quarta-feira, 7 de abril de 2010

CONJUNTURA NACIONAL

De mineiros

Grande churrasco abrindo a campanha de Magalhães Pinto, no pátio do Centro Gaúcho, Pampulha, BH. Gabriel Procópio Loures, o Gabi, gerente da Caixa Econômica Estadual em Santos Dumont, pega o microfone para saudar o candidato:

- Minhas senhoras e meus senhores! Como disse o grande filósofo francês "Madame, Monsieur"...

Muitas palmas. E comentários gerais: "que homem culto, o homem sabe tudo".

De paranaenses


Jorge Takachi, japonês simpático e generoso, querido em toda a cidade, saiu candidato a prefeito de Nova Esperança/PR. A oposição começou a falar mal dele. Jorge Takachi não aguentou. Foi fazer comício:

- Jorge Takachi bom para a cidade, constrói hospital, dá dinheiro para a igreja, ajuda os pobres, paga feira dos outros, povo diz: Jorge Takachi muito bom. Jorge Takachi candidato a prefeito, povo diz: Jorge Takachi filho da puta. Num é, né ? Assim, Jorge Takachi não entende povo.

Risadas. E comentários gerais: "Takachi não entende mesmo".

Arena semi-aberta I

O jogo eleitoral começou para valer com os primeiros tiros de guerra. Serra fez o melhor discurso de seu percurso recente. Apesar de ser um orador fissurado na racionalidade, usou uns 8% do palavreado para jogar no tabuleiro da emoção. Fustigou adversários petistas e, indiretamente, o governo Lula, ao se referir à roubalheira. Não admitirá isso, garante. Foi muito eloquente, a ponto de abrir manchetes no dia seguinte. Serra se posiciona, hoje, como identidade comprometida com o pós-lulismo e não como o anti-lulista. Se optasse por ser do contra, estaria perdido.

Arena semi-aberta II

Dilma deixou o Planalto debaixo de uma cascata de lágrimas. Em seu discurso, fez loas ao governo. E elevou Lula aos céus. Fez quase 20 referências ao "senhor", referindo-se ao presidente. Coloca-se, assim, como pupila, patrocinada, candidata do presidente e, no arremate, herdeira do jeito lulista de governar. Reagiu imediatamente aos golpes tucanos. Garante que há muito lobo vestido de cordeiro. Dilma, aliás, está chamando Serra para o ringue. A tática é inteligente. Procura, assim, se posicionar no ranking principal, apresentando-se como lutadora, destemida, sem medo de atirar e debater. Ou seja, atiçando o fogo, Dilma mostra-se disposta a enfrentar o tucanato de igual para igual.

Lula à espreita

Nas próximas semanas, Lula ficará espiando as atitudes, gestos, palavras e atos de sua pupila. A seguir, vai chamá-la para a interlocução de ajustes: diga isso, não repita aquilo, aja assim e assado, corra por aqui e evite aquela vereda acolá. Nos fins de semana, estará quase todo tempo com Dilma, fazendo campanha. E a candidata - bem como Serra - poderá participar de atos administrativos públicos, porém sem ter direito ao verbo. Essa legislação eleitoral é mesmo dúbia. Ou seja, o candidato poderá ser visto ao lado de seus patrocinadores, mas não poderá ser ouvido.

Churchill

"Espero que meus amigos e colegas, ou colegas de outrora, que tenham sido afetados pela reconstrução política, sejam tolerantes e me desculpem por qualquer falta de cerimônia na maneira por que fui compelido a agir. Eu diria a esta Casa, como disse àqueles que passaram a formar este governo: - eu nada mais tenho a oferecer senão sangue, trabalho, suor é lágrimas." (Winston Leonard Spencer Churchill, estadista, no célebre discurso de 3 de setembro de 1939, quando foi nomeado primeiro ministro)

Marina se solta


Este consultor começa a perceber Marina Silva mais solta e desinibida. Chega a ser, até, falante. E começa a aparecer em circuitos empresariais. Quem esperava uma ambientalista confinada aos ambientes florestais, terá grata surpresa. Marina quer viabilizar acordos laterais, até com figuras exponenciais, que lhe acenam com esta possibilidade. É o caso do ex-presidente Itamar Franco. Marina poderá atrair a atenção e o voto de uma faixa jovem e de grupos organizados que cercam o conceito de sustentabilidade.

