo aniversário, pela minha vida?

Só posso te dizer o que é possível
Dizer uma pessoa que ama
Com amor
O que não é amável!

Tenho apenas aquilo que é tudo:
O sorriso de infância, a alegria permanente!
E a alegria te envio
Como uma carta transparente.

Eu sou, camponesa, o errante menino
Que não se banha com lágrimas
Nem experimenta roupas de tristeza.

Ando somente com uma luz suave
E tudo aquilo que me toca
Sente o poder da amizade.

Agradam-me os violões
E as músicas que lhes saltam.

Admiro os pássaros... e quando saio voando
Tenho o coração mais vasto que o horizonte azul,
E o sol luminoso a cada dia de paz
Afasta de mim as dores e cicatrizes.

Para esta aventura te convoco, amiga,
Como uma abelha que convida outra abelha
Para conhecer a Árvore do Mel.

Quero que a partir de agora passes
A pertencer ao que é fecundo e germinal:
À vontade de nascer – das sementes
À teoria silenciosa – das noites
À fúria juvenil – dos ventos
À claridade derramada – das manhãs
À floração colorida – das primaveras!

Sou apenas aquilo que não sou
E por isso te desejo que sejas
Aquilo que hoje tu não és!

terça-feira, 19 de maio de 2009

OBSERVATÓRIO


Outro dia acompanhei em audiência, aqui em Fortaleza, o centrado ex-prefeito de Quiterianópolis, Antonio Luiz Carvalho. A certa altura, lamentei a interdição do seu projeto reeleitoral em 2004. Ele ponderou: “Já refleti muito sobre isso. Ao invés de culpar os outros, penso mais nas minhas falhas. Debito grande parte desse insucesso a mim mesmo. Cometi erros de avaliação, subestimei pessoas e lideranças indevidamente. Equivoquei-me. Hoje, faria diferente...”

OLHAR PARA SI MESMO I

Fiquei impressionado com o exercício de auto-avaliação do ex-gestor. Antonio Luiz me relembrou a importância de olharmos para nós mesmos. Caldeira fervilhante, vulcão em erupção, verdadeira panela de pressão, o mundo da política é paradoxal: ao mesmo tempo em que nos possibilita o altruísmo da realização de grandes obras em favor da coletividade inteira, também desperta em nós o egoísmo individualista de nos considerarmos donos da situação, superiores aos demais. E aí descambamos para o autoritarismo. Via de regra, na política, enxergarmos nitidamente o cisco no olho do outro, mas esquecemos a trava que cobre o nosso.


OLHAR PARA SI MESMO II

Faço essas ponderações quando lembro o caso de Crateús. Apesar do pouco tempo, agiganta-se um clima de inquietude em relação à nova gestão. Cresce a decepção popular. Cômodo seria explorarmos os focos de fragilidade, nos unirmos ao coro da insatisfação majoritária e buscarmos faturar em cima do desgaste alheio. Esse é o percurso usual. Porém, já sabemos onde deságua: na vala repetitiva, no lugar comum, na mesmice. E esse itinerário jamais libertará nosso município das suas mazelas históricas.

OLHAR PARA SI MESMO III

Já descobrimos que o homem mediano é exigente com os outros; o homem superior é exigente consigo mesmo. Quem já ocupou qualquer função pública sabe bem a diferença de clima entre o gramado do campo e o espaço da arquibancada. Por isso, ao invés de apontar o dedo acusatório, quero provocar a mente à reflexão. A hora, repise-se, é de autocrítica, voltarmo-nos para dentro de nós mesmos, meditar sobre a nossa própria prática. É nessa esteira que o gestor há que ser instado. Senhor Prefeito: quero lhe convidar à reflexão, compartilhando interrogações. Basicamente sobre: o rumo escolhido, o rigor contra a corrupção, o rito da publicidade e o respeito relacional.

O RUMO ESCOLHIDO

A primeira interrogação é: para onde estamos indo? Qual o rumo dessa administração? Onde se pretende chegar no que tange aos desafios institucionais, aos obstáculos econômicos, às mazelas sociais? Seguirá essa gestão apenas a reboque de ações previstas por gestões anteriores e pelos Governos Estadual e Federal ou buscará atingir metas locais de desenvolvimento, elaboradas e viabilizadas por seus próprios méritos?

O RIGOR

Um dos mais contundentes compromissos assumidos em campanha foi o do combate rigoroso à corrupção e às práticas antiéticas de governo. Que inovações estão sendo implementadas nesse campo? Podemos afirmar, em alto e bom som, que o nepotismo – em suas formas direta ou cruzada – foi verdadeiramente extirpado? Ou que o conjunto dos contratos firmados, todos os negócios pactuados são límpidos ao ponto de resistirem a qualquer auditoria séria e independente?

