sábado, 7 de agosto de 2010

FELIZ ANIVERSÁRIO, DEL ALMEIDA!

Hoje é o natalício de um dos mais geniais seres humanos que Crateús já colocou no mundo.

Mestre da xilogravura, festejado nacional e internacionalmente pela inventividade resplandescente, Francisco de Almeida, o Almeidinha, menino pobre da mata ciliar do Rio Poty, brilha entre os mais destacados nomes das artes da Terra da Luz.

É razão de orgulho para os crateuenses, espelho e referência para a juventude lutadora e digna que almeja vencer na vida confiando na Força Superior e no própio talento interior.

Parabéns, Almeidinha!

Segue, no post abaixo, uma Crônica que fiz em sua homenagem e que está no meu livro AMORES E CLAMORES DA CIDADE:

ALMEIDINHA



Apesar do proselitismo agnóstico, apesar de vozes respeitáveis noticiarem a inexistência de Deus, afirmo que cada vez mais acredito na regência de um Ser Superior sobre os atos da existência humana.

Basta nos determos nesse incrível paradoxo: a parafernália eletrônica produzida pela expansão tecnológica – que aparentemente sinaliza um triunfo do materialismo - só prolifera porque os cientistas acreditam em algo imaterial. Quem inventou um aparelho de fax, por exemplo, só prosseguiu no intento porque tinha fé na migração energética que possibilita uma transmissão exitosa além-matéria.

Nas palavras de Deepak Chopra, “a conclusão fundamental dos estudiosos do campo quântico é que a matéria-prima do mundo não é material, as coisas essenciais do universo são não-coisas. Toda a nossa tecnologia baseia-se nesse fato, que faz cair por terra a atual superstição do materialismo”.

Não fosse isso, como poderíamos explicar determinados fenômenos humanos que se nos apresentam envoltos num manto de mistério? A história registra o caso, por exemplo, de uma mulher, doente mental, casada com um homem desequilibrado em todos os sentidos. Alcoólatra e desocupado, estava longe de ser pai modelar ou marido referencial. Esse casal, no entanto, teve quatro filhos: o primeiro, doente mental; o segundo, paralítico; o terceiro, acometido de outra enfermidade séria; o quarto também deficiente. Mesmo com todo esse histórico de tragédia, a mulher estava grávida pela quinta vez. E esse quinto filho, que tudo apontaria para ter também uma vida desventurada, foi Ludwung Van Beethoven, um dos maiores gênios musicais da humanidade.

É de casos como esse que me lembro quando miro a existência dura e desafiadora, simultaneamente dolorosa e portentosa de Francisco de Assis Rodrigues de Almeida, notabilizado Francisco de Almeida ou, simplesmente, Almeidinha. Nascido em Crateús entre as manjedouras da pobreza, tinha tudo para engrossar as fileiras do exército dos excluídos na mecânica perversa que orienta a nossa sociedade desigual. Pequeno na estatura, frágil na estrutura - revelou-se, no entanto, um gigante na desenvoltura. Desafiando céus e terra, em especial um problema neurológico que atrofia sua musculatura, Almeidinha empreendeu uma viagem fabulosa à auto-afirmação, protagonizando uma ascensão vertiginosa no mundo das artes e firmando-se como o mais talentoso nome da xilogravura cearense. Não é apenas um artista extraordinário, é um ser humano formidável que, de cada poro do corpo e da alma, exala a alegria de viver, o prazer da simplicidade, a essência do humano.

Quando criança alimentava o sonho de pintar o cartaz de cinema da sua urbe. Dirigia-se à porta do Cine Poty (nome também do rio da cidade) e detinha-se contemplando a pintura dentro da moldura de vidro. Admirava, à época, o trabalho do senhor João Batista, um pintor que morava às margens do rio e era o seu ídolo. O tempo passou, o cinema fechou, mas o sonho artístico continuava aberto no coração de Almeidinha. Contra a vontade do senhor Manuel Almeida Sobrinho e da dona Terezinha Rodrigues de Almeida, seus pais, resolveu ir para Fortaleza. Após ralar muito, escalou a montanha do sucesso e pisou os píncaros da glória. É um mago da culinária e da xilogravura. Da mesma forma que inventa novos pratos, misturando temperos inéditos, também brinca com as telas, misturando misticismo e crendices populares, pedras coloridas e astros-reis, pedaços de madeira e carvão, num inimaginável baile de magia e luz.

