sábado, 2 de junho de 2012

ENTARDECER NO SERTÃO



Ceará, meu Ceará,

Meu pedacinho de chão

A hora da ave Maria

É mágica em meu sertão

O sombreado do sol

Matizando o arrebol

Seduz sempre meu olhar

Entrevejo só beleza

Em tudo que a natureza

Se esmera para adornar.

*

Versos e foto de Dalinha Catunda

SÁBADO É DIA DE "ODE À CEBOLA"

Sábado é, por excelência, dia de brasa festiva, lírio de amizade, união etílica, confraternização gastronômica.

Hoje, por essas razões celestiais do ofício que cumpro na terra, estou impedido de cumprir a liberdade ritualística do sábado.

A vontade é de estar em volta de uma mesa festejando os ingredientes que fazem o riso do corpo. Porém, à distância, celebro pelas palavras de Neruda uma aparentada das Liliáceas, que nos faz "chorar sem nos afligir": a cebola!


ODE À CEBOLA


Cebola
Luminosa redoma
pétala a pétala
cresceu a tua formosura
escamas de cristal te acrescentaram
e no segredo da terra escura
se foi arredondando o teu ventre de orvalho.

Sob a terra
foi o milagre
e quando apareceu
o teu rude caule verde
e nasceram as tuas folhas como espadas na horta,
a terra acumulou o seu poderio
mostrando a tua nua transparência,
e como em Afrodite o mar remoto
duplicou a magnólia
levantando os seus seios,
a terra
assim te fez
cebola
clara como um planeta
a reluzir,
constelação constante,
redonda rosa de água,
sobre
a mesa
das gentes pobres.

Generosa
desfazes
o teu globo de frescura
na consumação
fervente da frigideira
e os estilhaços de cristal
no calor inflamado do azeite
transformam-se em frisadas plumas de ouro.

Também recordarei como fecunda
a tua influência, o amor, na salada
e parece que o céu contribui
dando-te fina forma de granizo
a celebrar a tua claridade picada
sobre os hemisférios de um tomate.
mas ao alcance
das mãos do povo
regada com azeite
polvilhada
com um pouco de sal,
matas a fome
do jornaleiro no seu duro caminho.
estrela dos pobres,
fada madrinha
envolvida em delicado
papel, sais do chão
eterna, intacta, pura
como semente de um astro
e ao cortar-te
a faca na cozinha
sobe a única
lágrima sem pena.
Fizeste-nos chorar sem nos afligir.

Eu tudo o que existe celebrei, cebola
Mas para mim és
mais formosa que uma ave
de penas radiosas
és para os meus olhos
globo celeste, taça de platina
baile imóvel
de nívea anémona

e vive a fragância da Terra
na tua natureza cristalina.

(Pablo Neruda)

sexta-feira, 1 de junho de 2012

ÍNDIA - NA VOZ DE NANA MOUSKOURI




Dalinha Catunda deixou um novo comentário:

Muito lindo, Junior,

Tanto as imagens como a índia na voz de Nana.

Parabéns pela postagem

quinta-feira, 31 de maio de 2012

CONVITE

Hoje o poeta Dideus Sales lança o livro "Nos Cafundós do Sertão", às 20:00hs, na Ler Livraria, no Shopping Molina Center, Av. Washington Soares, 4040, lojas 22/24, FORTALEZA, CEARÁ.

O poeta Barros Alves fará a apresentação. Participe!

quarta-feira, 30 de maio de 2012

CONJUNTURA NACIONAL

Meu povo e minha pova

Nesses tempos de preparo eleitoral, cai bem essa historinha. Parece absurda, mas é verdadeira. Deixamos de dar os nomes para evitar constrangimentos às famílias. Um ex-prefeito de Aracati, cidade litorânea do Ceará, em comício animado, gritou no palanque: "Meu povo e minha pova. Vou ser reeleito prefeito de Aracati com minha fé e as fezes de vocês".

A burocracia tem pernas

O cidadão chega à repartição e pede para ver seu processo. Ouve do chefe do departamento : "ah, meu senhor, tem muitos outros na frente do seu. Vai demorar um tempão até ser despachado. Papel, doutor, não tem pernas". Agastado, o interlocutor reage: "e quanto o senhor quer para por dois pés nesse papel?". Tirou do bolso um maço de dinheiro (que já tinha separado em casa para não dar na vista e, de maneira disfarçada, entregou ao sorridente chefe). Tiro e queda. O adjutório fez o papel correr rapidinho com seus dois pés. A corrupção se espraia por todos os lados.

