quarta-feira, 12 de junho de 2013

CONJUNTURA NACIONAL

Abro a Coluna com duas historinhas.

(Uma, contada pelo historiador e mineiro José Flávio Abelha em seu Mineirice; outra, contada pelo amigo Luis Costa em seu Leia Comigo).

Os dois presos

Elpídio Duque era delegado calça-curta em Conselheiro Pena, enquanto em Minas, o velho PSD (não o atual, de Kassab) deitava e rolava. Juarez Ferraz, tabelião, pastor, grande orador popular, pessedista até a alma e péssimo motorista, atropela dois udenistas na estrada do distrito de Ferruginha. O primeiro é jogado à distância e cai no meio do brejo. O outro, com o impacto, é arremessado para o alto, cai sobre a capota do jipe e, na queda, fura a lona e se esborracha em cima de Juarez Ferraz. Elpídio é chamado para estudar a situação, fazer perícia e abrir o processo. O delegado chega, examina o local, ouve as partes e (pasmem !...) manda prender os dois udenistas:

- O primeiro, por ter invadido propriedade alheia e abandonado o local do crime. O segundo, por tentativa de homicídio. Por muito pouco o descuidado udenista não mata o tabelião da cidade.

Maldito seja ............!

Padre Vieira é um ícone da oratória. Um dia, no púlpito, o grande jesuíta assim começou a peroração:

- Maldito seja o Pai...Maldito seja o Filho....Maldito seja o Espírito Santo!

Horror na assistência. Um murmúrio de indignação. Tranquilamente, o orador prossegue:

- Essas, meus irmãos, são as palavras e as frases que se ouvem nas profundezas do Inferno.

Suspiro de alívio. Platéia embevecida. Era assim, com linguagem surpreendente que o mestre da palavra despertava a atenção dos ouvintes.

Sinal amarelo

A pesquisa Datafolha que mostra a queda de 8 pontos percentuais na popularidade da presidente Dilma (de 65% para 57%) pode ser, até, uma "oscilação normal" como querem enxergar alguns, entre eles, o ministro da Educação, Aloizio Mercadante, e até o eventual candidato do PSB à presidência, Eduardo Campos. Mas dá para distinguir o sinal amarelo que a pesquisa exibe. Quem abre sinal de perigo? Medo do desemprego e ameaça de aumento da inflação. Há motivos para tanto? Sim. O tomate, há dias, estourou o bolso do consumidor. Muitos se queixam dos preços dos alimentos em supermercados. Aumento na área alimentar bate direto no bolso. Que fica mais vazio.

Equação BO+BA+CO+CA

E se fica mais vazio, a equação acima começa a gerar efeitos. Bolso+Barriga+Coração+Cabeça. Menos dinheiro no bolso significa geladeira mais vazia, barriga menos satisfeita, coração indignado/revoltado e cabeça disposta a punir os responsáveis por essa cadeia de sacrifícios e sofrimentos. É claro que estamos distantes de horizontes fechados, cinzentos. O PIBinho não chegou, ainda, às margens. Mas o perigo ronda. Tudo indica que o governo manterá a economia sob rédeas curtas, de forma a garantir o equilíbrio da equação eleitoral. Todo cuidado é pouco.

Maquiavel

"Um príncipe precisa saber usar bem a natureza do animal; deve escolher a raposa e o leão, porque o leão não tem defesa contra os laços, nem a raposa contra os lobos. Precisa, portanto, ser raposa para conhecer os laços e leão para aterrorizar os lobos". (Maquiavel em O Príncipe)

Lula no lugar de Dilma?

Interessante é observar que, a qualquer sinal de perigo, o nome de Luiz Inácio Lula Papão de Votos da Silva vem à tona. É o perfil que representa a salvação do PT em ciclo de crise. É o nome a ser chamado, caso a economia saia dos trilhos. Mas Lula tem dito e repetido que não frequentará a arena. Pois já cumpriu a meta maior de vida. E tem a saúde para cuidar. Mesmo livre do câncer na laringe, que extirpou, permanece o medo do amanhã. Além disso, Lula cumpre uma agenda cheia: viaja pelo mundo, faz palestras a preço de ouro, dá as cartas no PT, tem influência no governo Dilma, é admirado nas margens e nos centros sociais, tornou-se um ícone, o maior político da atualidade brasileira. Por que deixar essa zona de conforto para ser foco de pressões e contrapressões?

