sexta-feira, 28 de agosto de 2009

BOAVENTURA BONFIM


Será que neste mundo marcado pela ganância desmesurada, em que o ter se sobrepõe ao ser, ainda existem pessoas capazes de fazer um saudável contraponto à versão (ou perversão) capitalista da felicidade? Alguém que, ultrapassando as barrocas da superficialidade, experimente a boa ventura de caminhar serenamente pelos prados azuis da profunda alegria?

Boaventura Bonfim descobriu e palmilha essa radiosa trilha! O rebento de Antônio e Maria Bonfim, nascido, em uma família de treze filhos, no dia onomástico de São Boaventura, no bairro “Benfica” e criado no “Barrocão”, em Crateús, veio ao mundo revestido pela aura evangélica das bem-aventuranças. Como ele mesmo afirma, nasceu “com predisposição genética para ser feliz”. Ressalta, com brilho nas pálpebras, que: “igualmente ao grande poeta (Vinicius), tive uma infância linda/ tão linda que, mesmo longe, continua em mim ainda. E, diferentemente do outro grande poeta (Ataulfo Alves), eu era feliz e já sabia”. Recorda, com emoção na alma, uma de suas primeiras professoras: Maria Tereza Frota Souto, dona Sinhá Frota, a qual no segundo ano o presenteou com o livro ‘Alice no País da Maravilhas’ e a seguinte dedicatória: ‘Joaquim, estude sempre assim para ser sempre o primeiro da classe’. Certa feita foi surpreendido, na Escola da dona Delite, pela presença do irmão Furtadinho que, ansioso pelo carrinho de brinquedo, adentrou chorando e perguntando: - ‘Caquim, cadê meu carrim?’ Emergia, então, o nome afetivo: Caquim, que é diferente de apelido, por este exprimir sentido provocativo. (O nome, aliás, é algo muito forte para ele. Somente ao fazer exame de admissão ao ginásio, verdadeiro vestibular à época, em que se exigia a Certidão de Nascimento, todos tomaram ciência do seu nome por inteiro: Boaventura Joaquim Furtado Bonfim, pois o Boaventura permanecia como “sujeito oculto”. Considera Joaquim mais bonito; Boaventura, mais sonoro. Institucionalizou, porém, Boaventura Bonfim).

Em que pese ter perdido muito cedo a indelével figura paterna, foi amplamente protegido pelo terno cobertor de luz da presença materna. Esta inoculou no coração dos filhos “uma exacerbada e doce espiritualidade”. Criança, ainda, costumava adentrar a Catedral do Senhor do Bonfim, onde orava solitariamente e mergulhava embevecido nas águas mansas e invisíveis do silêncio contemplativo.

Guiado por essa bússola mística, sentou nos bancos da escola da lida e da vida e pincelou uma moldura curricular eticamente admirável. Concluiu o Curso de Contabilidade na Escola Técnica de Comércio Padre Juvêncio. Em 1973/1974 ingressou, por concurso, no Banco do Brasil - para ele, uma grande escola - onde militou por mais de 16 anos. Em 1980, já em Fortaleza, foi realizar consulta para tratar de um dente e, ali, curou também o coração: conheceu de perto Maria Edvanda Moreira Nobre, odontóloga e colega de Banco, a donzela com quem celebrou o sacramento da comunhão de almas. Enamorou-se desse orvalho de bondade, centrada mulher de radiante serenidade que, além de fazer estremecer sua raiz poética, o fez concluir que aquela era uma jovem ‘pra casar’, por isso acrescentou Bonfim ao seu nome. Receberam das mãos do Criador dois tesouros: Camila e Cibele.

Bacharel em Direito pela legendária Faculdade de Direito da Universidade Federal do Ceará - UFC, duas especializações e vários cursos, além de Letras, Boaventura nunca quis ser ‘advogado do Banco’, embora trabalhasse na Assessoria Jurídica. Nos idos de 1990 é aprovado nos concursos para o Tribunal Regional Federal Eleitoral, Analista Judiciário, privativo de bacharel em Direito, e para a Magistratura. Considera o Juiz “um ente imparcial que se situa entre a sociedade e o Estado, para fazer cumprir o Contrato Social vendo, no entanto, o fim social a que se destina esse Contrato”. A imagem que cultua de um Juiz é a dos magistrados do século XVIII: de casa para o fórum, do fórum para casa, ouvindo música clássica, dedicado à família e produzindo sentenças memoráveis, primorosos tratados doutrinários de louvor à deusa Thêmis. Talvez por isso é que, convocado em duas oportunidades para assumir o cargo de Juiz de Direito em Pacoti e Ipaporanga, tenha declinado de ambas, preferindo o título de Magistrado resignatário. Pertence a uma corrente para a qual “a lei deve ser para o Juiz apenas um farol, para ele saber conduzir o carro do direito por entre os rochedos da angústia social”. Evitou, assim, a própria angústia...