O que mais o orgulha, no entanto, não é o incontestável fato de ser o mais premiado gravador do Ceará, tendo suas telas sido exibidas nos mais importantes acervos do País e recebido aplausos na Argentina e na Europa. O que mais o orgulha é ter conhecido a fome, a sede e o frio de perto...

Um cancioneiro introvertido, português multivital, chamado Fernando Pessoa, dizia: “Tenho em mim todos os sonhos do mundo”. E um outro ser transcendental, o poeta chileno Pablo Neruda, afirmou que “o poeta vive todas as vidas do mundo”.

Almeidinha, um biocrata de marca maior, grava em suas telas toda a pulsação do planeta. É um filho do sorriso, um sujeito de festa, um caboclo danado, um cabra da peste, um menino do bem. Merece um lugar no frontispício dos iluminados. É GENTE DE AÇÃO!

(Por Júnior Bonfim, in "Amores e Clamores da Cidade")

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

CONJUNTURA NACIONAL

Puxa-sacos

Tempos eleitorais. Tempos de fidelidade e infidelidade. Guararé era cabo eleitoral do governador Sebastião Archer, do Maranhão. Convenção do PSD, alguém acusou Guararé de puxa-saco. Guararé argumentou:

- Cada um puxa quem pode. Eu puxo o senhor, governador Archer. O senhor já puxa o senador Vitorino Freire. E o senador puxa o general Dutra. É a lei da fidelidade partidária.

O primeiro debate

Hoje, teremos o primeiro debate entre os presidenciáveis. Como acontece em ano eleitoral, este debate é feito pela TV Bandeirantes. Fernando Mitre, diretor de jornalismo, garante que o formato escolhido para este ano é o melhor de todos os tempos. Dará direito a todos de fazerem questionamentos recíprocos. Serra tentará provocar Dilma. E esta tentará colar sua imagem no governo Lula. Marina, por sua vez, tentará ser a terceira via, saindo pelo meio. Não se espere alteração nas preferências. O público que assistirá ao debate já fez sua opção.

Repercussão

A repercussão do debate será um recurso a ser usado de maneira intensa por Serra e Dilma. Os marqueteiros de cada candidato devem ter preparado sistemas de apuração dos climas emotivos. Esses sistemas apuram os pontos de maior destaque e menor impacto de cada candidato. São analisados os temas, a forma como foram tratados, as palavras mais amenas e mais agressivas, as abordagens. Medirão, portanto, as performances. E servirão para ajustamento dos candidatos em futuros debates.

Quem vencerá?

O critério para avaliar a vitória de um candidato em um debate na TV é a liderança nas pesquisas de intenção de voto. Regra geral, o vencedor de um debate é quem está em primeiro lugar nas pesquisas. A conferir.

Ficha congestionada

Os candidatos de ficha-suja congestionam os Tribunais Eleitorais. Encerra-se, hoje, o prazo para análise das impugnações nos Estados. Os candidatos impugnados poderão recorrer ao TSE. Que terá até o dia 17 para dar sua palavra final. A previsão é de que também o TSE não tenha tempo para avaliar a montanha de processos. Só em São Paulo, por exemplo, 46,5% dos candidatos estão sendo contestados.

Apostas

Nesse momento, qualquer aposta em candidatos poderá dar com os burros n'água. Convém esperar mais um pouco para que o horizonte se livre de nuvens densas. A campanha terá momentos decisivos: o início na TV e no rádio, entre 17 de agosto e 30 de agosto; a segunda etapa, morna, nas duas semanas de setembro, até o dia 15, tempo de análises qualitativas; o terceiro momento, é o de fechamento de posições e ajustes do discurso, que vai até o final de setembro. Esse ciclo será bem acompanhado pelos eleitores.

Blefes

Quem aponta como vitorioso um candidato que está muito embaixo pode estar blefando. Ou conhece muito bem as tendências dos eleitores de seu Estado. Aposto na primeira hipótese.

