terça-feira, 30 de dezembro de 2014

SALÁRIO MÍNIMO 2015

DECRETO Nº 8.381, DE 29 DE DEZEMBRO DE 2014


Regulamenta a Lei nº 12.382, de 25 de fevereiro de 2011, que dispõe sobre o valor do salário mínimo e a sua política de valorização de longo prazo.

A PRESIDENTA DA REPÚBLICA, no uso da atribuição que lhe confere o art. 84, caput, inciso IV, da Constituição, e tendo em vista o disposto no art. 3º da Lei nº 12.382, de 25 de fevereiro de 2011,

DECRETA:

Art. 1º A partir de 1º de janeiro de 2015, o salário mínimo será de R$ 788,00 (setecentos e oitenta e oito reais).
Parágrafo único. Em virtude do disposto no caput, o valor diário do salário mínimo corresponderá a R$ 26,27 (vinte e seis reais e vinte e sete centavos) e o valor horário, a R$ 3,58 (três reais e cinquenta e oito centavos).

Art. 2º Este Decreto entra em vigor a partir de 1º de janeiro de 2015.

Brasília, 29 de dezembro de 2014; 193º da Independência e 126º da República.

DILMA ROUSSEFF
Guido Mantega
Manoel Dias
Miriam Belchior
Garibaldi Alves Filho

domingo, 21 de dezembro de 2014

O CASAMENTO


Paulo Roberto Cândido de Oliveira, agrimensor das terras fonéticas, arquiteto dos desenhos fermentados, garimpeiro das esmeraldas das palavras, engenheiro de elétricos edifícios invisíveis e esmerado especialista na medição das altas e baixas tensões do coração, é um fiador do tecido linguístico que desde os doze anos de idade se aventura, com calma, a acionar o sol do espírito e temperar o alimento da alma.

É um poeta, ou profeta, advinhador das eras, desses que desenha na lousa do firmamento a estrela de vento, que atomiza os prótons e nêutrons sob a caldeira de um único elemento. Filho e imitador da divindade, sopra com o verbo e ergue castelos de bondade.

Colocou no mesmo frasco a essência e a existência, e saiu a propagar a complementariedade do Uno e do Verso, que formam o que chamamos de Universo (Como bem lembrou Huberto Rohden, “o Universo nunca é só Uno nem só Verso – é sempre Uni-verso”). Cheio de mistérios, Paulo já subiu aos espaços etéreos para nos convidar a fazer uma “Viagem ao Céu Particular”.

Paulo evita pedestal, mas é aquele gênero especial que se pode chamar de intelectual. E há uma característica que parece inerente ao bom intelectual: é alguém que na comida insípida coloca um pouco de sal. O verdadeiro intelectual tem uma inata virtude: a comunhão com a inquietude!

Intelectual orgânico, desconhece o pânico. É discreto e irreverente, símbolo do militante includente. É. Malgrado adore velejar no seu oceano particular, é um surfista que desliza com emoção por sobre as ondas da inclusão. É membro proeminente da Academia Metropolitana de Letras de Fortaleza – AMLEF – onde tem assento na Cadeira 29, cujo patrono é o poeta, dramaturgo e jornalista Antonio Sales, um dos idealizadores da épica Padaria Espiritual.

Paulo Roberto – que figura como fundador e principal animador da Academia de Letras e Artes da Sociedade de Assistência aos Cegos – ALASAC, é um insuflador do gérmen da criatividade, sementeiro da boa vontade, amante da novidade.

É um frasista excepcional. Erige edificações fonéticas que só os pedreiros livres da alta prestidigitação das palavras são capazes. Neste livro, em que compartilha seu modo especial de reflexionar sobre essa instituição prenhe de desafios e portentos batizada de casamento, Cândido nos sacode com suas argumentações singulares e nos bafeja com suas tiradas geniais.

Só a título exemplificativo: ao final do terceiro capítulo, ele destila esta: “continuemos casados com a Literatura e sigamos em frente. Isto não é uma imposição do autor e sim, um pedido em prol do matrimônio da intelectualidade com a sensatez”. No desfecho do livro, parafraseando Vinícius, faz votos que “o casamento seja Eterno enquanto Puro”.

Tendo como protagonista um casal fictício, Ana e Roberto, ele principia afirmando que ‘Casamento é Coisa Séria’ para seguir nos chamando a atenção para ‘A Diversidade Humana e Suas Semelhanças’. Em seguida, levanta três indagações inquietantes na relação matrimonial: ‘Quando Impor?’; ‘Quando Supor?’ e ‘Quando Propor?’

No sexto capítulo fala sobre ‘As Sinalizações conscientes e inconscientes impostas, supostas e propostas por um "bate-boca matrimonial"’ para, ao final, nos brindar com “Reflexões Complementares e o reencontro de Ana e Roberto”.

Sugiro que este amuleto literário nos desperte para descer às profundidades relacionais, à gruta que esconde, à fonte que libera esse veio de luz dito amor ou entrelaçamento de almas. Melhor: como bem pontua: “Casamento, ‘casar mentes’”, proposição do escritor Robiyn Delphos, que o autor teve o prazer de conhecer pessoalmente em 2012, na cidade italiana de Florença.

Neruda preferia nominar quem passeava pela estação perene do amor de amante. Por isso cantou:

Dois amantes ditosos fazem um só pão,
uma só gota de lua na erva,
deixam andando duas sombras que se reúnem,
deixam um só sol vazio numa cama...

De todas as verdades escolheram o dia....
não se ataram com fios senão com um aroma,
e não despedaçaram a paz nem as palavras...
A ventura é uma torre transparente...
O ar, o vinho vão com os dois amantes,
a noite lhes oferta suas ditosas pétalas,
têm direito a todos os cravos...

Dois amantes felizes não têm fim nem morte,
nascem e morrem muitas vezes enquanto vivem...
têm da natureza a eternidade...

Paremos diante deste livro. Ruminemos suas contraditórias provocações, a um só tempo intrigantemente silenciosas e delicadamente rumorosas. Mas, sobretudo, o admiremos. Ou apenas o fitemos com a retina demorada da estupefação. Esta é uma obra para se ler com os olhos da emoção.

(Júnior Bonfim, na apresentação do livro Casamento, de Paulo Roberto Cândido)

sexta-feira, 31 de outubro de 2014

A CENTENÁRIA MARIA JOSÉ PINTO


“Ama-me o quanto amo-te, que será bastante” – eis o teor de um bilhete, cunhado em primeiro de junho de mil novecentos e trinta e quatro, por Edmundo Pinto da Silva para a sua amada Maria José Pinto.
Aquele singelo e minúsculo manuscrito, que ainda hoje integra o relicário familiar, era o ferro, o amuleto, a esfinge, o brasão, a marca, o distintivo, o selo de um idílio que se amolda aos poemas sagrados, como aquele estampado no Cântico dos Cânticos: “Grava-me como selo em teu coração, como selo no teu braço, porque forte como a morte é o amor, implacável como o abismo é a paixão; os seus ardores são chamas de fogo, são labaredas divinas. Nem as águas caudalosas conseguirão apagar o fogo do amor, nem as torrentes o podem submergir. Se alguém desse toda a riqueza da sua casa para comprar o amor, seria ainda tratado com desprezo.”

As labaredas divinas da paixão e o fogo indelével do amor levaram Edmundo Pinto da Silva & Maria José Vieira Pinto, crateuenses de nascimento e entre si casados por quase meio século, a cumprir outro mandamento superior: o de crescer e multiplicar! Em 1936, Antonio Vieira Pinto; três anos depois, Adilson Vieira Pinto; no ano de 1940, Maria Alice Vieira Pinto; em 1944, Maria do Socorro Pinto Melo; outro varão em 1947: Edmundo Pinto Filho; uma sequência de quatro mulheres: Maria de Fátima Pinto Pimentel, Maria das Dores Vieira Pinto, Maria das Graças Vieira Pinto e Raimunda Nonata Pinto da Silva, respectivamente em 1948, 1950, 1952 e 1953; Francisco Vieira Pinto, o Pachico, em 1955; Augusto Pinto Neto, o Netinho, em 1956, e o filho do coração, Leopécio Pinto da Silva, adotado aos 2 anos de idade, nascido em 1937.

Em que pese o senhor Edmundo – varão piedoso, justo e obreiro celeste na terra – tenha migrado para a outra dimensão há trinta anos (precisamente em 06 de outubro de 1984), a senhora Mazé Pinto ainda vive sob o afago afetivo da sua invisível companhia.

O índice existencial dessa simples, louvável, generosa e encantadora mulher centenária precisa ser revisitado e exaltado. Aos oito anos, na aurora da vida, diferentemente do que retratou Casimiro de Abreu, não lhe foi dado curtir “noites de melodia, naquela doce alegria, naquele ingênuo folgar! O céu bordado d'estrelas, a terra de aromas cheia, as ondas beijando a areia e a lua beijando o mar!” A menina Mazé, de tenra idade, ‘se não tinha outras delícias, recebia da mãe carícias e os beijos da irmã naquela risonha manhã’, em que se dirigia à missa dominical para rogar a força e a luz superiores.

Essa força e essa luz, que vinham de Jesus, impulsionavam a pequena Mazé a marchar com fé e muita tranqüilidade por sobre os trilhos da adversidade. Ao invés do banco escolar, batalhava pelo pão para o lar; no lugar das rumorosas brincadeiras de criança ia confeccionar uma silenciosa bandeira chamada esperança! Sem medo de açoite, no escuro da noite, substituía a conversa de terreiro pelo transporte de um fogareiro, com o qual ajudava a mãe na venda de quitutes na estação do trem de passageiros.

Outro dia, conversando comigo, ela me abriu rapidamente o álbum da recordação: a imagem do Padre Juvêncio, que a casou e batizou quase todos os seus filhos; do apoio ao Hospital do Batalhão, que ela tanto serviu oferecendo comida e louça, inclusive hospedando pacientes em seu lar; da Sapataria União, casa comercial que iniciou pequena e se tornou referência regional; dos quitutes que vendia, em especial a “lingüiça da dona Mazé”, e da inumerável legião de amigos e espontâneos admiradores que possui. Confessou estar “embelezada” com todas as manifestações de carinho e ternura. Em verdade, beleza é o nome do manto que envolve a alma leve de dona Mazé! Em nome dos filhos, Maria de Fátima Pinto Pimentel confia que “a outra Maria, lá do Céu, há de estender o Manto Azul protetor por sobre sua cabeça e lhe abençoar pelo muito que fez por todos nós”.

A dona Mazé Pinto lembra o milho, esse cereal milenar cultivado em várias partes do mundo, inclusive na nossa região. O seu nome, cuja pia batismal é indígena e caribenha, significava “sustento da vida”. Lindo, humilde e acessível, o milho serve de múltiplas formas à humanidade. É mítico e místico. Segundo Rubem Alves, ele lembra a morte e a ressurreição. Submetido ao fogo, o milho, ao invés de morrer, ressuscita: vira uma linda pipoca. Enquanto o milho que não se deixa estalar fica duro, aquele que estala vira pipoca, que lembra uma linda flor aberta. Assim são as pessoas que passam pelo fogo da vida e chegam à maturidade semelhante a uma flor branca. Assim é Maria José Pinto, que neste dia 31 de outubro de 2014 celebrará cem anos de vida: uma alva camélia, um crisântemo branco, um jasmim de candura que merece todo o afeto e louvor dos seus conterrâneos. Honremo-la!

(Júnior Bonfim, na Revista Gente de Ação e no Jornal Gazeta do Centro Oeste)

quinta-feira, 30 de outubro de 2014

OBSERVATÓRIO

O economista Luiz Gonzaga Belluzo, conselheiro da Presidente Dilma para assuntos econômicos, disse no domingo passado, antes da abertura das urnas, que não sabia quem deveria comemorar o resultado: vitorioso ou derrotado. Tão volumosos são os problemas e desafios que ninguém pode tripudiar sobre o contendor. No mesmo instante, o jornalista Josias de Souza fez um balanço que transcrevo a seguir:

A MONTANHA

“PT e PSDB frequentaram a sucessão presidencial como personagens de uma anedota de Millôr Fernandes. A piada trata da tecnologia da engenharia na China. Colocam 10 mil chineses cavando de um lado da montanha, 10 mil cavando do outro lado. Se os dois grupos se encontram no meio do caminho, fazem um túnel. Se não se encontram, fazem dois túneis. Petistas e tucanos cavam há anos. Mas a montanha que os separa parece intransponível. Encontram-se de raro em raro. Mas, ocupados em trocar socos e ofensas mútuas, não conseguem enxergar luz no fim do túnel. Desviam-se uns dos outros. E continuam cavando. Em 2014, exageraram nas agressões. “Acho que teve momentos lamentáveis”, disse Dilma Rousseff neste domingo. “Ficará marcada como a mais sórdida campanha já feita”, declarou Aécio Neves. Ou eles param de cavar ou a montanha vai virar um gigantesco labirinto”.