O RITO DA PUBLICIDADE

Como está se materializando o cumprimento do princípio constitucional da publicidade? A divulgação transparente dos atos representa a higienização de um governo. Semana passada, o ex-candidato a prefeito do PSOL, Alexandre Maia, lamentou que, no site da Prefeitura, embora tenha um ícone destinado a Licitações, inexiste a mínima informação sobre qualquer certame. Será correto isso?

O RESPEITO RELACIONAL I

O imbróglio com os professores é emblemático. Uma greve, por tanto tempo, indica que algo precisa ser revisto. Os professores, sabemos, compõem a mais nobre das profissões. Engenheiros, escritores, médicos, advogados, magistrados – todos um dia passaram pela mão de um professor. Por que contribuir para o enfraquecimento dessa categoria? É recomendável a um governo que se reclama de ‘esquerda’ propagar que o movimento dos educadores é aparelhado por partido A, B ou C ou falar de ‘infiltração’? Essa linha de argumentação reacionária sempre foi o escudo dos setores da direita mais empedernida... Sei que são muitos, e todos lhe estão próximo, os que o aconselham a endurecer, radicalizar e humilhar. Será esse o melhor caminho? Aonde chegaram os que assim procederam?

O RESPEITO RELACIONAL II

Prefeito: poucos homens receberam o lume do Executivo Municipal sob o conforto de condições objetivas tão auspiciosas como Vossa Excelência. Poucos tiveram tanto apoio para tornar realidade a sonhada pacificação política e social da nossa terra e insuflar o florescimento de uma safra de sustentável progresso. A corrosão institucional do seu governo pode significar um duro golpe na pedra preciosa da cidadania. E isso será ruim para todos. Por isso, um conselho final: ao invés de defenestrar os que já passaram pela Prefeitura ou procurar desqualificar os que criticam, seria mais prudente recolher as lições do passado e considerar o cerne das ponderações independente de onde se originem. Dalai Lama assevera: “Quem te ensina a tolerância? Teus filhos podem te ensinar a seres paciente, mas só teu inimigo te ensina a tolerância. Ele é como teu professor. Se experimentares respeito pelo teu inimigo em vez de cólera, tua compaixão se desenvolve”. Inove: ausculte, com sereno respeito e redobrada atenção, as críticas do suposto inimigo, não faça uma gestão de súditos e convide para sentar, na mesa de discussão, quem pensa radicalmente contra suas maiores crenças. Ao fazer isso de maneira transparente, sem deslizar para o vício da barganha, sem procurar cooptar os dissidentes, Sua Excelência poderá descortinar outro horizonte. Ainda há tempo!

PARA REFLETIR

"Meu coração não mudou. O coração de meu pensamento não mudou. Evoluiu, decerto, com o que me ensinaram meus mestres e meus livros. Evoluiu com o que me ensinaram meus alunos. Evoluiu com o que a trama da vida me ensinou. Mas evoluiu como quem sobe os degraus de uma escada, levando consigo os degraus já galgados. Evoluiu, não como quem acrescenta conhecimentos a conhecimentos, mas como quem realiza a comunhão desses conhecimentos, fundindo-os num só conhecimento de nível mais elevado, conjugando-os para que formem um só todo, uma só organização, uma só melodia." (Goffredo Telles Jr.)

(Por Júnior Bonfim. Publicado na edição de hoje da Gazeta do Centro Oeste).

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Paulo Nazareno disse...

ALIMENTANDO O LOBO ERRADO

Mestre Zen ensina a um seu discípulo:

- Dentro do homem dois lobos travam eterna luta.O bom,cultua o perdão,a compreensão,a amizade,a tolerância e a compaixão;o outro o ódio,a vingança,a força e a arrogância.

Pergunta o discípulo:

- Qual dos dois vencerá?

Responde o mestre,calejado por tantas e tantas batalhas:

- Aquele que você alimentar!

CARLOS LEITE DE ARAÚJO


Houve um tempo em nossa Pátria – e este tempo ainda está próximo da nossa memória, bem como jamais há de ser olvidado da consciência nacional – em que o povo foi muito perseguido, a liberdade derramou lágrimas e o direito foi enclausurado na masmorra do terror.

Homens e mulheres tivemos que, malgrado as trevas, atravessaram essa cavernosa fase e saudaram com mãos límpidas e fronte altiva o raiar do sol. Seres que se mantiveram com a alma pura como os córregos de água cristalina ou os perfumados mufumbos sertanejos em pleno maio invernoso. Figuras que, mesmo cortadas até o tronco, como canafístulas poderosas ficaram só o toco e rebentaram para voltar a recompor a compleição verdejante.