No TRE, onde trabalha há mais de dezoito anos, galgou respeito e admiração, ocupou diversas posições, tendo assumido, por duas vezes, uma delas ultimamente, o nobilitante cargo de Diretor-Geral. Agora, após laborar uma obra de fôlego pleiteando a merecida aposentadoria, ou, em seu dizer, o “otium cum dignitate”, retorna ao manancial da faina teológico-filosófica, reestudando o Grego clássico. Abstêmio, adora um ‘suco de uva com Filosofia’. Num dos últimos e-mails recebidos de D. Fragoso – com quem trocava correspondência frequentemente – este, sábio e sóbrio aos 83 anos, fez votos que desfrutasse da lucidez sempre.

Possivelmente, o eterno bispo de Crateús estivesse recordando o ensinamento de outro santo bispo, o italiano Giovanni Fidanza, canonizado como São Boaventura: "Não basta a leitura sem a unção, não basta a especulação sem a devoção, não basta a pesquisa sem maravilhar-se; não basta a circunspeção sem o júbilo, o trabalho sem a piedade, a ciência sem a caridade, a inteligência sem a humildade, o estudo sem a graça".

Que, ungido pela graça do amor ao estudo, devoto especulador das venturas celestes, pesquisador do êxtase, piedoso trabalhador, cientista da caridade, mantenhas a tocha da inteligência permanentemente alimentada pelo óleo da humildade! E eterno merecedor da “buena ventura!”.


(Por Júnior Bonfim - publicado na Coluna "Gente Que Brilha", da Revista GENTE DE AÇÃO deste mês)

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

CONJUNTURA NACIONAL

O MÉDICO JOÃO IZIDRO

João Izidro, casado com Chiquinha, tia de Otacílio Cartaxo, secretário da Receita Federal, pai do amigo Carlos Alberto e do psiquiatra-escritor, Luis Carlos, era pediatra, clínico geral e sábio. Atendia famílias de todos os recantos dos fundões da Paraíba. Sua clientela incluía Luís Gomes, cidade do RN na fronteira com a PB, onde este escriba nasceu e de onde, do alto da serra, contemplava Uiraúna, terra de Luiza Erundina e do primo Zé Neumanne. João Izidro foi o médico de minha família e era padrinho de Boanerges, um dos meus irmãos.

Um dia, em Cajazeiras, sua cidade, atendeu a uma velhinha que se queixava de "incômodo em todo o corpo". Fez as perguntas tradicionais:

- A senhora tosse?

- Às vezes, sim, às vezes, não.

- A senhora tem dor de cabeça?

- Às vezes, sim, às vezes, não.

- A senhora sente febre?

- Às vezes, sim, às vezes, não.

Paciente, o médico botou os óculos e escreveu a receita:

- Pegue a receita, minha senhora. Pode ir, a senhora vai melhorar.

A velhinha pegou a receita e tascou a pergunta:

- Doutor, e esse remédio, hein, como é que eu tomo?

A resposta do João veio no mesmo tom da voz da velhinha:

- Tome o remédio às vezes, sim, às vezes, não.


O CORONEL JUCA PEBA


Desconfiado e matreiro, o coronel Juca Peba não era de muita conversa. Tinha dinheiro, e muito, guardado sob o travesseiro. Até o dia que inauguraram a Agência do Banco do Brasil, em Cajazeiras. A gerente foi procurar o coronel Juca Peba com o argumento:

- Coronel, bote o dinheiro no banco. Vai ser guardado, bem guardado, e vai render juros.

Depois de muita conversa, e muitos cafés no varandão da casa, o coronel, ainda desconfiado, foi ao banco. Com 100 contos numa bolsa de couro. Tirou devagar o pacote. Contou. Uma, duas, três vezes. Depositou. Matreiro, ficou na espreita, na calçada, olhando, espiando o movimento do banco. Para ver se aquele troço não era tramóia. A desconfiança aumentou. Entrou no banco. Foi ao Caixa. Ordenou:

- Quero os 100 contos que eu botei aqui. Já.