ENCONTRO

“Na origem do relacionamento, imaginou-se que haveria um fim de túnel. A coisa começou em 1978, ano em que o sindicalista Lula apoiou o intelectual FHC na sua primeira campanha ao Senado. Juntos, distribuíam panfletos nas portas de fábrica do ABC paulista. Nessa época, FHC e Lula dividiam conjecturas sobre a constituição de um partido socialista. Mudaram de ideia. E cada um foi cavar a própria história. Um preferiu alinhar-se à esquerda do velho MDB. O outro foi fundar o PT. Encontraram-se no miolo da montanha nos palanques dos comícios pela volta das eleições diretas. Separaram-se no colégio eleitoral que elegeu Tancredo Neves, o avô de Aécio. Juntaram-se num palanque de segundo turno –Lula X Collor. Achegaram-se novamente nas articulações que levaram ao impeachment de Collor”.

DESENCONTRO

“Desde 1994, desencontram-se a cada quatro anos. Estapeiam-se em campanhas presidenciais. FHC prevaleceu sobre Lula em 1994 e 1998. A transição de 2002 para 2003, por civilizada, teve a aparência de um novo reencontro. Engano. Após derrotar Jose Serra, Lula pespegou na gestão de FHC o selo de “herança maldita”. Desentenderam-se de novo em 2006 e 2010. Em 2014, a oratória atingiu o grau máximo de radioatividade”.

BOM SENSO

“Chegou a hora de tornar o cenário menos tóxico. Se restar alguma dose de bom senso, Aécio e Dilma retiram a raiva dos discursos já noite deste domingo, depois do anúncio do resultado das urnas. Dá-se de barato que a montanha venceu. Mas não precisa entregar 100% da governabilidade do labirinto a personagens como Renan Yang, Sarney Ling e toda a dinastia Ming que perambula pelo Congresso à procura de aliança$”.

CEARÁ

Camilo Santana, o governador de todos os cearenses a partir de primeiro de janeiro de 2014, é agora o alvo das conjecturas. Por seu estilo discreto, pouca gente se arrisca a fazer prospecções sobre como será a sua gestão. Porém, há alguns indicativos. Quem pensa que Camilo é um petista radical e virulento, engana-se. Quem imagina que será um mero despachante da família Ferreira Gomes, também se equivoca. Camilo Santana conseguiu a façanha de fazer, pessoalmente, uma campanha respeitosa, sem que ninguém tenha identificado sua digital em baixarias, malgrado elas terem ocorrido. Figura correta e bem intencionada, o filho de Eudoro Santana certamente vai se esforçar para realizar um mandato biográfico, que homenageie a história combativa do seu genitor.

ANIVERSARIANTES

Como as árvores, as mulheres centenárias merecem a solene reverência, a respeitosa deferência. Nossos cumprimentos para duas delas. Uma é Rosa Ferreira de Moraes, sacerdotisa da educação, mestra da pintura, irmã da música, jardineira da fé, semeadora de bons costumes, legenda referencial! Completou 101 anos no domingo passado. A outra é Maria José Pinto, que na próxima sexta-feira, dia 31 de outubro de 2014 celebrará cem anos de vida: uma alva camélia, um crisântemo branco, um jasmim de candura que merece todo o afeto e louvor dos seus conterrâneos. Abençoadas sejam per sécula seculórum, pelo século dos séculos! Outro que aniversaria no próximo sábado, dia primeiro de novembro, é Antonio dos Santos, que por vários mandatos representou Crateús na Assembléia Legislativa e na Câmara Federal (vide Crônica ao lado).

PARA REFLETIR

“Volta teu rosto sempre na direção do sol, e então, as sombras ficarão para trás”. (Sabedoria oriental)

(Júnior Bonfim, no Jornal gazeta do Centro Oeste, Crateús, Ceará)

quarta-feira, 22 de outubro de 2014

OS 9 PASSOS PARA REFORMAR O PAÍS, SEGUNDO O MINISTRO LUIS ROBERTO BARROSO


Um novo Brasil em nove pontos. A receita do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luís Roberto Barroso foi apresentada aos mais de 16 mil advogados que participam da 22ª Conferência Nacional no Rio de Janeiro. A abordagem inclui o reconhecimento de problemas e a busca por soluções que sirvam para “empurrar a história”, como ele, numa profissão de fé, costuma repetir.

Um novo país que, conforme conclamou, passe por uma reforma política no primeiro semestre de 2015, seja Dilma Rousseff presidenta ou Aécio Neves presidente. E se preciso for, não conseguindo o Congresso Nacional chegar a um acordo sobre o novo modelo político, Barroso defendeu a convocação de um plebiscito. Uma ideia já aventada por Dilma após as manifestações de rua em junho do ano passado. O tema foi martelado por todos que discursaram na abertura da 22ª Conferência Nacional dos Advogados.

“Quem quer que ganhe as próximas eleições tem o dever patriótico de dedicar o primeiro semestre do próximo ano a promover uma reforma política”, afirmou sob os aplausos dos advogados. “Se não houver consenso no Congresso (para sua aprovação), aí sim se parte para um plebiscito.”

Uma visão crítica, mas otimista. Uma lista de problemas, defeitos e obstáculos. Mas um rol igualmente extenso de propostas, concorde-se ou não com elas. Os nove pontos para a reforma do país, na avaliação do ministro do Supremo:

1 – Superação do patrimonialismo, do oficialismo e da desigualdade.

Um patrimonialismo tão arraigado, disse o ministro, que foi preciso a Constituição expressamente vedar que agentes públicos usem dinheiro do Tesouro Nacional para promoção pessoal. O Supremo precisou, ainda, dispor em súmula vinculante que o nepotismo é constitucionalmente vedado.

O oficialismo é a dependência do Estado para tudo, desde a benção a determinada proposta até o financiamento com dinheiro público. E, por fim, o combate ao que o ministro cunhou como inigualitarismo: garantir igualdade de oportunidades, coibir o tratamento mais benéfico para quem tem mais recursos e assegurar que todo cidadão tem direito a ser diferente – religiosa ou sexualmente.

2 – O preconceito contra a livre iniciativa e o empreendedorismo.

Um preconceito, afirmou o ministro, que transforma o capitalismo brasileiro em algo envergonhado, um sentimento que ignora ser a livre iniciativa a principal fonte geradora de riqueza no país. De acordo com Barroso, talvez porque o brasileiro ainda associe o capitalismo brasileiro a favorecimentos por parte do governo, licitações duvidosas, golpes no mercado financeiro, chegando aos grandes latifúndios.

3 – Necessidade urgente de Reforma Política.

O diagnóstico é simples e paradoxal: a necessidade de uma reforma política reúne forças distintas, mas na mesma direção. Mas essa concentração de esforços parece fazer aumentar as dificuldades para que as mudanças sejam feitas.

A conclamação para que o Congresso e o novo presidente concentrem esforços na aprovação de uma reforma política no primeiro semestre de 2015 pode não ser factível, dadas as necessidades de um governo em início de mandado e da chegada ao Congresso de novos parlamentares. Mas reforça o apelo feito na mesma Conferência pelo ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, e pelo presidente do STF, Ricardo Lewandowski.

Se a reforma não for aprovada pelo Congresso, que se convoque um plebiscito para que o eleitor responda.

Pergunta I – Sistema eleitoral.

Você é a favor: (1) do sistema proporcional puro (modelo atual); (2) do sistema distrital puro; ou (3) do sistema distrital e proporcional combinados (distrital misto).

Pergunta II – Natureza da lista partidária. Você é a favor: (1) da lista partidária aberta (modelo atual); (2) da lista partidária preordenada; ou (3) do voto proporcional em dois turnos, sendo o primeiro voto no partido e o segundo no candidato.

Pergunta III – Financiamento eleitoral. Você é a favor: (1) do financiamento privado, seja por pessoa física ou jurídica (modelo atual); (2) do financiamento exclusivamente público; ou (3) do financiamento público e privado, sendo este último limitado a pessoas físicas.

4 – O necessário florescimento da sociedade civil: inovação social e filantropia

Uma alternativa para quem pede menos Estado no dia a dia do País. “Nós já temos ricos o suficiente no país para incluir na agenda política a filantropia”, disse Barroso em seu discurso. “Ao lado do governo democrático e da livre-iniciativa, precisamos de mais sociedade civil, de pessoas e de instituições que funcionem como agentes do bem, da transformação social.”

5 – Criação de instituições de ensino superior de ponta.

“O país precisa criar instituições acadêmicas verdadeiramente de ponta. Nessa matéria, estamos atrás de outros países em estágio assemelhado de desenvolvimento, como Rússia, Índia e China. Estamos defasados mesmo em termos de América Latina”, afirma o ministro.

Os alunos seriam recrutados por meio de bolsas de estudo. Professores estrangeiros se juntariam aos brasileiros nessas escolas. Instituições que não sejam financiadas com recursos públicas. Também haveria universidades e faculdades com financiamento de empresas privadas.

6 – Algumas mudanças de patamar ético.

Em tempos de campanha eleitoral, com ataques entre os dois candidatos à Presidência da República, o apelo vem a calhar. “Quem pensa diferentemente de mim não é “meu inimigo, mas meu parceiro na construção de uma sociedade aberta e plural”, afirmou o ministro. “O foco do debate deve ser o argumento e não a pessoa que o enuncia. A divergência, como regra geral, pode e deve ficar no conteúdo do argumento.”

7 – Redução drástica do foro por prerrogativa de função.

No STF, Barroso integra um grupo – já majoritário – que defende a extinção do foro privilegiado. Nas suas palavras, o modelo atual é construído para garantir a impunidade. Para que aqueles no topo econômico da sociedade não sejam condenados.

“O foro por prerrogativa de função é uma reminiscência aristocrática que temos no Brasil. O sistema é muito ruim, é feito para não funcionar, para fomentar a impunidade, para levar à prescrição”, afirmou. “O sistema é feito para isso mesmo: para que ao fim e ao cabo o sujeito não seja punido se estiver no extrato superior da sociedade”, acrescentou.

A proposta do ministro é polêmica: criação de uma vara federal em Brasília para julgar parlamentares, ministros de Estado e de tribunais superiores. Um juiz, que alguns já classificam como super-juiz, que teria mandato de quatro anos e que, ao final do período, seria promovido ao Tribunal Regional Federal. Lá encerraria sua carreira – não poderia, portanto, ser escolhido ministro do Superior Tribunal de Justiça ou do STF.

8 – Equacionamento do excesso de litigiosidade e da demora processual

O último levantamento do Conselho Nacional de Justiça mostrou que há mais de 100 milhões de processos em andamento, algo como um em cada dois brasileiros com alguma ação judicial.

Se por um lado os números mostram que as pessoas passaram a ter mais consciência de seus direitos e demonstram confiança na solução que virá do Judiciário, eles também revelam a crise da Justiça.

Barroso sugeriu algo nem sempre palatável e bem recebido por advogados. Inicialmente, encerrar o processo após o julgamento do caso em duas instâncias. “Acesso à Justiça se dá no duplo grau de jurisdição”, afirmou.

Em seguida, reduzir o uso abusivo ou não dos recursos. Para isso, disse o ministro, seria necessário reformar o sistema brasileiro.

Umas das ideias seria determinar que um juiz de primeiro grau recebesse a inicial do processo e fixasse a data em que iria proferir a sentença. Nesse período, os advogados das partes teriam tempo para produzir provas e prepararem seus argumentos.

9 – Redefinição do papel do Supremo Tribunal Federal.

No STF, Barroso destaca-se pelas propostas de alteração no regimento e nos rumos do tribunal, trabalhando por restringir o plenário a temas constitucionais e deixando os demais processos para as turmas de julgamento. Por propostas como estas, é combatido internamente e encontra muita resistência de alguns colegas, como o ministro Marco Aurélio Mello.

