segunda-feira, 5 de junho de 2017

VINTE ANOS DA GAZETA!

Este Jornal completa duas décadas! Vinte agalopados anos deitando mourão. Vinte maios martelados de ação, formação e informação. Nascido de um João, foi mantido por um César. Guarda a aura mensageira do primeiro; conserva a marca de combatividade do segundo.

Revisitando seu repositório, encontramos um empório de idéias, um fluxo frenético de sangue vital que percorre as veias de suas páginas! Nenhum grande tema, nenhuma pauta estratégica, nenhum assunto de vulto (histórico, cultural, político e social) passou ao largo da linotipia do mais longevo Jornal erigido na orla do Poty.

Como descurar o contributo desta Gazeta ao nosso livramento memorial, ao retirar da clausura fatos e cousas do nosso passado?!

Quem não vibra o coração com a leitura das Crônicas e dos flashes do passado, que nos repõem momentos áureos da vivência coletiva desta Urbe?! Quem não se deleita com as viagens sentimentais pelos campos do nosso passado coletivo?! É óbvio que esse contributo no presente, por mais modesto que seja, constitui uma colaboração ativa para a construção efetiva de um melhor e mais afetivo futuro. Nessa empreitada de mergulho na lagoa da nossa História, de conservação das compotas de nossas raízes, destacam-se o próprio Cesar Vale e um memorialista que este periódico revelou: Flavio Machado!

Nos dormentes da cultura, na estrada de gitiranas das letras, este jornal ostenta posição de vanguarda.

Registre-se: aquela que talvez tenha sido a mais bela flor de germinação cultural da nossa cidade nos últimos tempos, a fundação da Academia de Letras de Crateús (ALC), ocorreu na estrumeira deste Quinzenário. Com a ALC, nossa terra, sacudida por gigantescas adversidades, estonteada por tantas frustrações políticas, castigada por intempéries, na contramão das opressões econômicas, à margem do fulgor capitalista tem assistido florescer talentos de toda sorte, humildes e valorosos atletas da criatividade, que correm as pistas olímpicas das artes com as tochas da inteligência e do saber. Esta Gazeta associou-se à tarefa fundamental de proporcionar a Crateús o ajuntamento, na mesma e invisível Catedral de Cultura, dos escritores de todos os sons, dos poetas de todos os sonhos, dos que batizam os seres e que nomeiam todas as coisas.

Qual de nós não testemunhou este Jornal realizar a elevação, altiva e solene, do estandarte cor de arco-íris em defesa da nossa fauna e da nossa flora?!

Como olvidar a comoção suscitada pelas fotos que exibiam as lágrimas de árvores desarrazoadamente decepadas?!

É possível deixar cair pela boca de lobo do esquecimento as catilinárias lançadas contra o desleixo oficial?!

Como não reconhecer que pairam, nas serras das nossas consciências, os ecos dos reptos lançados contra o alarido irracional, a barulheira excessiva, o afronta ao direito à tranqüilidade do próximo?!

Por várias vezes este púlpito de imprensa foi submetido a testes de coragem e ousadia, que puseram à prova a própria sobrevivência do órgão. Poucos imaginam quão engenhosa, quão delicada e quão exigente é a missão de manter a entrega periódica desta gazeta.

O itinerário para que este Jornal chegue aos vossos lares constitui um verdadeiro ritual de imolação, real ou simbólica, em que o sacrifício dos que o integram, em especial o seu editor chefe, é oferecido.

Esta publicação é patrimônio coletivo. Urge ser tombado pelo Parlamento das consciências dos crateuenses que residem aqui e alhures. Ele é um precioso espaço de armazenamento e bombeamento de angústias e sonhos de um povo que teima em manter-se sob estado de sonho, embalado pela valentia da esperança!

Crateús, esta pequena palma de terra que um dia se inseriu no mapa como a tribo dos Karatius, que conquistou contornos imperiais de Vila e, como uma Princesa delicada, construiu um reino sui generis, precisa fazer um gesto reverencial de reconhecimento e valorização do contributo do Jornal Gazeta do Centro-Oeste à história, à cultura, à política e à vida social da nossa região.

Que melhor presente poderíamos oferecer a esta Gazeta por ocasião do seu natalício do que uma reflexão sobre a atualidade da higienização das nossas relações?

Impõe-se não nos afogarmos no rio contaminado da pusilanimidade.

Impõe-se que assumamos, sob o bálsamo da cautela e do silêncio, a atitude de nos renovarmos interiormente.

O mais belo e precioso presente que poderemos oferecer, além da imprescindível sobrevivência físico-financeira, consiste em procurarmos realizar, dentro dos nossos corações, a mudança que sonhamos para a terra que amamos, que é a razão de ser deste Jornal.

Vida longa e próspera à Gazeta do Centro Oeste!

(Júnior Bonfim, em 30.05.2017, na edição de aniversário do Jornal Gazeta do Centro Oeste, Crateús, Ceará)