Aflito, o bancário foi buscar o dinheiro. O coronel pegou o maço. Conferiu. Uma, duas, três vezes. E devolveu, sob a expressão juramentada:

- Eu só queria mesmo conferir. Pode guardar.


LOW PROFILE


Lula pediu a Dilma Rousseff duas a três semanas de reclusão. Motivo: abrigar-se do bombardeio contundente que se expandiu na esteira do depoimento da ex-secretária da Receita Federal, Lina Vieira. Dilma deixou de aparecer, segunda à noite, na abertura do 2º Encontro Nacional de Siderurgia, para a qual era a autoridade mais aguardada. Nos últimos dias, aliás, cresceu a fofoca em torno de outro nome petista para o lugar de Dilma Rousseff, caso ela não decole: Antônio Palocci.


PALOCCI, A BOLA DA VEZ


Palocci é o petista mais prestigiado e admirado no seio do empresariado. O STF decidirá, nesta semana, sobre seu futuro. Caso seja absolvido – como se espera – o ex-ministro da Fazenda terá pavimentada a estrada para andar em direção ao futuro. Terá dois desvios: um, em direção ao governo de São Paulo, mais provável; outro, direcionado ao Palácio do Planalto. Os dois destinos não seriam nada fáceis. A candidatura do deputado ao governo de São Paulo ou de qualquer outro petista enfrentará a barreira, quase intransponível, do candidato tucano, seja ele Geraldo Alckmin ou Aloysio Nunes Ferreira.


PLANALTO MUITO ALTO


Quanto à candidatura ao Palácio do Planalto, trata-se de um pesadelo de inverno. Primeiro, será tarefa remover Dilma Rousseff, que é a candidata sagrada e consagrada do presidente da República. Segundo, se Palocci viabilizar seu nome, certamente sobre ele cairá o verbo duro do episódio do caseiro Francenildo. Ao argumento da absolvição pelo STF – se for confirmado – levantar-se-á o contra-argumento: o espaço eleitoral reabrirá a questão. Ficará, sempre, uma camada cinzenta ofuscando o perfil.


MARTA, CIRO?


A verdade é que o PT não dispõe de quadro para enfrentar, em condições de ganhar o pleito, uma candidatura tucana em São Paulo. Há uma predisposição negativa no contorno do PT e seus quadros, mesmo que alguns deles sejam palatáveis – e bem palatáveis – para núcleos de elite, como o próprio Palocci. Mas a transformação do PT em geléia partidária – repartindo com os demais o ônus da pasteurização – tira suas condições de competitividade. Marta Suplicy continua tendo o maior recall. Mas é antipatizada pelas classes médias. Ciro Gomes poderia ser o candidato, indicado por Lula, e apoiado pelo PT. Tiraria boa fatia de votos. Mas não ganharia a eleição. O PT está enrolado em SP.


FECHANDO AS ALIANÇAS


Lula chamou Michel Temer para um almoço e pediu a ele que começasse a organizar com Ricardo Berzoini o mapa das alianças para 2010. O PMDB, por boa maioria, tenderá a fechar apoio à candidatura do PT, ou seja, à Dilma. Mas parcela do partido fechará com José Serra, como o PMDB paulista, sob domínio de Orestes Quércia, e o pernambucano, controlado pelo senador Jarbas Vasconcelos. Quércia, um dos mais ricos do Brasil, quer voltar a ser senador. Tem vaga garantida na chapa paulista. Mas as urnas tendem a não lhe ser favoráveis. Quércia, como Maluf, exibe um dos maiores índices de rejeição da política brasileira. A partir de Pernambuco, Jarbas espera abrir bons espaços para Serra no Nordeste.


RS, PARÁ E BAHIA


No RS, Pará e Bahia, será bastante difícil a aliança entre PT e PMDB. Pois nesses Estados o PT não quer ceder a cabeça de chapa ao PMDB. Jader Barbalho pretende voltar ao governo do Pará, Geddel quer sentar no lugar de Jaques Wagner, na Bahia, e Tarso Genro quer disputar contra qualquer candidatura no Sul, mesmo que a de um peemedebista, como o prefeito Fogaça, de Porto Alegre. No Paraná, as negociações caminham bem, mas Requião tem canal aberto com Serra.