Mas desde que entrou no tribunal, tem demonstrado estranhamento e descontentamento com a quantidade de processos que se vê obrigado a julgar. “Meu assessor veio me dizer com orgulho que havíamos julgado 4.578 processos. Pois eu não tenho orgulho, tenho constrangimento. Isso é o oposto da Jurisdição constitucional”, afirmou.

Os dados são corroborados por uma observação do professor Joaquim Falcão, da Fundação Getulio Vargas. Hoje, um juiz de primeira instância recebe menos processos que um ministro do Supremo. “A pirâmide está invertida”, afirmou Falcão.

E quando o número de processos julgados por cada ministro é dividido pelo tempo útil, a conclusão é uma só: “Estamos repetindo decisões porque não dá tempo”, admitiu Barroso.

Um diagnóstico crítico, propositivo e que, ao final, terminou com uma demonstração de otimismo.

“O Brasil foi um dos maiores sucessos do século XX. Agora, ao longo do século XXI, vamos enfrentar o abismo social brasileiro, com educação, empreendedorismo e serviços públicos de qualidade. E, então, com atraso, mas não tarde demais, chegaremos finalmente ao futuro, oferecendo um exemplo de civilização para o mundo, com justiça social, liberdades públicas, diversidade racial, pluralismo cultural e alegria de viver.”

Por Felipe Recondo

quarta-feira, 15 de outubro de 2014

CONJUNTURA NACIONAL

Tudo verdim

Abro a coluna com deliciosa historinha do Seridó/RN.

Os cientistas envolvidos com o estudo da agropecuária garantem que o gado bovino somente visualiza uma cor, a escura. Mas o Honorim Medeiros (que Deus o guarde), da Fazenda Pedra do Sino, em Caicó, não foi na conversa e, com a ajuda do seu próprio rebanho, jogou por terra a tese dos doutores em zootecnia. Foi na seca dos anos 50. Exauridos todos os recursos de pastagem, o gado rejeitava os restos do capim seco, duro, esturricado, preferindo apenas a torta de algodão, verdinha, fresquinha, ótimo sabor. Honorim vivia preocupadíssimo, aperreado, sem mais saber o que fazer:

- Tô lascado, desse jeito vou alisar!

Matutou, matutou, e, criativo, bolou a ideia genial. Foi até a Paribana, casa comercial do amigo Antonio da Viola e fez uma inflacionada compra, deixando o comerciante boquiaberto:

- Tem óculos de carnaval? Pois então me dá todo o estoque, todos da cor verde (antigamente, eram comuns os óculos de plástico, com alças de elásticos, usados exclusivamente no período momesco).

O fazendeiro levou-os para a Pedra do Sino e fantasiou o rebanho. Na volta à cidade, o amigo quer saber dos resultados:

- Como é Honorim, deu certo?

O fazendeiro abriu um sorriso de orelha a orelha e deu a boa nova:

- Mas, home, é um milagre. O gado tá comendo até as cercas e os mourões das porteiras!

(Quem conta em Segura Essa é Orlando Rodrigues)

Quem ganha?

Em todos os lugares, a recorrente pergunta: e agora, quem ganha a campanha? Mais uma vez, a bola de cristal está turva. E desta feita, não há esperança que as águas se acalmem e deixem a figura que está na frente. Tudo está mais embolado. Mas se as perguntas adiante forem respondidas, teremos chance de acertar as previsões: Aécio conseguirá retumbante vitória em seu Estado, MG, onde um governador do PT, Fernando Pimentel, eleito no primeiro turno, se transforma em cabo eleitoral de primeira linha de Dilma? Dilma conseguirá expandir sua vitoria no Nordeste, onde teve 12,5 milhões de votos de maioria? Aécio conseguirá expandir seus votos no Nordeste, a partir de PE, e sair dos 15% de votos que teve na região? Ambos conseguirão aumentar seu cacife em SP e no RJ, grandes colégios eleitorais?

Hipóteses

Todas as hipóteses acima são razoáveis para um e para outro, mas outra questão de colocar: a maioria de votos de Aécio no Sudeste conseguirá ultrapassar o latifúndio de votos de Dilma no Nordeste? Se PE vai dar uma boa votação para Aécio, em função do apoio da família Campos a sua candidatura, a BA, que é o quarto maior colégio eleitoral do país, elegeu um governador do PT no primeiro turno. Jaques Wagner está, portanto, com a bola no pênalti para fazer mais um gol. A PB está dividida entre o tucano Cassio Cunha Lima e o socialista do PSB, Ricardo Coutinho, que apóia Dilma. O RN deu mais de 60% dos votos a Dilma. O CE, idem. PI e MA são redutos dilmistas. Já no Sul, Aécio tende a levar a melhor, inclusive no RS, onde terá o apoio do candidato Ivo Sartori, do PMDB.

SP, a guerra maior

Em SP, será travada uma guerra como nunca se viu. Os tucanos contam no Estado a maior rejeição ao PT - mais de 40% - entre todos os entes federativos. Mas o PT tem Lula. Será que o mosqueteiro-mor do partido está cansado? Ou não tem mais munição? Será que os artilheiros de pouco fogo - Fernando Haddad e Alexandre Padilha - terão pólvora para gastar? E Aloizio Mercadante, que já foi candidato ao governo? E Marta Suplicy, a maior herdeira dos votos periféricos do PT em SP? Onde estas pessoas se encontram?

PMDB unido

Já o PMDB, sob o comando de Michel Temer, deu inequívoca demonstração de força e unidade, na segunda-feira passada, quando os prefeitos do partido, vice-prefeitos, vereadores e lideranças regionais compareceram a um encontro-almoço numa churrascaria do bairro do Ipiranga. O único ausente da grande festa foi o candidato do PMDB ao governo, Paulo Skaf, que não recebeu menção ou lembrança na festa. As bases saíram motivadas para a batalha final.

Marina e Aécio

Marina, ufa, acabou dando seu apoio a Aécio Neves. Mas parcela de seus eleitores já havia decidido apoiar o candidato. Outra parcela, principalmente os eleitores de Marina no Nordeste, migram em direção à candidata Dilma. Afinal, os eleitores de Marina e Dilma são muito próximos. No Sudeste, a distância é maior, eis que parcela de ambos habita os andares do meio da pirâmide. Marina teve uma grande votação no Rio. Irá toda para o tucano?

Debates

Ontem, na TV Bandeirantes, foram reiniciados os debates. Apenas corroborarão as decisões já tomadas por grupos e camadas de eleitores. Serão poucos aqueles que deixarão um candidato por outro em função de debate eleitoral. O que pode ocorrer é a migração de eleitores das bases que tendem a aderir a candidatos com melhores chances de vitória. Nesse sentido, esses eleitores querem se sentir vitoriosos. E sair das eleições de cabeça alegre. Teremos debates, ainda no SBT, TV Record e TV Globo.

Os juízes - I

Os juízes, ensinava Francis Bacon, devem ser mais instruídos que sutis, mais reverendos do que aclamados, mais circunspectos do que audaciosos... e completava o velho filósofo: "o juiz deve preparar o caminho para uma justa sentença, como Deus costuma abrir o seu caminho elevando os vales e abaixando as montanhas, deve guardar-se de conclusões duras e inferências desmedidas, porque não há pior tortura do que a tortura das leis".

Os juízes - II

Esta semana, este consultor ficou pasmo. Ao tomar conhecimento da decisão de uma juíza (até imaginava que as mulheres juízas tivessem mais humanidade que os homens juízes) no caso de um pleito de senhora de 97 anos, por meio de uma liminar apresentada por um advogado. Tendo uma síncope, foi internada em regime de urgência na UTI de um hospital. Precisava urgentemente ser atendida. A juíza negou provimento à liminar. Por erro procedimental. Faltava um documento, alegou. Que foi imediatamente providenciado. Mesmo assim, decidiu encerrar o recurso. Deixando no ar o alerta: não quero entrar no mérito. Em outras palavras, queria dizer: pouco me importa se a senhora vai morrer, agora, daqui a cinco minutos ou amanhã. Meu olho é para o procedimento. Meu Deus do céu: onde está o bom senso? O que é ser justo? O que é fazer Justiça? Como garantir acesso do povo à Justiça quando, no meio do caminho, há um naipe de juízes com essa índole?

Integridade

Acima de todas as coisas, a integridade é a virtude que na função caracteriza os juízes, ensina Bacon. Será que podemos atribuir a Sua Excelência, a tal juíza insensível, a virtude da integridade?

Mais uma lição

- Nas causas de vida ou morte, devem os juízes não esquecer que com a Justiça está a misericórdia, para castigarem com olhos severos o exemplo, mas com olhos misericordiosos a pessoa. (Francis Bacon, em Ensaios, Capítulo sobre A Judicatura).

(P.S. Seria muito útil que a Excelentíssima juíza pudesse ler essa modesta lição do grande filósofo inglês).

Grandes juízes

Este consultor não tem dificuldades em identificar grandes juízes. Magistrados que encarnam valores e virtudes do humanismo. Querem um exemplo? O presidente da mais alta Corte do Judiciário paulista, o desembargador, José Renato Nalini, que luta por uma Justiça mais próxima ao cidadão.

Ecos da eleição - I

A disputa produziu uma modelagem formada por três tipos de votos: o do bolso, com efeito na barriga; o do coração e o da cabeça. O primeiro saiu da imensa população - cerca de 60 milhões de pessoas - que recebe o adjutório do governo, por meio dos programas Bolsa Família, Minha Casa Minha Vida, Mais Médicos e outros. A equação é: bolso cheio enche a geladeira, que enche a barriga, gerando um voto de reconhecimento e de agradecimento. É o que explica os cerca de 60% da votação que a presidente Dilma obteve no Nordeste. O voto do coração foi dado, sobretudo, à ex-senadora Marina Silva, sob o empuxo da onda emotiva que se formou a partir do acidente que matou o ex-governador de PE, Eduardo Campos. Já o terceiro tipo, o voto racional, mesmo em expansão no país, sai da cabeça dos habitantes do meio da pirâmide, eleitores de maior renda, principalmente das regiões Sul e Sudeste, onde estão os maiores colégios eleitorais do senador Aécio.

Ecos da eleição - II

A tal "nova política" assentará praça na próxima legislatura? Infelizmente, não. Os resultados mostram, de um lado, grande renovação de quadros (46% de novos deputados na Câmara), e de outro, uma representação que espelha a continuidade de grupos familiares, ao lado de fortes bancadas de setores conservadores. Parece um paradoxo. O clamor das ruas por mudança não furou o bloqueio de bastiões tradicionais. A bancada de empresários subirá de 220 para 280 deputados; a dos ruralistas vai crescer de 130 para 160, aumento de 23%; e a dos sindicalistas diminui de 83 para 46, ou seja, 44%; já a bancada da "bala", conhecida por agregar perfis de ex-militares e de posições radicais, ganhou votação expressiva ao lado da ala de 20 pastores e bispos, irmanados no evangelismo. Por último, ressalte-se a maciça votação de atores midiáticos, como Celso Russomano (que amealhou mais de 1,5 milhão de votos) e o palhaço Tiririca (mais de um milhão), que puxam seis candidatos de suas legendas, mais uma contrafação da velha política.

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(Gaudêncio Torquato)

domingo, 12 de outubro de 2014

MARINA APOIA AÉCIO (VEJA A NOTA)

Ontem, em Recife, o candidato Aécio Neves apresentou o documento “Juntos pela Democracia, pela Inclusão Social e pelo Desenvolvimento Sustentável”.

Quero, de início, deixar claro que entendo esse documento como uma carta compromisso com os brasileiros, com a nação.

Rejeito qualquer interpretação de que seja dirigida a mim, em busca de apoio.

Seria um amesquinhamento dos propósitos manifestados por Aécio imaginar que eles se dirigem a uma pessoa e não aos cidadãos e cidadãs brasileiros.

E seria um equívoco absoluto e uma ofensa imaginar que me tomo por detentora de poderes que são do povo ou que poderia vir a ser individualmente destinatária de promessas ou compromissos.

Os compromissos explicitados e assinados por Aécio tem como única destinatária a nação e a ela deve ser dada satisfação sobre seu cumprimento.

E é apenas nessa condição que os avaliei para orientar minha posição neste segundo turno das eleições presidenciais.

Estamos vivendo nestas eleições uma experiência intensa dos desafios da política.

Para mim eles começaram há um ano, quando fiz com Eduardo Campos a aliança que nos trouxe até aqui.

Pela primeira vez, a coligação de partidos se dava exclusivamente por meio de um programa, colocando as soluções para o país acima dos interesses específicos de cada um.