Ciro se prende


Ciro Gomes, por sua vez, se dobra cada vez mais ao rolo compressor de seu partido, o PSB, cuja maioria quer apoiar a candidata Dilma. O presidente do PSB, governador Eduardo Campos, é do entendimento de que a candidatura Ciro prejudica Dilma. Mas as pesquisas apontam noutra direção: sem Ciro, Serra cresce. E Ciro começa a convencer Campos de que poderá ajudar Dilma se permanecer como candidato. No segundo turno, fecharia aliança com ela. Tudo vai depender de mais duas baterias de pesquisa. Ou seja, vamos ver essa decisão lá para os meados de maio.

O imponderável

Calma, pessoal. É arriscado fazer prognósticos nesse momento. Os dois candidatos principais têm condições de levar a melhor. Fatores imponderáveis poderão ser decisivos. E a imponderabilidade abarca o mundo da abstração. Ninguém sabe se este fator sairá do perfil do candidato, do momento ou das circunstâncias.

PNBF e PNBInf

É tarefa complexa, portanto, aferir o imponderável. O que se pode garantir, isso sim, é que há fatores positivos e negativos que contribuem para derrotar ou dar a vitória a candidatos. Costumo, em minhas análises, fazer referência a dois: Produto Nacional Bruto da Felicidade e Produto Nacional Bruto da Infelicidade. O primeiro resulta de situações confortáveis: dinheiro no bolso, emprego garantido, comida barata, escola garantida para os filhos, assistência do governo, bolsas etc. O segundo é a antítese : desconforto, indignação, raiva, violência desmesurada, medo, desemprego, insegurança social. Façam suas análises em torno desses dois escopos. O primeiro deixa o estômago confortável; o segundo provoca vazios no estômago. O eleitor mais forte é o bolso. Quando cheio, vitória no candidato mais próximo a ele.

Vestindo a máscara do porco


"Os chineses têm um ditado: "vestir a máscara do porco para matar o tigre".
É uma referência a uma antiga técnica de caça em que o caçador se cobre com a pele e o focinho de um porco, e sai grunhindo. O poderoso tigre pensa que um porco vem chegando, deixa-o se aproximar, saboreando a perspectiva de uma refeição fácil. Mas é o caçador quem ri por último. Mascarar-se de porco funciona muito bem com quem, como os tigres, é muito arrogante e seguro de si. Quanto mais eles acham que é fácil apanhar você, mais facilmente você vira a mesa. Este truque também é útil se você for ambicioso, mas ocupa uma posição inferior na hierarquia - aparentar ser menos inteligente do que é, até meio tolo, é o disfarce perfeito" (Robert Greene).

E as pesquisas, hein?

Este consultor considera Marcos Coimbra um bom especialista em pesquisa. Tem formação adequada. Sabe manejar os instrumentos de pesquisa. Por isso mesmo, ficou perplexo com as suspeitas de que seu Instituto, Vox Populi, estaria manipulando pesquisas. Há uma nota negativa na mídia dizendo que a última pesquisa do Instituto repetiu os mesmos lugares da penúltima. E que a diferença entre Serra e Dilma não seria de 9 pontos, conforme atesta o Datafolha, mas de apenas 2 pontos. Por via das dúvidas, vamos esperar pelas próximas rodadas, seja do Datafolha seja do Vox Populi.

Dora abelha rainha Kramer

Dora Kramer lançou, esta semana, seu livro - O Poder Pelo Avesso - em uma longa noite de autógrafos. Passei exatos 1 hora e 40 minutos na fila. No meu autógrafo, a querida amiga escreveu: o professor precisa por no papel a história da abelha rainha. Vou começar a contar. Idos de 70. Dora, minha aluna na Cásper Líbero, av. Paulista, 900, 6º andar, já exibia um belo texto. E eu sempre lhe pedia que lesse a reportagem para os comentários e debates da classe. Eu solicitava que os alunos formassem um círculo em torno de Dora. E aí, um dia, para risada geral, eu disse: vamos, agora, ouvir a abelha rainha. Pois ela parecia a rainha cercada pelo enxame de abelhas trabalhadoras. O apelido pegou. Até hoje, quando nos encontramos, ela recorda o passado.

Grande texto

Dora Kramer já escrevia bem naquela época. Texto descritivo, recheado de imagens e simbolismos. Eu lhe dava a melhor nota da classe. Quanta alegria foi ver essa jornalista substituir Carlos Castelo Branco no grande Jornal do Brasil, que também foi meu primeiro jornal. Hoje, no Estadão, Dora é leitura obrigatória. Quem não tem o costume de lê-la, perde e muito. A propósito, a Dora daquele tempo era Dora Tavares de Lima, sobrinha do famoso Chopin Tavares de Lima, contemporânea de Carvalho Pinto, Jânio, amigo de Montoro, e integrante do velho Partido Democrata Cristão. O Kramer vem de seu ex-marido Paulo Kramer, professor e cientista político.

