quarta-feira, 20 de abril de 2011

SAUDADES DO MEU PAI



Se estivesse entre nós, meu pai hoje estaria recebendo os parabéns.

Partiu em uma tarde de fevereiro. Ano 2004. O rio da aldeia em que nasceu estava cheio e ele foi dar um mergulho. Ninguém imaginava que aquela submersão seria para sempre.

Sua presença é uma constante em minha rotina.

Outro dia rabisquei um soneto em sua memória. Eí-lo:


“Meu querido pai, corpulento e afobado homem
De cor vermelha e idéias levemente escuras
Diviso-te espargindo, ombro e abdômen,
O sereno prestativo de tua arrojada figura.

Tinhas vários nomes e eu, um único jeito,
De abrandar tua explosão temperamental:
Ao invés da faca da palavra, o mutismo do olhar -
Denso como o caju, cortante como o punhal.

Adorava teus contornos de astúcia, o ás de precipitação
O comercial espírito, o passo apressado, a alma em flor
O palpitante núcleo do peito, lagoa sempre em ebulição

Que num fevereiro e ensolarado sábado se evaporou.
Pois é. E o mesmo rio que abriu tuas comportas de emoção
Um dia, como em redemoinho, de súbito te levou!”



(Júnior Bonfim)

CONJUNTURA NACIONAL

"O carro atolou-se"


Walfredo Paulino de Siqueira foi um típico coronel da política pernambucana. Escrivão de polícia, comerciante, deputado, industrial, presidente da Assembleia, vice-governador de PE. Era uma figura folclórica, como conta Ivanildo Sampaio, diretor de redação do Jornal do Commercio, de Pernambuco, e meu contemporâneo na faculdade. Um dia, dois eleitores discutiam sobre o uso da partícula "se". O exemplo era com um automóvel que ficara preso em meio a um atoleiro. O primeiro afirmava que a forma correta de expressar-se era falar que "o carro atolou-se"; o outro insistia que não; o correto era "o carro se atolou". Consultado, Walfredo deu a sentença salomônica:

- Escutem aqui. Se os pneus que ficaram presos foram os dois da frente, o correto é dizer que "o carro se atolou". Se foram os pneus traseiros, a gente fala assim: "o carro atolou-se". Mas, acontecendo de ficarem presos os quatro pneus, os de frente e os de trás, então, meus filhos, a forma correta mesmo é "o carro se atolou-se"...


FHC X Lula


Lula não deixa a peteca cair. Se Fernando Henrique diz algo que possa ser considerado polêmico ou, ainda, que renda dividendos ao lulismo, o ex-presidente abre o verbo. O sociólogo, em artigo para uma revista, defendeu o ponto de vista de que as oposições deveriam se afastar da massa carente e focar na classe média. Chegou, até, a usar a expressão "povão", para deixar mais claro o pensamento. Lula arremeteu: Fernando Henrique, como o ex-presidente João Figueiredo, não gosta do "cheiro do povo", mas do cheiro de cavalo (Figueiredo apreciava equitação). A resposta não tardou por vir: "Lula esquece que o derrotei 2 vezes. E topo outra disputa, se ele quiser". Ora, essa algaravia só serve para acalentar bovinos. Lula e FHC gostam de desembainhar suas espadas. E esgrimi-las em público. O primeiro quer palco. O segundo deseja energizar as oposições.


FHC e o conceito


Sobre a ideia de PSDB, DEM e PPS focarem sua atenção na classe média, o sociólogo tem inteira razão. Meu último artigo dominical no Estadão - Classe Média, Povão e Lorota - procura, à luz dos conceitos de classes médias, partido político e massas, examinar os aspectos concernentes ao argumento exposto pelo ex-presidente FHC.