ENCONTRO DE CABEÇAS


O 2º Encontro Nacional de Siderurgia, promovido pelo Instituto Aço Brasil (IABR, novo nome para o Instituto Brasileiro de Siderurgia), realizado terça-feira, em São Paulo, proporcionou um encontro de algumas das melhores cabeças do país. Pelo tom geral das apresentações e debates, o mundo começa a virar a página da crise e o Brasil, que fez a lição de casa em matéria macroeconômica, fará o exercício mais rapidamente.


BRICS e BC


Antônio Palocci, médico que expressa com facilidade um economês palatável, exibiu franco entusiasmo pelo futuro do Brasil. Chegou, mesmo, a profetizar: dos BRICs (Brasil, Rússia, Índia e China), sobrarão dois – Brasil e China. Mais ainda: com uma vantagem para nosso país. Porque o Brasil tem um escopo institucional e democrático de alta respeitabilidade, fator considerado estratégico para posicionamento das Nações no ranking da boa fama. E a China, como se sabe, tem muito a aprender nesse campo.


DELFIM, SAPIÊNCIA E OTIMISMO


Delfim Netto continua dando um show de sapiência e otimismo. Para ele, o Brasil tem todas as condições de superar as dificuldades e despontar como uma grande Nação. Não é tão entusiasta sobre o futuro da China – argumentando que os EUA continuarão a ser o maior mercado consumidor do planeta – para voltar à tese de que nossas terras tupiniquins são realmente abençoadas.


CADÊ A CARTA DO BARALHO?


Ao contrário de certos pensadores, Delfim aponta a miscigenação de raças como um dos nossos mais ricos patrimônios. A pluralidade étnica e cultural é o fermento para a convivência, a harmonia e a criatividade. Delfim tira do colete o chiste: imaginem que só o Brasil é capaz de reunir, num mesmo salão, judeus, maometanos, católicos, evangélicos de credos variados, em uma grande confraternização. Se alguém quiser saber a razão do barulho que eles fazem no salão, é só abrir a porta e verificar: estão todos em torno de um baralho, discutindo, para saber quem foi que escondeu o coringa por baixo da mesa. "Que outro país do mundo poderia fazer isso?", indaga o mestre Delfim, para gargalhada geral da platéia.


GERDAU, CAIXEIRO VIAJANTE?


Jorge Gerdau é o nosso empresário-símbolo. Discorre facilmente sobre vasto escopo: câmbio, juros, custo Brasil, reformas tributária e política, preço do aço nos mercados interno e externo, exportações, petróleo, etanol, custo Brasil, competitividade. Defende posições – como reformas no campo tributário, político e educacional – pede situações isonômicas para que o aço brasileiro possa melhorar sua competitividade ante o aço chinês, por exemplo, é um duro crítico sobre algumas posições governamentais, mas exibe otimismo ante o futuro. Gerdau é sempre um grande expositor. Modesto, pergunta: "que achou?" Diante dos elogios, recolhe-se à modéstia: "fiz apenas o papel de caixeiro viajante". Que vende seu produto com a força da convicção.


DE JEITO NENHUM


Tempos turvos aqueles eram do AI-5. Dezembro de 68. Fechamento dos legislativos e as sub-CGIs nos Estados exigindo que todos os parlamentares fizessem uma declaração de bens dos dez anos anteriores. João Batista Botelho, conhecido na Assembléia paulista como "João Cuiabano", preparou o seu dossiê. Quando ia enviá-lo a quem de direito, alguém adverte:

- Nobre deputado, Vossa Excelência tem de dar a eles também o seu currículo.

João Cuiabano, homem de poucas letras, mas corajoso e decidido, virou uma fera:

- Isto eu não vou dar de jeito nenhum. Só conseguirão se passarem sobre meu cadáver.

Quem conta história é o incomparável Sebastião Nery.


BENJAMIN E SEU "MAS"


Benjamin Steinbruch não tem tanta certeza de que a crise já passou. Intercala sua fala com alguns pares de "poréns, mas e todavias". Se o Brasil tem boas perspectivas pela frente, não significa que deveremos nadar de braçada. Calma com o andor, pede o presidente da CSN. Será que os governos do mundo tirarão mais trilhões de seus caixas para sustentar as condições de governabilidade? O governo brasileiro – que colocou 20 milhões de pessoas no mercado de consumo e cobriu 40 milhões com o cobertor da proteção social – vai ter de despejar toneladas de dinheiro para sustentar a harmonia social e o consumo. Terá condição de fazer isso? Benjamin, como este escriba, continua a por dúvidas no ar das certezas.