Política, sempre uma gangorra

A política é uma gangorra. Eleva seus participantes, em um momento, e os rebaixa, instantes depois. Quando se pensa que o fulano está sentado à direita de Deus, Pai, eis que é flagrado na beira da estrada. Vejam os eventos mais recentes. Luiz Inácio, do alto de seu carisma e em plena convalescença, desce um degrau na escada do sucesso. Pediu ao amigo Nelson Jobim um encontro reservado com o ministro e ex-presidente do STF, Gilmar Mendes. Dito e feito. O encontro, um mês depois, veio à tona. Por quê?

Gilmar na onda

Gilmar Mendes abriu a expressão por uma razão: percebeu que seu nome estava passando de boca a boca como integrante do círculo de amizades do senador Demóstenes Torres. Mais: que teria marcado encontro com o senador em Berlim. Lula sabia do encontro. Por isso, na conversa teria sugerido - não solicitado - que o mensalão não fosse julgado nesse ano eleitoral. Poderia prejudicar os quadros petistas. O PT quer fazer 1.000 prefeitos municipais. Em troca, poderia dar cobertura a Gilmar, administrando eventual passagem danosa pela esfera da CPI mista. O ministro, ao perceber a insinuação, disse que não havia nada a temer. Lula: "e a visita a Berlim?", indagou o matreiro ex-presidente. O ministro argumentou que ia sempre a Berlim por ter uma filha morando lá.

Rebu

Gilmar deu detalhes, como se quisesse comprovar a fala. Lula teria ainda dito que pediria a Sepúlveda Pertence para monitorar a ministra Carmen Lúcia, enquanto ele próprio administraria os ministros Lewandowski e Toffoli. Teria ainda cometido o deslize de dizer que o ministro Joaquim Barbosa era um "complexado". Quanta informação comprometedora. Lula, por meio de seu Instituto da Cidadania, fez o desmentido. O rebu está formado. O encontro realmente ocorreu e os detalhes fornecidos por Gilmar criam um escudo contra falsas versões.

O que pode ter ocorrido

Digamos que Lula tenha feito uma observação de cunho pessoal. Até aí, tudo bem. Inaceitável é a ideia de sugerir proteção ao ministro. Um jogo de recompensas. Gilmar repeliu a sugestão. Lula deve ter achado que a viagem do ministro a Berlim tenha sido financiada pelo esquema de Cachoeira. Comprou bilhete errado. Gilmar Mendes, por seu lado, caiu numa encruzilhada. Não poderia se negar a um encontro arrumado pelo amigo Nelson Jobim. Que acabou negando tudo. O imbróglio está formado. Vai ter consequências.

Perguntinha necessária:

Por que Gilmar Mendes passou um mês para dar conhecimento da abordagem feita por Lula? Só ouviu bochichos a respeito de seu nome um mês depois do encontro?

Efeitos

O caso vai render na feira eleitoral. Por mais que Lula se valha de seu cobertor carismático, será difícil cobrir parte do corpo com as chamas da fogueira que acendeu. Projeta-se o efeito sobre a campanha paulistana. Seu candidato Fernando Haddad deverá ser chamuscado. É possível também que o assunto sirva de combustível para acender outras tochas em cidades que abram a polarização PT x Oposições. Outro efeito: o mensalão, agora sim, entra por inteiro na agenda do STF. Que não poderá mais postergar o julgamento. O próprio presidente da Alta Corte, ministro Ayres Britto, acaba de proclamar: a fruta está madura, pronta para ser tirada da árvore.

Pérolas do Enem (I)

- A fé é uma graça através da qual podemos ver o que não vemos.

- Os estuários e os deltas foram os primitivos habitantes da Mesopotâmia.

- O objetivo da Sociedade Anônima é ter muitas fábricas desconhecidas.

- A Previdência Social assegura o direito à enfermidade coletiva.

- O Ateísmo é uma religião anônima.

Retrocesso?

A crise na Europa poderá chegar por estas plagas. Há quem defenda a tese de que, desta feita, o Brasil não passará incólume pelo corredor turbulento do euro. Se o país crescer menos de 3% este ano, sob um dólar mais alto - R$ 2,20, por exemplo - o PIB brasileiro atingirá R$ 4,24 trilhões. Em dólares, seria US$ 1,93 trilhão. Com esse PIB menor, o Brasil seria novamente superado pela Grã-Bretanha, Itália e Rússia. Cairia novamente para a 9ª economia mundial. Previsão do bom pensador e diplomata Marcos Troyjo.

Caldeirão fervente

Junte-se a economia em declínio e a política pegando fogo, sob pano de fundo do julgamento do mensalão em curso, para se ter uma visão do caldeirão fervente em que mergulhará o país nos próximos meses. Claro, isso é apenas a ponta de um cenário. O governo Dilma poderá encontrar a fórmula mágica para segurar o crédito e o programa de bolsas para as margens. Nesse caso, o governismo continuará, faceiro, a desfraldar sua bandeira vitoriosa. No cenário de turbulência, as oposições terão chance de fazer grande baciada de prefeitos.