Farta feição


José Aparecido chegou à sua Conceição do Mato Dentro/MG, começou a romaria dos amigos. Entrou um coronel, mansos passos e chapéu na mão:

- Bom dia, doutor. Boa viagem?

- Boa. Como vão as coisas?

- Tudo correndo como de costume. Novidade aqui nunca tem e lá pra fora não sei, porque minha televisão está defeituada.

- O que é que aconteceu com ela?

- Não sei não. Às vez farta prosa, às vez farta feição.

(José Aparecido foi deputado federal, ministro da Cultura, governador de Brasília e embaixador em Portugal. Excepcional figura)

PE, PB, RN e CE


Gente bem informada me dá conta : em PE, Eduardo Campos continuará no governo; na PB, o mesmo acontecerá com José Maranhão; no RN, Rosalba Ciarlini só não ganha se disputar com um santo de muita devoção; e no CE, Cid Gomes também levará a melhor.

Preste atenção

"Preste atenção neste cara". O slogan pertence ao socialista Paulo Skaf. Mais parece um teaser, uma chamada publicitária para o lançamento de um nome. O teaser prepara o ambiente para o futuro. Ora, a campanha já começou. O futuro é agora. E algumas avenidas chiques de São Paulo foram tomadas por cavaletes com esse teaser. Um detalhe: "a cara" de Paulo Skaf chama mais atenção do que o resto "do cara". Principalmente o nariz adunco. Eis aí um logotipo dos mais definidos.

Crise no STF

O ministro Eros Grau se aposentou e sai do STF. O ministro Joaquim Barbosa pediu mais 60 dias de afastamento para tratar da saúde. A mais alta Corte do país está desfalcada. Se Lula não nomear logo o substituto de Eros, os julgamentos naquela Corte poderão entrar em um túnel escuro. Vai haver muito atraso por conta do acúmulo de processos nas mãos dos ministros. A pressão sobre Lula deve ser muito intensa. E o presidente poderá deixar a decisão para momentos mais calmos, após o pleito de outubro. Este consultor acha, porém, que a decisão virá mais cedo.

Ele levou os discos?

Seu Lunga chega num bar e fala pro atendente:

- Traz uma cerveja e bota o disco de Luiz Gonzaga pra eu ouvir!

- Desculpe, meu amigo, não posso botar música hoje...

- Mas por que?

- Meu avô morreu!

Seu Lunga, ríspido:

- E ele levou os discos?

Arrecadação

Quem acompanha pleito eleitoral conhece as regras da arrecadação. Candidato com grande viabilidade eleitoral - cargos majoritários - passa o chapéu com relativa tranquilidade. Pesquisas de intenção de voto são a chave para abrir portas. Candidato com poucas chances geralmente vê portas fechando em sua cara.

Querelas petistas

As alas do PT não param de brigar. Grupos se engalfinham para garantir posição melhor em um eventual futuro governo Dilma. Nessa disputa, tudo vale: chantagens, dossiês, cartas anônimas. Quem teria produzido o vazamento de carta apócrifa ligando filha do ministro Mantega e Paulo Cafarelli, indicado para a caixa de previdência do Banco do Brasil?

Segundo turno em SP?

Incrível, porém com jeito de verdade. O petista Aloizio Mercadante tem perfil de esquerda, o tucano Geraldo Alckmin agrega posições no meio e o malufista Celso Russomanno está sediado no canto direito. Alckmin tem 50% de intenção de voto. A eleição, hoje, seria decidida no primeiro turno. Quem pode adiar a decisão é o Russomanno. Ou seja, para se viabilizar a esquerda precisa da direita. O segundo turno poderá ocorrer caso o malufismo consiga dar ao seu candidato algo entre 12% a 15%. Difícil, mas não impossível.

Alckmin, discreto

Geraldo Alckmin é um sujeito de sorte. Muita sorte. Esta campanha está caindo em seu colo sem que ele faça muito esforço. Quase não se vê Geraldo falando ou aparecendo nos lugares. Mas continua firme nos 50% de intenção de voto. Pode ser que o PT consiga resgatar seu índice histórico em SP e dar a Mercadante seus 30%. A conferir.