Segundo turno

A hipótese de um segundo turno para as eleições presidenciais ganha força diante de um cenário de problemas na frente econômica e da entrada no páreo desses quatro pré-candidatos: Dilma Rousseff, Aécio Neves, Marina Silva e Eduardo Campos. A vitória da presidente Dilma em primeiro turno, é oportuno frisar, dependeria de um céu de brigadeiro, da economia bombando e de eleitores de bolso cheio. Cenário cada vez menos provável.

Clausewitz

"Um príncipe ou um general que sabe organizar a sua guerra de acordo com o seu objetivo e meios, que não faz nem de mais nem de menos, dá com isso a maior prova de seu gênio". (Carl Von Clausewitz em Da Guerra)

E o governo de SP?

É sabido que as derrotas do PT em SP, disputando o governo, nunca foram engolidas por Lula. O sonho dele é desbancar o tucanato que completará 20 anos no comando do Estado mais poderoso do país. Daí se concluir que Lula fará tudo que estiver a seu alcance para ganhar a eleição de 2014 no Estado. Seu candidato in pectore seria Luiz Marinho, prefeito de São Bernardo do Campo. Mas o prefeito não quer ser o nome. Do bolso do colete, Lula saca o nome do ministro da Saúde, Alexandre Padilha. Mas a saúde, como se sabe, está na UTI. Trata-se de uma área que não tem saldo positivo a apresentar. O ministro da Doença poderia ser um fiasco. Lula, porém, confia em seu taco. Acha que Padilha pode ser o nome, eis que Aloizio Mercadante não topa ser candidato. Para resolver a enrascada, o PT sugere o nome do..... próprio Lula. Para este, seria descer na escada da glória. Por isso, este consultor não acredita na hipótese.

Zé Eduardo

A questão da segurança pública, que estará na pauta eleitoral, possivelmente como a temática mais importante, traz à tona o nome do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo. A propósito, o ministro abre espaço na mídia para fustigar o governador Geraldo Alckmin sobre a violência que assola o Estado de SP. Deu larga entrevista ao Estado de São Paulo sobre o tema. Há uma barreira: Lula. Diz-se que o ex-presidente não simpatiza com Zé Eduardo. Em política, porém, tudo é possível. Na hora do "vamos ver", Luiz Inácio poderá abrir o verbo e dizer: o nosso nome é o do ministro da Justiça. Trata-se de um dos perfis do PT não carimbados pela mancha de escândalos. Lembre-se que chegou a renunciar a mais um mandato de deputado por não aceitar entrar no jogo do alto financiamento das campanhas eleitorais.

Liddell Hart

"Explore a situação de menor resistência desde que possa conduzir a qualquer objetivo que contribua para a consecução de seu objetivo básico". (Liddell Hart em As Grandes Guerras da História)

Quadro paulista

Geraldo Alckmin é um governador bem avaliado, principalmente pelo eleitorado do Interior do Estado. Ostenta, hoje, 52% de intenções de voto, descendo para o patamar de 42% quando tem pela frente o perfil de Lula. Mas até este perderia para ele no segundo turno. É evidente que essa é uma fotografia de hoje. Porque a campanha terá seu clima, suas circunstâncias, seu modus operandi. E tudo isso funcionará como pano de fundo para influenciar o sistema cognitivo do eleitorado. Este consultor tende a acreditar que a polarização entre o PSDB e o PT está desgastada. Fechou um ciclo. O eleitorado quer ver novas caras, experimentar novos nomes. Por isso mesmo, será muito difícil (não impossível, claro) que Alckmin consiga manter seu alto índice.

O busílis

Alckmin tem entre 37% a 44% de intenção de votos na grande SP. E de 48% a 59% no interior. O que isso reflete? Uma avaliação menos positiva nas regiões mais violentas.