O maior racha dos tucanos


O PSDB vive o maior racha de toda sua história. Em São Paulo, a fenda é enorme. De um lado, está a ala comandada pelo governador Geraldo Alckmin e, de outro, a banda que fica sob controle do ex-governador e presidenciável José Serra. Estas alas não se toleram. A rixa é histórica. Os alckministas sempre foram desprezados pelos serristas e vice-versa. O episódio mais bombástico se deu com a saída do PSDB de 5 (pode chegar a 7) vereadores tucanos. O Diretório Municipal é presidido, hoje, pelo deputado Julio Semeghini, que faz parte do secretariado de Alckmin. Por trás dessa saída, atua de maneira habilidosa, como sempre, o prefeito Gilberto Kassab.


PSDB perdeu a biruta


A biruta, o instrumento que mostra, nos aeroportos, o caminho do vento, foi perdido pelo PSDB. O presidente do partido, deputado (ex-senador) Sérgio Guerra é um cego no meio do tiroteio. Quer renovar o mandato na condução do tucanato e deve levar a melhor. Serra, pleiteante do cargo, não teria o endosso de caciques como Aécio Neves e Tasso Jereissati. Alckmin, mesmo governando o Estado mais poderoso do país, tem influência limitada. Trata-se de perfil alheio aos embates na arena política. Foca sua atenção na administração. FHC aponta rumos mas o partido não fisga a ideia.


DEM em apuros


Quem também está em apuros é o DEM. Míngua a olhos vistos. Seu presidente, o senador José Agripino, do RN, tem perfil diplomático, sabe ouvir e argumentar. Será difícil resgatar a densidade do velho PFL. A questão é: poucos políticos resistem a mandatos continuados dentro do túnel escuro das oposições. O rolo compressor do governismo devasta os espaços oposicionistas. Deputados e senadores ficam praticamente sob a proteção única do verbo. Tiram-lhes as verbas orçamentárias. Sem recursos para atender as bases, vêem suas forças quebradas. Vivemos cada vez mais o ciclo da micropolítica, a política das pequenas coisas, das demandas locais e regionais. Se as demandas não são atendidas, os políticos são forçados ao canto do ringue.


Filosofia do Vitorino


Vitorino Freire, ex-manda chuva e filósofo do Maranhão:

- Quando o pasto pega fogo, preá cai no brejo.

- O risco que corre o pau, corre o machado.

- Não quero que ajudem meu roçado. Só quero que os bois do vizinho não entrem nele.

- O Sarney não conhece o tamanho do meu roçado. De um lado da cerca eu grito e ele não ouve do outro lado.

- Política no Maranhão é um bumba-meu-boi que não sai sem mim.


Oposições somadas: 96


O calculo é de que as oposições deverão ficar com apenas 96 parlamentares, o menor número dos últimos 16 anos. Vejam: no primeiro e segundo mandatos de FHC, somavam 108; no primeiro mandato de Lula, as oposições chegaram a fazer 159 deputados; no segundo mandato, o número caiu para 147; na posse de Dilma, as oposições tinham 108 e agora estão em 96.


Cena municipal em SP (I)


Lula tem uma crença: estampa nova é novidade e gera interesse. Foi assim que apostou em Dilma. Agora, a estampa nova da vez se chama Fernando Haddad. Ele é o candidato in pectore de Lula para disputar a prefeitura de São Paulo, em 2012. Contra ele, no PT, há Aloizio Mercadante, atual ministro da Ciência e Tecnologia, Marta Suplicy, senadora. Fala-se, ainda, em Alexandre Padilha, ministro da Saúde, mas este não tem porte, perfil, flexibilidade e vocação. Da parte do PSDB, quem demonstra mais fôlego é o secretário de Energia do Estado de São Paulo, deputado José Aníbal, que já teve uma boa votação para o Senado.