É aquele ali


O filho do Seu Lunga jogava futebol em um clube local. Um dia, Seu Lunga foi assistir a um jogo do filho no estádio. O sujeito sentado ao lado pergunta:

- Seu Lunga, qual dos jogadores ali é o seu filho?

Seu Lunga aponta e diz:

- É aquele ali...

- Aquele qual?

- Aquele ali!!!

- Não tô vendo...

Então Seu Lunga "P" da vida pega uma pedra e a atira sobre o filho. Exclama:

- É aquele ali que começou a chorar!

E o Senado em SP?


Uma vaga será de Marta Suplicy. Mas a segunda vaga ao Senado em SP ainda é uma incógnita. Alguns apostam em Quércia, outros em Romeu Tuma. E ainda há quem aposte em Aloysio Nunes Ferreira, tucano, que tem apenas 4%. Netinho de Paula, do PC do B, tem 16%. Não enxergo o segundo senador.

PNBF

Como este consultor vem enfatizando há tempos, o PNBF - Produto Nacional Bruto da Felicidade é a fortaleza da candidata Dilma. As análises e cruzamentos feitos sobre as pesquisas apontam para seu maior eleitorado: famílias pobres que demonstram satisfação econômica. Ela tem 17 pontos de vantagem sobre Serra entre os que acham que poder de compra melhorou.

Eu sou um merda

José Augusto Bezerra de Medeiros, governador do RN, apresentou ao presidente Afonso Pena o capitão Quincó, ajudante-de-ordens, que ficaria à sua disposição. E fez os maiores elogios ao capitão, que se fazia presente. Quincó ficou tão encabulado que disse a Afonso Pena:

- Qual o quê, Presidente. Eu sou é um merda.

Arrogância e soberba

Pecado mortal de um candidato ou candidata é demonstrar arrogância e soberba. Esses atributos aparecem quando os personagens respondem de forma ríspida perguntas de jornalistas, quando debocham de adversários e exibem ar de superioridade. Sérgio Cabral, apesar da enorme vantagem sobre Fernando Gabeira, é um poço de arrogância.

Conselho aos candidatos

Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos ministros do TSE. Hoje, volta sua atenção aos candidatos à Presidência da República :

1. No primeiro debate na TV, procurem apresentar propostas, defender ideias e levantar grandes bandeiras.

2. O discurso positivo é mais importante que o discurso de acusação e recriminação do adversário.

3. O ataque ao adversário só se justifica para amparar um ideário, escudar um ponto de vista ou para estabelecer uma comparação.

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(Gaudêncio Torquato)

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

FICHA LIMPA É ATENTADO À DEMOCRACIA - DIZ EROS GRAU, DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL


O ministro Eros Grau deixou o Supremo Tribunal Federal depois de seis anos na corte. Ele chegou ao posto por indicação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 2004. Com quase 70 anos, seria compulsoriamente aposentado se não fosse o requerimento voluntário apresentado por ele.

Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, Eros Grau falou sobre a Lei da Ficha Limpa e de como, na sua visão, ela põe em risco o Estado de Direito. “Há muitas moralidades. Se cada um pretender afirmar a sua, é bom sairmos por aí, cada qual com seu porrete. Estou convencido de que a Lei Complementar 135 é francamente, deslavadamente inconstitucional”, declarou.

Leia a entrevista concedida ao jornal:

O senhor deu várias demonstrações de cansaço no STF. O que o desanimou?

O fato de as sessões serem transmitidas atrapalha muito, porque algumas vezes o membro do tribunal se sente, por alguma razão, compelido a reafirmar pontos de vista. Existem processos que poderiam ser julgados com maior rapidez. Muitas vezes a coisa fica repetitiva e poderia ser mais objetiva.

O senhor é contra as transmissões?


Essa prática de televisionar as sessões é injustificável. O magistrado não deve se deixar tocar por qualquer tipo de apelo, seja do governo, seja da mídia, seja da opinião pública. Tem que se dar publicidade à decisão, não ao debate que pode ser envenenado de quando em quando. Acaba se transformando numa sessão de exibicionismo.

Existe a possibilidade de o tribunal deixar de exibir as sessões ao vivo?

Isso só vai acabar no dia em que um maluco que se sentir prejudicado agredir ou der um tiro num ministro. Isso pode acontecer em algum momento. Até que isso aconteça, haverá transmissão. Depois não haverá mais.