Michel na vice

Com a permanência de Henrique Meirelles no comando do BC, Michel Temer consolida sua posição como peemedebista a compor a chapa de Dilma. O PMDB está fechado em torno de seu nome.

Presente de páscoa

Segundo a Asserttem (Associação Brasileira das Empresas de Serviços Terceirizáveis e de Trabalho Temporário), a páscoa deste ano gerou emprego temporário para 63,3 mil trabalhadores em todo o país. O resultado é 5,5% maior que o registrado em 2009. O levantamento confirma ainda que 15% destes contratos temporários têm chance de efetivação, o que corresponde a quase 9,5 mil brasileiros, praticamente o dobro do registrado no mesmo período do ano passado. A data também significou oportunidade de primeiro emprego para 25% dos trabalhadores.

Lula convencido


Lula no Canal Livre da Band: "estou convencido de que a Dilma vai ser a próxima presidente do Brasil. Agora, vai ter de trabalhar..." Pergunta: vai de ter trabalhar para se eleger? Será que alguém que quer ser presidente do país não consideraria essa possibilidade? A questão levantada pelo presidente parece sem sentido.

FHC faz apelo a Aécio


FHC continua apelando para Aécio Neves vestir a camisa de Serra. Por quê? Desconfia de que o mineiro não está motivado? Neves é candidato ao Senado. Não quer compor a chapa como vice. FHC deve saber de coisas...

MG, um mistério

Minas, com seus quase 14 milhões de eleitores, é um mistério. Não se pense que os mineiros jogarão todos os seus votos na floresta tucana. Vão eleger Aécio, senador, e podem, até, dar a vitória a Anastasia na corrida ao governo. Mas, na área federal, Minas tem sido surpreendente. Não acompanha muito os caciques.

Vermelho de abril

O abril vermelho prometido pelo MST é um tiro nas costas de Dilma. O MST, em anos eleitorais, sempre amainou a corrente invasiva. Mas, este ano, promete recrudescimento nas ações do campo. Traição ao compromisso assumido com o governo Lula? Vamos ver se os emessetistas farão a agenda destrutiva que prometem.

Conselho a Marina Silva

Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos membros do Ministério Público. Hoje, volta sua atenção à pré-candidata à presidência da República Marina Silva:

1. Procure absorver um escopo mais abrangente: educação, saúde, infraestrutura técnica (transportes, energia, telecomunicações), segurança pública, evitando a identidade monotemática da sustentabilidade.

2. Circule nos grandes núcleos da sociedade organizada (associações, federações, sindicatos, movimentos etc.)

3. Privilegie os espaços de maior densidade eleitoral e os pólos de difusão de ideias e informação.

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(Gaudêncio Torquato)

terça-feira, 6 de abril de 2010

AMAZÔNIA


Durante debate ocorrido no mês de Novembro/2000, em uma Universidade, nos Estados Unidos, o ex-governador do Distrito Federal, Cristovam Buarque (PT), foi questionado sobre o que pensava da internacionalização da Amazônia. O jovem introduziu sua pergunta dizendo que esperava a resposta de um humanista e não de um brasileiro. Segundo Cristovam, foi a primeira vez que um debatedor determinou a ótica humanista como o ponto de partida para a sua resposta:

"De fato, como brasileiro eu simplesmente falaria contra a internacionalização da Amazônia. Por mais que nossos governos não tenham o devido cuidado com esse patrimônio, ele é nosso. Como humanista, sentindo e risco da degradação ambiental que sofre a Amazônia, posso imaginar a sua internacionalização, como também de tudo o mais que tem importância para a Humanidade. Se a Amazônia, sob uma ótica humanista, deve ser internacionalizada, internacionalizemos também as reservas de petróleo do mundo inteiro. O petróleo é tão importante para o bem-estar da humanidade quanto a Amazônia para o nosso futuro. Apesar disso, os donos das reservas sentem-se no direito de aumentar ou diminuir a extração de petróleo e subir ou não o seu preço. Da mesma forma, o capital financeiro dos países ricos deveria ser internacionalizado

Se a Amazônia é uma reserva para todos os seres humanos, ela não pode ser queimada pela vontade de um dono, ou de um país. Queimar a Amazônia é tão grave quanto o desemprego provocado pelas decisões arbitrárias dos especuladores globais. Não podemos deixar que as reservas financeiras sirvam para queimar países inteiros na volúpia da especulação. Antes mesmo da Amazônia, eu gostaria de ver a internacionalização de todos os grandes museus do mundo. O Louvre não deve pertencer apenas à França. Cada museu do mundo é guardião das mais belas peças produzidas pelo gênio humano. Não se pode deixar esse patrimônio cultural, como o patrimônio natural amazônico, seja manipulado e destruído pelo gosto de um proprietário ou de um país.