Lula, o articulador

O PC do B vinha mantendo conversações com o PMDB de São Paulo para fechar acordo em torno do candidato Gabriel Chalita. A ideia era que o PC do B apresentasse a candidatura a vice na chapa do Chalita. Lula entrou no jogo e desfez as cartas dadas. PSB paulista conversava muito com o PSDB sobre o apoio à candidatura Serra à prefeitura paulistana. Afinal, o secretário de turismo do governo Alckmin é o deputado Márcio França, presidente do PSB paulista. Lula entrou no baralho e redistribuiu as cartas. No Ceará, Lula dará as cartas ao PT para seguir a indicação do governador Cid Gomes para a prefeitura de Fortaleza. Em Recife, idem. Luiz Inácio nem bem se recuperou do grave problema de saúde que o afastou, temporariamente, das lides políticas e começa a sacar a arma, atirando para todos os lados.

Pérolas do Enem (II)

- A respiração anaeróbica é a respiração sem ar que não deve passar de três minutos.

- O calor é a quantidade de calorias armazenadas numa unidade de tempo.

- Antes de ser criada a Justiça, todo mundo era injusto.

- Caráter sexual secundário são as modificações morfológicas sofridas por um indivíduo após manter relações sexuais.

Aliança das civilizações

Amanhã, o vice-presidente da República, Michel Temer, fará a palestra de abertura do Encontro dos Parceiros da Aliança das Civilizações, em Istambul, na presença do primeiro ministro da Turquia, do primeiro ministro da Espanha e do Secretário Geral da ONU, Ban Ki-moon e outros chefes de Estado. Esta iniciativa, proposta por José Luis Zapatero, primeiro ministro da Espanha, em 2004, tem por objetivo mobilizar a opinião pública mundial com vistas a superar preconceitos, percepções equivocadas e "polarizações entre o mundo islâmico e o ocidente".

Doação

O vice-presidente Michel Temer vai discorrer sobre o Brasil, um país multicultural, plurireligioso e multiétnico, e anunciará a decisão do governo brasileiro de apoiar o novo modelo de desenvolvimento para a Aliança das Civilizações. O Brasil vai contribuir com US$ 250 mil para financiar iniciativas na área da educação. Temer tem participado, em nome do Brasil, de importantes foros mundiais.

Régua eleitoral

Há 2 meses, a régua eleitoral mostrava a pontuação de 75% a 80% de candidatos situacionistas com grandes possibilidades de vitória em outubro. Esse índice, hoje, está entre 65% a 70%.

A persistência (I)

A persistência é uma das principais virtudes dos grandes homens. Cristóvão Colombo aferrava-se à obsessão de que poderia chegar ao Oriente pelo caminho do Ocidente. O pensamento não lhe dava trégua. Esta foi a diferença entre Colombo e os seus contemporâneos. Estava convencido. Queria partir. Mas seria forçado a esperar muito. Enquanto aguardava, falava do sonho. D. João II, Rei de Portugal, interessou-se pelo assunto e submeteu o projeto de Colombo a uma junta de sábios. Estes condenaram a ideia. Quando morreu a esposa, Colombo gastou a maior parte de suas economias com o enterro. E foi para a Espanha.

A persistência (II)

Fernando e Isabel, empenhados em dispendiosa guerra com os mouros, deram apenas meio ouvido à proposta do genovês. A Rainha, entretanto, foi simpática a ele. Concedeu-lhe uma pensão, enquanto a junta de notáveis do Reino estudava o assunto. Depois de dois anos, a pensão foi suspensa. Obrigado a se manter sem ajuda, durante os oito anos seguintes vendeu livros e mapas que confeccionava. Seus cabelos ficaram brancos. Foi atacado pelo artritismo. Mas nunca desesperou. E, um dia, realizou seu sonho.

Nomes próprios

Abrilina Décima Nona Caçapavana Piratininga de Almeida

Acheropita Papazone

Adalgamir Marge

Adegesto Pataca

Adoração Arabites

Aeronauta Barata

Agrícola Beterraba Areia

Agrícola da Terra Fonseca

Alce Barbuda

Aldegunda Carames More

Aleluia Sarango

(Próxima lista em outra Coluna)

Lula na 1ª instância?

O procurador-geral da República, Roberto Gurgel, encaminhará para a primeira instância a representação que pede uma investigação contra o ex-presidente Lula. Ontem, DEM, PSDB, PPS e PSOL protocolaram pedido contra Lula por causa de reunião em que ele teria pedido ao ministro do STF, Gilmar Mendes, o adiamento do mensalão. Gurgel encaminhará o caso para a chefe da Procuradoria da República do DF, Ana Paula Mantovani. O ex-presidente não tem mais foro privilegiado. A decisão terá consequências?