Em algum momento o senhor foi abordado na rua dessa forma?


Eu estava no aeroporto de Brasília com a minha mulher, depois do julgamento da lei de anistia, e veio uma maluca gritando, dizendo: "aí, está protegendo torturador". Foi a única vez que me senti acossado.

Para Eros Grau, o que é ficha limpa?


"Ficha limpa" é qualquer cidadão que não tenha sido condenado por sentença judicial transitada em julgado. A Constituição do Brasil diz isso, com todas as letras.

Políticos corruptos não são uma ameaça aos cofres públicos e ao estado de direito?

Sim, sem nenhuma dúvida. Políticos corruptos pervertem, são terrivelmente nocivos. Mas só podemos afirmar que este ou aquele político é corrupto após o trânsito em julgado, em relação a ele, de sentença penal condenatória. Sujeitá-los a qualquer pena antes disso, como está na Lei Complementar 135 (Ficha Limpa), é colocar em risco o estado de direito. É isto que me põe medo.

O que está em jogo não é a moralidade pública?


Sim, é a moralidade pública. Mas a moralidade pública é moralidade segundo os padrões e limites do estado de direito. Essa é uma conquista da humanidade. Julgar à margem da Constituição e da legalidade é inadmissível. Qual moralidade? A sua ou a minha? Há muitas moralidades. Se cada um pretender afirmar a sua, é bom sairmos por aí, cada qual com seu porrete. Vamos nos linchar uns aos outros. Para impedir isso existe o direito. Sem a segurança instalada pelo direito, será a desordem. A moralidade tem como um de seus pressupostos, no estado de direito, a presunção de não culpabilidade.

A profusão de liminares concedidas a candidatos, inclusive pelo Supremo, não confunde o eleitor?

Creio que não. Juízes independentes não temem tomar decisões impopulares. Não importa que a opinião publicada pela imprensa não as aprove, desde que elas sejam adequadas à Constituição. O juiz que decide segundo o gosto da mídia não honra seu ofício. De mais a mais, eleitor não é imbecil. Não se pode negar a ele o direito de escolher o candidato que deseja eleger.

Muitos partidos registraram centenas de candidaturas mesmo sabendo que elas poderiam ser enquadradas na Lei 135/2010, que barra políticos condenados por improbidade ou crime. Não lhe parece que os partidos estão claramente atropelando a Lei da Ficha Limpa, esperando as bênçãos do Judiciário?


Não, certamente. O Judiciário não existe para abençoar, mas para aplicar o direito e a Constituição. Muito pior do que corrupto seria um juiz, medroso, que abençoasse. Estou convencido de que a Lei Complementar 135 é francamente, deslavadamente inconstitucional.

Como aguardar pelo trânsito em julgado se na esmagadora maioria das ações ele é inatingível?

O trânsito em julgado não é inatingível. Pode ser demorado, mas as garantias e as liberdades públicas exigem que os ritos processuais sejam rigorosamente observados.

A Lei da Ficha Limpa é resultado de grande apelo popular ao qual o Congresso se curvou. O interesse público não é o mais importante?

Grandes apelos populares são impiedosos, podem conduzir a chacinas irreversíveis, linchamentos. O Poder Judiciário existe, nas democracias, para impedir esses excessos, especialmente se o Congresso os subscrever.

Não teme que a Justiça decepcione o país?

Não temo. Decepcionaria se negasse a Constituição. Temo, sim, estarmos na véspera de uma escalada contra a democracia. Hoje, o sacrifício do direito de ser eleito. Amanhã, o sacrifício do habeas corpus. A suposição de que o habeas corpus só existe para soltar culpados levará fatalmente, se o Judiciário nos faltar, ao estado de sítio.

O senhor teme realmente uma escalada contra a democracia?

Temo, seriamente, de verdade. O perecimento das democracias começa assim. Estamos correndo sérios riscos. A escalada contra ela castra primeiro os direitos políticos, em seguida as garantias de liberdade. Pode estar começando, entre nós, com essa lei. A seguir, por conta dessa ou daquela moralidade, virá a censura das canções, do teatro. Depois de amanhã, se o Judiciário não der um basta a essa insensatez, os livros estarão sendo queimados, pode crer.