GODOY E O DESENHO INSTITUCIONAL


Já Paulo Godoy, presidente da ABDIB, com sua costumeira eloqüência, discorre sobre nossas riquezas e fragilidades. Sua expressão recorrente é: o desenho institucional. Godoy acredita que o Brasil tem tudo para ser uma das Nações mais prósperas da humanidade. Mas precisa vencer o monumental desafio: arrumar o modelo institucional. As instituições precisam acompanhar o cheiro do tempo. Focar para resultados. Eliminar as teias corruptivas. Melhorar os níveis de representação. Agilizar o aparelho do Estado. Paulo Godoy prega um choque de gestão. Os gastos públicos precisam entrar na planilha da racionalidade.


FLÁVIO E O AÇO BASIL


Flávio de Azevedo, presidente do Instituto Aço Brasil, tem na ponta da língua um panorama sobre a indústria siderúrgica brasileira, uma das mais competitivas do mundo, e que emprega 110 mil pessoas. Indústria que ganha, agora, um Instituto com novo nome e uma nova logomarca: três traços que se cruzam formando um A, de aço, apontando para o alto (visão de futuro), sob as cores azul (alta tecnologia), verde (ambiente, Brasil).


CONSELHO AO PT PAULISTA


Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na edição passada, o espaço foi destinado ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Hoje, volta sua atenção ao PT paulista:

1. Faça uma seleção de nomes e uma pesquisa para saber o perfil de maior viabilidade eleitoral;

2. Tente explicar as razões e argumentos de tantas mudanças ocorridas no partido;

3. Apresente uma Proposta de refundação do partido. E submeta a proposta às bases partidárias. Eis ai uma base mínima para o lançamento de uma candidatura petista em São Paulo.



(Por Gaudêncio Torquato)

terça-feira, 25 de agosto de 2009

SENADO PRESTA HOMENAGEM A EUCLIDES DA CUNHA, O ESCRITOR QUE 'DESCOBRIU O BRASIL QUE OS BRASILEIROS NÃO CONHECIAM'

O Senado Federal prestou na tarde de ontem, 18/8, homenagem a Euclides da Cunha, o escritor que retratou no livro Os Sertões o massacre de Canudos, no sertão da Bahia. O senador Geraldo Mesquita Júnior (PMDB/AC), autor do requerimento da homenagem pelos cem anos da morte de Euclides da Cunha, disse que ele deve ser homenageado não só por ter revelado "o Brasil atormentado, sofrido, desconhecido e à margem da história aos brasileiros de sua geração", mas também por ter chefiado a missão que fixou os limites entre o Brasil e o Peru. "Euclides da Cunha descobriu o Brasil que os brasileiros não conheciam e nem tinham ouvido falar" - afirmou Mesquita Júnior.

O senador Marconi Perillo (PSDB/GO), que presidiu parte da homenagem, lembrou que Euclides da Cunha sintetizou em Os Sertões "a luta do camponês nordestino pela sobrevivência, frente à extrema hostilidade do meio e ao descaso mais absoluto dos governantes da época".

O senador Arthur Virgílio (PSDB/AM) observou que o escritor morreu quando mal começara a escrever o livro Um Paraíso Perdido, que trataria da Amazônia, onde ele passou algum tempo de sua vida. Ele assinalou que Euclides da Cunha manifestava "forte preocupação ambiental" e disse acreditar que, se tivesse terminado sua obra, com certeza ela "alcançaria a mesma grandiosidade de Os Sertões".

Fluminense de Cantagalo, o escritor passou a infância e a adolescência em fazendas e cidades do Rio de Janeiro. Em 1855, ingressou na Escola Politécnica do Rio, de onde saiu no ano seguinte para entrar na Escola Militar. Lá, foi excluído em 1888 por ter jogado deliberadamente ao chão a arma que deveria apresentar à passagem do ministro da Guerra, seguindo depois para São Paulo, onde passou a escrever contra a monarquia, lembrou o senador Marconi Perillo.