Em curto espaço de tempo, e sofrendo os ataques destrutivos de uma política patrimonialista, atrasada e movida por projetos de poder pelo poder, mantivemos nosso rumo, amadurecemos, fizemos a nova política na prática.

Os partidos de nossa aliança tomaram suas decisões e as anunciaram.

Hoje estou diante de minha decisão como cidadã e como parte do debate que está estabelecido na sociedade brasileira.

Me posicionarei.

Prefiro ser criticada lutando por aquilo que acredito ser o melhor para o Brasil, do que me tornar prisioneira do labirinto da defesa do meu interesse próprio, onde todos os caminhos e portas que percorresse e passasse, só me levariam ao abismo de meus interesses pessoais.

A política para mim não pode ser apenas, como diz Bauman, a arte de prometer as mesmas coisas.

Parodiando-o, eu digo que não pode ser a arte de fazer as mesmas coisas.

Ou seja, as velhas alianças pragmáticas, desqualificadas, sem o suporte de um programa a partir do qual dialogar com a nação.

Vejo no documento assinado por Aécio mais um elo no encadeamento de momentos históricos que fizeram bem ao Brasil e construíram a plataforma sobre a qual nos erguemos nas últimas décadas.

Ao final da presidência de Fernando Henrique Cardoso, a sociedade brasileira demonstrou que queria a alternância de poder, mas não a perda da estabilidade econômica.

E isso foi inequivocamente acatado pelo então candidato da oposição, Lula, num reconhecimento do mérito de seu antecessor e de que precisaria dessas conquistas para levar adiante o seu projeto de governo.

Agora, novamente, temos um momento em que a alternância de poder fará bem ao Brasil, e o que precisa ser reafirmado é o caminho dos avanços sociais, mas com gestão competente do Estado e com estabilidade econômica, agora abalada com a volta da inflação e a insegurança trazida pelo desmantelamento de importantes instituições públicas.

Aécio retoma o fio da meada virtuoso e corretamente manifesta-se na forma de um compromisso forte, a exemplo de Lula em 2002, que assumiu compromissos com a manutenção do Plano Real, abrindo diálogo com os setores produtivos.

Doze anos depois, temos um passo adiante, uma segunda carta aos brasileiros, intitulada: “Juntos pela democracia, a inclusão social e o desenvolvimento sustentável”.

Destaco os compromissos que me parecem cruciais na carta de Aécio:



O respeito aos valores democráticos, a ampliação dos espaços de exercício da democracia e o resgate das instituições de Estado.


A valorização da diversidade sociocultural brasileira e o combate a toda forma de discriminação.


A reforma política, a começar pelo fim da reeleição para cargos executivos, que tem sido fonte de corrupção e mau uso das instituições de Estado.


Sermos capazes de entender que, no mundo atual, a ampliação da participação popular no processo deliberativo, através da utilização das redes sociais, de conselhos e das audiências públicas sobre temas importantes, não se choca com os princípios da democracia representativa, que têm que ser preservados.


Compromissos sociais avançados com a Educação, a Saúde, a Reforma Agrária.


Prevenção frente a vulnerabilidade da juventude, rejeitando a prevalência da ótica da punição.


Lei para o Bolsa Família, transformando-o em programa de Estado


Compromissos socioambientais de desmatamento zero, políticas corretas de Unidades de Conservação, trato adequado da questão energética, com diversificação de fontes e geração distribuída.


Inédita determinação de preparar o país para enfrentar as mudanças climáticas e fazer a transição para uma economia de baixo carbono, assumindo protagonismo global nessa área.


Manutenção das conquistas e compromisso de assegurar os direitos indígenas, de comunidades quilombolas e outras populações tradicionais. Manutenção da prerrogativa do Poder Executivo na demarcação de Terras indígenas


Compromissos com as bases constitucionais da federação, fortalecendo estados e municípios e colocando o desenvolvimento regional como eixo central da discussão do Pacto Federativo.


Finalmente, destaco e apoio o apelo à união do Brasil e à busca de consenso para construir uma sociedade mais justa, democrática, decente e sustentável.

Entendo que os compromissos assumidos por Aécio são a base sobre a qual o pais pode dialogar de maneira saudável sobre seu presente e seu futuro.

É preciso, e faço um apelo enfático nesse sentido, que saiamos do território da política destrutiva para conseguir ver com clareza os temas estratégicos para o desenvolvimento do país e com tranqüilidade para debatê-los tendo como horizonte o bem comum.

Não podemos mais continuar apostando no ódio, na calúnia e na desconstrução de pessoas e propostas apenas pela disputa de poder que dividem o Brasil.

O preço a pagar por isso é muito caro: é a estagnação do Brasil, com a retirada da ética das relações políticas.

É a substituição da diversidade pelo estigma, é a substituição da identidade nacional pela identidade partidária raivosa e vingativa.

É ferir de morte a democracia.

Chegou o momento de interromper esse caminho suicida e apostar, mais uma vez, na alternância de poder sob a batuta da sociedade, dos interesses do pais e do bem comum.

É com esse sentimento que, tendo em vista os compromissos assumidos por Aécio Neves, declaro meu voto e meu apoio neste segundo turno.

Votarei em Aécio e o apoiarei, votando nesses compromissos, dando um crédito de confiança à sinceridade de propósitos do candidato e de seu partido e, principalmente, entregando à sociedade brasileira a tarefa de exigir que sejam cumpridos.

Faço esta declaração como cidadã brasileira independente que continuará livre e coerentemente, suas lutas e batalhas no caminho que escolheu.

Não estou com isso fazendo nenhum acordo ou aliança para governar.

O que me move é minha consciência e assumo a responsabilidade pelas minhas escolhas.


MARINA SILVA






quinta-feira, 9 de outubro de 2014

OBSERVATÓRIO

Se compararmos o processo eleitoral com uma partida de futebol, o segundo turno significa a prorrogação do jogo. O eleitor, ainda não totalmente convencido, resolve pedir um tempo para refletir melhor. Foi o que fez, este ano, o votante na esfera do estado do Ceará e em âmbito nacional. Quais os possíveis desdobramentos dessa nova etapa/momento da disputa?

PT X PSDB

Será reeditada uma polarização já conhecida no Brasil: PT e PSDB, que é artificial. Escorados em orientações de marqueteiros, petistas e tucanos se demonizam mutuamente. (Em um breve passeio pelas redes sociais se atesta quão virulentos são os ataques). Vendem-se muito diferentes, embora não o sejam. Quem analisa sem parcialidade, constata que os dois principais partidos brasileiros se detestam com a mesma intensidade com que se invejam. Analistas falam que os principais líderes das duas agremiações, Fernando Henrique e Lula, encarnam e simbolizam essa relação de amor e ódio, de paixão e emulação. Esse contraditório sentimento poderia ser assim resumido: Lula almejaria possuir o charme acadêmico do sociólogo; FHC sempre sonhou possuir a sedução popular do ex-metalúrgico. Um já votou no outro e vice-versa: em 1978, FHC foi candidato a Senador e um dos seus apoiadores era Lula; no segundo turno de 1989, FHC votou em Lula para Presidente.

PT X PSDB II

No pós campanha, os discursos mudam. Quando Presidente, por várias vezes FHC sinalizou no sentido de uma aproximação com a turma da estrela. Um dos seus principais parceiros dialogais era Tião Viana, petista do Acre. Noutro giro, cumpre indagar: quem, no primeiro mandato, Lula nomeou para a Presidência do Banco Central? O então deputado federal tucano Henrique Meireles. Quando sentado na cadeira presidencial, um dos governadores com interlocução freqüente junto a Lula era... o mineiro Aécio Neves. Por sua vez, Governador de Minas, Aécio mantinha uma relação de cordial intimidade e frutífera ação com então prefeito petista de Belo Horizonte, Fernando Pimentel. Trocando em miúdos: esse discurso ácido, irracional e corrosivo de um contra o outro já está saturado. Esperamos que neste segundo turno predomine um debate qualificado, com olhos propositivos para o futuro.

CEARÁ

O que foi esposado no plano nacional vale para o estadual. Só que, no caso da eleição para governador, há um aditivo mais relevante: os dois rivais que contendem no segundo turno eram aliados e amigos até poucos meses. Camilo e Eunício são partes de um mesmo grupo que se dividiu. Portanto, ao invés da guerra autofágica, deveriam realizar uma disputa mágica: mostrar quem pode retirar mais coelhos da cartola ou cartas da camisa para a solução dos graves desafios que ainda remanescem em nosso sofrido Ceará. É o que esperamos.

CRATEÚS

A eleição em Crateús consolidou algumas conclusões. Uma delas: está superada a velha dicotomia que reinava na política municipal entre dois grandes blocos. A bipolaridade foi superada pela multipolaridade. Não temos mais duas grandes forças, mas uma variedade de grupos e facções políticas, cada um com peso específico. São retalhos distintos compondo a velha colcha da política local. Vejamos: a votação de Gorete Pereira, obtendo o primeiro lugar para Deputada Federal, denuncia a força do grupo de Elder Leitão, que pode assumir a posição que quiser na eleição de 2016. O grupo de Genecias Noronha, segundo colocado, também. Guimarães, como terceiro colocado, revela a posição do Prefeito Mauro Soares. Chico Lopes, o quarto, expõe o peso do ex-prefeito Felipe e do PCdoB. Domingos Neto, o quinto, de parte da oposição. Isso significa que, para a eleição municipal, tudo fica no terreno da incógnita.

DESTAQUES

À primeira vista, o grande destaque foi Carlos Felipe, campeão de votos. Aparentemente, Felipe fez uma campanha simples, sem ceder à compra de votos ou sem grandes dispêndios do próprio bolso. Sucede que contou com dois fatores que o favoreceram: a desistência de Nenen Coelho e o apoio da Prefeitura. Sem Nenen como concorrente, Carlos Felipe teve o campo aberto, enquanto a máquina municipal não parou de trabalhar em seu benefício. O custo direto e indireto do apoio da Prefeitura é incalculável. Os outros principais contendores de Felipe – Aderlânia, Jeová Mota e Walter Cavalcante – também foram eleitos. Isso é bom, pois significa mais gente para ser cobrada e para trabalhar pela nossa terra.

DESTAQUES II

Merece destaque o resultado exibido pelo dirigente político Enivaldo Corisco, que apoiou Moses Rodrigues e Gomes Farias. Garantiu um lugar à mesa da sucessão. Seu peso político, algo ao redor de dois mil votos, é decisivo em qualquer pleito municipal.

DESTAQUES III

Dos Prefeitos da região foi Toinho Contábil o que abocanhou o troféu de maior eficiência no processo de transferência de votos. Deu maioria a todos os seus candidatos, inclusive a Mauro Filho.

REGISTROS!

Nossos efusivos votos de parabéns para o jornalista e editor César Vale, pelo natalício festejado dia 07, terça-feira passada... E para a senhora Maria José Pinto, que saboreia a fruta do centenário... Nossas condolências à família de Maria Lindomar Bezerra. Depois de uma vida de labuta em que registrou o nascimento de muita gente, atestamos aqui o seu falecimento na última segunda-feira (06.10.14).

PARA REFLETIR

“Nada é tão admirável em política quanto uma memória curta”. (John Galbraith)

(Júnior Bonfim, na edição de hoje do Jornal Gazeta do Centro Oeste, Crateús, Ceará)

quarta-feira, 8 de outubro de 2014

CONJUNTURA NACIONAL

Coronel, eis as urnas...

O coronel Lucas Pinto, que comandava a UDN no Vale do Apodi/RN, não dormia em serviço. Quando o Tribunal Eleitoral exigiu que os títulos eleitorais fossem documentados com a foto do eleitor, mandou um fotógrafo "tirar a chapa" do seu rebanho, aliás, do seu eleitorado. Numa fazenda, um eleitor tirava o leite da vaca quando foi orientado a posar para a foto. Não teve dúvida: escolheu a vaca como companheira do flagrante. Mas o fotógrafo, por descuido, deixou-o fora. O coronel Lucas Pinto não teve dúvida. Ao entregar as fotos aos eleitores, deparando-se com a vaca, não perdeu tempo e ordenou ao eleitor: "prega a foto aí, vote assim mesmo, na próxima eleição, nós arrumamos a situação". Noutra feita, o coronel levou as urnas de Apodi para o juiz, em Mossoró, quase 15 dias após as eleições. Tomou uma bronca.

- Coronel, isso não se faz. As eleições ocorreram há 15 dias.

