quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

CONJUNTURA NACIONAL

Abro a Coluna com uma historinha do jornalista Ivan Santos.

O lendário deputado José Maria Alkmin era amigo de infância de Juscelino Kubitschek. Como Juscelino, Zé Alkmin, aos 20 anos de idade, foi telegrafista, profissão que exerceu para manter-se enquanto estudava Direito em BH. Mesmo com rara inteligência, tinha pouco brilho social. Era franzino, com 1,59m de altura, mas estudante brilhante e aplicado. Lia todas as publicações que encontrava à frente - dos ensaios de Erasmo às bulas de remédio. Era um gajo extrovertido e espirituoso. Certo dia, Juscelino o apresentou a uma garota linda, alta (mais de 1,75m), simpática, de forma corporal perfeita. Alkmin prontamente apaixonou-se por ela. Elogiou-a e, durante uma semana, deu-lhe presentes com a intenção de conquistá-la. A moça fechou a guarda, esquivou-se, manobrou como pode até que um dia, sem saída diante do cerco armado por Cupido, perdeu a paciência e despejou:

- Vê se te enxerga Zé Maria! Cresça e apareça!

O enigmático mineirinho, sem perder tempo, tascou:

- Crescer eu não garanto, não; só garanto outras coisas.

A moça entendeu. Ficou vermelha. Perdeu o fôlego e retirou-se. Nunca mais se aproximou do mineirinho namorador, audacioso, espirituoso e enigmático.

Mais querelas

A querela está no ar. Quem tem a prerrogativa de cassar mandatos de deputados? A Câmara ou o STF? Marco Maia, o presidente da Câmara, diz que não abre mão da prerrogativa que a CF concede: é um direito da casa legislativa. O mesmo diz a maioria dos membros do Supremo: cabe à Corte suspender o mandato legislativo quando o condenado perde os direitos políticos. Celso de Mello, o decano do STF, argumenta que "desobediência será intolerável". Os juristas se dividem. Dalmo Dallari defende que o órgão revogador de mandatos é a Câmara. O ex-presidente da Corte, Carlos Velloso, diz que cabe à Câmara cumprir a decisão tomada pelo STF.

Rose não pode sair

Rosemary, ex-toda poderosa chefe da Representação do Governo Federal em SP, não pode sair do Brasil. Tinha passagem comprada para os Estados Unidos. São proibições dessa natureza que devem infernizar sua vida. Ao contrário de Paulo Vieira, Marcos Valério e Carlinhos Cachoeira, Rose não tem ameaçado abrir a boca para abrir os porões.

Campanha começou

Pois é, os prefeitos nem tomaram posse e a campanha de 2014 já está nas ruas. As oposições aproveitam o momento para disparar tiros contra Lula. Seu objetivo é macular a imagem de Todo Poderoso ex-presidente. Conseguirão? Difícil. Lula abriga-se no inexpugnável abrigo do carisma. De onde não sairá tão cedo. O estoque de admiração encontra-se ainda muito cheio. Pesquisas recentes indicam que seria eleito presidente no primeiro turno se a eleição fosse hoje. Os oposicionistas querem jogá-lo no meio da fogueira, na crença de que o queimando, queimarão por tabela a pele da presidente Dilma e os costados do PT. Puro engano.

Dilma com vida própria

Ocorre que a mandatária Rousseff adquiriu vida própria, a essa altura. Já não depende de Lula nem do PT. Pesquisas mostram que ela alcança um índice de intenção de voto superior ao de Lula. Seu perfil é um composto de substância técnica, autoridade e independência. Demonstra não se submeter às pressões políticas. Mas a presidente tem noção da realidade. Mobiliza suas bases e está de olho nas movimentações que ocorrem no Congresso.

Eduardo e os 90 dias

Eduardo Campos incorpora a identidade dos futurólogos e adivinhos. É dele a mais recente projeção para 2014: se Dilma ganhar os 3 primeiros meses de 2013, ganhará todo o ano de 2014. A lógica do governador de PE abarca a crise econômica internacional, com impactos no Brasil, a convicção de que o consumo não será mais fator de contenção da crise, a necessidade de reformar o pacto federativo e a própria estrutura política. Percebe-se em Eduardo Campos a tendência de olhar para os dois lados : se a economia sair dos trilhos, ele coloca seu trem em direção ao Palácio do Planalto. Como candidato independente. Torcendo para que Aécio, pela oposição, tire forças do situacionismo e ele, Campos, se apresente como a terceira força.