Cardeal Mazarino

"Fale bem de todo mundo. Jamais fale mal de alguém, temendo que um terceiro escute e vá relatar tudo à pessoa mencionada. Dos superiores só fale bem e louve, especialmente aqueles de quem precisa". (Cardeal Mazarino em Breviário dos Políticos)

Terceira via

Dentro da moldura de saturação da velha briga entre tucanos e petistas, emerge a alternativa de uma terceira via. Que pode abrigar um nome asséptico, sem a poluição e os carimbos da velha política, de perfil empreendedor. Paulo Skaf, presidente da FIESP/CIESP encaixa-se nessa possibilidade. Principalmente se dispuser de espaço midiático eleitoral capaz de garantir ampla visibilidade. Trata-se do perfil mais denso do PMDB para enfrentar a maior batalha eleitoral do país. São mais de 30 milhões de eleitores.

Na ladeira?

A agência de risco Standard & Poor's colocou o Brasil na ladeira. Aumentou a taxa de risco do Brasil com sua avaliação negativa da economia. Esse fato coloca o Brasil nas prioridades de saques de recursos de investidores estrangeiros. Enquanto isso, os EUA ganharam maior elevação em sua nota de avaliação, saindo da classificação AA+ para estável. O polo se inverte.

Sun Tzu

"Quando em região difícil, não acampe; em regiões onde se cruzam boas estradas, una-se aos aliados; não demore em posições perigosamente isoladas; em terreno aberto, não tente barrar o inimigo; em situação de cerco, recorra a estratagemas; em posição desesperada, deve lutar; há estradas que não devem ser percorridas e cidades que não devem ser sitiadas". (Sun Tzu em A Arte da Guerra)

Manifestações e protestos

Nos últimos tempos, o país está assistindo a uma escalada de protestos e movimentos sociais. Ruas estão sendo ocupadas, passeatas, algumas com depredação de espaços, propriedades e equipamentos de serviços públicos. O que está por trás disso? Interesses eleitoreiros? Primeiros sinais de uma batalha que será muito sangrenta em 2014? Desobediência civil em processo de expansão? O fato é que a locução social se escancara. A sociedade está muito organizada. Os movimentos sociais vivem um clima de tensão. Nas ruas e até no campo. Indígenas ocupam fazendas e relutam em cumprir ordens da Justiça. O barulho social sinaliza algo em movimento. Urge indagar causas de toda a efervescência social.

Miyamoto

"Pense sempre em cruzar o riacho no ponto mais propício. Significa atacar o ponto vulnerável do adversário e colocar-se em posição vantajosa". (Miyamoto Musashi em Um Livro de Cinco Anéis)

Calote da Pluna

A empresa aérea uruguaia Pluna pode voltar a operar este ano sob o comando de ex-funcionários e com apoio do governo daquele país. Esta empresa encerrou as atividades no ano passado atolada em dívidas. Só no Brasil o calote da Pluna atingiu 6.500 consumidores - prejuízo de cerca de dois milhões de dólares -, segundo cálculos do Sindicato das Empresas de Turismo no Estado de São Paulo (Sindetur-SP).

ANAC, surda e muda

O pior nessa história da Pluna : a Agência Nacional de Aviação Civil, ANAC, que deveria defender os interesses dos consumidores brasileiros, nada fez, como sempre. Nem mandou reacomodar passageiros em outras companhias. Pela omissão, está sendo acionada na Justiça pelo Sindetur-SP. O presidente do Sindetur-SP, Eduardo Nascimento, diz que seu sindicato fará o que for possível para que a nova Pluna só seja autorizada a operar no Brasil depois de indenizar integralmente os passageiros prejudicados e as agências de turismo que tiveram de reparar os danos por eles sofridos.

Conselho à presidente Dilma

Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes, membros dos Poderes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado ao ministro Luís Roberto Barroso, recém-nomeado para compor o quadro do STF. Hoje, dedica sua atenção à presidente Dilma Rousseff:

1. Sinais amarelos (pesquisas, movimentos, protestos) começam a acender nos semáforos que orientam os comportamentos sociais. Sugerem que Vossa Excelência examine com lupa o que se passa no universo social.

2. A esfera política também se mostra insatisfeita com o tratamento que vem recebendo do Executivo Federal. A lupa também deve ser acionada para verificar as ondas de insatisfação.