Por que o Supremo Tribunal Federal nunca, ou raramente, condena gestores públicos acusados por improbidade ou peculato?

Porque entendeu, inúmeras vezes, que não havia fundamentos ou provas para condenar.

Que críticas o senhor faz à forma do Judiciário decidir?

As circunstâncias históricas ensejaram que o Judiciário assumisse uma importância cada vez maior. Isso pode conduzir a excessos. O juiz dizer que uma lei não é razoável! Ele só pode dizer isso se ele for deputado ou senador. Os ministros não podem atravessar a praça (dos Três Poderes, que separa o Supremo do Congresso). Eu disse muitas vezes isso lá: isso é subjetivismo. O direito moderno é a substituição da vontade do rei pela vontade da lei. Agora, o que se pretende é que o juiz do Supremo seja o rei. É voltar ao século 16, jogar fora as conquistas da democracia. Isso é um grande perigo.

Isso tem acontecido?


Lógico. Inúmeras vezes o tribunal decidiu, dizendo que a lei não é razoável. Isso me causa um frio na espinha. O Judiciário tem que fazer o que sempre fez: analisar a constitucionalidade das leis. E não se substituir ao legislador. Não fomos eleitos.

O senhor tem coragem de votar em um político com ficha suja?


Entendido que "ficha-suja" é unicamente quem tenha sido condenado por sentença judicial transitada em julgado, certamente não votarei em um deles. Importante, no entanto, é que eu possa exercer o direito de votar com absoluta liberdade, inclusive para votar em quem não deva.

O senhor está deixando o STF. Retoma a advocacia? Aceitará como cliente de sua banca um folha corrida?


Terei mais tempo para ler e estudar. Escrever também, fazer literatura. E trabalhar com o direito. Para defender quem tenha algum direito a reclamar, desde que eu me convença de que esse direito seja legítimo. Ainda que se o chame de "folha corrida".

E para Brasília o senhor pretende voltar?

Brasília é uma cidade afogada, seca, onde você não é uma pessoa, você é um cargo.

(Fonte: CONJUR)

terça-feira, 3 de agosto de 2010

O ETERNO REI DO BAIÃO


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Já faz mais de vinte anos

Que o velho Lua morreu.

Da vida dos nordestinos

Nunca desapareceu.

Pois em cada canção

Cantou com o coração

O mundo que ele viveu.

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E o Rei do Baião vive

Na boca de sua gente.

Tudo que ele gravou

Canta-se no presente.

Foi a voz do retirante,

Dos que estavam distante,

Foi o canto do ausente!

.

Luiz Gonzaga cantou,

Os costumes do sertão

Cantou beatas e santos,

Padre Cícero Romão,

Cantou o povo sua fé

O Santo de Canindé,

Cantou até oração.

.

Cantou também paro o papa

Cantou o cruel Lampião,

Lendas de cangaceiros

Que habitavam o sertão.

Cantou a mulher rendeira

E Sá Marica parteira

Costumes e tradição.

.

Cantou do vate Catulo,

Que no nome tem Paixão,

E digo com toda certeza

Que encantou seu torrão,

Com a mais bela cantiga

Que amor a terra instiga

Chamada Luar do Sertão.

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Lua mostrou ao Brasil

Nossa nação nordestina.

Falou de chuva e de seca

Contando a nossa sina.

Cantou tristeza e alegria

Dum povo que contagia

Pois a ser forte ensina.

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Cantou a fauna e a flora.

Do nosso seco sertão.

Mostrou o mundo inteiro

O amor pelo seu chão.

Asa branca contagiou,

E o povo todo cantou,

Este hino ao Sertão.

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O querido rei caboclo.

Aclamado rei do baião.

Viverá eternamente

Em nossa recordação.

E será eternizado

Pois sempre será lembrado

Por toda nossa nação.

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Quando o fole da sanfona,

Gemer em qualquer lugar.

E um forró pé-de-serra

O sanfoneiro tocar

Lembrarei de Gonzagão,

O nosso rei do Baião,

Majestade Singular!