Pois bem, de uma “Várzea do Toco”, no município de Independência, aportou no ano de 1962 em Crateús um cidadão que se tornaria um desses ícones do movimento popular local: Carlos Leite de Araujo. Popularmente: “Carlos Nobre” ou “Carrim”.

Criado no universo da roça, descobriu desde cedo a invisível legislação da Natureza: milagres existem! Ele próprio é um exemplo disso: aprendeu a ler sem escola, sob a orientação do pai, um professor sem diploma. Autodidata, fez curso de relojoeiro e abraçou a profissão que garantiu a própria afirmação e da família.

Homem de sólida crença, logo se engajou no Movimento Eclesial de Base (MEB) que eclodia nos sertões de Crateús sob a animação do profético bispo Dom Fragoso, com quem se identificou desde a implantação da Diocese em 1964.

À medida que o regime ditatorial se consolidava, rareavam os seus opositores. Só os íntimos do destemor, os que se alimentavam da seiva do idealismo verdadeiro, se mantinham firmes no combate. Eram tempos sombrios, sob o albergue da clandestinidade, em que o medo povoava mentes e o sonho das liberdades públicas parecia inatingível. Trincheira de resistência, à Diocese de Crateús acorriam os mais expressivos nomes da inteligência libertária nacional. No entanto, aos olhos do poder o bispo era persona non grata: soldados faziam plantão na Praça da Igreja para vigiar quem entrava e saía na sede do bispado.

Freqüentador assíduo das reuniões eclesiais e líder de destaque no movimento de bairros, Carrim sentiu em certa ocasião o impacto da tortura psicológica: a Polícia Federal foi buscá-lo na sua Relojoaria e o submeteu a um longo interrogatório, de nítido caráter intimidatório. Perguntas como ‘Você faz parte da equipe paroquial?’, ‘Em que se baseia o trabalho da Igreja?’, ‘De onde o bispo recebe dinheiro?’ – fizeram parte da longa sessão que culminou com “conselhos” de tonalidade imperativa: ‘Afaste-se dos padres! É perigoso continuar perto deles!’

Essas adversidades apenas sedimentavam em Carlos Nobre a clara certeza de que palmilhava a vereda certa. E isso o aproximava cada vez mais de D. Fragoso, aquele pastor audacioso que abria as portas dos templos e as comportas da barragem religiosa para os despossuídos e espoliados, valentes de esperança e mansos de coração. Mergulhou fundo naquele caudaloso leito que misturava fé e política como componentes da mesma fórmula pascal.

Irmanado com pessoas como Manoel Balbino, Cícero Roma, Daniel, Ana Maria e Pedro Calixto, dentre muitos outros, passa a pingar fermento na massa e fomentar a ativação de uma entidade que estava parada: a Frente Social Cristã – que até hoje se constitui no principal espaço de congregação das organizações de bairro de Crateús. Através de mutirões, sedes foram construídas para a realização de eventos. Essa federação de bairros foi o carro-chefe de muitas lutas por moradia e trabalho, pão e paz. Além, é claro, da ativa participação em todas as manifestações que sacudiram o País e marcaram o sepultamento do arbítrio, como a Anistia e as Diretas Já. Nesses momentos indeléveis, sempre exercitou a veia poética e produziu memoráveis cordéis.

Indicado pelos companheiros de luta, por duas vezes (em 1982 e 1988) Carlos Leite tentou representar os bairros na Câmara Municipal. Apesar de enfrentar interesses poderosos, o que lhe obstaculou o êxito, obteve expressivas votações. Na Frente Social Cristã, entretanto, foi Presidente eleito e reeleito por vários mandatos – o que lhe rendeu certa vez o irônico apelido de “Presidente eterno”.

Do entrelaçamento matrimonial com Verônica Melo Araujo nasceram Luis Carlos, Paulo, Verbenia e Silvio – que já lhe deram 09 netos.

Apesar das mais de sete décadas de vida, continua no mesmo labor diário: acompanhando atentamente os ponteiros cívicos da vida da cidade e dando plantão no indefectível posto de trabalho: a pontual Relojoaria Grão-Duque! – nome que nos remete aos títulos de nobreza que eram usados, sobretudo na Europa Central e Oriental, para designar certos soberanos de estados independentes.

Que assim continues, Carrim, Independenciano que virou Crateuense, rebento do milagre da vida, bairrista da popular soberania, cultor da incondicional independência, vigilante da hora da verdade, nobre defensor do anseio comunitário!


(Por Júnior Bonfim. Publicado na edição de hoje da Gazeta do Centro Oeste e na Revista Gente de Ação)