A porca do Piauí

Flávio Furtado de Farias explica o significado de "a porca comeu" no Piauí. Refere-se ao destino de todos os candidatos derrotados no sufrágio popular eleitoral. Ou seja, a porca come quem perde eleição. "Os candidatos, quando querem provocar seus adversários, citam a porca, especialmente se o adversário já passou pelo bucho da bicha antes. Aí é aquela história de que a porca vai comer de novo. Tudo isto teve início, segundo alguns contam, no município de Campo Maior, na década de 1950 ou 1960. Ali, um candidato já havia preparado uma urna cheia de votos para lhe favorecer. O dito cujo escondeu a urna numa moita, mas na hora de pegá-la para substituir a verdadeira urna, verificou que uma porca enorme tinha estraçalhado a urna e os seus votos. O candidato perdeu a eleição. Os populares tomaram conhecimento da história. E desde então a porca tem comido muitos candidatos em todo o Piauí. Onde a porca é famosa".

PT irá às ruas?

Há um PT de novos sentimentos, que quer virar a página após o mensalão e recomeçar a jornada partidária com novos passos. E há um PT antiquado, que imagina complôs por todas as partes e tramóias feitas pela mídia para destruir sua imagem. O PT novo é o que prega abertura de informações, transparência, punição a culpados. O PT velho é o que quer acobertar os malfeitos. Esse partido obsoleto pretende mobilizar as bases para defender os condenados no mensalão. Ora, o partido não enxerga a realidade. Não há ânimo nas bases de qualquer partido - o PT entre eles - para sair às ruas em defesa de pessoas condenadas. Pode haver certo barulho em ambientes fechados. Organizado por meia dúzia de integrantes da velha guarda.

Gastança no exterior

O bolso dos brasileiros das classes médias, ao que parece, está bem recheado. Os gastos dos nossos turistas no exterior atingiram novo recorde em novembro e no acumulado do ano. Apesar do dólar mais caro, brasileiros gastaram US$ 1,8 bilhão em visitas a outros países no mês passado, 15% a mais do que há um ano. No acumulado de 2012, os brasileiros já gastaram lá fora US$ 20,244 bilhões, 3,9% acima do registrado no mesmo período de 2011 (US$ 19,489).

Truman, o exemplo I

Harry Truman foi um tipo diferente como presidente. Provavelmente tomou tantas ou mais decisões em relação à história dos EUA como as que tomaram os 42 presidentes que o precederam. Uma medida da sua grandeza talvez permaneça para sempre: trata-se do que ele fez depois de deixar a Casa Branca. A única propriedade que tinha quando faleceu era uma casa, onde morava na localidade de Independence, Missouri. Tratava-se de uma herança de sua esposa. Depois dos anos em que moraram na Casa Branca, ali viveram o resto de suas vidas.

Truman, o exemplo II

Quando se retirou da vida oficial, em 1952, todas as suas receitas consistiam numa pensão do Exército de $ 13.507 anuais. Quando o Congresso soube que ele custeava seus próprios selos de correio, outorgou-lhe um complemento e, mais tarde, uma pensão retroativa de $ 25.000 anuais. Depois da posse do presidente Eisenhower, Truman e sua esposa voltaram a seu lar no Missouri dirigindo seu próprio carro... sem nenhuma companhia do Serviço Secreto. Quando lhe ofereciam postos corporativos com grandes salários, rejeitava-os dizendo : "Vocês não me querem a mim, o que querem é a figura do presidente, e essa não me pertence. Pertence ao povo norte-americano e não está a venda...".

Truman e as duas vocações

Ainda depois, quando em 6 de maio de 1971 o Congresso se preparava para lhe outorgar a Medalha de Honra em seu 87° aniversário, recusou-se a aceitá-la, escrevendo-lhes: "Não considero que tenha feito nada para merecer esse reconhecimento, venha ele do Congresso ou de qualquer outra parte". Como presidente, pagou todos seus gastos de viagem e de comida com seu próprio dinheiro. Este homem singular escreveu: "As minhas vocações na vida sempre foram ser pianista numa casa de putas ou ser político. E para falar a verdade, não existe grande diferença entre as duas!".