- Pode deixar, "seu" juiz. Na próxima, vou trazer bem cedo.

Não deu outra. Na eleição seguinte, três dias antes do pleito, o velho Lucas Pinto chegava com um comboio de burros carregando as urnas. Chegando ao cartório, surpreendeu o juiz:

- Taqui, seu juiz, as urnas de Apodi.

- Mas coronel, as eleições serão daqui a três dias.

- Ah, seu juiz, não quero levar mais bronca. Tá tudo direitinho. Todos os eleitores votaram. Trouxe antes para não ter problema.

Idos das décadas de 50/60. Não havia grandes empreiteiras financiando campanhas. A empreitada ficava mesmo a cargo dos coronéis.

A voz de SP

Primeiro, vale ressaltar a onda da razão. Ela veio e empurrou Aécio para o segundo turno. E veio de onde este escriba previa há bastante tempo: de SP, onde reside o eleitorado mais racional do país. Há um mês, no meu artigo dominical no Estadão, eu dizia que SP, com seus maiores agrupamentos especializados, deveria sinalizar o segundo turno, eis que no Estado se concentra a maior oposição ao PT. SP é um território à parte. A voz crítica se faz ver até nos municípios que são berço do PT, como São Bernardo do Campo e em outros do ABC paulista, onde Aécio teve mais votos que Dilma.

A batalha de SP

O artigo sobre SP abria assim: Non ducor, duco. "Não sou conduzido, conduzo". O lema do brasão da cidade de SP, criado em 1916 pelo prefeito Washington Luiz, que veio a assumir, depois, a presidência da República, expressa de modo adequado a importância do Estado mais poderoso da Federação no pleito eleitoral deste ano. Ancorando a hipótese, há uma densa lista de superlativos: cerca de 32 milhões de eleitores; as mais populosas classes sociais, com destaque para três contingentes de classe média (A, B e C) e super-povoadas margens sociais; os maiores conglomerados de categorias setoriais, abarcando trabalhadores e profissionais liberais; centrais sindicais e entidades de áreas produtivas; movimentos organizados, que promovem intensa mobilização e abrem a locução das ruas; núcleos em defesa de direitos humanos, minorias e igualdade de gêneros; e, para dar vazão às demandas dessa gigantesca teia de representação, SãP dispõe de vigorosa tuba de ressonância, cujo eco se faz ouvir em todo o território nacional.

O meio da lagoa

Mais adiante, arrematei: "costuma-se dizer que o pleito será decidido pela passagem do transatlântico eleitoral pelo Triângulo das Bermudas, constituído por SP, MG e RJ, os três maiores colégios. Ou ainda que Minas é quem decide, sob o argumento de que o Estado do Sudeste é uma encruzilhada que representa a síntese do país. Ora, quando há na disputa dois candidatos mineiros (Aécio e Dilma), a tese parece fraquejar. O fato é que SP possui os maiores exércitos da guerra eleitoral. As ondas de seu mar costumam empurrar para longe os eventos que geram: protestos, denúncias, discursos positivos/negativos, avaliações de candidatos, percepções sobre o cotidiano. Na simbologia da pedra jogada no meio da lagoa (associada à classe media), o Estado é a força centrípeta que faz as marolas chegarem às margens... a batalha de SP será decisiva".

Marina desconstruída

Marina sofreu os efeitos do bombardeio. Não resistiu, conforme também apontávamos em entrevista no programa Entre Aspas, da Globo News, há um mês e meio. Não tinha estrutura, seu discurso passou a mudar, o programa de governo ganhou uma bateria de críticas. E até foi flagrada em contradição forte ante a questão do voto que deu contra a CPMF. Magoada com o tiroteio mais retumbante da candidata Dilma, apoiará Aécio Neves, no que será seguida pela família de Eduardo Campos. É claro que exigirá colagem de programas e ajustes principiológicos, particularmente no que diz respeito à sustentabilidade e ao mandato de cinco anos, sem reeleição, nos cargos ao Executivo.

Triângulo das Bermudas

Este consultor volta a dizer: a decisão do segundo turno passará pelas fortes correntezas que se desenvolvem no Triângulo das Bermudas : SP, MG e RJ. Em SP, Aécio poderá aumentar a margem de mais de quatro milhões de votos de maioria que obteve sobre a presidente Dilma, caso consiga a participação e o empenho dos tucanos, a partir do governador eleito, Alckmin. Como se sabe, este já está sendo apontado como o candidato tucano em 2018. Como Aécio defende um mandato de cinco anos, sem reeleição, a receita cai bem no colo de Alckmin. Em Minas, Aécio precisa trabalhar com a mineiridade e vencer de ponta a ponta, não apenas no sul do Estado. Mas terá contra ele o governador eleito, Fernando Pimentel.

Briga de foice no escuro

Em Minas, veremos uma briga de foice no escuro. Aécio e Anastasia, de um lado, com seus sabres ensarilhados, e de outro, Dilma e Pimentel, guerreando para evitar que os mineiros se reúnam em torno do tucano. Dilma até poderá cantar: quem conhece Aécio não vota nele, toada que Pimentel já anuncia não ser boa. Em SP, Lula fará o que Maquiavel soprar no seu ouvido para aumentar a votação de sua pupila. Ele se mostra surpreso com a grande votação de Aécio, mas ele próprio é, em parte, responsável por esta situação, quando dá força ao slogan "nós contra eles", sem perceber que esse mote não bate bem na cabeça da poderosa classe média do Estado.

O Nordeste

Já na região nordestina, a candidata Dilma continuará a ter sua principal fortaleza, que abriga os milhões de famílias sob o teto da Minha Casa, Minha Vida, e diante do pão sobre a mesa, garantido pelo gigantesco programa Bolsa Família. Dilma quer ter mais de 60% dos votos na região para compensar eventual perda de votos no Sudeste do país. Em PE, por exemplo, deverá intensificar a mobilização, eis que Marina ganhou no Estado e a família Campos deverá fazer campanha para Aécio. Ela conta com um forte reduto na BA, onde o governador Jaques Wagner, mais uma vez, vira a campanha e coloca o PT na dianteira.

O RJ

No RJ, Dilma terá dois grandes palanques: o de Pezão e o de Crivella. Mas Aécio, que tem uma banda carioca no perfil, poderá aumentar a sua fatia, surfando na "onda da razão", que pega principalmente eleitores do meio da pirâmide.

Rolo compressor

O rolo compressor das máquinas tende a favorecer os candidatos situacionistas. É o que se viu, aliás, na última semana do primeiro turno, quando os candidatos governistas encostaram e alguns ultrapassaram os oposicionistas. Neste caso, urge sinalizar a força da candidata Dilma no segundo turno, apesar de se constatar a forte máquina tucana, que poderá beneficiar Aécio, a partir de SP e PR, onde dois tucanos erguem a bandeira da vitória.

Debates e desconstrução

É previsível um cenário de defesa forte de programas e ideias, mas não se descarta a probabilidade da continuação da campanha negativa. De um lado, o pano de fundo serão os escândalos e a corrupção, de outro, "os fantasmas" do passado, como crava a presidente Dilma, mostrando os traumas na economia no segundo ciclo FHC. Aécio deve retrucar, resgatando o Plano Real e mostrando os "monstros" de hoje. Será uma luta sangrenta. Ou tudo ou nada para os dois lados.

Congresso fragmentado

Teremos um Congresso mais fragmentado: as 22 siglas na Câmara passarão para 28 e das 16 no Senado, teremos 18. O rolo compressor governista será até maior, eis que os partidos da base elegeram 304 deputados Federais, mais que o dobro dos 138 deputados eleitos pelas 10 siglas que apoiaram o oposicionista Aécio Neves. Mas isso não significa alinhamento automático. Muitos poderão sair de seu lado e aderir a outro.

Congresso conservador

O Congresso será mais conservador, bastando ver os números : de 220, o número de empresários passará para 280 ; os sindicalistas diminuem de 83 para 46, ou seja, 44%; e os ruralistas sobem de 130 para 160, e, aumento de 23%. 46% - esse é o índice de renovação na Câmara, mas não significa compromisso com a "nova política", eis que muitos pertencem aos quadros tradicionais da política regional. A religiosidade também se expande : pastores e bispos aumentam para 20.

Pesquisas erram?

Em nove Estados, as pesquisas apresentaram índices diferentes dos resultados: CE, PE, BA, RS, MG, DF, RJ, SP e PR. Alguns furos: Garotinho não vai ao segundo turno, conforme os Institutos de Pesquisa anunciavam; Camilo Santana, do PT do CE, teve quatro pontos a mais que os índices de pesquisas; Padilha, em SP, também teve cinco pontos a mais; Rui Costa, na BA, idem, com cinco pontos a mais. Os Institutos precisam aumentar suas amostras e fazer controles mais rígidos.

Posições radicais

Posições radicais deram alta visibilidade a seus porta-vozes, que ganharam uma montanha de votos. Jair Bolsonaro teve 465 mil votos; o delegado Eder Mauro teve 266 mil votos no PR; no RS, Luiz Carlos Heinze teve 162 mil votos; em GO, o delegado Waldir foi o mais votado, com 275 mil votos; o coronel da reserva, Alberto Fraga, no DF, ganhou 155 mil votos.

Midiáticos e religiosos

Celso Russomano, do PRB, liderou com 1.524.361 votos; Tiririca, do PR, abocanhou 1.016.796; pastor Eurico, do PSB, 233.762; pastor Marco Feliciano, 398.087; Paulinho da Força, do SD, 227.186.

Maior perda

A maior perda absoluta na Câmara é do PT: 18 deputados. PT fica com 70 (tinha 88) e o PMDB terá 66 (tinha 71). A terceira bancada será a do PSDB, com 54 deputados (tinha 44); a quarta bancada será a do PSD, com 37 (tinha 45) e a quinta será a do PP, com 36 (tinha 40).

Um voto

Alguns candidatos não tiveram um voto sequer, como acabo de ver na lista de deputados estaduais do RN. Mas Selma Silva, do PHS, teve um voto. Um. Donde se conclui que deve ter sido o dela. Merece destaque. Os outros podem até ter desistido. Selma, não.

Marina, na quinta

Marina anunciará seu apoio na quinta-feira. Tudo indica que acompanhará Aécio Neves.


(Gaudêncio Torquato)

quarta-feira, 17 de setembro de 2014

MARINA É UM PORTO SEGURO


Com o título “Marina é um porto seguro”, eis artigo do advogado Reno Ximenes. Para ele, a candidata a presidente da República pelo PSB é ruptura necessária no cenário onde predomina a polarização PT/PSDB. Confira:

A Marina é a síntese política dialética, decorrente do processo histórico da lapidação, entre os choques envolvendo PT e PSDB. É a necessária e natural ruptura de hábitos sistêmicos para começar um novo ciclo, do qual fará idêntico bem ao Brasil que fez Itamar Franco, FHC e o primeiro governo do Lula.

A sua liderança surge para banir as falsas dicotomias criadas, artificialmente, pelo maniqueísmo delinquente da política, que vendeu a ideia da polarização entre o PT e o PSDB, como únicos intérpretes dos reclamos sociais. A sociedade foi induzida a ter a ilusão de emulação, entre dois gêmeos bivitelinos, com semelhantes códigos genéticos, com aparências maquiadas para resultar no embuste da diferenciação.

A vida segue e os privilégios de alguns iconoclastas insistem em ficar. A ira ora criada contra a Marina vem da iminente destruição de uma safra política de frutos pobres, que teimam em não largar da árvore e caírem, naturalmente, ao solo, dando seqüência ao ciclo vital, característica também da política. Nessa luta de estigmas publicitários, nem o Aécio merece o fardo pesado e mentiroso fabricado pelo PT contra o PSDB, nem a Dilma, merece carregar a atual ojeriza social e unânime ao PT, por ululantes motivos justos. O PT está definhando, mais pela ganância de suas tendências internas, que fazem o partido sentar às mesas políticas com muita soberba e intransigência, já fatiando o bolo do poder do Estado como fosse um inventário familiar.

Inobstante a colaboração inequívoca do PT à inclusão social massificando um Programa Social, criado pelo decente senador Eduardo Suplicy, antes chamado Programa de Renda Mínima ou Tributação Positiva, os atuais males provocados pela atual gestão não podem ser desconsiderados.