Cena municipal em SP (II)


O prefeito Kassab aprecia bastante a arte de jogar balões. Para ver que efeitos e curiosidade provocam na opinião pública. Lançou, até o momento, estes nomes para a prefeitura: Guilherme Afif Domingos, vice-governador e secretário de Estado; Eduardo Jorge (PV), seu secretário do Verde e Meio Ambiente; Francisco Luna, seu secretário de Planejamento e (pasmem!) Henrique Meirelles, que será a Autoridade Pública Olímpica. Despiste? Disfarce? Quem desses é o nome in pectore do prefeito? Da parte do PMDB, o perfil mais adequado e forte seria o de Paulo Skaf, que já mostrou fôlego na política, ao disputar o último pleito para o governo de Estado. Com apenas um minuto, Skaf obteve 1.038.430 votos, ou seja, 4,56% dos votos válidos. Outro nome é o do deputado Gabriel Chalita, hoje no PSB, que tem a intenção de migrar para o PMDB. Tem história, perfil e carreira muito ligadas ao governador Alckmin.


Sem pauzinho


João Almeida deputado mineiro, Fortunato Pinto Júnior, jornalista e ghost writer, escrevia seus discursos. Sábio e bom, o doce coronel só não gostava de proparoxítonos:

- Tininho, não bota no discurso palavra que tem um pauzinho lá atrás, porque a dentadura cai.


Fadiga de material


Este consultor tem usado recorrente análise sobre a moldura político-institucional. O copo está quase transbordando. Estamos fechando um ciclo da política. A sociedade não aguenta mais ouvir desculpas. Fala-se muito em reforma, renovação de métodos, mudança. Mas o clamor social não recebe respostas adequadas. As reformas não saem. Projetos há, mas não ganham consenso. E assim a fadiga de material exibe suas marcas no tempo. Essa fadiga se projeta também nos campos governamentais e nos Estados. Há cansaço nas esferas da administração Federal e em alguns Estados. Depois de 12 anos de um sistema no poder, o sinal amarelo surge no horizonte. Muito tempo de poder corrói as portas dos Palácios. Cuidado, partidos.


Lula 70% mais


Lula gastou 70% mais em publicidade, no final do mandato (2010), que Fernando Henrique. Em 8 anos, foram R$ 10 bilhões. Lei da propaganda: repetição é a medida da eficácia.


Infraestrutura patina


As obras de Infraestrutura destinadas aos empreendimentos da Copa, em 2014, e da Olimpíada, em 2016, continuam patinando. Os investimentos ainda não chegaram ao índice de 5% dos recursos previstos. Cadê você, Henrique Meirelles, a Autoridade Olímpica, que tem a missão de fazer correr o fluxograma? Coitado, ainda dorme na rede da burocracia. Sua APO ainda não foi criada legalmente.


Colombo no PSD?


Há quem diga que o governador Raimundo Colombo (DEM) não aguentará ficar no partido. Jorge Bornhausen estaria fazendo pressão por sua saída e ingresso no PSD.


Cuba vê a China


Cuba quer se espelhar no modelo chinês de comunismo. Mas faltam condições. Não adianta apenas querer. Os jovens que Fidel pensar entronizar no poder não farão milagres. Cuba é uma pequena ilha cheia de grandes carências e de monumentais atrasos.


Drible na fiscalização


Governo Federal pensa em mudar a lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) por meio de um artigo que esvaziaria o poder dos auditores do Tribunal de Contas da União. Esse é o Brasil. Se os controles são mais severos, a solução é driblá-los. Famoso jeitinho brasileiro.


Reforma política? Tá brincando


O interlocutor se aproxima do político e pergunta: e aí, desta vez, a reforma política passa? Todos, senadores e deputados, parecem mais entusiasmados. O parlamentar responde: "Tá brincando. Não vai dar". Ou seja, para a maioria parlamentar, mudar as regras do jogo é suicídio. E o que pode ser aprovado? Coisas pontuais. O financiamento público de campanha, por exemplo, deverá ser aprovado. Ou o fim das coligações proporcionais. Voto em lista ou distritão é matéria polêmica. Não passarão. A não ser que se faça a costura de alhos com bugalhos.