A bomba atômica

Há outro lado da história do presidente Truman. Autorizou a bomba sobre Hiroshima e Nagasaki em 6 e 9 de agosto de 1945. A bomba atômica caiu em Hiroshima numa segunda feira. Três dias depois, no dia 9, outra sobre Nagasaki. As estimativas do primeiro massacre por armas de destruição maciça sobre uma população civil apontam para um número total de mortos a variar entre 140 mil em Hiroshima e 80 mil em Nagasaki, sendo algumas estimativas consideravelmente mais elevadas quando são contabilizadas as mortes posteriores devido à exposição à radiação.

Little boy

Às 8h15, (horário japonês), "Little Boy" cai sobre Hiroshima. A bomba atômica de urânio, de 3,2m de comprimento, 74 cm de diâmetro e 4,3 toneladas explode 576 metros acima do Hospital Cirúrgico de Shima. A detonação equivale a 12,5 mil toneladas de TNT. No raio de um quilômetro, todo ser humano que se encontrava em local aberto morreu instantaneamente ou dentro de poucos minutos. O calor chegou a tal violência que a quinhentos metros do centro da explosão os rostos foram atingidos a ponto de ficarem irreconhecíveis. Somente nos 20 primeiros segundos morreram 70 mil pessoas, número que chegaria a 210 mil nas semanas seguintes. Quem foi salvo atribui o fato ao acaso - um passo dado a tempo, uma decisão de entrar em casa. Os sobreviventes não sabiam sequer o que havia atingido a cidade. E por muito tempo não saberiam.

3871º C

A onda de calor, que chegou a 3871°C, queimou tudo que se localizava em um raio de 10 km. A potência da bomba, equivalente a 20.000 toneladas de TNT, matou cerca de 200 mil japoneses. Devido a radiação presente na bomba, os japoneses que sobreviveram ao ataque tiveram vários problemas de saúde. Houve inúmeros casos de crianças que nasceram com problemas físicos e/ou mentais devido as alterações genéticas causadas pela bomba, bem como a presença de leucemia. Meses após o ataque, era comum que as queimaduras causadas pela bomba ainda não estivessem cicatrizadas.

Corrupção na saúde

Há uma semana, dez pessoas foram presas durante a Operação Atenas, deflagrada para investigar um grupo criminoso que usava duas associações civis de fachada para desviar recursos públicos destinados à área da saúde em Itapetininga/SP. A apuração revelou que, embora constituídos na forma de organizações não governamentais independentes uma da outra, o Instituto SAS e o Sistema de Assistência Social e Saúde (SAS) são, na verdade, uma única organização criminosa, administrada e comandada pelo mesmo líder. Os contratos analisados pela polícia apontam para um desvio em torno de R$ 100 milhões por ano em processos fraudulentos em pelo menos oito municípios nos estados de SP, RJ e SC. No caso do Hospital Regional de Itapetininga, parte da verba destinada ao pagamento dos funcionários era desviada para pagamentos de notas fiscais frias ou superfaturadas, beneficiando as empresas e pessoas envolvidas.

Detalhes

Gustavo Capanema, outro velho matreiro político mineiro, discursava em um comício em Pará de Minas. Citou verbas detalhadas, de bilhões a centavos. Um assessor jogou a questão: "por que tantos quebradinhos"?

Capanema deu a resposta:

- Para mentir é preciso ser preciosista. Assim, ninguém percebe que você está mentindo.

(Historinha de Adauto Francisco Amaral, advogado e contabilista)

Conselho aos dirigentes

Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes, membros dos Poderes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos injustiçados, aqueles com fome e sede de Justiça. Hoje, volta sua atenção para os dirigentes dos Poderes da República :

1. O momento exige equilíbrio, bom senso e, sobretudo, uma ética de responsabilidades. Não é o caso de abrir mais uma frente de lutas entre os poderes Legislativo e Judiciário.

2. Convém abrir um intenso diálogo entre as partes e evitar qualquer ação que possa ser considerada desrespeito à decisão da Justiça. Nesse sentido, a iniciativa do diálogo cabe ao Poder Legislativo.

3. A comunidade do Direito e da Justiça deve procurar se pautar pela vontade de encontrar a solução mais justa e adequada, sem atiçar ânimos e abrir frente de luta.

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(Gaudêncio Torquato)

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

ESTROFE DE NATAL

Olá Júnior,

Obrigada pelas postagens, parabéns pela elegância do seu blog. É bom ter você na lista dos amigos.