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(Dalinha Catunda, no aniversário da morte de Luiz Gonzaga)

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IBOPE - INTENÇÃO DE VOTO NO CEARÁ

O Ibope divulgou a pesquisa de intenção de voto para Governador do Estado e Senador da República. É a primeira do instituto na eleição deste ano no Ceará.

CORRIDA AO GOVERNO

O candidato Cid Gomes, do PSB, tem 49% dos votos.
Lúcio Alcântara, do PR, 24%.
Marcos Cals, do PSDB, 9%.
Marcelo Silva, do PV;
Soraya Tupinambá, do PSOL; e Francisco Gonzaga, do PSTU, têm – cada um – 1% votos.

Ainda segundo o Ibope, brancos e nulos alcançou 5%. Indecisos, 9%.


OS NÚMEROS DO SENADO


Tasso – 63%
Eunício – 27%
Pimentel – 25%
Tarcísio Leitão – 6%
Raquel Dias – 4%
Alexandre Pereira – 3%
Marilene Torres – 3%
Benedito Oliveira – 2%
Reginaldo – 2%
Polo – 1%
Brancos e nulos – 10%
Indecisos – 26%

A pesquisa foi realizada entre 30 de julho e primeiro de agosto e ouviu 1.204 eleitores cearenses. Está registrada no Tribunal Regional Eleitoral (TRE-CE) com o número 40508/2010.

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A rigor o que surpreende nessa pesquisa é a perfomance de Eunicio Oliveira, que começa a descolar de José Pimentel. Imaginava-se que Pimentel, por conta da estrutura e militância petistas, ganhasse a dianteira. No entanto, Eunicio tem dado mais volume à sua campanha.

A disputa para o Senado, salvo um grave incidente, tende a ser pela segunda vaga.


(Júnior Bonfim)

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

NAVEGAR É PRECISO!

Navegadores antigos tinham uma frase gloriosa:
Navegar é preciso; viver não é preciso".

Quero para mim o espírito [d]esta frase,
transformada a forma para a casar como eu sou:

Viver não é necessário; o que é necessário é criar.

Não conto gozar a minha vida; nem em gozá-la penso.

Só quero torná-la grande, ainda que para isso tenha de ser o meu corpo e a (minha alma) a lenha desse fogo.

Só quero torná-la de toda a humanidade; ainda que para isso tenha de a perder como minha.

Cada vez mais assim penso.

Cada vez mais ponho da essência anímica do meu sangue o propósito impessoal de contribuir para a evolução da humanidade.

(Fernando Pessoa)

domingo, 1 de agosto de 2010

CARA OU COROA? POR FERNANDO HENRIQUE CARDOSO

Em pouco mais de dois meses escolheremos o próximo presidente. Tempo mais do que suficiente para um balanço da situação e, sobretudo, para assumirmos a responsabilidade pela escolha que faremos. É inegável que a popularidade de Lula e a sensação de “dinheiro no bolso”, materializada no aumento do consumo, podem dar aos eleitores a sensação de que é melhor ficar com o conhecido do que mudar para o incerto.

Mas o que realmente se conhece? Que nos últimos 20 anos melhorou a vida das pessoas no Brasil, com a abertura da economia, com a estabilidade da moeda trazida pelo Plano Real, com o fim dos monopólios estatais e com as políticas de distribuição de renda simbolizadas pelas bolsas. Foi nessa moldura que Lula pregou sua imagem. Arengador de méritos, independentemente do que diga (quase nada diz, mas toca em almas ansiosas por atenção), vem conseguindo confundir a opinião, como se antes dele nada houvesse e depois dele, se não houver a continuidade presumida com a eleição de sua candidata, haverá retrocesso.

Terá êxito a estratégia? Por enquanto o que chama a atenção é a disposição de bem menos da metade do eleitorado em votar no governo, enquanto a votação oposicionista se mantém consistente próxima da metade. Essa obstinação, a despeito da pressão governamental, impressiona mais do que o fato de Lula ter transferido para sua candidata 35% a 40% dos votos. Assim como impressiona que o apoio aos candidatos não esteja dividido por classes de renda, mas por regiões: pobres do Sul e do Sudeste tendem a votar mais em Serra, assim como ricos do Norte e do Nordeste, em Dilma. O empate, depois de praticamente dois anos de campanha oficial em favor da candidata governista, tem sabor de vitória para a oposição. É como se a lábia presidencial tivesse alcançado um teto. De agora para frente, a voz deverá ser a de quem o país nunca ouviu, a da candidata. Pode surpreender? Sempre é possível. Mas pelos balbucios escutados falta muito para convencer: falta história nacional, falta clareza nas posições; dá a impressão de que a palavra saiu de um manequim que não tem opiniões fortes sobre os temas e diz, meio desajeitadamente, o que os auditórios querem ouvir.