Não faz muito, um milionário japonês, decidiu enterrar com ele um quadro de um grande mestre. Antes disso, aquele quadro deveria ter sido internacionalizado. Durante este encontro, as Nações Unidas estão realizando o Fórum do Milênio, mas alguns presidentes de países tiveram dificuldades em comparecer por constrangimentos na fronteira dos EUA. Por isso, eu acho que Nova York, como sede das Nações Unidas, deve ser internacionalizada. Pelo menos Manhattan deveria pertencer a toda a Humanidade. Assim como Paris, Veneza, Roma, Londres, Rio de Janeiro, Brasília, Recife, cada cidade, com sua beleza específica, sua história do mundo, deveriam pertencer ao mundo inteiro. Se os EUA querem internacionalizar a Amazônia, pelo risco de deixá-la nas mãos de brasileiros, internacionalizemos todos os arsenais nucleares dos EUA. Até porque eles já demonstraram que são capazes de usar essas armas, provocando uma destruição milhares de vezes maior do que as lamentáveis queimadas feitas nas florestas do Brasil. Nos seus debates, os atuais candidatos à presidência dos EUA têm defendido a idéia de internacionalizar as reservas florestais do mundo em troca da dívida.

Comecemos usando essa dívida para garantir que cada criança do mundo tenha possibilidade de ir à escola. Internacionalizemos as crianças tratando-as, todas elas, não importando o país onde nasceram, como patrimônio que merece cuidados do mundo inteiro. Ainda mais do que merece a Amazônia. Quando os dirigentes tratarem as crianças pobres do mundo como um patrimônio da Humanidade, eles não deixarão que elas trabalhem quando deveriam estudar; que morram quando deveriam viver. Como humanista, aceito defender a internacionalização do mundo. Mas, enquanto o mundo me tratar como brasileiro, lutarei para que a Amazônia seja nossa. Só nossa."


(*) Cristóvam Buarque foi governador do Distrito Federal e reitor da Universidade de Brasília (UnB), nos anos 90. É senador da República, palestrante e humanista respeitado mundialmente.

domingo, 4 de abril de 2010

HORA DE UNIÃO, POR FERNANDO HENRIQUE CARDOSO


A visão de futuro mostra quem é verdadeiramente líder. No auge das lutas pela volta às eleições diretas e pelo fim do autoritarismo, três personagens, cada qual à sua maneira, foram decisivos para que conseguíssemos mudar o rumo do país. Não foram os únicos. Muita gente se empenhou desde a campanha das Diretas Já com o mesmo propósito. Nem se deve esquecer o papel desempenhado pelas grandes greves do ABC e por seus líderes. Mas, a partir da derrota da emenda Dante de Oliveira, quando se colocou a possibilidade de derrotar o candidato do Sistema utilizando-se o próprio Colégio Eleitoral, a condução do processo passou a depender de Ulysses Guimarães, Franco Montoro e Tancredo Neves.

Houve hesitação sobre o que fazer. Fiz um discurso no Senado trocando o lema Diretas Já por Mudanças Já, com a convicção de que poderíamos derrotar os donos do poder. Foi difícil para Ulysses Guimarães tragar a dose e aceitar as eleições indiretas, ele que fora o anticandidato em 1974 e cujo nome se identificava com as eleições diretas. Foi mais difícil ainda, uma vez deslanchado o processo de conquista de votos no Congresso, unir a oposição em torno de um nome.

Ulysses até aquele momento fora o condutor indiscutido das oposições democráticas. Entretanto, pela dureza das posições que assumira na crítica ao regime autoritário, teria dificuldades em granjear votos entre os que, diante do desgaste do poder, da crítica de uma imprensa mais livre, dos movimentos de protesto em massa e das dificuldades econômicas, se predispunham a mudar de posição. Sem o apoio destes, a derrota era garantida. Na época, presidente do MDB de São Paulo e muito próximo a Ulysses Guimarães, disse-lhe com muito pesar, pela enorme admiração e respeito que nutria por ele, que a vez seria de outro.

