quarta-feira, 20 de agosto de 2014

CONJUNTURA NACIONAL

Abro a coluna de hoje com uma historinha da PB.

Dois matutos de Monteiro no Cariri paraibano, cansados da seca e das promessas dos políticos, decidiram tentar a vida em uma cidade grande. Venderam o burro, o jumento e o cavalo e, na esperança de um dia voltar, rumaram para o RJ. Chegando lá, por sorte, arranjaram empregos de servente em uma pequena construção, o salário pequeno mal dava para sobreviver e raramente sobravam trocados para enviar aos familiares na PB. Durante o período do carnaval dois árabes, fazendo turismo no Rio, passaram em frente à obra e viram os paraibanos de enxadas nas mãos, mexendo areia e cimento. O sol estava escaldante e os nordestinos suavam até pela ponta do nariz. Os turistas se aproximaram e, admirados de tanta bravura, perguntaram qual o salário dos dois.

- Ganhamos o salário mínimo, uma mixaria.

Os árabes perguntaram se não aceitavam morar na Arábia Saudita e trabalhar por lá recebendo salários polpudos. Os paraibanos esclareceram que não seria possível viajar para um lugar tão longe, pois faltava o dinheiro das passagens. Os árabes afirmaram que isto não seria um problema, já que os mesmos estavam de avião particular e daria para levar ambos. Depois do carnaval e após uma prece ao Padim Ciço, os paraibanos embarcaram. Quando o avião estava sobrevoando o deserto do Saara, apresentou uma pane, sendo necessário um pouso não programado. Um dos paraibanos, na porta do avião, olhou em frente e só viu areia: do lado direito, do lado esquerdo e na parte de trás, só areia. Um mundão de areia. Com ar de preocupação, virou-se para o companheiro e gritou:

- Ô Severino, nóis tamo lascado. Quando chegar o cimento, oi nóis (e fez aquele gesto famoso).

(Enviado por Severino Nunes de Melo)

As chances de cada candidata (o)

Este consultor aproveita a coluna de hoje para tentar explicar quais as chances e possibilidades de cada candidata (o) à presidência da República, levando em consideração seus pontos fortes e seus pontos fracos. Faço este exercício procurando uma dose de equilíbrio, sem torcer para A ou B. Vamos adiante.

Como o eleitor escolhe

Mostremos, primeiramente, qual o processo que baliza as escolhas dos eleitores. É comum se dizer que o eleitor escolhe por instinto. A palavra é essa mesma. Mas poucos se dão conta da extensão de seu poder. Expliquemos. O ser humano age por meio de quatro instintos, dois ligados à preservação do indivíduo e dois ancorados na conservação da espécie. Os dois primeiros são: o instinto combativo e o instinto nutritivo. O combativo refere-se à luta do homem para sobreviver, enfrentando a natureza, os dissabores, as adversidades que se apresentam nos múltiplos espaços da vida cotidiana. O impulso nutritivo o joga na procura do alimento, que supre seu corpo. Sem alimento, o homem definha.

BO+BA+CO+CA

Por isso mesmo, criei a equação que está por trás da decisão do eleitor: BOlso cheio, geladeira cheia, BArriga satisfeita, COração agradecido, CAbeça decidindo votar em quem viabilizou o suprimento de alimentos. Dito isto, poderemos abrir o cenário das candidaturas. Começando com a pergunta: qual o perfil mais próximo à geladeira? Marina, Dilma ou Aécio?

Dilma, a favorita

Se a resposta levar em consideração este pano de fundo, não há dúvida : Dilma Rousseff ainda é a favorita. E onde reside a explicação? Bolsa Família e outras bolsas. O eleitorado, principalmente o das margens - Nordeste, Norte, Centro Oeste - tende a decidir na direção de quem lhe proporciona esse pacote de benefícios. O que é mais vantajoso? Apostar no certo ou no incerto? O eleitor tende a apostar no que lhe parece mais seguro. O que pode ameaçar Dilma? O bolso mais vazio em outubro. E isso se dará se a inflação de alimentos esvaziar a cesta básica. Inflação e desemprego são as duas maiores ameaças à reeleição da presidente.