Um Estado que exporta toda a sua matéria prima de qualidade; tem o serviço público como única esperança profissional da juventude, numa máquina pública em colapso; uma economia em recessão; a volta da inflação incontrolável que explodirá após as eleições; o abandono da indústria nacional; do empreendedorismo; da ciência e da tecnologia das Universidades e Centros de Pesquisas. Enquanto, a distribuição de títulos fajutos aos milhões de analfabetos funcionais; a pulverização de bolsas e bolsas assistencialistas, criando uma legião de inocentes indignos e dependentes, o que ainda propagam, parte do seu portfólio, irônico, de orgulhos políticos de um governo.

Os governos do PSDB não fizeram só mal ao Brasil, como recitado pelas esquerdas fascistas ou discursos iconoclásticos fajutos. A ruptura dos guetos e aparelhos públicos, tanto utilizado para sangrar o Estado pelas falsas esquerdas, sob o manto de dar ao público os prejuízos, e ao sindicalismo fascista o sorrateiro lucro, através do sarapatel emanado das veias do Estado brasileiro, foi uma corajosa quebra de paradigma.

A esperança cansou de esperar e acredito que o jargão submerge mais uma vez. A esperança vencerá o medo. As pesquisas falsas já estão sendo sintonizadas à realidade, para não desmoralizarem os seus institutos.

A Marina está na frente pela força da mudança efetiva, sem contar com o voto silencioso, dos heróis resistentes ao assédio moral em seus empregos e às falsas ameaças ao sustento de suas famílias.

O desespero provoca nas mentes humanas frágeis e acuadas, imprevisíveis impulsos e atos. O desesperado político usa as suas piores dores sofridas, sem nenhum escrúpulo, contra as ameaças de seus privilégios, sustentados na guarita do discurso fascista que tenta legitimar interesses privados e subjetivos através do sofisma, como se fossem interesses públicos e coletivos.

A proposta da Marina Silva em governar como o que há de melhor da política brasileira, surpreende os guetos e corporações. Há gente decente em todo canto, em toda profissão e em todo partido político. O engodo do argumento de se reivindicar serem pais da pobreza, não passa de mais uma falácia de quem quer viver as custas dos pobres. E, quando vejo, velhas raposas virando socialistas depois de velhos, lembrei da piada anônima, a qual assegura que socialismo é igual papeira ou cachumba, quando não dar na juventude, aleija!

É repugnante ver a dita esquerda brasileira, em forma de diversos crápulas, destilar o mais venenoso ódio e preconceito em direção a uma mulher tão digna e corajosa. Faz-se chantagens de serviços públicos e programas sociais, como se fossem patrimônio de um único partido.

Lembro de um estadista quando dizia que “devemos medir o sucesso dos programas sociais pelo número de pessoas que deixa de recebê-lo e não pelo número de pessoas que são adicionadas”.

Viva a decência! Convoco todo o Brasil de todas as cores e todos os partidos à aderirem, sem medo, sem preconceito, sem rótulos, à liberdade. Um viva à Marina!

* Reno Ximenes,

Advogado.

CONJUNTURA NACIONAL

O candidato 'Pato'

"Em setembro de 2009, fui a Campo Grande/MS fazer palestra sobre marketing político no 7º Encontro da União das Câmaras de Vereadores de Mato Grosso do Sul. Num grande auditório, havia mais de 500 assistentes. Eu sempre digo que posso falar sobre marketing político durante vários dias sem parar, pois acumulei 33 anos de prática em mais de 100 campanhas. Então, dou os fundamentos que norteiam o trabalho e abro perguntas para que temas específicos, de interesse daquela comunidade, sejam abordados. Um dos vereadores presentes fez uma pergunta que, mesmo localizada, tem muita abrangência e me permitiu criar nova definição. Ele contou que, na sua cidade, o candidato a prefeito do partido era do tipo "sabe-tudo". Sabia fazer a comunicação, sabia fazer os acordos políticos, sabia o melhor lugar para o comício, sabia escolher a música, sabia o ponto fraco do adversário, sabia o que dizer na entrevista, sabia. Veio a pergunta : 'Como agir com um candidato assim?'. Criei a definição na hora : 'Esse é o candidato-pato'. Age exatamente como essa ave. Sabe andar, mas anda mal, todo desajeitado, balançando o corpo grande. Sabe voar, mas voa mal, tem voo curto e raso, não voa alto, nem a longas distâncias. Sabe nadar, mas nada mal, não mergulha e não é rápido. Bota ovo, mas bota mal, pois o ovo é grande demais e muito pouco frequente. Foi uma gargalhada geral, pois o "candidato-pato" também é muito frequente, como o pato, que está nos quintais, mas também nos jardins e praças públicas. Como agir com ele ? Ah, eu levo na gozação e vou tocando, devagar e sempre, assim como se toca um bando de. patos ! Com a ave de verdade, pelo menos, há possibilidade de se fazer um confit de canard - delicioso prato francês no qual a ave é cozida em fogo brando. Meu marketing político é assim : sempre com alegria, sempre aprendendo, sempre inventando novidades". Grande Chico !

Mutantes em cena

O cenário político-eleitoral tende a mudar. Nas próximas duas semanas, teremos de analisar para onde irão migrar os votos de Aécio Neves. Os tucanos ainda apostam na "virada da razão", pela qual o senador mineiro resgataria sua pontuação de dois meses atrás. Quase impossível. O tempo é curto. Ademais, Dilma e Marina, em duelo aberto, praticamente ocuparam o tabuleiro de xadrez, garantindo, assim, a jogada final do segundo turno. Muitos apostam na migração de votos de Aécio para Marina. Este consultor acredita que eles se repartirão entre as duas candidatas.

Margens com Dilma

Os grupamentos e famílias que estão laçados pelo programa Bolsa Família, particularmente na região Nordeste, tendem a fechar com Dilma. São os beneficiários da equação BO+BA+CO+CA (Bolso, Barriga, Coração, Cabeça). No NE, Dilma tem cerca de 50% dos votos, margem que lhe dará força para suportar as urnas mais vazias no Sudeste. Assim, Dilma tende a ganhar um "voto de coração" mais denso que o voto para Marina.

Centro com Marina

Já os setores que habitam o meio da pirâmide tendem a se direcionar para Marina, principalmente no Sudeste. Em SP, a rejeição ao PT e, consequentemente, a Dilma chega a ultrapassar 35%. Nunca se viu índice tão alto. Mas Dilma também terá muitos votos das faixas centrais, principalmente junto aos bolsões do petismo, que adentrou forte nas estruturas governativas, a par da classe média emergente, tendente a dar também um voto de reconhecimento.

Por que a rejeição?

Por que a rejeição ao PT chegou a índices tão altos no pleito deste ano ? Porque o PT foi arrastado para a lama pelos escândalos que têm corroído a imagem de políticos e partidos. O PT está no centro das denúncias. Colhe os resultados dos eventos negativos que têm manchado a imagem do governismo. Para piorar, o prefeito Fernando Haddad, em pleno ano eleitoral, toma medidas antipáticas, a partir das decisões sobre avenidas e ruas, complicando o já congestionado trânsito de SP. É um cabo eleitoral do contra.

O rolo compressor

Este consultor sempre lembra a força do rolo compressor das máquinas governativas em final de campanha. Nesse caso, no segundo turno, Dilma ganhará um empuxo da máquina. São milhares de funcionários públicos que querem preservar seus empregos. São milhares de ativistas partidários nas bases. São militantes de outros partidos que, na reta final, costumam dar sangue para que seus candidatos (governistas) ganhem. Diante dessa hipótese, é possível dizer : Dilma conta com essa força a mais no frigir dos ovos.

Pendendo para Dilma

É até possível que parcela dos votos do tucano Aécio migre para Marina no segundo turno. Mas há de ser considerada a hipótese de integração dos partidos aliados de Dilma. No primeiro turno, por conveniências locais, muitos saíram da frente de apoio situacionista. No segundo turno, face ao pensamento restritivo de Marina sobre partidos, é evidente que alguns, desconfiados, tendem a se reunir sob o abrigo de Dilma. Ademais, a presidente tem boa vantagem em municípios de até 50 mil habitantes, reduto da velha política. Onde os partidos têm sua maior base. Mais um ponto de vantagem para a petista.

Bancada no Senado

A se confirmarem as tendências apontadas pelas últimas pesquisas, assim será o próximo Senado : PMDB, continuará com 19 senadores ; PT, de 13 passará para 14 ; o PSDB continuará com 12 ; o PSB sairá de 4 para 7 ; o PDT diminuirá de 6 para 3 ; o PR e o DEM poderão continuar com 4 ; o PTB sofrerá a maior queda, de 6 para 2 ; o PSC deverá ter 2 ; o PP poderá continuar com 5 ; o PSD tende a elevar de 1 para 2 ; o PSOL, o PC do B, o PPS, o PRB, o PV, o PROS, o SDD deverão, cada, ter 1 senador. Já o PMN e o PRTB não deverão ganhar representantes.

Governo e oposição

Se Dilma ganhar, deverá contar com uma bancada de cerca de 50 senadores ; Marina e Aécio contariam, juntos, com cerca de 30.

Na Câmara

Já a próxima legislatura deverá continuar com o PT e o PMDB liderando as duas maiores bancadas. O PT sonha em chegar a 100 deputados. Pode ter entre 85 a 90 ; e o PMDB deverá contar com cerca de 80 a 85. Mas o candidato com melhores condições (eleitorais) para presidir a Câmara será Eduardo Cunha, do PMDB do RJ, atual líder do partido na Casa.

Paulo Roberto na CPI

O que vai acontecer nesta quarta ? Paulo Roberto Costa irá à CPI mista que investiga a Petrobras. Mas não deverá dizer muita coisa. Sob pena de quebrar o sigilo da delação premiada. Confirmará os nomes de políticos por eles citados ? É mais provável que fique calado. A conferir.

Maluf sai ou fica?

O procurador-Geral eleitoral, Rodrigo Janot, encaminhou ao TSE parecer desfavorável à candidatura do deputado Federal Paulo Maluf (PP) nas eleições de outubro. Com base na Lei da Ficha Limpa, Maluf seria inelegível em face da condenação por ato doloso de improbidade administrativa que gerou enriquecimento ilícito e lesão ao patrimônio público.

Façam seus cálculos


O eleitorado brasileiro é de 142.783.995 eleitores. O Sudeste abriga 62.066.251, ou 43,47% do eleitorado ; o Nordeste tem 38.218.398 eleitores, ou 26,76% dos votantes ; o Sul tem 21.127.282 eleitores, ou 14,79% dos votantes ; o Norte abriga 10.794.131 eleitores, ou 7,56% dos eleitores e o Centro-Oeste tem 10.240.481, ou 7,17% dos votos. Teremos uma abstenção, votos nulos e brancos em torno de 20%. Façam suas contas, usando os números das últimas pesquisas. Na última, do Datafolha, Dilma avançou para 36%, enquanto Marina ficou nos 33%, empate técnico. No segundo turno, a candidata do PSB teria sete pontos de vantagem : 47% contra 43%. Mas Dilma conta com o rolo compressor da máquina.

24º EESCON

"Em busca de novos caminhos" é o tema central do 24º EESCON - Encontro das Empresas de Serviços Contábeis do Estado de São Paulo, considerado o maior evento do segmento empreendedor contábil de SP e o segundo maior do Brasil. Realizado a cada dois anos pelo Sescon/SP, sindicato da categoria, a abertura ocorre, hoje, quarta, no Campos do Jordão Convention Center, em Campos do Jordão/SP. Até 19/9 são esperados cinco mil visitantes, entre empresários, gestores e profissionais da área contábil. Haverá ainda feira de negócios, demonstrações e comercialização de produtos e serviços.

Agências: temporada de inverno ruim

Para 63% das agências de viagens e operadoras turísticas do Brasil, as vendas caíram durante a temporada de inverno deste ano, na comparação com o mesmo período de 2013, segundo pesquisa feita pelo Ipeturis - Instituto de Pesquisas, Estudos e Capacitação em Turismo, por encomenda do Sindicato das empresas de Turismo no Estado de São Paulo (Sindetur/SP). "Apontada por 46,4% dos entrevistados, a Copa do Mundo no Brasil foi o principal motivo para a queda nas vendas durante a temporada", destaca Marciano Freire, presidente do Ipeturis. Outros motivos que contribuíram para os baixos resultados foram : ano de eleições (8,5%), cenário econômico negativo no país (8,5%), preços altos das tarifas aéreas (7,5%) e a alta do dólar (5,2%).