Aécio flagrado


Ninguém tem o direito de ser contra o fato de um político prezar a boemia. Mas, homem público deve prestar contas de seus atos. Mesmo atos privados, quando flagrado em tramóia. O senador Aécio Neves até pode recusar o bafômetro. É um direito dele. Mas a recusa depõe contra sua imagem. Derruba o argumento de que o bom exemplo vem de cima. Se Aécio pode se negar a fazer o teste do álcool, por que não posso eu também negar? Esse é o senso comum.


Cofre cheio


Em março, a arrecadação de impostos e contribuições Federais totalizou R$ 70,984 bilhões. O resultado supera a média de R$ 68,300 bilhões. A arrecadação de impostos e contribuições Federais cobradas pela Receita Federal apresenta, no 1º trimestre deste ano, crescimento de R$ 35,740 bilhões em relação ao mesmo período do ano passado. A arrecadação saltou de R$ 190,454 bilhões, de janeiro a março de 2010, para R$ 226,194 bilhões. Dinheiro para a gastança. E enfeite do Estado Espetáculo.


O verbo não "vareia"


A Câmara Municipal de Paulista (PE) vivia sessão agitada em função da discussão de um projeto enviado pelo prefeito, que pedia crédito para assistência social. Um vereador da oposição combatia de maneira veemente a proposição. A certa altura, disse que "era contra o crédito porque a administração municipal não merecia credibilidade". O líder da bancada governista intervém, afirmando que "o nobre colega não pode jogar pedras no telhado alheio, pois já foi acusado de algumas trampolinagens".

- Menas a verdade - retrucou o acusado. Sou homem honesto, de vida limpa.

- Vejam, senhores, - disse o líder - o nobre colega, além de um passado nada limpo, ainda por cima é analfabeto, pois, "menas" é verbo, e verbo não "vareia".

Mais uma historinha de Ivanildo Sampaio.


Conselho ao ex-presidente Lula


Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos educadores de todo o país. Hoje, sua atenção se volta ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva:

1. Tenha mais cautela nas afirmações, declarações, acusações e insinuações que expressa.

2. A matéria da revista Veja mostrando a influência do advogado Roberto Teixeira, seu amigo, que teria insinuado corrupção por parte do ministro Cesar Asfor Rocha, do STJ, merece maiores esclarecimentos. Verdade ou prevaricação, é a indagação da revista. Que fica sem resposta. E se for verdadeira a insinuação de corrupção, não seria condenável a atitude do advogado ao procurar o ministro?

3. Urge avaliar melhor as novas tarefas políticas a serem desenvolvidas por Vossa Excelência. Um ex-presidente da Republica há de cumprir uma liturgia do poder, evitando ações estrepitosas. Use seu carisma para melhorar os costumes da Nação.



(Gaudêncio Torquato)

terça-feira, 19 de abril de 2011

OBSERVATÓRIO


Em 1996, todas as principais forças políticas de Crateús sentaram à mesa e, pondo fim a divergências históricas, resolveram se unir em torno de um nome comum: Paulo Nazareno. Seria, na prática, uma aclamação, pois a única força que não iria compor a aliança era o PT, que na época não possuía musculatura para alterar o quadro. Porém, no calor da empolgação, os líderes dessa costura olvidaram de combinar com o povo. E um clima de descontentamento tomou conta do ar. Por ocasião da convenção que homologaria a participação do PMDB na ampla coligação, provocaram o líder Zé Maria Pedreiro: - Zé, será que essa cidade não tem um homem que tenha coragem de enfrentar esse “Acórdão”? Duas horas depois Zé Maria era anunciado candidato. Para a vice, arrasta João Aguiar, do PP. E protagonizam uma das mais empolgantes campanhas eleitorais da história do município. Durante vários dias, o Pedreiro esteve à frente de Nazareno. Foi necessário um hercúleo esforço para reverter a onda pró Zé Maria. Paulo ganhou, mas ficou a lição: o povo de Crateús adora uma campanha disputada.