3. Nas frentes governativas, particularmente na infraestrutura, grandes obras estão com cronogramas defasados. Esse somatório de coisas ameaça furar o depósito da boa imagem de Vossa Excelência.

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(Gaudêncio Torquato)

terça-feira, 11 de junho de 2013

MARÍLIA: VIDA E GRAÇA, PAZ NA PRAÇA! FELIZ ANIVERSÁRIO!



Hoje é dia de cantar Parabéns para Marília, primeira filha do nosso sangue.

Cachoeira de espontaneidade, imantada de expansividade, desprovida de malícias e madrinha da bateria da boa vontade, encanta a todos que com ela convivem.

Sem esforços artificiais, adentra com naturalidade na mina delicada da nossa alma e se faz hóspede definitiva do espaço mais íntimo do nosso coração.

TE AMAMOS!

(Júnior Bonfim)

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Oi, Marília!

Depois da preciosidade que o teu pai te dedicou fica difícil pra gente escrever alguma coisa, contudo manifesto carinhosamente o meu desejo de feliz aniversário e vida promissora, nesta simples estrofe:


Doce Marília, que Deus

Borde os teus dias risonhos

E ornamente os teus sonhos

Como tu sonhas Marília!...

Que exales em abundância

Os halos da juventude

Com muita graça e saúde

No coração da família!...


(Dideus Sales)

POLÍTICA & ECONOMIA NA REAL

É a economia, a economia, a economia... - 1

Não é nada que não possa ser revertida (a perda de 8% na avaliação da presidente Dilma). Porém, vai exigir da presidente e de sua equipe uma extraordinária e real disposição - para além do simples discurso de boas intenções - para mudar os rumos de condução da política econômica até aqui determinado por ela. Todos os sinais da pesquisa mostram que a avaliação presidencial foi abalada por um fato básico: a inflação persistentemente acima do razoável, já afetando o poder de consumo da população. Outros fatores, tais como os desarranjos com a base aliada e o Congresso, a lambança do bolsa-família e a questão indígena afetaram os índices apenas marginalmente. Estes dão mais a sensação de um governo perplexo e desarranjado, o que pode afetar a aceitação de Dilma mais à frente, não neste instante.

É a economia, a economia, a economia... - 2

O foco agora foi o bolso e o medo adicional do desemprego. A dúvida é saber o quanto o governo está disposto e tem condições políticas de "dar um cavalo de pau" mais forte na economia. O BC, aparentemente com a concordância de Dilma, já entrou mais firme com a arma de que dispõe para combater a alta de preços - a elevação dos juros, que promete prosseguir daqui para frente. Promete-se também dar um peteleco mais forte nos investimentos. A dúvida, no caso, é sobre a capacidade executiva do setor público, um dos gargalos até aqui da gestão Dilma, apesar de sua vendida imagem de "gerentona" durona e eficiente. Um ponto frágil ainda é o dos gastos públicos, mesmo com as juras do ministro da Fazenda Guido Mantega assegurando, a cada minuto, que a gestão fiscal está sob controle. Não é o que pensa o BC, que na ata da última reunião do Copom, ainda que na sua linguagem meio tortuosa, não mostrou entusiasmo com esse lado da política econômica.

É a economia, a economia, a economia... - 3

Também não é o que anotam os investidores externos, como mostrou a decisão da Standard & Poors de colocar viés negativo na nota de risco do Brasil. E não é principalmente o que apontam os fatos. O superávit primário, tido por dez entre dez economistas não oficiais como essencial para ajudar o BC a segurar a inflação, é cada vez mais uma incógnita. O que se conseguiu até abril está bem abaixo do prometido. No mesmo dia em que surgiam as suspeitas do BC e dos agentes externos quanto à disposição real do governo de aderir realmente a um plano de austeridade fiscal, o Palácio do Planalto editou uma M - a 618 - altamente suspeita. Entre outras coisas, ela permite ao Tesouro Nacional emitir R$ 30 bi em títulos da dívida pública para capitalizar o BNDES e a Valec. Não é propriamente um sinal alentador para a economia. Leia mais : (1 - clique aqui) - (2 - clique aqui)