Proclamada a República, foi reintegrado à carreira militar e bacharelou-se em Matemática e Ciências Físicas e Naturais. Em 1895, disposto a dedicar-se ao estudo dos problemas brasileiros, abandonou definitivamente a carreira militar e transferiu-se para São Paulo, onde passou a escrever para o jornal O Estado de S. Paulo. Logo se revelou profundo conhecedor do conflito de Canudos e da geografia do sertão baiano, sendo convidado para cobrir o movimento como correspondente do jornal, instalando-se nas proximidades da área onde Antônio Conselheiro lutava por seu povo. Por retratar fielmente a luta do sertanejo nordestino por dias melhores, Euclides da Cunha foi eleito em 1903 para a Academia Brasileira de Letras e aclamado para o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro.

Foi então nomeado pelo Barão do Rio Branco para chefiar a Comissão de Reconhecimento do Alto Purus, no Amazonas, por onde viajou durante o ano de 1905. Sua experiência na região deu origem a extenso relatório, elaborado entre 1906 e 1908. Além de Os Sertões, escreveu Contrastes e Confrontos e Peru versus Bolívia. Ele morreu em um trágico crime passional em 15 de agosto de 1909 - tentou matar um jovem tenente amante de sua mulher, mas ele reagiu e matou o escritor a tiros, no Rio de Janeiro.

EUCLIDES DA CUNHA ÀS VOLTAS COM O DIREITO


Dize-me com quem andas, dir-te-ei quem és!

Que o ditado popular é verdadeiro, ninguém duvida – tanto para o bem como para o mal. Mas um caso digno de nota na história é o do engenheiro Euclides da Cunha. Apesar de não ter formação jurídica, sua vida e obra perpassaram o Direito graças, em grande parte, às companhias que teve.

OUVINTES DE FOLHETIM


Conta o jornalista Viriato Correia, após entrevista realizada com Euclides, que a história d' "Os Sertões" foi ouvida em primeira mão por um juiz de Direito. Entre um cálculo matemático e outro, a respeito da reconstrução de uma ponte em São José do Rio Pardo, na qual estava empenhado, o engenheiro pôs-se a escrever seu livro: "a todo o momento tinha que levantar-se, para vir ver a marcha do trabalho da ponte, que se ia erguendo, quando estava num trecho, desses com que os escritores se torturam e dão um pedaço de vida para acabá-lo, eis que um operário vinha chamá-lo para resolver uma dificuldade. Apesar disso, Os Sertões ia caminhando. À tarde o juiz de direito, o presidente da Câmara Municipal, mais duas ou três pessoas de Rio Pardo, reuniam-se à casinha de Euclides, para ouvir o folhetim".

Quando a ponte ficou pronta, ficou pronto também o livro. Nessa época, Euclides da Cunha não se reconhecia como escritor. Foi o julgamento que fizeram os "ouvintes do folhetim" sobre a obra que impulsionou a publicação de "Os Sertões". Euclides "resolveu publicá-lo. O juiz de direito, o presidente da Câmara do Rio Pardo e o matuto do 'estouro' haviam-lhe dito que o livro era bom".

COMPANHEIROS DE CADEIRA

Em 1902, após um grande trabalho de revisão, a obra chega às livrarias. A primeira edição se esgota em pouco mais de dois meses. A repercussão é tão grande que em 1903 Euclides da Cunha é eleito para ocupar a cadeira nº 7 da ABL, cujo patrono é Castro Alves.

Quatro anos depois, no dia 2 de dezembro de 1907, outro episódio ligaria Euclides da Cunha ao Direito. O autor foi convidado pelo glorioso Centro Acadêmico XI de Agôsto, da Faculdade de Direito de São Paulo, a proferir uma palestra sobre o patrono de sua cadeira, Castro Alves, poeta que havia passado pelos bancos do Largo S. Francisco - clique aqui.

Não bastasse, em todo o tempo que esteve na ABL (1903-1909), Euclides conviveu com pessoas ligadas ao meio jurídico, dentre eles : Rui Barbosa (cadeira nº 10), Lúcio de Mendonça (cadeira nº 11), Araripe Júnior (cadeira nº 16), Sílvio Romero (cadeira nº 17), Mário de Alencar (cadeira nº 21), Lafayette Rodrigues Pereira (cadeira nº 23), Joaquim Nabuco (cadeira nº 27) e Vicente de Carvalho (cadeira nº 29).

Evidente que tal convivência trouxe à mente de Euclides preocupações acerca da disciplina da convivência humana. Isso tanto é verdade que, em 1907, com a publicação do livro "Peru versus Bolívia" percebemos a observação de Euclides diante da discussão legal sobre a definição das fronteiras geográficas dos dois países.