NOMES I



Começaram as especulações em torno de nomes que poderão enfeitar a disputa do ano que vem. O Prefeito Carlos Felipe espalhou que não é candidato, revelando-se propenso a apoiar Elder Leitão ou Mauro Soares. Sucede que pouca gente acredita nessa possibilidade. Domingos Filho diz que “palavras mentem; gestos, não”. Os gestos do alcaide indicam que o candidato de Carlos Felipe é... Carlos Felipe. Um candidato se conhece pela agenda que ele cumpre. A agenda pública de Felipe confirma sua pretensão oculta. Resta saber quem será o escolhido para enfrentá-lo.


NOMES II

No campo da oposição, vários nomes estão sendo estudados. Certo, porque independe de qualquer negociação, é o nome do advogado Alexandre Maia, candidato do PSOL. Desenvolto nos debates, Alexandre ganhou terreno na eleição passada. Quer ampliar espaços. Os três últimos ex-prefeitos são sempre possibilidades postas pelos aliados. Nas enquetes internas oposicionistas quem detém o maior “recall” (recordação) é Paulo Nazareno. O ex-prefeito, que até bem pouco tempo descartava a idéia, começa a cogitar a possibilidade, pois seu nome provoca impacto. Paulo, no entanto, ainda se recupera das bordoadas do seu segundo mandato. Os problemas que enfrentou após deixar a Prefeitura causaram marcas profundas. Ficaram como uma trava na alma. Alguns o aconselham a deixar de lado essa aventura. Outros dizem que poderia ser venturosa, pois uma nova candidatura serviria como um antídoto na tentativa de purgar todo esse passado.


NOMES III

Outros nomes vêem sendo sondados. Um deles esteve recentemente na cidade. Manteve conversas reservadas com meio mundo de gente. Técnico habilidoso, discurso contemporâneo, estudioso da máquina pública municipal, seu nome ecoa bem por vários setores. Foi gerente do Banco do Brasil e militante de proa do PMDB no período áureo da redemocratização. Em 1992, compôs chapa com Marcelo Machado na mais acirrada disputa municipal das três últimas décadas. Em 2001, comandou a Secretaria Municipal de Saúde. Hoje é graduado servidor público federal, com destacada atuação na Controladoria Geral da União. Ivan Monte Claudino é seu nome.


SINDICATO


Enquanto não chega a eleição municipal, outras disputas colocam-se como prévias daquela. O embate pela presidência do Sindicato dos Servidores soou preocupante para vários estrategistas do governo municipal. Nunca antes na história a máquina da Prefeitura se envolveu tão intensamente em uma refrega sindical. E, o que é mais grave, amargou uma derrota acachapante. Embora alguns continuem deitados em berço esplêndido, o cenário é de pedra no caminho.


LOGOMARCA



Há equívocos primários que poderiam ser evitados. A escolha da logomarca do centenário é um exemplo. As propostas se resumem, quase todas, à reprodução de edifícios e monumentos. Nenhuma lembrou o Rio Poty, que beija a cidade e é seu ícone natural. Demais disso, como é possível se divulgar que, sob tempo recorde, registrou-se uma quantidade de acessos superior à população do município em um site que realizava a enquete para escolha da logomarca oficial?


BODAS DE OURO



Vivemos uma era em que rareiam as relações estáveis, sólidas, duradouras. A intolerância, tentação que orienta a maioria dos consórcios afetivos, tende a querer incutir em nossas cabeças a idéia de que uniões passageiras são melhores. Fazer de um casamento uma construção permanente exige muito despojamento, compreensão e zelo. José Vanlor e Vânia reunirão familiares e amigos, no próximo sábado, para celebrar cinqüenta anos de matrimônio. Registro meus parabéns ao casal!