Demóstenes na CPI

O senador Demóstenes Torres respondeu a todas as questões que lhe foram feitas na CPI mista. Experiência de promotor. Sensação é a de que a corda no pescoço começa a ser afrouxada.

Governadores vão ou não?

Os governadores Marconi Perillo (PSDB), Agnelo Queiroz (PT) e Sérgio Cabral (PMDB) serão convocados pela CPI? Entre 0 a 10, as chances de permanecerem em seus palácios é de 9.

Zé Abelha

Eis uma historinha do repertório de Zé Abelha, o nosso mineirinho contador de causos. Dr. Luís da Costa Alecrim, juiz de Direito da comarca de Conselheiro Pena, interroga um cidadão acusado de ter esfaqueado uma prostituta, residente na Boate Luar.

- O senhor conhece esta faca?

- Não, doutor, nunca vi essa peixeira.

Dr. Alecrim manda recolher o indiciado.

Mês seguinte, novo interrogatório:

- O senhor conhece esta faca?

- Conheço sim senhor, responde com malícia o indiciado.

- Então o senhor confessa a tentativa de homicídio?

- Não senhor! Eu disse que conhecia a peixeira. Não é aquela que o senhor me mostrou, mês passado?

Conselho aos membros da CPI

Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos candidatos. Hoje, sua atenção se volta aos membros da CPI:

1. A essa altura do campeonato, poucos acreditam na efetividade da CPI mista. Corre a impressão de que uma gigantesca pizza começa ser a preparada.

2. Se os componentes da Comissão Mista pretendem resgatar a credibilidade, urge retomar o foco, avaliar as investigações já realizadas, convocar os implicados - pertençam a qualquer partido - e fazer os encaminhamentos necessários.

3. Todo esforço se faz necessário para não transformar a CPI em palanque de partidos nesse ciclo pré-eleitoral.

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(Gaudêncio Torquato)

terça-feira, 29 de maio de 2012

OBSERVATÓRIO

A edição passada desta coluna provocou uma série de reações. Algumas pessoas utilizaram as redes sociais para lançar petardos neste escriba. Como tem sido corriqueiro na cidade, alguns se manifestaram com ataques desproporcionais ao que foi colocado. É lamentável que, em pleno século XXI, ainda existam pessoas que, em vez de considerar ideias, desconsideram os indivíduos. Ao invés do debate, optam pelo deboche. No lugar da racional discussão, preferem a irracional agressão. Conforme está pontuado na Crônica abaixo, recuso-me a receber esse tipo de presente. Quero apenas reiterar que as posições aqui esposadas refletem a minha opinião. Não são as palavras do Jornal. Não são pensamentos de grêmio partidário, pois nem filiação a partido possuo mais. Aqui vai a modesta avaliação de alguém que nasceu, se criou e viveu mais de 90% dos seus dias em Crateús, onde tem domicílio eleitoral. Só. Vamos ao trabalho.

AS QUESTÕES

As questões colocadas na edição passada sobre a coligação que reúne o maior número de partidos foram três: 1. O candidato das oposições deverá sair de um partido da base aliada do Governo. 2. Inexiste candidato imposto. Nenhum dos líderes oposicionistas saiu de Fortaleza – ou telefonou ou pediu – para impor qualquer candidatura. 3. Nos últimos quarenta anos só tivemos duas pessoas à frente da Prefeitura que nunca moraram fora de Crateús: Lionete Camerino e Leandro Martins. Todos os demais passaram períodos residindo fora da cidade. Se alguém discorda, é um direito. O espaço está aberto para que apresentem fatos e versões. Faz parte do processo democrático.

PADRE DAVI

Muita gente avaliou o lançamento do Padre Davi Silva como opção petista para figurar na condição de vice-prefeito do doutor Carlos Felipe, que disputará a reeleição. Trata-se de um cidadão que fiou um amplo leque de relações por seu trabalho pastoral. É óbvio que engrandece qualquer chapa. No entanto, há no PT um sentimento majoritário de que o espaço continua disponível para o doutor Mauro Soares. Sucede que o atual vice-prefeito tem enfrentado problemas de saúde. Amigos mais próximos e familiares já externaram a opinião de que ele deveria colocar a saúde em primeiro lugar. Mas essa é uma decisão estritamente pessoal. Só cabe a ele – e a mais ninguém – a palavra definitiva.

PSOL

A agremiação que ostenta a bandeira do socialismo e da liberdade, o PSOL, só deverá definir sua chapa ao executivo municipal no final de junho. Por enquanto, avalia os nomes do advogado Alexandre Maia e da professora Adriana Calaça. Certo, segundo um membro da Executiva Municipal, é que engendrará todos os esforços para conquistar vaga no Legislativo Municipal. Prepara um bom time para a Vereança. Destaque-se o líder sindical Paulo Giovani. Nas últimas três eleições vem sempre aumentando as votações.