Interessante notar que nessa ocasião a Argentina foi escolhida para arbitrar os limites estabelecidos a cada um deles. E esse fato - talvez a primeira vez que se viu uma arbitragem na América do Sul - foi mostrado por Euclides da Cunha.

VIDA E MORTE NOS TRIBUNAIS

Por fim, até na morte Euclides da Cunha esteve ligado com questões jurídicas. Com efeito, Euclides foi morto no dia 14 de agosto de 1909, pelo tenente, sobrinho e amigo Dilermando de Assis. Assim, o boletim da ocorrência, juntamente com o atestado de óbito, serviram de material para a ação penal que terminou em polêmico júri que movimentou a sociedade na época. Era a "Tragédia da Piedade".

O sucesso que faltou a Euclides em sua vida amorosa, sobrou nos trabalhos que desenvolveu. O engenheiro mostrou ter habilidade não apenas nas áreas exatas, mas também em assuntos ligados a humanidades.

(Do "Migalhas")

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

24 DE AGOSTO DE 1954 – O SUICÍDIO COMO ARMA POLÍTICA



O dia recém havia começado na manhã de 24 de agosto de 1954, quando Getúlio Vargas decidiu tirar a própria vida. Esse gesto foi o maior golpe de marketing político da história brasileira. Até aquela manhã, o ex-ditador estava acuado. Acusado de protetor de ladrões e tendo dois filhos, o irmão e o chefe da guarda pessoal envolvidos na tentativa de assassinato do principal líder da oposição a seu governo, a situação política de Getúlio Vargas era insustentável.

A opinião pública acompanhara os detalhes das investigações do atentado da Rua Toneleros e estava chocada com as revelações. O coronel João Adil de Oliveira, que ficara encarregado do Inquérito Policial-Militar, havia declarado, a 19 de agosto, que o atentado contra Lacerda fora planejado dentro do Catete. O Vice-presidente e os militares pressionavam Getúlio para que renunciasse. Se deixasse a Presidência, o ex-ditador teria um destino muito parecido ao reservado a Fernando Collor: teria respondido a vários processos e correria o risco de ser condenado, junto com parentes e pessoas de sua estrita confiança. Teria tanto apoio da opinião pública quanto o ex-Presidente Collor obteve durante o processo do impeachment.

A decisão dramática pelo suicídio revelou-se extraordinária para salvar a biografia do Tirano do Catete (Vargas foi o único ditador a habitar aquele palácio presidencial). Como num passe de mágica, poucas horas após o anúncio da sua morte, milhares de pessoas foram para as ruas da Capital, inconformadas com os acontecimentos. Exceto para Gregório Fortunato e seus capangas, os demais acusados da entourage getulista saíram ilesos das acusações. Em 30 dias o inquérito foi encerrado e nada apurado em relação aos parentes do tirano. Os ladrões que o circundavam, segundo acusava Carlos Lacerda, também não tiveram os seus atos investigados.

O grande jurista e advogado Evandro Lins e Silva – que esteve à frente da defesa de alguns acusados do atentado da Rua Toneleros – declarou haver encontrado a melhor explicação para o suicídio de Vargas numa revista francesa, sob o título O suicídio como arma política. Nessa reportagem, segundo Lins e Silva, o autor mostrava que, com seu gesto, Getúlio Vargas tinha conseguido dominar, paralisar, desmoralizar a conspiração que pretendia alijá-lo do poder. Na verdade, isso aconteceu. Quem viveu aquele período e assistiu aos acontecimentos durante o dia, no Rio de Janeiro, tem a lembrança de que poucas vezes multidão igual saiu às ruas em apoio ao presidente.

Este é um exemplo perfeito de manipulação da opinião pública post mortem. Até a manhã do dia 24 de agosto Getúlio Vargas era um ex-ditador, convertido em demagogo, à frente de um governo acusado de corrupção e rodeado por bandidos que urdiram um atentado contra o principal político de oposição. Com o seu derradeiro gesto, tudo isso foi apagado e seu nome emprestado a ruas, avenidas, praças, cidades e instituições. Ergueram-se monumentos e bustos. E os que desejavam ver cumprida a lei e punidos os culpados, terminaram com a pecha de conspiradores aos olhos da maioria das pessoas. Nunca um suicídio mudara tanto os rumos da política brasileira, nem a biografia de um personagem.


(Escrito por Cândido Prunes)