PARA REFLETIR


"O casamento é como uma longa viagem em um pequeno barco a remo: se um passageiro começar a balançar o barco, o outro terá que estabilizá-lo; caso contrário, os dois afundarão juntos." (Dr. David Reuben)

"O casamento feliz é e continuará a ser a viagem de descoberta mais importante que o homem jamais poderá empreender." (Soren Kierkegaard)


(Por Júnior Bonfim, na edição de hoje do jornal Gazeta do Centro Oeste, Crateús, Ceará)

QUARESMA


Estamos em plena Semana Santa. É o pôr-do-sol da Quaresma. Tempo que nos remete a um estado de contemplação, de parada mística, de renovação da fé.

Por algum tempo tive dificuldades para absorver a relação entre a caminhada da fé e os passos da política. Julgava serem antagônicos o universo da fé e o mundo da política. Naquele, enxergava um grupo de imaculados, envoltos em uma aura ascética, alheios às disputas mundanas pelo poder; neste, vislumbrava uma plêiade de surfistas deslizando nas ondas tempestuosas da ganância, um grupo de pára-quedistas observando o lugar mais conveniente para pousar, absortos em uma agenda mercadológica consumidora inclusive do imprescindível tempo de dedicação à família e ao diletantismo.

Foi D. Fragoso quem me ensinou a ligação profunda, a intimidade essencial entre fé e política, pilastras do mesmo edifício onde reside a deusa da Justiça. Ninguém vive sozinho. Embora seja produto de uma iluminação pessoal, a fé se sedimenta no mutirão humano, é construção coletiva, está vinculada à existência em sociedade. A vida dos profetas bíblicos é a história de homens que lideraram o povo em busca de uma terra onde escorresse leite e mel.

A vida do Mestre Jesus é um exemplo da umbilical união do divinal com o terreno. Jesus encarou os problemas do seu tempo. Optou pelos despossuídos. Enfrentou os vendilhões do templo. Trouxe a lume a hipocrisia contida na prática dos doutores da lei. Foi compreensivo com o erro dos pecadores. Cultuou a paz. Incomodou aos poderosos e terminou assassinado em uma cruz como prisioneiro político. Portanto, ser cristão (seguidor de Cristo) é encarar a política como missão. E refletir sobre os temas da agenda cristã à luz da crença transformadora.

A quaresma (do latim, quadragésima), os quarenta dias que se iniciam na quarta-feira de cinzas, é uma época plena de significações.

Para os estudiosos, o número quatro, na Bíblia, simboliza o universo material. Os zeros que o seguem significam o tempo de nossa vida na terra, suas provações e dificuldades. Portanto, a duração da Quaresma está baseada no símbolo deste número na Bíblia. Quarenta dias do dilúvio, quarenta anos de peregrinação do povo judeu pelo deserto, quarenta dias de Moisés e de Elias na montanha, quarenta dias Jesus passou no deserto antes de começar sua vida pública, são exemplos disso. Noutras palavras, Quaresma corresponde a um período preparatório para a realização de uma tarefa heróica e histórica. Prenúncio de uma grande missão. Por isso alguns se impõem sacrifícios (ou sagrados ofícios). Abstêm-se de determinados prazeres, como o excesso de comida e bebida. É o popular Jejum.

É importante, no entanto, que saibamos o verdadeiro sentido do jejum. Há alguns dias o amigo Boaventura Bonfim me enviou uma mensagem lapidar sobre o Jejum que agrada a Deus, aquele que nos leva às veredas do bem.

Lembrei-me, então, da mensagem do Profeta Isaías, que pode assim ser resumida: "O fruto da justiça será a paz" (Isaías 32, 17).