PV

Já é certo que os Verdes apresentarão o maduro João Coelho Soriano, o Maçaroca. O candidato a Prefeito do PV é um nome oriundo da velha guarda do MDB. Tem nas veias o sangue saudosista da resistência ao poder estabelecido. É um velho combatente, uma figura emblemática. Está para Crateús como Paes de Andrade está para o Ceará. Pode se inserir na campanha com discurso bem humorado e desconcertante.

PSDB

Divergências entre os tucanos vieram a público na semana passada. Correu uma informação de que o Presidente José Vagno havia sido destituído. Esta informação está divorciada da realidade. Em verdade, segundo exibe o site do TRE - http://www.tre-ce.jus.br/partidos/informacoes-partidarias/orgaos-partidarios-1 – desde 30 de dezembro de 2011, a Comissão Provisória de Crateús perdeu sua vigência. Simplesmente, desde o final do ano passado, o PSDB está sem existência legal em Crateús. O Protocolo que a formalizou, de número 675932011, datado de 03/10/2011, exibe uma Comissão Provisória com a seguinte composição: José Vagno (Presidente), Olimpio Lopes (Secretário), José Rubens (Tesoureiro), Armstrong Tavares, Edmilson Coelho, Marcos Costa e Vicente Ludgero (membros). Segundo informaram alguns dos seus integrantes, que se deslocaram a Fortaleza para resolver a pendência (pois estavam preocupados com a possibilidade do Partido não se encontrar regularizado para participar das eleições), a Comissão Provisória deverá permanecer rigorosamente a mesma. Haverá apenas um rodízio nos cargos, o que é salutar e democrático.

OPOSIÇÕES

Afunila-se o processo para definição dos nomes que comporão a chapa das Oposições Unidas (PMDB, PSDB, DEM, PTB, PDT, PSD, PPS, PHS, PSL, PMN e PRTB). No final de semana passado ocorreram duas reuniões entre os pré-candidatos. O vereador Antonio Luiz, que aparece muito bem posicionado em todas as enquetes, externou que não pretende assumir a cabeça de chapa. Diz que amadureceu muito com as últimas experiências. Sabe, por vivência própria, que é difícil ir longe sem apoio logístico e sem estrutura. Em 2004, foi preterido pelo empresário Luizinho Sales, que tinha o apoio da cúpula. Em 2008, assumiu a cabeça de chapa. Quando sentiu o peso do abandono, resolveu apoiar Nenen Coelho. Agora, diz que ninguém vai muito longe sem o apoio dos líderes maiores.

OPOSIÇÕES II

Antonio Luiz tem razão. É difícil enfrentar uma eleição em Crateús – na aliança política que integra - desprovido de estrutura e respaldo explícito das lideranças, salvo se o postulante dispuser de meios pessoais para suprir essas carências. Pesquisas qualitativas têm revelado que o apoio dos três últimos ex-prefeitos (Nenzé, Zé Almir e Paulo), somados ao dos Deputados Estaduais e Federal oposicionistas, além de outras lideranças, altera significativamente o humor do eleitorado. Ou seja, esse apoio pode se traduzir em vitória para o candidato beneficiado.

PARA REFLETIR

“Não chores, meu filho;/ Não chores, que a vida/ É luta renhida:/ Viver é lutar./ A vida é combate,/ Que os fracos abate,/ Que os fortes, os bravos/ Só pode exaltar”. (Gonçalves Dias)

(Júnior Bonfim, na edição de hoje do Jornal Gazeta do Centro Oeste, Crateús, Ceará)

SOBRE CALMA E PACIÊNCIA



Perto de Tóquio vivia um grande samurai, já idoso, que agora se dedicava a ensinar o zen aos jovens. Apesar de sua idade, corria a lenda de que ainda era capaz de derrotar qualquer adversário.

Certa tarde, um guerreiro conhecido por sua total falta de escrúpulos apareceu por ali. Era famoso por utilizar a técnica da provocação: esperava que seu adversário fizesse o primeiro movimento e, dotado de uma inteligência privilegiada para reparar os erros cometidos, contra-atacava com velocidade fulminante. O jovem e impaciente guerreiro jamais havia perdido uma luta. Conhecendo a reputação do samurai, estava ali para derrotá-lo, e aumentar sua fama.

Todos os estudantes se manifestaram contra a ideia, mas o velho aceitou o desafio. Foram todos para a praça da cidade, e o jovem começou a insultar o velho mestre. Chutou algumas pedras em sua direção, cuspiu em seu rosto, gritou todos os insultos conhecidos, ofendendo inclusive seus ancestrais. Durante horas fez tudo para provocá-lo, mas o velho permaneceu impassível. No final da tarde, sentindo-se já exausto e humilhado, o impetuoso guerreiro retirou-se.