Aécio sinaliza esperança?

Carrega o senador mineiro uma bagagem de jovialidade, animação, disposição, determinação. Sai de um Estado, MG, que é o segundo maior colégio eleitoral do país: 16 milhões de votos. Fez ali uma boa gestão. Tanto ele como seu sucessor, Antonio Anastasia. Conta com o apoio dos tucanos paulistas, a partir do governador Geraldo Alckmin, que continua exibindo confortáveis índices de intenção de voto: 55%. Conta com o apoio de José Serra, candidato a senador, e de Aloysio Nunes Ferreira, senador, candidato a vice em sua chapa. E com o apoio de Fernando Henrique, prestigiado ex-presidente da República. Aécio terá um voto forte no Sudeste (*SP, MG, RJ). Mas se a economia não cair no despenhadeiro, não conseguirá ultrapassar Dilma.

Marina, a emoção completa

O eleitor tende a se identificar com a alma sofrida. Dá um voto farto em quem padece, sofre. A morte trágica de Eduardo Campos comoveu e comoverá, por um bom tempo, os corações brasileiros. Marina já tinha um capital eleitoral próprio. Chegou a ter, em abril deste ano, 27% de intenção de voto. Eduardo Campos tinha cerca de 12%. Marina, agora, chega aos 21%. Mas não tirou voto de Aécio e de Dilma, que continuam, segundo a última pesquisa Datafolha, a ter, respectivamente, 20% e 38%. Portanto, Marina puxou votos do cordão dos indecisos, nulos e brancos. Seu eleitorado maior é composto por jovens de classe média e bem escolarizados.

As ondas emotivas

As ondas emotivas deverão, isso sim, abrir a visibilidade de Marina, que terá dois minutos apenas de TV e rádio na programação eleitoral. Dilma terá mais de 10 minutos e Aécio, 4. Nos spots publicitários - aqueles foguetinhos que se ouvem ao longo do dia - Dilma pipocará. Será uma dose e tanto de comunicação. É razoável supor que, lá para os meados de setembro, as ondas emotivas refluam e o perfil mais denso de Dilma e Aécio aumentem seus cacifes. A não ser que, até lá, novas ondas emotivas sejam criadas para empurrar o voto de coração em Marina, sob o sorriso aberto e os olhos azuis do Eduardo, escancarados em grandes cartazes. As novas ondas? Sim, ondas formadas pela participação comovida de dona Renata e seus cinco guerreiros, os cinco filhos vestidos com camisa amarela.

E a rejeição a Dilma?

Dilma enfrenta quase 40% de rejeição no maior colégio eleitoral do país, SP. Essa é sua grande ameaça. Eliminará a rejeição? Parcela, sim. A intensa propaganda eleitoral acabará modulando sua imagem, tirando excessos aqui e ali e formando uma composição menos negativa. Se conseguir chegar aos 18% de rejeição, alcançará índice razoável. É o que deve acontecer.

E Marina no nordeste?

Pois é, Eduardo Campos registraria um bom crescimento na região nordestina, na esteira da colagem de seu perfil às demandas regionais. Será difícil para Marina garantir a adesão maciça do eleitorado nordestino. Este consultor aposta mais na hipótese de que Dilma acabará consolidando sua imagem na região.

E o Triângulo das Bermudas?

SP poderá dar uma boa maioria a Aécio Neves. Urge lembrar que Dilma ainda está na frente neste Estado. Mas a tendência é que Aécio Neves saia de Minas e de SP com uma boa maioria, capaz de diminuir a folgada maioria que Dilma terá no Nordeste. O RJ dividirá bem os votos, eis que os partidos, a partir do PMDB, fazem campanha para Dilma e Aécio. Os marineiros do Rio também formam um bom contingente.