Roberto Gusmão, chefe da Casa Civil do governo Montoro, havia declarado nas páginas amarelas da Veja que São Paulo se uniria a Tancredo Neves para a conquista da Presidência. Ulysses fez questão de ouvir a decisão da voz do governador de São Paulo. Acompanhei-o ao Palácio dos Bandeirantes em um encontro com o governador Montoro e com Roberto Gusmão. Montoro poderia pretender legitimamente a candidatura à Presidência: ganhara as eleições diretas em São Paulo com votação consagradora. Percebeu, entretanto, que no caso das eleições indiretas Tancredo teria melhores oportunidades. Reafirmou este ponto de vista a Ulysses. Mais do que os méritos e as ambições de cada um, contava o momento histórico. Ou nos uníamos e ampliávamos a frente contra o autoritarismo ou este permaneceria por mais tempo, esmaecido que fosse, com a eleição de Paulo Maluf, candidato da Arena. A visão de futuro e o interesse nacional contavam mais do que as biografias. Tiveram grandeza. São Paulo se uniu a Minas para que o Brasil avançasse e Ulysses chefiou a campanha pela eleição de Tancredo.

Passados 25 anos, nos encontramos frente a circunstâncias históricas que novamente requerem grandeza dos líderes e unidade de todos. Não está em jogo o admirar ou não o presidente Lula, nem mesmo as qualidades de liderança (ou a falta delas) de sua candidata Dilma Rousseff. Por trás das duas candidaturas polares há um embate maior. A tendência que vem marcando os últimos 18 meses do atual governo nos levará, pouco a pouco, para um modelo de sociedade que se baseia na predominância de uma forma de capitalismo na qual governo e algumas grandes corporações, especialmente públicas, unem-se sob a tutela de uma burocracia permeada por interesses corporativos e partidários. Especialmente de um partido cujo programa recente se descola da tradição democrática brasileira, para dizer o mínimo. Cada vez mais nos aproximamos de uma forma de organização política inspirada em um capitalismo com forte influência burocrática e predomínio de um partido. Tudo sob uma liderança habilidosa que ajeita interesses contraditórios e camufla a reorganização política que se está esboçando.

Agora, com as eleições presidenciais se aproximando, as alianças são feitas sem preocupação com a coerência político-ideológica: o que conta é ganhar as eleições. Depois, a força do Executivo se encarregará de diluir eventuais resistências de governadores e parlamentares que se opuserem à marcha do processo em curso, e transformará os aliados em vassalos. Mais recentemente, tem surgido a dúvida: será que a candidata petista, sem ser Lula, terá força para arbitrar entre os interesses do partido, os dos aliados e os da sociedade? Não sei avaliar, mas o resultado será o mesmo: pouco a pouco, o “pensamento único”, agora sim, esmagará os anseios dos que sustentam uma visão aberta da sociedade e se opõem ao capitalismo de Estado controlado por forças partidárias quase únicas infiltradas na burocracia do Estado.

Os líderes oposicionistas atuais terão a visão de grandeza dos que os antecederam e perceberão que está em jogo a própria concepção do que seja democracia? Há quem defenda um outro estilo de sociedade. Há quem acredite que certo autoritarismo burocrático com poder econômico-financeiro pode favorecer o crescimento econômico. A China está aí para demonstrar que isso é possível. Mas é isso o que queremos para nós? A força governista ignora os limites da lei e tudo que decorre dessa atitude, desde a leniência com a corrupção até a arrogância do poder e o abuso publicitário antes do início legal das campanhas. É imperativo, pois, que as oposições se unam. A aliança entre Minas e São Paulo – que se pode dar de forma variada – salvou-nos do autoritarismo no passado. Uma candidatura que fale a todo o país, que represente a união das oposições e busque o consenso na sociedade é o melhor caminho para assegurar a vitória. José Serra e Aécio Neves estiveram ao lado dos que permitiram derrotar o regime autoritário. Cabe-lhes agora conduzir-nos para uma vitória que nos dê esperança de dias melhores. Tenho certeza de que não nos decepcionarão.

*Ex-presidente da República

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Ha um tendencia mundial de governar sob a égide de pesquisas, alem de erros crassos,corri-se o risco do imediatismo; esse " bolsismo" se compara a pais de adolescentes que mesmo sem estudar,ter qualquer outra atividade,recebem dos seus pais régia mesada; nesse meio tempo avaliam seus pais como os melhores do mundo mas,depois de 20/30 anos, que futuro terao?!

Existem agravos e situacoes emergenciais que somente o estado pode intervir?

Claro que sim,no entanto,esse assistencialismo sem um minino projeto de desmame, torna-se, inconsequente e paradoxalmente desrespeitoso e malefico aos pretensamente assistidos.


Paulo Nazareno