Desapontados pelo fato do mestre aceitar tantos insultos e provocações, os alunos perguntaram:

- "Como o senhor pode suportar tanta indignidade? Por que não usou sua espada, mesmo sabendo que podia perder a luta, ao invés de mostrar-se covarde diante de todos nós?"

- "Se alguém chega até você com um presente, e você não o aceita, a quem pertence o presente?" - perguntou o Samurai.

"A quem tentou entregá-lo" - respondeu um dos discípulos.

"O mesmo vale para a inveja, a raiva, e os insultos" - disse o mestre. "Quando não são aceitos, continuam pertencendo a quem os carregava consigo. A sua paz interior, depende exclusivamente de você. As pessoas não podem lhe tirar a calma, só se você permitir..."

A autoria da estória ou História acima me é desconhecida. No entanto, a reflexão que suscita é inquestionável. Ela saltou na prateleira da minha memória quando vi reações irascíveis em redes sociais a colocações que fiz no espaço deste periódico.

Primeiro quero pontuar que considero a internet uma das mais extraordinárias criações da moenda humana. É inimaginável como seria o complexo das relações entre as pessoas, ante os desafios das modernas gerações, se não existisse essa aldeia virtual que nos coloca de mãos dadas sob a mesma tenda global.

Porém, esse instrumento fantástico de massificação da produção científica, esse fascinante armazém do conhecimento acumulado, essa fonte inesgotável de recursos – que deveria ser a ecumênica e sagrada montanha da fraternidade universal – ás vezes é transformado em uma verdadeira arena grega. Internautas viram gladiadores. Transformam-se em ferozes animais. Substituem a sociabilidade pela selvageria. Ao invés do debate, optam pelo deboche. No lugar da racional discussão, preferem a irracional agressão. Devemos procurar nos abster de dar reflexo a esse tipo de postura.

É nessas horas que vejo mais nitidamente a relevância da calma e da paciência. Calma e paciência! Ou... paciência e calma! Palavras que se completam.

A calma, que nasceu do Latim tardio (vejam a coincidência!), vem de cauma, “o calor do meio-dia (quando tudo fica quieto)”. Ou, do Grego kauma, “calor (principalmente o do sol)”, de kaiein, “queimar”.

Por sua vez, a palavra paciência –do Latim patientia, “resistência, paciência”, do verbo pati, “agüentar, sofrer”, derivada de addurare, ou durare, “durar, resistir, perseverar”, alterando-se depois o sentido para “suportar, agüentar”. E, aqui, vale lembrar que agüentar vem do Italiano agguantare, “segurar firme”.

No grego bíblico a paciência é conhecida como makrothumia, traduzida como “tardio em vinganças incorretas”. É uma palavra composta, consistindo em makros (longo ou grande) e thumia (temperamento). Assim, literalmente significa ter um "fusível longo" ao contrário de ser curto/rápido, temperamental. Daí o motivo de chamarmos as pessoas explosivas e que têm dificuldade de regular as próprias emoções de “pavio curto”...

Quando a intolerância bate à nossa porta, devemos aguentar firme, resistir, pois devolver de bate pronto é fácil. Deixar saltar o nosso urso interior é simples. Difícil, complexo, exigente e delicado é domar os ímpetos, resistir à imprudência, manter longo o fusível dos sentimentos.

Certamente foi nessa esteira que o duque de La Rochefoucauld elaborou o pensamento de que “a moderação das pessoas felizes deriva da calma que a boa fortuna dá ao seu temperamento”.

Paciência e calma. A paciência – ou o ato de suportar as adversidades e aguentar firme ante os solavancos da existência - pode ser vista como a ciência da paz; a calma – essa quietude que é produto da queima das gorduras temperamentais - é viver em concordância com a alma.

William Shakespeare dizia que “as águas correm mansamente onde o leito é mais profundo”. Ao contrário do que sugere a superfície do mundo, os calmos e pacientes são muito mais profundos!

(Júnior Bonfim, na edição de hoje do Jornal Gazeta do Centro Oeste, Crateús, Ceará)

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Paulo Nazareno deixou um novo comentário sobre a sua postagem "SOBRE CALMA E PACIÊNCIA":

O Livro Tibetano do Viver e do Morrer, de Sogyal Rinpoche.De todos os que lí,foi o que mais me modificou.

Este episódio que citas,o encontraras lá.

Carpe Diem.

PN.



segunda-feira, 28 de maio de 2012

AMANHÃ É DIA DE MAIS UMA EDIÇÃO DO JORNAL GAZETA DO CENTRO OESTE


VELHAS NOVIDADES NA ELEIÇÃO MUNICIPAL

“A palavra foi dada ao homem para dissimular seu pensamento”. Este lembrete de Charles Talleyrand-Périgord, matreiro político da era napoleônica, se faz muito presente no circuito político e, com mais intensidade, nos ciclos eleitorais. Querem um exemplo? “Não basta o novo nesta cidade. É preciso um programa novo”.