Segue minha estrofe de Natal.
*
O PRESENTE DE NATAL
*
Nossa vida é um presente,
Com certeza divinal.
Por isso desejo a todos
Neste vindouro Natal:
Saúde e felicidade,
Que Jesus seja a verdade
Com seu supremo aval.
*
Dalinha Catunda

POLÍTICA & ECONOMIA NA REAL

Governo em alta ansiedade

Para a presidente da República, neste conturbado fim de ano, chega como um bálsamo a pesquisa CNI/Ibope divulgada na semana passada, contando que apesar dos percalços econômicos e das complicações políticas de parceiros e aliados com as quais está tendo de se meter sem querer, sua popularidade e a aceitação de seu governo continuam altas - e em alta. Há na pesquisa alguns sinais de alerta, como o aumento da desaprovação das políticas de saúde e de segurança e diminuição da aprovação da política anti-inflacionária e de juros, mas nada ainda há de preocupar - e que não possa ser revertido. Permanecendo tal situação - que gera uma sensação geral de bem estar - a presidente pode seguir sua marcha batida para entrar em 2014 como favorita para mais quatro anos de Palácio do Planalto. Aliás, como registrou outra pesquisa divulgada pelo Instituto DataFolha no domingo. O nó é fazer a economia acelerar, o que sua equipe econômica parece estar com mais dificuldades de fazer. Tanto que ao mesmo tempo em que diz que as medidas de reativação das atividades vão começar a dar certo, expele semanalmente novas providências. O governo diz que os agentes econômicos andam apressados. Porém, a alta ansiedade é dele.

Dilma e as duas reputações

Além de botar a economia no rumo em 2013 - um ano pré-eleitoral decisivo para 2014 que já começou - para botar seu bloco reeleitoral na rua sem atropelos, sem riscos de "atravessar o samba", Dilma terá de cuidar de duas reputações. A primeira é a do ex-presidente Lula, ainda o maior cabo eleitoral do país, queira-se ou não, afetada pelo "rosegate" e pelas revelações de depoimento recente do publicitário Marcos Valério ao MP. Vale dizer que atingir Lula respinga em Dilma. A presidente sabe tanto disso que já acionou sua mais profunda solidariedade, mesmo sob o risco de engolfar seu governo em histórias que nada têm a ver com ele. Está sendo uma solidariedade pessoal, de amizade, mas também política. Segundo, deve a presidente cuidar de sua própria reputação de "gerentona", seu principal capital político e o mais usado por Lula para elevá-la até o Palácio do Planalto. O governo dá - e já são cada vez mais visíveis - sinais de desarranjo e quase paralisia. Os comentários de que a irritação natural da presidente com seus auxiliares vem crescendo são indicações diretas de que ela está notando esse desgaste em sua imagem. Vejamos na nota que se segue.

Atrasos e ineficiências

Os fatos são claros. O governo demorou um ano anunciando que o modelo de concessão dos aeroportos de BH e do RJ seriam diferentes, mais aperfeiçoados do que os dos aeroportos de Campinas, Guarulhos e Brasília. Esta semana divulgou que será igualzinho. Quase um ano decorreu entre o primeiro leilão fracassado do trem bala e o novo edital. E mesmo assim a primeira licitação só sai daqui a quase um ano. Isto porque está tudo agora nas mãos de um dos homens fortes de Dilma, o presidente da EPL, Bernardo Figueiredo, uma espécie de ministro de fato da infraestrutura no governo. Os investimentos oficiais, essenciais para puxar as inversões privadas, também estão atrasados. Segundo levantamento do site "Contas Abertas", especializado em contas públicas, até 11/12, o governo tinha conseguido investir apenas R$ 40 bi dos R$ 90 bi previstos no Orçamento Geral da União. Não é por outra razão que o parceiro - e talvez futuro adversário - de Dilma, o governador de PE, Eduardo Campos, está dizendo que os primeiros 90 dias de 2013 serão decisivos para a presidente e seus planos políticos.