PMDB e os Estados

Contas da cúpula do PMDB mostram que o partido poderá eleger os governadores dos seguintes Estados : AM, PA, CE, RN, AL, SE, ES, RJ, MS, TO. Com possibilidades, ainda, no PR e em GO.

Declaração de Fortaleza

Indicados aos cargos de conselheiros e ministros devem antes ser enquadrados na Lei da Ficha Limpa. É o que pedem os presidentes de 34 Tribunais de Contas, que também defendem a criação do Conselho Nacional dos Tribunais de Contas para fiscalizar a atuação de cada Corte no país. A Declaração de Fortaleza, na qual constam 19 diretrizes, é tida como o mais contundente manifesto dos TCUs, sob a égide da Associação dos Membros dos Tribunais de Contas do Brasil (Atricon), presidida pelo dinâmico conselheiro Valdecir Pascoal (TCE/PE).

Temístocles, o ateniense

Temístocles, o altivo ateniense, não era de cacarejar. Convidado para tocar cítara numa festa, o general declinou: "Não sei música, o que sei é fazer de uma pequena vila uma grande cidade". Regra geral, nossos governantes das três esferas Federativas, afinando o tom com o maior dos tocadores, não hesitam em aceitar convites para manejar cítara, clarineta ou trombone. Abandonam o foco. Grande parte prefere trombetear no marketing a fazer de suas cidades e Estados territórios desenvolvidos e civilizados. Muitos se inebriam nas fontes do poder. Esquecem-se do ensinamento de Gogol: "Não é por culpa do espelho que as pessoas têm uma cara errada". É a ruína que o modelo pirotécnico de administrar oferece ao Brasil.

Pequenas lições de marketing político

Alavancas do discurso I

Nesta campanha, esta coluna faz seu fechamento com pequenas lições de marketing. Existem alguns símbolos detonadores e indutores do entusiasmo das massas em, pelo menos, quatro categorias. Eis as quatro alavancas psíquicas:

1. Alavancas de adesão - Discurso voltado para fazer com que a população aceite os programas, associando-se a valores considerados bons. Nesse caso, o candidato precisa demonstrar a relação custo-benefício da proposta ou da promessa.

2. Alavancas de rejeição - Discurso voltado para o combate às coisas ruins (administrações passadas, por exemplo). Aqui, o candidato passa a combater as mazelas de seus adversários, os pontos fracos das administrações, utilizando, para tanto, as denúncias dos meios de comunicação que funcionam como elemento de comprovação do discurso.

Alavancas do discurso II

3. Alavancas de autoridade - Abordagem em que o candidato usa a voz da experiência, do conhecimento, da autoridade, para procurar convencer. Sob essa abordagem, entram em questão os valores inerentes à personalidade do ator, suas qualidades pessoais. Quando se trata de figura de alta respeitabilidade, o discurso consegue muita eficácia.

4. Alavancas de conformização - Abordagem orientada para ganhar as massas e que usa, basicamente, os símbolos da unidade, do ideal coletivo, do apelo à solidariedade. É quando o político apela para o sentimento de integração das massas, a solidariedade grupal, o companheirismo, as demandas sociais homogêneas.

Verborragia desafinada

Os estilos da galinha e da pata servem para comparar os partidos e os políticos. A primeira põe um ovo pequenino, mas cacareja e todo mundo vê, enquanto a segunda põe um ovo maior e ninguém nota. O ovo da pata, segundo os nutricionistas, é mais completo que o da galinha, mas este é o que gera atenção, intenção, desejo e ação - a fórmula AIDA - para estimular seu consumo. E o êxito se deve porque a fêmea do galo sabe alardear seu produto, cumprindo rigorosamente o preceito maquiavélico: "o vulgo só julga aquilo que vê".

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(Gaudêncio Torquato)