A senadora Marta Suplicy, na outorga do titulo de cidadão paulistano ao ex-presidente Luiz Inácio, semana passada, dizia à plateia que não adianta um candidato exibir sua estética jovem na campanha eleitoral se não portar, a tiracolo, um programa que reflita, de maneira competente, soluções para os graves problemas de uma metrópole.

Traduzindo o que a ex-prefeita do PT quis expressar: Fernando Haddad, candidato patrocinado por Lula, pode ter cara de meninão. Não será, porém, seu perfil que garantirá uma administração inovadora para São Paulo. Mais que isso, importa um plano “revolucionário”, capaz de contemplar as ingentes demandas da maior capital do país e adotar ações que resultem em mudanças e avanços.

O novo pode ser velho e o velho, ousando interpretar o pensamento da senadora, tem condições de vir a ser o condutor da locomotiva das mudanças. Marta, até então, detinha o maior índice de intenção de voto entre candidatos petistas à prefeitura. Referia-se a si mesma?

Sua intenção pode ter sido cutucar a cúpula petista. Mas não há como deixar de lhe dar razão. A campanha municipal no país ensaia os primeiros passos, com pré-candidatos atirando verbos uns contra outros, será certamente um exercício de fuga da realidade.

O conceito de novo inundará os palanques. Ladainhas, propostas mirabolantes e fórmulas mágicas comporão o discurso euforizante de candidatos às 5.565 prefeituras e às 57.748 vagas de vereadores. Desfilarão nas ruas diferentes tipos de candidatos, cada qual se esforçando para se diferenciar um do outro, pretendendo fixar a imagem do melhor, superlativo que puxará os qualificativos “preparado, experiente, inovador, conhecedor dos problemas, popular, sério, cumpridor de promessas”.

O PT emite sinais sobre a tônica de seu discurso. Recentes spots publicitários do partido, pela expressão do ex-presidente Lula e da presidente Dilma, mostram que o conceito-chave a ser usado na campanha será o da mudança, inovação.

O partido tem a intenção de colar nos candidatos o cenário das conquistas alcançadas no ciclo Lula, agora sob o manto do governo da primeira mulher presidente.

A estratégia, orientada pelo marketing político, deverá encontrar fortes barreiras, a partir da cultura dos grotões, que ainda se funda nos obséquios que Victor Nunes Leal descreveu no clássico Coronelismo, Enxada e Voto: arranjar ou prometer emprego, emprestar dinheiro, influenciar jurados, providenciar médico ou hospitalização, dar pousada e refeição, batizar filho e apadrinhar casamento, compor desavenças, proteger indicados na administração, enfim, uma infinidade de préstimos pessoais.

Portanto, o primeiro grupo de candidatos – nos 2.507 municípios de até 10 mil habitantes – se apresentará com o carimbo de despachantes de demandas pessoais. E o compromisso com a cartilha partidária? Ora, servirá apenas de passaporte de legitimidade.

Nas cidades de até 50 mil habitantes (2.449), cujas demandas nas frentes de serviços básicos são mais acentuadas – saúde, educação, transporte, habitação etc. – a tipologia será mais farta. Ver-se-ão perfis vestindo o figurino de obreiros sob o slogan “fulano fez, fulano faz.” Outros abrirão o cobertor do assistencialismo, usando a carona das bolsas da era Lula.

Populistas se esforçarão para acenar com gestos extravagantes e exibir as tradicionais mungangas: comer pastel na feira, tomar café na padaria, embalar crianças nos braços, visitar doentes, desfilar com o santo nos ombros na procissão religiosa. Aliás, nem os quadros de maior elevação cultural resistem às missas campais para 100 mil, 200 mil pessoas, celebradas por padres que habitam o Olimpo da cultura de massas. Faz parte da liturgia eleitoral.

Mas haverá sinais de mudança. Das comunidades médias, emergirão bons gestores saídos de profissões liberais -, principalmente médicos, advogados, agrônomos-, e também das áreas dos negócios, como comerciantes, empresários e proprietários rurais. Este núcleo geralmente conta com respaldo de entidades de intermediação social.

O foco discursivo abrigará demandas locais e imediatas e as ênfases obedecerão às especificidades de cada localidade.

Já nos ajuntamentos maiores – entre 50 mil até 100 mil e acima de 100 mil habitantes (609 municípios), a dispersão das mensagens tende a ser maior. O desafio dos contendores será o de criar uma identidade homogênea a todas as classes.

Os grandes centros poderão acolher a expressão bipolar – o novo contra o velho, o experiente contra o jejuno, a mudança contra o status quo, aposta do PT e do PSDB em São Paulo.