Não terá sido esta também a técnica de Lula? Até certo ponto, pois este quando esbraveja ou quando se aferra pouco à verdade, o faz “autenticamente”: sente-se que pode assumir qualquer posição porque em princípio nunca teve posição alguma. Dito em suas próprias palavras: “Sou uma metamorfose ambulante”. Ora, o caso da candidata do PT é o oposto (esta é, aliás, sua virtude). Tem opiniões firmes, com as quais podemos ou não concordar, mas ela luta pelo que crê. Este é também seu dilema: ou diz o que crê e possivelmente perde eleitores por seu compromisso com uma visão centralizadora e burocrática da economia e da sociedade, ou se metamorfoseia e vira personagem de marqueteiro, pouco convincente.

Não obstante, muitos comentaristas, como recentemente um punhado de brazilianists, quando perguntados sobre as diferenças entre as duas candidaturas, pensam que há mais convergências do que discrepâncias entre os candidatos. Será? As comparações feitas, fundadas ou não, apontam mais para o lado psicológico. O que está em jogo, entretanto, é muito mais do que a diferença ou semelhança de personalidades. O quadro fica confundido com a discussão deslocada do plano político para o pessoal e, pior, quando se aceita a confusão a que me referi inicialmente entre a situação de desafogo e bem-estar que o país vive e Lula, que dela se apossou como se fosse obra exclusiva sua. Se tudo converge nos objetivos e se estamos vivendo um bom momento na economia, podem pensar alguns, melhor não trocar o certo pelo duvidoso. Só que o certo foi uma situação herdada, que embora aperfeiçoada, tem a marca original do fabricante, e o duvidoso é a disposição da herdeira eleitoral de continuar a se inspirar na matriz originária. O candidato da oposição, este sim, traz consigo a marca de origem: ajudou a construir a estabilidade, a melhorar as políticas sociais e a promover o progresso econômico.

Não nos iludamos. O voto decidirá entre dois modelos de sociedade. Um mais centralizador e burocrático, outro mais competitivo e meritocrático. No geral, ambos oponentes levarão adiante o capitalismo. Estamos longe dos dias em que o PT e sua candidata sonhavam com o que Lula nunca sonhou: o controle social dos meios de produção e uma sociedade socialista. Mas estamos mais perto do que parece de concretizar o que vem sendo esboçado neste segundo mandato petista: mais controle do Estado pelo partido, mais burocratização e corporativismo na economia, mais apostas em controles não democráticos, além de maior aproximação com governos autoritários, revestidos de retórica popular.

A escolha a ser feita é, portanto, decisiva. Como tudo indica, o teatro eleitoral se está organizando para esconder o que verdadeiramente está em discussão. Há muita gente nas elites (vilipendiadas pelo lulismo nos comícios, mas amada pelos governantes e beneficiada por suas decisões econômico-financeiras) aceitando confortavelmente a tese de que tanto dá como tanto deu. Dê cara ou dê coroa, sempre haverá “um cara” para desapertar os sapatos. Ledo engano. Há diferenças essenciais entre as duas candidaturas polares. Feitas as apostas e jogado o jogo, será tarde para choramingar, “ah, eu nunca imaginei isso”. Melhor que cada um trate de aprofundar as razões e consequências de seu voto e escolha um ou outro lado. Há argumentos para defender qualquer dos dois. Mas que não são a mesma coisa, não são. E não porque num governo haverá fartura e noutro escassez, para pobres ou ricos. E sim porque num haverá mais transparência e liberdade que noutro. Menos controle policialesco, menos ingerência de forças partidário-sindicais. E menos corrupção, que mais do que um propósito é uma consequência.

*Ex-presidente da República