Novo modelo

A presidente Dilma está buscando, a partir de planos gestados no Palácio do Planalto, encontrar uma nova fórmula para gerir o PAC. A fórmula anterior estava intrinsecamente ligada à própria presidente quando ela era a ministra poderosa do governo Lula. Agora, Miriam Belchior não consegue se desvencilhar da árdua tarefa. Assim, a presidente busca uma solução para o problema a partir de duas premissas : (i) tornar os projetos mais afáveis ao capital privado e menos suscetível aos "papéis" de regulador do Estado e (ii) negociar politicamente com outras áreas do Estado, especialmente com o TCU (ligado ao Legislativo), para agilizar a realização de projetos e obras. O grande problema desta mudança da estratégia presidencial é a pouca disponibilidade de recursos humanos próximos à presidente para tornar esta estratégia geral em planos concretos.

O tempo de Guido Mantega

Eis o que ouviu esta coluna na semana passada de fonte próxima à presidente Dilma : "O tempo para Guido Mantega mostrar que a economia vai andar não é tão curto quanto quer o mercado, mas não é tão longo como muitos na Fazenda imaginam".

Nova fórmula para atacar o spread

Como se sabe a taxa primária de juros foi reduzida com sucesso comparativamente ao que achava a maioria dos analistas e agentes econômicos. Mesmo a inflação não estando enquadrada da melhor forma possível no modelo de metas estabelecido pelo governo (vide nota a seguir), deve-se reconhecer que controlar a inflação não é a prioridade mais importante de nenhum banco central relevante ao redor do globo. É a atividade econômica a variável mais crítica. Neste contexto, constata-se que o sucesso em torno da queda do juro primário não se refletiu no âmbito dos juros do crédito disponibilizado pelo sistema financeiro. A presidente e o BC estão passando da observação para a ação efetiva em relação ao tema. A criação de um mercado de títulos (securities) de empresas privadas de capital fechado (mesmo as limitadas) é um dos passos imaginados pela autoridade monetária para tornar o elevado spread bancário brasileiro menos relevante para a recuperação da economia. O outro aspecto que cada vez mais chama a atenção do BC e da presidente é que depois de tantas fusões e privatizações, o mercado financeiro brasileiro se tornou excessivamente oligopolizado.

Inflação e câmbio

O presidente do BC explicitou sem rodeios o dilema que o governo vive : deixar o câmbio se ajustar mais para cima para ajudar o setor industrial brasileiro ou segurar o dólar para não aquecer mais a inflação. Até dez dias atrás, inclusive com referência explícita de Dilma ao jornal "Valor Econômico", a opção era pela desvalorização do real. A pressão dos empresários era para que a moeda americana chegasse a, pelo menos, R$ 2,40. Agora, a direção é outra e o BC está agindo para o câmbio não fugir dos R$ 2,10. Simples a explicação : a inflação voltou a incomodar. É preciso deixar espaços para o aumento dos combustíveis, pois senão a Petrobras deixa de respirar.

Excesso de indexação

Há excesso de títulos indexados na economia brasileira. A indexação da dívida pública (cuja demanda é crescente) será, nos próximos anos, uma das barreiras que o BC enfrentará e terá de adequar o combate à inflação a um adequado financiamento da dívida pública. Os títulos indexados à inflação estão no limite superior do Plano Anual de Financiamento da dívida pública, enquanto os títulos pré-fixados estão na média da meta do referido plano. Um sinal de que o mercado não confia na estabilidade monetária.

Sinais externos: deterioração

Colecionados os principais indicadores de desempenho da atividade das mais importantes economias mundiais chega-se a conclusão de que o começo de 2013 pode gerar ainda mais pessimismo para os agentes econômicos. A produção industrial do Japão se aproxima dos patamares mais baixos de 2011. Na Europa, a indústria cai pelo terceiro mês seguido, sendo que a Alemanha também caminha para a recessão por força da queda das exportações. Os dados manufatureiros dos EUA voltaram a dar sinais de fragilidade o que motivou a nova expansão monetária promovida pelo Federal Reserve. Na China dois dados preocupantes : o governo terá dificuldade em manter a nova meta de crescimento (+8%) e as atividades de comércio externo estão caindo, como pode ser constatado pelo volume de carga transportado internamente no país. Neste contexto, não há nenhuma ação política e de gestão econômica que seja capaz de reverter tão grave cenário. Os governos estão acomodados e sem visão e os eleitores ainda oscilam na sustentação de políticas conservadoras, apesar da evidência de que estas não estão funcionando. Um cenário semelhante ao dos anos 30 do século passado.