Profeta iluminado, homem luminoso, Isaías era conselheiro do rei de Judá. Malgrado ser íntimo do poder, sempre manteve a coerência. Fronte voltada para o sol, sabia o que agradava ao Senhor. Intérprete humano da vontade divina, foi enfático sobre o tema do jejum:

"O jejum que eu quero é este: acabar com as prisões injustas, desfazer as correntes do jugo, pôr em liberdade os oprimidos e despedaçar qualquer opressão; repartir a comida com quem passa fome." (Isaías 58, 6-7).

O espírito da quaresma é este: empreender todos os esforços e sacrifícios no sentido de realizar a utopia de uma vida justa, digna, humana, feliz.

A nossa cidade, palco em que a política convencional resta divorciada dos princípios evangélicos, carece de uma sacudida quaresmal!


(Por Júnior Bonfim, na edição de hoje do jornal Gazeta do Centro Oeste, Crateús, Ceará)

domingo, 17 de abril de 2011

Política - DE FHC PARA LULA

Renata Lo Prete, Folha de S. Paulo

"Se Lula fosse um adversário leal, saberia reconhecer que não desprezo o "povão'", diz Fernando Henrique Cardoso em resposta às declarações de seu sucessor sobre artigo escrito pelo tucano. "Sou contra o que ele fez com o povo: cooptar movimentos sociais; enganar os mais carentes e menos informados trocando votos por benefícios de governo; transformar direitos do cidadão em moeda clientelista. Quero que o PSDB, sem esquecer nem excluir ninguém, se aproxime das pessoas que não caíram na rede do neoclientelismo petista. Desejo que Lula, que esqueceu as antiquadas posições contra as privatizações, continue usufruindo das oportunidades que as empresas multinacionais lhe oferecem, como agora em Londres."

"E desejo, principalmente, que Lula termine com a lenga-lenga contra ler muito e ter graus universitários, pois não precisa mais ter complexos. Virou 'doutor'".

CLASSE MÉDIA, POVÃO E LOROTA

Com sua acurada visão, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso quis indicar um rumo aos correligionários, mas acabou produzindo um charabiá, ou seja, uma baita confusão na esfera política. Em polêmico artigo para uma revista, propôs que as oposições invistam na nova classe média, arrematando com a tese de que, "se o PSDB e seus aliados persistirem em disputar com o PT influência sobre os movimentos sociais ou o povão, isto é, sobre as massas carentes e pouco informadas, falarão sozinhos". Nem bem teve tempo para detalhar o pensamento, o sociólogo passou a ser bombardeado. Afinal de contas, que partido se pode dar ao luxo de desprezar "o povão"? A indagação resume o ponto de vista de parceiros como o senador Aécio Neves, que desponta como a maior liderança tucana, para quem o PSDB deve se aproximar de "várias camadas sociais". Como sói ocorrer por estas bandas, a algaravia tomou corpo pelo costume de derrubar argumentos sem avaliar os escopos que traduzem. Ora, para julgar o dito do ilustrado tucano pelo menos dois conceitos precisariam ser postos à mesa de discussão: partido e classe média.


Partido é parcela, parte, pedaço. Sob esse significado, o ente partidário representa fatia da sociedade. É impraticável que seja escoadouro de demandas de todas as classes e grupamentos. Quando, em seus programas, as siglas vocalizam um discurso em defesa da sociedade como um todo, estão apenas cumprindo o ritual de enaltecimento do ideário da liberdade, da igualdade e dos direitos dos cidadãos. São porta-vozes de preceitos e valores das Cartas Magnas das nações. Já para efeito de conquista do poder, sua meta finalista, o partido deve selecionar focos entre classes sociais, grupamentos ou comunidades, para os quais e com os quais estabelece programas, projetos, ações e relações. Se esse ordenamento não é seguido à risca, como se sabe, o motivo é a crise crônica que assola a democracia representativa em todo o planeta, cujos reflexos se projetam sobre a fragilidade partidária, a pasteurização das doutrinas, a desmotivação das bases e a descrença geral nos políticos. A se considerar tal configuração, a tese de Fernando Henrique faz sentido.