CONETT 2014

Nos dias 25 e 26/9, a cidade de SP recebe empresários internacionais para o debate da terceirização e do trabalho temporário na América Latina. O CONETT 2014 é uma realização do Sindicato das Empresas de Serviços Terceirizáveis e de Trabalho Temporário de São Paulo (Sindeprestem). Local : Grand Mercure São Paulo Ibirapuera (rua Sena Madureira, 1355).

Até D. Orani ?

Meu Deus. Quanta violência. O cardeal arcebispo do RJ, D. Orani Tempesta, foi assaltado no bairro de Santa Teresa, na zona sul, na noite de segunda-feira, 15, por três homens armados. D. Orani estava acompanhado do motorista, de um fotógrafo e de um seminarista. Todos foram roubados. O arcebispo, embora não esboçasse reação, chegou a ter uma pistola apontada para a cabeça. Ele entregou aos assaltantes o anel cardinalício e o colar com o crucifixo peitoral. Ladrões levaram celulares, carteiras, relógios, uma câmara fotográfica, o paletó do motorista e até a batina do seminarista.

Lições de marketing

Discurso

Costumo bater nessa tecla. Muita gente se engana com a eficácia do discurso político. O discurso político é uma composição entre a semântica e a estética. O que muitos não sabem é que a eficácia do discurso depende 7% do conteúdo da expressão e 93% da comunicação não verbal. Esse é o resultado de pesquisas que se fazem sobre o tema desde 1960. E vejam só : das comunicações não verbais, 55% provêm de expressões faciais e 38% derivam de elementos paralinguísticos - voz, entonação, gestos, postura, etc. Ou seja, do que se diz, apenas pequena parcela é levada em consideração. O que não se diz, mas se vê, tem mais importância. Portanto, senhoras e senhores assessores dos programas eleitorais, anotem a informação.

10 linguagens de campanha

1. A linguagem da afirmação.

2. A linguagem da factibilidade/credibilidade.

3. A linguagem das pequenas coisas.

4. A linguagem da participação - o nós versus o eu.

5. A linguagem da verificação/exemplificação - como fazer.

6. A linguagem da coerência.

7. A linguagem da transparência.

8. A linguagem da simplificação.

9. A linguagem das causas sociais - os mapas cognitivos do eleitorado.

10. A linguagem da tempestividade/simultaneidade - proximidade (adaptado do meu livro Tratado de comunicação organizacional e política).

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(Gaudêncio Torquato)

terça-feira, 16 de setembro de 2014

OBSERVATÓRIO

Nesta coluna homenagearemos com citações o filósofo Voltaire. Era ele que dizia: “Uma coletânea de pensamentos é uma farmácia moral onde se encontram remédios para todos os males”.

Dois curiosos registros históricos.

1962. Marco da primeira articulação política para formação das grandes alianças partidárias no Ceará. As maiores agremiações políticas Alencarinas à época - UDN, PSD e PTN – se acasalaram em uma coligação chamada “União Pelo Ceará”, sob a chancela do governador Parsival Barroso. O líder do PTB,Carlos Jereissati, saiu candidato a Senador contra esse ‘esquemão’ e venceu a eleição. Pouco tempo após assumir o mandato, mais precisamente em 09 de maio de 1963, sofreu um enfarto e faleceu. Em seu lugar assumiu o suplente Antonio Jucá, médico cardiologista natural de Crateús.

1974.“Aonde a vaca vai, o boi vai atrás…”dizia o refrão da música do brega João da Praia. Foi fácil fazer a paródia: “Aonde o Mauro vai, o povo vai atrás.”O país, sob a égide de uma ditadura militar, tinha no Ceará um robusto exemplo do peso das fardas: três coronéis de patente mandavam no estado. César Cals, governador; Adauto Bezerra, deputado estaduale Virgílio Távora, Senador da República. César Cals estava em final de mandato e quis bancar sozinho a candidatura do engenheiro civil Edilson Távora, que vinha de quatro mandatos de deputado federal. Embora fossem primos, Edilson Távora era desafeto de Virgílio. Adauto também não via com bons olhos a candidatura de Edilson, porque era íntimo de César. Resultado: Adauto fez corpo mole, Virgilio passou a campanha fora do Ceará e Mauro Benevides, o candidato oposicionista do MDB, foi estimulado por debaixo dos panos a elevar o volume da música “Aonde o Mauro vai, o povo vai atrás.”Com 44 anos, e já considerado uma astuta raposa na floresta da política, Mauro foi eleito Senador.

TASSO E MAURO

A eleição para o Senado, no Ceará, tem sido ao longo do tempo colada à eleição de governador. Os protagonistas das exceções que confirmam essa regra foram, exatamente, os genitores de Tasso e Mauro Filho, os que lideram a corrida este ano. Tasso luta para repetir o feito do pai. Mauro Filho sonha manter o genitor como o último caso de eleição descolada para o Senado. No próximo dia 05 de outubro saberemos quem exibirá o diploma.

CAMILO E EUNÍCIO

A família Ferreira Gomes fez uma aposta arriscada: construiu uma chapa com três pessoas sem capital político próprio para uma eleição majoritária. Eunício, no início, achou que eles marchavam para o precipício. Ledo engano. Profissionais da política, trabalham com cálculo e estatítica. Fizeram Camilo, que não é camelo, passar pelo buraco da agulha e agulhar o concorrente. O páreo endureceu e haverá segundo turno. Agora, carregam as baterias em favor de Mauro Filho. Nenhum fio de amizade existe mais entre Tasso e os irmãos Ciro e Cid. Como dizia Voltaire: “A amizade é o casamento da alma e este está exposto ao divórcio”.

CAMILO E EUNÍCIO II

Esta eleição está levando inimigos históricos para o mesmo palanque. Em Novo Oriente, o doutor Airton, do PT, está unido a Nenen Coelho (PSD) pedindo votos para Camilo. Em Crateús, também. Ivan e Felipe, que se enfrentaram na eleição municipal, votam no 13. Porém, a convivência não está fácil. Em uma reunião no Clube Sargento Hermínio, Ivan e Domingos Neto foram hostilizados por militantes/simpatizantes ligados a Carlos Felipe e Mauro Soares. No comício de Camilo sexta-feira passada em Crateús, o fato se repetiu em relação a candidatos e lideranças que não estão no bloco da Prefeitura. Isso é inconcebível.“Posso não concordar com nenhuma das palavras que você disser, mas defenderei até a morte o direito de você dizê-las”.(Voltaire) Como é que, em plena campanha, necessitando conquistar, se resolve afugentar? O Prefeito prometeu tomar providências. “Para ter sucesso neste mundo não basta ser estúpido, é preciso também ter boas maneiras.” (Voltaire)

CAMILO E EUNÍCIO III

Como sempre, a sucessão estadual influi na municipal. Camilo, em conversa com Ivan Claudino, disse que nos municípios onde dois eleitores seus estivessem se enfrentando, optaria pela neutralidade. Eunício eleito, apoiará um candidato do grupo que está com ele: Zé Almir, Paulo Nazareno ou um dos líderes do grupo de Genecias Noronha.“A maior parte dos homens é como a pedra do íman. Tem um lado que atrai e outro que repele”. (Voltaire)

AÇUDE FRONTEIRAS

Na tarde da quinta-feira passada, dia 11.09,houve audiência entre a Diretoria do DNOCS e o Ministério Público Federal oficiante em Crateús. Participaram Ivan Monte Claudino, diretor administrativo-financeiro;Laucimar Loiola, diretor de produção; Felipe Cordeiro, da Infra-estrutura; Francisco Arlem de Sousa, procurador do DNOCS, e a doutora Sara, procuradora do MPF. O tema foi o açude Fronteiras. De maneira proativa, a diretoria do DNOCS apresentou o projeto da obra, prestou as informações essenciais e já agendou reunião para o próximo dia 23 com o movimento dos sem terra e comunidades envolvidas/atingidas, visando prevenir eventuais litígios.“O ouvido é o caminho do coração”. (Voltaire)

CENTENÁRIA

Aumenta a quantidade de pessoas centenárias em Crateús. No próximo mês engrossará essa lista a viúva do senhor Edmundo Pinto, a lúcida e iluminada senhora Maria José Pinto. Os amigos e familiares organizam a comemoração. “O maior prazer que alguém pode sentir é o de causar prazer aos seus amigos”. (Voltaire)

PARA REFLETIR

“A leitura engrandece a alma”. (Voltaire)

(Júnior Bonfim, na edição de hoje do Jornal Gazeta do Centro Oeste)

A RESSURREIÇÃO DA UTOPIA!


Admiro profundamente o músico brasileiro Milton Nascimento. Ele pertence a uma estirpe musical que soube aliar, com fulgurante talento, a boa música e o bom conteúdo. Letra e melodia se misturando em um baile de grandeza, itinerário telúrico, exercício reflexivo, eflúvio de excelência.

Dentre suas canções, tenho especial predileção por “Coração Civil”. Ela aborda um tema que me é caro: a utopia. Admiremos a letra, produto de uma parceria de Milton e Fernando Brant: “Quero a utopia, quero tudo e mais/ Quero a felicidade nos olhos de um pai/ Quero a alegria muita gente feliz/ Quero que a justiça reine em meu país/ Quero a liberdade, quero o vinho e o pão/ Quero ser amizade, quero amor, prazer/ Quero nossa cidade sempre ensolarada/ Os meninos e o povo no poder, eu quero ver
São José da Costa Rica, coração civil/ Me inspire no meu sonho de amor Brasil/ Se o poeta é o que sonha o que vai ser real/ Vou sonhar coisas boas que o homem faz/ E esperar pelos frutos no quintal/ Sem polícia, nem a milícia, nem feitiço, cadê poder?/ Viva a preguiça, viva a malícia que só a gente é que sabe ter/ Assim dizendo a minha utopia eu vou levando a vida/ Eu vou viver bem melhor/ Doido pra ver o meu sonho teimoso um dia se realizar”.

A Utopia – cujo berço etimológico é a união dos radicais gregos οὐ, ‘não’ e τόπος, ‘lugar’; portanto, o ‘não-lugar’ ou ‘lugar que não existe’ - tem como significado mais comum a idéia de um território ou mundo ideal, imaginário, fantástico – produto da usina de sonhos da mente humana. (O termo foi popularizado por Thomas More, pois serviu de título para uma de suas obras escritas em latim por volta de 1516. Segundo a versão de vários historiadores, More se fascinou pelas narrações extraordinárias de Américo Vespúcio sobre a recém avistada ilha de Fernando de Noronha, em 1503. Thomas More decidiu então escrever sobre um lugar novo e puro onde existiria uma sociedade perfeita.)

O fato é que sonho com a ressurreição da utopia na política. A cada novo prélio eleitoral – mesmo mirandoos astres e desastres da vida pública, as notícias desairosas, o alargamento das práticas depreciativas – renovo esse desejo de triunfo da boa política. Desejover no púlpito do debate eleitoral a imperiosa agenda da compatibilidade do desenvolvimento com respeito ao equilíbrio do meio ambiente. Desejo ver a higienização da prédica política. Palpita no ar uma necessidade premente: a importância cardeal da eliminação desse discurso tóxico da agressão mútua, sem conseguir ver mérito em nada docontendor; urge eliminar essa sanha irracional de se buscar destruir o outro, ter de desqualificá-lo.

Esse respeito pelo outro, embora suas idéias sejam absolutamente contrárias às nossas, é uma das principais facetas daquilo que se convencionou chamar de ética. Por que, nas disputas eleitorais, há que se recorrer ao desespero, ao vale-tudo, à máxima de que ‘em política, o feio é perder’? Em verdade, o feio – na política e na vida – não é perder uma batalha, mas abrir mão da trilha da correção, da construção de princípios, do culto aos valores essenciais.

Infelizmente, em quase todas as urbes do território nacional ainda prevalece esse modo corrosivo de agir político. Porém, impende questionar: - Por que, para me eleger, tenho que explorar os defeitos do outro ao invés de apresentar minhas qualidades?... - Por que, ao assumir o poder, tenho que seguir a mesma rota obsessiva de buscar desqualificar os antecessores?...