Agências de risco e seus sinais

Como já ficou provado ao longo de duas décadas de riscos e crises sistêmicos, as agências de risco têm papel limitado e, sobretudo, chegam quase sempre atrasadas nas suas avaliações, além de cometerem erros grosseiros. Sua utilidade prática é duvidosa, mas sua influência para "guiar" certos segmentos de investidores é relevante. No caso da sinalização negativa sobre a economia brasileira a agência S&P parece estar no timing certo, pois a deterioração é visível e coloca riscos substantivos no médio prazo. Contudo, o mesmo não se pode dizer da "retirada" do alerta sobre a economia dos EUA. Lá, a evolução tem sido muito favorável, conforme pudemos comentar em várias notas nos últimos meses. Porém, haveremos de convir que a confusão política entre democratas e republicanos na questão do orçamento dos EUA, bem como os sinais dúbios que o Fed vem emitindo em relação à política de expansão monetária são sinais de alerta gigantescos para que se afaste, numa análise de crédito soberano, o risco sistêmico do país. A S&P agiu movida por percepções e não indicadores.

Rudimentar, meu caro Watson

Quando Palocci ainda era ministro da Fazenda do governo Lula, por sugestão do ex-ministro e ex-deputado Delfim Neto, ele apresentou ao presidente Lula a sugestão de um programa econômico para zerar o déficit público nominal em alguns anos, dois ou três. Ou seja, o governo passaria a gastar de fato apenas o que arrecada, incluindo pagamento dos juros da dívida. A proposta foi fulminada pela então já poderosa ministra chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, com uma simples expressão: classificou-a de rudimentar. Delfim Neto, que não é suspeito de nenhuma má vontade com governo e até atua como conselheiro presidencial, voltou a defender enfaticamente esta posição em entrevista este fim de semana ao jornal "O Estado de S. Paulo". Como reagirá Dilma agora ? Com um "rudimentar" ou um "elementar", meu caro Watson.

Inflação aleija, câmbio mata

O título desta nota relembra a frase do saudoso ministro Mário Henrique Simonsen. Como se sabe (e pregamos há alguns anos nesta coluna), sem a reversão da valorização do real é quase impossível a reintrodução da economia brasileira num cenário verdadeiramente competitivo nos próximos anos. Setores necessários à indústria, sobretudo aqueles que agregam conteúdo tecnológico, necessitam de uma relação mais favorável do ponto de vista cambial entre a produção local e a importação. O governo sabe disso e já incorporou esta variável na política econômica. Contudo, terá de correr riscos. Para um governo (este e o anterior) que correu pouco risco na política econômica a solução do risco cambial não será tarefa fácil do ponto de vista político - do econômico é muito difícil. Pode até ser adiada a solução para o próximo mandato. Pode, inclusive, "custar um mandato inteiro" como foi o caso do segundo mandato de FHC.

Novilíngua

Até entre auxiliares e conselheiros da presidente da República já começa a circular a expressão "moderação salarial", que, bem traduzida, quer dizer simplesmente o seguinte: é preciso diminuir a massa salarial para ajudar no combate à inflação e garantir maior índice de produtividade para as empresas brasileiras. Resta saber se é um processo que se dará naturalmente pelo desenrolar das atuais dificuldades econômicas ou se terá de ser apressado no curto prazo. Neste caso, quem colocará o guiso no pescoço do gato em plena efervescência eleitoral?

É a eleição, a eleição, a eleição...

Todas dificuldades que a presidente Dilma vem enfrentando com os aliados, com reflexos no Congresso Nacional, têm uma única causa : as eleições do ano que vem. E não propriamente a sucessão presidencial. Mas as eleições estaduais e para o legislativo, que são as que garantem de fato força dos partidos para disputarem a divisão do poder em Brasília. Partido fraco, sem bons governos estaduais, sem bancadas de bom tamanho, fica apenas com migalhas do poder. Além de se desmilinguir com o tempo. É este o jogo que está sendo jogado e que põe Dilma na berlinda política. A eleição presidencial neste caso vira um detalhe. Até porque não há uma absoluta correspondência entre o voto presidencial e os outros votos.