Mas o discurso ambivalente não será suficiente para formar duas alas, uma oposta à outra. Eis o ponto nevrálgico. No eleitorado paulistano de 8,5 milhões de pessoas, interesses se bifurcam, visões se aproximam, simpatia e antipatia se cruzam.

O fato é que o eleitor tornou-se mais crítico. Até pode continuar a eleger palhaços. Mas a figura do gaguinho prefeito se esvai na névoa do tempo.

Outubro de 1976. O candidato da Arena a prefeito de Palmares renuncia. O governador Moura Cavalcanti chega à cidade e pergunta: “quem é popular aqui?” Respondem: “o gaguinho”. Ante a informação de que “o gago não fala nada”, Moura fechou questão: “será ele”.

Levou-o ao palanque e anunciou: “prefeito não precisa falar, precisa agir.” O povo batia palmas. O gaguinho fazia apenas o V da vitória. Não disse um pio. Ganhou a eleição.

Um gaguinho, candidato de Lula, poderia levar a melhor no pleito de uma cidade pequena? É possível.

Mas a cáustica observação da senadora Marta tem lógica: o candidato pode ser jovem e gago, mas se não tiver programa novo, dança. Em tempo: não é o caso dos jovens candidatos em São Paulo.


(Gaudêncio Torquato, jornalista, é professor titular da USP e consultor político e de comunicação)

domingo, 27 de maio de 2012

FADO TROPICAL EM FRANCÊS (POR GEORGE MOUSTAKI)




Oh muse ma complice
Petite sœur d'exil
Tu as les cicatrices
D'un 21 avril

Mais ne sois pas sévère
Pour ceux qui t'ont déçue
De n'avoir rien pu faire
Ou de n'avoir jamais su

A ceux qui ne croient plus
Voir s'accomplir leur idéal
Dis leur qu'un œillet rouge
A fleuri au Portugal

On crucifie l'Espagne
On torture au Chili
La guerre du Viêt-Nam
Continue dans l'oubli

Aux quatre coins du monde
Des frères ennemis
S'expliquent par les bombes
Par la fureur et le bruit

A ceux qui ne croient plus
Voir s'accomplir leur idéal
Dis leur qu'un œillet rouge
À fleuri au Portugal

Pour tous les camarades
Pourchassés dans les villes
Enfermés dans les stades
Déportés dans les îles

Oh muse ma compagne
Ne vois-tu rien venir
Je vois comme une flamme
Qui éclaire l'avenir

A ceux qui ne croient plus
Voir s'accomplir leur idéal
Dis leur qu'un œillet rouge
À fleuri au Portugal

Débouche une bouteille
Prends ton accordéon
Que de bouche à oreille
S'envole ta chanson

Car enfin le soleil
Réchauffe les pétales
De mille fleurs vermeilles
En avril au Portugal

Et cette fleur nouvelle
Qui fleurit au Portugal
C'est peut-être la fin
D'un empire colonial

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Oh, musa do meu fado
Oh, minha mãe gentil
Te deixo consternado
No primeiro abril

Mas não sê tão ingrata
Não esquece quem te amou
E em tua densa mata
Se perdeu e se encontrou
Ai, esta terra ainda vai cumprir seu ideal
Ainda vai tornar-se um imenso Portugal

"Sabe, no fundo eu sou um sentimental
Todos nós herdamos no sangue lusitano uma boa dosagem de lirismo (além da sífilis, é claro)
Mesmo quando minhas mãos estão ocupadas em torturar, esganar, trucidar
Meu coração fecha os olhos e sinceramente chora...

Com avencas na catinga
Alecrins no canavial
Licores na moringa
Um vinho tropical
E a linda mulata
Com rendas do Alentejo
De quem numa bravata
Arrebato um beijo
Ai esta terra ainda vai cumprir seu ideal
Ainda vai tornar-se um imenso Portugal

"Meu coração tem um sereno jeito
E as minhas mãos o golpe duro e presto
De tal maneira que, depois de feito
Desencontrado eu mesmo me contesto

Se trago as mãos distantes do meu peito
è que há distância entre intenção e gesto
E se o meu coração nas mãos estreito
Me assombra a súbita impressão de incesto

Quando me encontro no claro da luta
Ostento a aguda empunhadora à proa
Mas o meu peito de desabotoa

E se a sentença se anuncia bruta
Mais que depressa a mão cega executa
Pois que senão o coração perdoa..."

Guitarras e sanfonas
Jasminas, coqueiros fontes
Sardinhas, mandioca
Num suave azulejo
E rio Amazonas
Que corre Trás-os-Montes
E numa pororoca
Deságua no Tejo
Ai, esta terra ainda vai cumprir seu ideal
Ainda vai tornar-se um império colonial"