A morfologia partidária clássica também reforça seu ponto de vista. Maurice Duverger, em 1951, formulou duas modalidades: partidos de quadros e partidos de massas. Os primeiros não visariam a agrupar contingentes numerosos, e, sim, grupos de notáveis, representantes das elites sociais. Os segundos teriam como foco as massas, o que demandaria mobilizações voltadas para um recrutamento maciço. A classificação não resistiu às avalanches que se abatem sobre a política e, na corrente do desvanecimento ideológico, multiplicaram-se as organizações que tendem a substituir o prisma doutrinário pela estratégia de capturar diversos eleitorados a qualquer custo. Surgiram, então, os entes que o cientista social Otto Kirchheimer chamou de "catch-all parties" ("agarra tudo o que puderes"). Em termos de Brasil, não há dúvida que esse modelo parece o que melhor se ajusta à estrutura partidária. Apesar disso, o PSDB dos tucanos exibe certa semelhança com os partidos de quadros. Não por acaso, é conhecido como agremiação de "muito cacique e pouco índio". Novamente ganha força a tese de Fernando Henrique, eis que é mais prático dialogar com determinado segmento do que motivar as massas assentadas na base da pirâmide social.


Ademais, é sabido que, nos últimos anos, a teia social - iniciada no ciclo FHC e intensamente reforçada no ciclo do lulopetismo pelos programas de distribuição de renda e acesso ao crédito e ao consumo - consolidou os vínculos entre "o povão" e o sistema governista e, consequentemente, com seus partidos aliados. Fortes barreiras afastam as oposições das margens carentes. E assim a abordagem do ex-presidente se vai firmando. Neste ponto, convém levantar o véu da classe média. Depois da vitamina distributivista do governo Lula, cerca de 30 milhões de brasileiros ingressaram na classe C, reduto considerado como a nova classe média. Seria esta nova classe a biruta para indicar aos partidos o caminho do vento? Analisemos a questão sob a planilha do professor Waldir Quadros, do Instituto de Economia da Unicamp, que estuda a dinâmica dos três degraus das classes médias. Ao transformarem a pirâmide social num losango, passaram a ser a maior classe social do País. O especialista aponta três conjuntos que a integram: a alta classe média (7,7% da população), a média (13,2%) e a baixa (38,8%). Além destas, temos na base a massa trabalhadora (30,7%) e os miseráveis (9,7%). Nesse modelo de estratificação, o primeiro grupo corresponde à classe A de outras metodologias. Pois bem, só esse grupo teria pleno acesso a um padrão de vida considerado satisfatório. Os conjuntos médio e baixo das classes médias - somando 52% da população - defrontam-se com grandes carências nas áreas de saúde, educação, saneamento, habitação, transporte coletivo, segurança, etc.


Esses são os aglomerados que clamam pela atenção dos partidos. Aspiram a conquistar as boas coisas que o núcleo mais elevado da classe já possui: planos de saúde mais abrangentes, acesso à educação de qualidade, moradias satisfatórias, transporte particular, academias de ginástica, alimentação saudável, cursos de idiomas, viagens, cultura, lazer, etc. Há, ainda, um fator que confere às classes médias - principalmente ao nível mais elevado - extraordinária significação: a capacidade de irradiar influência. Daí provém a imagem de pedra jogada no meio do lago. As marolas que produzem - demandas, clamor, expectativas, pressão - chegam até às margens. Essa condição sui generis não pode passar ao largo do sentimento de partidos e políticos, e certamente nisso pensou o ex-presidente Fernando Henrique. Que não iria gastar seu sociologuês à toa. Assim, a intenção dos políticos de capturar o "povão" só tem uma explicação: demagogia. Ou mesmo lorota.


(Gaudêncio Torquato - em O Estado de S.Paulo)

NA SEMANA SANTA, EIS O JEJUM MAIS IMPORTANTE!