Armadilhas no Congresso

Não bastassem as dores de cabeça da economia, suficientes para tirar o sono presidencial por longas noites, Dilma terá pela frente nas próximas semanas uma pesada agenda na Câmara e no Senado. O cardápio dos deputados e senadores até o recesso de julho é indigesto para o Palácio do Planalto:

1. Novas regras para tramitação e votação de MPs, que limitam em parte o poder do governo de editar tal instrumento.

2. Novas regras para votação dos vetos presidenciais, também complicando a vida da presidente. Há casos delicados na pauta como os royalties do petróleo e a lei dos portos.

3. O fim do voto secreto em diversas votações no Congresso, inclusive para cassação de parlamentares. Isto dói no coração governista por causa dos "mensaleiros".

4. A obrigação de o governo liberar as emendas dos parlamentares no Orçamento.

São todas providências que fortalecem o Congresso. E algumas muito caras aos parlamentares como a liberação automática de suas emendas. Para barrá-las Dilma terá de jogar pesado.

Capitanias Hereditárias

Renan Calheiros prepara a candidatura de Renan Calheiros Filho ao governo de AL. Jader Barbalho faz o mesmo com Helder Barbalho no PA. Ambos pelo PMDB e com o desejo de apoio do PT e de Dilma. Não para já, mas Edison Lobão no MA, dono de um subclã do clã Sarney, prepara a candidatura do senador Lobão Filho ao governo estadual. A política brasileira está cada vez mais um direito hereditário.

Carne e couro

Como vai ficar o BNDES depois da compra de negócios de carne e couro da Marfrig pela JBS Friboi? Afinal, o banco estatal é sócio - e que sócio! - das duas empresas.

BNDES intacto

O BNDES e seu presidente estão em quase todos os lugares e participam de quase todos os negócios relevantes da República. O seu desempenho, contudo, não é objeto de maiores considerações, seja no âmbito da fiscalização política e social, seja no âmbito do próprio governo. Sem "papel desenvolvimentista" revelou-se no financiamento de negócios na área de petróleo, frigoríficos, indústria automobilística, etc. Pouco se vê em setores "modernos" da necessitada economia industrial. Quais seriam os vetores a influir nas decisões daquela casa desenvolvimentista? Que tipo de análise revela as estratégias de seu presidente ? Por que há tantos consultores rodeando as decisões tomadas por ali?

Outra questão

O nosso leitor já percebeu como andam acesos os "negócios internacionais" do país quando estão envolvidas empresas estatais, especialmente a Petrobras ? Nota-se este vigor especialmente quando estamos a tratar de Argentina, Venezuela, países africanos e outros latino-americanos. Quais seriam os interesses ao redor de toda essa movimentação que envolve a alta cúpula petista, incluindo o ex-presidente Lula, e próceres governistas? Teriam essas movimentações relação com a tal da "CPI da Petrobras"? Esta coluna pouco sabe a respeito. E os seus leitores?

Obama, um terceiro membro da família Bush?

As "descobertas e vazamentos" sobre as atividades espiãs do governo norte-americano revelam, além dos próprios fatos, um presidente bem conservador, arraigado a uma visão vencida do império que preside. Barack Obama é daqueles que pareciam ser uma novidade e não passa de uma peça no antiquário da política norte-americana. Fosse John McCain ou outro republicano de estirpe nobre, a política seria a mesma. Obama não é inovador. É apenas marqueteiro mesmo. Menos natural em seu papel que George W. Bush, o amigo de Lula.

(por Francisco Petros e José Marcio Mendonça)

segunda-feira, 10 de junho de 2013

HOJE É O DIA DE CAMÕES E DE PORTUGAL

"Quem diz que Amor é falso ou enganoso,
Ligeiro, ingrato, vão desconhecido,
Sem falta lhe terá bem merecido
Que lhe seja cruel ou rigoroso.

Amor é brando, é doce, e é piedoso.
Quem o contrário diz não seja crido;
Seja por cego e apaixonado tido,
E aos homens, e inda aos Deuses, odioso.

Se males faz Amor em mim se vêem;
Em mim mostrando todo o seu rigor,
Ao mundo quis mostrar quanto podia.

Mas todas suas iras são de Amor;
Todos os seus males são um bem,
Que eu por todo outro bem não trocaria."

Luís de Camões