Obama e as mudanças no secretariado

Deve-se olhar com muito esmero as mudanças que Barack Obama fará no seu secretariado e no Fed e SEC (Securities Exchange Commission). Como se sabe o presidente norte-americano é um conservador em matéria econômica e foi muito pouco ousado no trato da crise atual. Além disso, não foi capaz de mudar a regulação relacionada com os desmandos cometidos pela turma de Wall Street. As mudanças que estão por vir podem confirmar a personalidade política de Obama ou mostrar que há fatos novos que podem alterar esta personalidade.

O recado de Lula

Embora tenha aparecido como um "caco" (não estava no script) num discurso que Lula fez em Paris, não foi gratuito o aviso que o ex-presidente fez de que se o incomodarem muito pode ir para as ruas em uma campanha que pode virar campanha presidencial. Foi um recado direto para a oposição que ainda tem medo do ex-presidente. Mas também não deixou de ser um aviso indireto à presidente Dilma e aos dilmistas, sejam eles petistas ou de outros partidos. Algo como: "Não me deixem só!". Alguém pode imaginar o que acontecerá se Lula realmente, reativar seus palanques?

O caso do gás

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, anunciou que a próxima meta do governo para garantir maior competitividade às empresas brasileiras, depois da redução da conta de eletricidade, será a diminuição do preço do gás, outra reivindicação do setor industrial, principalmente do setor químico. Mantega disse ainda que o governo só não sabe ainda como fazer. Mas não deverá ter dificuldades. Afinal, quem manda no gás no Brasil é a Petrobras...

Mel para governadores e prefeitos

Para tentar conter um pouco a insatisfação dos prefeitos e governadores com a perda de receitas, em parte por culpa das políticas de isenções fiscais adotadas por Brasília, o governo deve anunciar esta semana a mudança no indexador das dívidas que eles têm com a União. Na prática significa que Estados e municípios vão pagar menos juros e terão mais dinheiro para investir. Era um antigo desejo deles. Com isso, Dilma espera desarmar um movimento, pelo fortalecimento dos Estados e municípios em andamento e que, como já comentamos em outras colunas, era uma das bandeiras que seus oposicionistas já estavam agitando, com grande possibilidade de sucesso. É possível que ela consiga uma trégua, mas não total. Os governadores querem mais, principalmente no caso dos Estados mais fracos economicamente. E na área municipal, o alívio só vem para os grandes, como SP, RJ e outras capitais. Os pequenos e médios municípios, os mais encalacrados, não terão esse alívio porque não rolaram suas dívidas. E eles querem é mais dinheiro - ao vivo e em cores.

Natal e Ano Novo

Agora é período de festas, de meditações - e de descanso : afinal, como dizia a poeta pernambucano Ascenso Ferreira, "ninguém é de ferro". Aos novos bravos e persistentes leitores desejamos ótimas comemorações, 2013 feliz como nunca. Voltaremos em 8/1. Como agradecimento por nos terem seguido por mais um ano, deixamos este poema :

Desejo, de Carlos Drummond de Andrade

Desejo a você...
Fruto do mato
Cheiro de jardim
Namoro no portão
Domingo sem chuva
Segunda sem mau humor
Sábado com seu amor
Filme do Carlitos
Chope com amigos
Crônica de Rubem Braga
Viver sem inimigos
Filme antigo na TV
Ter uma pessoa especial
E que ela goste de você
Música de Tom com letra de Chico
Frango caipira em pensão do interior
Ouvir uma palavra amável
Ter uma surpresa agradável
Ver a Banda passar
Noite de lua Cheia
Rever uma velha amizade
Ter fé em Deus
Não ter que ouvir a palavra não
Nem nunca, nem jamais e adeus.
Rir como criança
Ouvir canto de passarinho
Sarar de resfriado
Escrever um poema de Amor
Que nunca será rasgado
Formar um par ideal
Tomar banho de cachoeira
Pegar um bronzeado legal
Aprender uma nova canção
Esperar alguém na estação
Queijo com goiabada
Pôr-do-Sol na roça
Uma festa
Um violão
Uma seresta
Recordar um amor antigo
Ter um ombro sempre amigo
Bater palmas de alegria
Uma tarde amena
Calçar um velho chinelo
Sentar numa velha poltrona
Tocar violão para alguém
Ouvir a chuva no telhado
Vinho branco
Bolero de Ravel...
E muito carinho meu.

por Francisco Petros e José Marcio Mendonça