Nessas divagações lembro os faróis, as sentinelas altivas, os monumentos da dignidade, os memoriais do exemplo, como o americano Martin Luther King, que bradou: "Sonho com o dia em que a Justiça correrá como água e a retidão como um rio caudaloso. Eu tenho um sonho em que minhas quatro pequenas crianças vão um dia viver em uma Nação onde elas serão julgadas não pela cor da pele, mas pelo conteúdo de seu caráter".Ou a reflexão singela e generosa de Madre Teresa de Calcutá: "o mundo que Deus nos deu é mais do que suficiente para todos; existe riqueza mais do que sobra para todos. É só uma questão de reparti-la bem, sem egoísmo".Na mesma linha, a fala iluminada de Gandhi: "o caminho da paz é o caminho da verdade. Ser honesto é ainda mais importante do que ser pacífico. A mentira é a mãe da violência. Um homem sincero não pode permanecer violento por muito tempo".

Alguém pode dizer que isto é sonho, devaneio, utopia! Pode ser. Mesmo assim, prefiro seguir na mesma estrada de Eduardo Galeano: “A utopia está lá no horizonte. Aproximo-me dois passos, ela se afasta dois passos. Caminho dez passos e o horizonte corre dez passos. Por mais que eu caminhe, jamais alcançarei. Para que serve a utopia? Serve para isso: para que eu não deixe de caminhar”.

(Júnior Bonfim, na edição de hoje do Jornal Gazeta do Centro Oeste)

quarta-feira, 20 de agosto de 2014

CONJUNTURA NACIONAL

Abro a coluna de hoje com uma historinha da PB.

Dois matutos de Monteiro no Cariri paraibano, cansados da seca e das promessas dos políticos, decidiram tentar a vida em uma cidade grande. Venderam o burro, o jumento e o cavalo e, na esperança de um dia voltar, rumaram para o RJ. Chegando lá, por sorte, arranjaram empregos de servente em uma pequena construção, o salário pequeno mal dava para sobreviver e raramente sobravam trocados para enviar aos familiares na PB. Durante o período do carnaval dois árabes, fazendo turismo no Rio, passaram em frente à obra e viram os paraibanos de enxadas nas mãos, mexendo areia e cimento. O sol estava escaldante e os nordestinos suavam até pela ponta do nariz. Os turistas se aproximaram e, admirados de tanta bravura, perguntaram qual o salário dos dois.

- Ganhamos o salário mínimo, uma mixaria.

Os árabes perguntaram se não aceitavam morar na Arábia Saudita e trabalhar por lá recebendo salários polpudos. Os paraibanos esclareceram que não seria possível viajar para um lugar tão longe, pois faltava o dinheiro das passagens. Os árabes afirmaram que isto não seria um problema, já que os mesmos estavam de avião particular e daria para levar ambos. Depois do carnaval e após uma prece ao Padim Ciço, os paraibanos embarcaram. Quando o avião estava sobrevoando o deserto do Saara, apresentou uma pane, sendo necessário um pouso não programado. Um dos paraibanos, na porta do avião, olhou em frente e só viu areia: do lado direito, do lado esquerdo e na parte de trás, só areia. Um mundão de areia. Com ar de preocupação, virou-se para o companheiro e gritou:

- Ô Severino, nóis tamo lascado. Quando chegar o cimento, oi nóis (e fez aquele gesto famoso).

(Enviado por Severino Nunes de Melo)

As chances de cada candidata (o)

Este consultor aproveita a coluna de hoje para tentar explicar quais as chances e possibilidades de cada candidata (o) à presidência da República, levando em consideração seus pontos fortes e seus pontos fracos. Faço este exercício procurando uma dose de equilíbrio, sem torcer para A ou B. Vamos adiante.

Como o eleitor escolhe

Mostremos, primeiramente, qual o processo que baliza as escolhas dos eleitores. É comum se dizer que o eleitor escolhe por instinto. A palavra é essa mesma. Mas poucos se dão conta da extensão de seu poder. Expliquemos. O ser humano age por meio de quatro instintos, dois ligados à preservação do indivíduo e dois ancorados na conservação da espécie. Os dois primeiros são: o instinto combativo e o instinto nutritivo. O combativo refere-se à luta do homem para sobreviver, enfrentando a natureza, os dissabores, as adversidades que se apresentam nos múltiplos espaços da vida cotidiana. O impulso nutritivo o joga na procura do alimento, que supre seu corpo. Sem alimento, o homem definha.

BO+BA+CO+CA

Por isso mesmo, criei a equação que está por trás da decisão do eleitor: BOlso cheio, geladeira cheia, BArriga satisfeita, COração agradecido, CAbeça decidindo votar em quem viabilizou o suprimento de alimentos. Dito isto, poderemos abrir o cenário das candidaturas. Começando com a pergunta: qual o perfil mais próximo à geladeira? Marina, Dilma ou Aécio?

Dilma, a favorita

Se a resposta levar em consideração este pano de fundo, não há dúvida : Dilma Rousseff ainda é a favorita. E onde reside a explicação? Bolsa Família e outras bolsas. O eleitorado, principalmente o das margens - Nordeste, Norte, Centro Oeste - tende a decidir na direção de quem lhe proporciona esse pacote de benefícios. O que é mais vantajoso? Apostar no certo ou no incerto? O eleitor tende a apostar no que lhe parece mais seguro. O que pode ameaçar Dilma? O bolso mais vazio em outubro. E isso se dará se a inflação de alimentos esvaziar a cesta básica. Inflação e desemprego são as duas maiores ameaças à reeleição da presidente.

Aécio sinaliza esperança?

Carrega o senador mineiro uma bagagem de jovialidade, animação, disposição, determinação. Sai de um Estado, MG, que é o segundo maior colégio eleitoral do país: 16 milhões de votos. Fez ali uma boa gestão. Tanto ele como seu sucessor, Antonio Anastasia. Conta com o apoio dos tucanos paulistas, a partir do governador Geraldo Alckmin, que continua exibindo confortáveis índices de intenção de voto: 55%. Conta com o apoio de José Serra, candidato a senador, e de Aloysio Nunes Ferreira, senador, candidato a vice em sua chapa. E com o apoio de Fernando Henrique, prestigiado ex-presidente da República. Aécio terá um voto forte no Sudeste (*SP, MG, RJ). Mas se a economia não cair no despenhadeiro, não conseguirá ultrapassar Dilma.

Marina, a emoção completa

O eleitor tende a se identificar com a alma sofrida. Dá um voto farto em quem padece, sofre. A morte trágica de Eduardo Campos comoveu e comoverá, por um bom tempo, os corações brasileiros. Marina já tinha um capital eleitoral próprio. Chegou a ter, em abril deste ano, 27% de intenção de voto. Eduardo Campos tinha cerca de 12%. Marina, agora, chega aos 21%. Mas não tirou voto de Aécio e de Dilma, que continuam, segundo a última pesquisa Datafolha, a ter, respectivamente, 20% e 38%. Portanto, Marina puxou votos do cordão dos indecisos, nulos e brancos. Seu eleitorado maior é composto por jovens de classe média e bem escolarizados.

As ondas emotivas

As ondas emotivas deverão, isso sim, abrir a visibilidade de Marina, que terá dois minutos apenas de TV e rádio na programação eleitoral. Dilma terá mais de 10 minutos e Aécio, 4. Nos spots publicitários - aqueles foguetinhos que se ouvem ao longo do dia - Dilma pipocará. Será uma dose e tanto de comunicação. É razoável supor que, lá para os meados de setembro, as ondas emotivas refluam e o perfil mais denso de Dilma e Aécio aumentem seus cacifes. A não ser que, até lá, novas ondas emotivas sejam criadas para empurrar o voto de coração em Marina, sob o sorriso aberto e os olhos azuis do Eduardo, escancarados em grandes cartazes. As novas ondas? Sim, ondas formadas pela participação comovida de dona Renata e seus cinco guerreiros, os cinco filhos vestidos com camisa amarela.

E a rejeição a Dilma?

Dilma enfrenta quase 40% de rejeição no maior colégio eleitoral do país, SP. Essa é sua grande ameaça. Eliminará a rejeição? Parcela, sim. A intensa propaganda eleitoral acabará modulando sua imagem, tirando excessos aqui e ali e formando uma composição menos negativa. Se conseguir chegar aos 18% de rejeição, alcançará índice razoável. É o que deve acontecer.

E Marina no nordeste?

Pois é, Eduardo Campos registraria um bom crescimento na região nordestina, na esteira da colagem de seu perfil às demandas regionais. Será difícil para Marina garantir a adesão maciça do eleitorado nordestino. Este consultor aposta mais na hipótese de que Dilma acabará consolidando sua imagem na região.

E o Triângulo das Bermudas?

SP poderá dar uma boa maioria a Aécio Neves. Urge lembrar que Dilma ainda está na frente neste Estado. Mas a tendência é que Aécio Neves saia de Minas e de SP com uma boa maioria, capaz de diminuir a folgada maioria que Dilma terá no Nordeste. O RJ dividirá bem os votos, eis que os partidos, a partir do PMDB, fazem campanha para Dilma e Aécio. Os marineiros do Rio também formam um bom contingente.

PMDB e os Estados

Contas da cúpula do PMDB mostram que o partido poderá eleger os governadores dos seguintes Estados : AM, PA, CE, RN, AL, SE, ES, RJ, MS, TO. Com possibilidades, ainda, no PR e em GO.

Declaração de Fortaleza

Indicados aos cargos de conselheiros e ministros devem antes ser enquadrados na Lei da Ficha Limpa. É o que pedem os presidentes de 34 Tribunais de Contas, que também defendem a criação do Conselho Nacional dos Tribunais de Contas para fiscalizar a atuação de cada Corte no país. A Declaração de Fortaleza, na qual constam 19 diretrizes, é tida como o mais contundente manifesto dos TCUs, sob a égide da Associação dos Membros dos Tribunais de Contas do Brasil (Atricon), presidida pelo dinâmico conselheiro Valdecir Pascoal (TCE/PE).

Temístocles, o ateniense

Temístocles, o altivo ateniense, não era de cacarejar. Convidado para tocar cítara numa festa, o general declinou: "Não sei música, o que sei é fazer de uma pequena vila uma grande cidade". Regra geral, nossos governantes das três esferas Federativas, afinando o tom com o maior dos tocadores, não hesitam em aceitar convites para manejar cítara, clarineta ou trombone. Abandonam o foco. Grande parte prefere trombetear no marketing a fazer de suas cidades e Estados territórios desenvolvidos e civilizados. Muitos se inebriam nas fontes do poder. Esquecem-se do ensinamento de Gogol: "Não é por culpa do espelho que as pessoas têm uma cara errada". É a ruína que o modelo pirotécnico de administrar oferece ao Brasil.

Pequenas lições de marketing político

Alavancas do discurso I

Nesta campanha, esta coluna faz seu fechamento com pequenas lições de marketing. Existem alguns símbolos detonadores e indutores do entusiasmo das massas em, pelo menos, quatro categorias. Eis as quatro alavancas psíquicas:

1. Alavancas de adesão - Discurso voltado para fazer com que a população aceite os programas, associando-se a valores considerados bons. Nesse caso, o candidato precisa demonstrar a relação custo-benefício da proposta ou da promessa.

2. Alavancas de rejeição - Discurso voltado para o combate às coisas ruins (administrações passadas, por exemplo). Aqui, o candidato passa a combater as mazelas de seus adversários, os pontos fracos das administrações, utilizando, para tanto, as denúncias dos meios de comunicação que funcionam como elemento de comprovação do discurso.

Alavancas do discurso II

3. Alavancas de autoridade - Abordagem em que o candidato usa a voz da experiência, do conhecimento, da autoridade, para procurar convencer. Sob essa abordagem, entram em questão os valores inerentes à personalidade do ator, suas qualidades pessoais. Quando se trata de figura de alta respeitabilidade, o discurso consegue muita eficácia.

4. Alavancas de conformização - Abordagem orientada para ganhar as massas e que usa, basicamente, os símbolos da unidade, do ideal coletivo, do apelo à solidariedade. É quando o político apela para o sentimento de integração das massas, a solidariedade grupal, o companheirismo, as demandas sociais homogêneas.

Verborragia desafinada

Os estilos da galinha e da pata servem para comparar os partidos e os políticos. A primeira põe um ovo pequenino, mas cacareja e todo mundo vê, enquanto a segunda põe um ovo maior e ninguém nota. O ovo da pata, segundo os nutricionistas, é mais completo que o da galinha, mas este é o que gera atenção, intenção, desejo e ação - a fórmula AIDA - para estimular seu consumo. E o êxito se deve porque a fêmea do galo sabe alardear seu produto, cumprindo rigorosamente o preceito maquiavélico: "o vulgo só julga aquilo que vê".

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(Gaudêncio Torquato)