quarta-feira, 25 de junho de 2014

CONJUNTURA NACIONAL

Abro a coluna com uma historinha contada pelo impagável Zé Abelha.

Jaeder Albergaria foi, sem dúvida, o mais famoso político do antigo PSD no Vale do Rio Doce. Fazia parte do que se convencionou chamar de o jardim de infância de Benedito Valadares. Fundador do PSD. Médico, começa a clinicar em Itanhomi. Primeira semana, nada de cliente. O jovem médico entrava em desespero. De repente, quando está almoçando na pensão onde mora, surge um pai aflito com um garoto ao colo. O garoto havia aspirado um caroço de feijão e respirava mal. Dr. Jaeder diz ao aflito pai que vá caminhando para o seu consultório.

- Termino rápido o almoço.

O primeiro cliente já garantiria o pagamento da cama e boia ao jovem médico. Acocorado na porta da pensão, um velho cuspinha e pergunta ao assustado pai o quê é que o aflige.

- Isso num é nada. Dá esse rapé para ele cheirá. É fava contada - garante.

Dito e feito! O garoto cheira o rapé, espirra e o caroço de feijão voa longe. E bem pra longe voam os primeiros honorários do dr. Jaeder Albergaria.

O Futebol venceu

Ufa, o futebol venceu. A Copa é um sucesso. De plateias, animação e gols. Quem achava que não daria certo, caiu da arquibancada. Isso é um fato. Mas a política não vai tirar proveito do evento. Vejam-se as vaias. Que continuam aqui e ali. Se o Brasil não chegar às finais, mas fizer boa performance, os ânimos serão apaziguados. Se a seleção não melhorar, é possível que o clima fique ácido. Mas tudo indica que, catando milho, sem grandes exibições, os canarinhos deverão chegar perto da gaiola e, quem sabe, comer os grãos nas finais. A conferir.

Zelites

Essa mania de achar que a "zelite branca" é a responsável pelas maldades que assolam o território nacional já bateu no teto. Ninguém aguenta mais tal bobagem. Afinal, Lula é de que zona da "zelite"? E a presidente Dilma? Os réus do mensalão fazem parte de que parte da "zelite"? Joaquim Barbosa, o juiz que preside a mais alta Corte, é ou não é "zelite"? Faz mal ou bem à Nação? Se fez mal ou bem, que "zelite" representa no repertório das maldades do país? A "zelite negra"? Haja mistificação. Haja sofisma. Haja paciência com a imbecilidade.

Nós e eles

Mas é claro que o apartheid entre pobres e ricos, "nós e eles", interessa ao PT. Que, apesar dos avanços institucionais e atitudinais que ocorrem no país, teima em ressuscitar motes do passado. Lula acha que o discurso da separação de classes favorece o PT. Está equivocado. Até as massas ignaras não toleram mais viver sob refrãos obsoletos. O resgate desse discurso é uma tentativa de botar novamente no palanque a polarização PT x PSDB, os primeiros vestindo a pele da ética e os segundos, o manto da maldade. Será que Lula e adjacências acreditam que podem continuar a enrolar as massas com o celofane da mistificação?

Quem prega ódio?

Lembremos: em 1972, Lula vestia a camiseta do João Ferrador, personagem criado pelo jornalista Antônio Felix Nunes para apresentar as reivindicações dos metalúrgicos. O bordão do raivoso Ferrador era: "hoje eu não tô bom". Em 2002, adotou o slogan "Lulinha paz e amor", contrapondo-se ao perfil combativo e sisudo das eleições de 1989, quando recebeu de Leonel Brizola a alcunha "sapo barbudo". Passou a ecoar o slogan: "a esperança vencerá o medo". Foi um tento. Hoje, tenta recompor o dito sob nova roupagem: "a esperança vencerá o ódio". Nesse ponto, emerge a dissonância. O ódio faz parte da estratégia lulista, quando procura resgatar a polarização entre petistas e tucanos, identificando os primeiros com os ricos e os segundos com os pobres.

Vacinação

A questão, porém, é mais complexa. Os habitantes do meio da pirâmide e parcelas das bordas já estão vacinados contra os refrãos carcomidos pela poeira do tempo. O slogan das ruas é outro: "mais e melhores serviços públicos". Não acreditam que estatutos como o Bolsa Família serão extintos qualquer que seja o futuro presidente. Aos tucanos, por sua vez, interessa acender a tocha da polarização, crentes de suas chances no pleito deste ano. Fernando Henrique decide ir à trincheira: "Lula vestiu a carapuça", resposta à crítica de que teria "comprado" apoios para aprovar a reeleição.

O mais corrupto?

Depois de ter brilhado na constelação da ética, o PT aparece nas pesquisas como o ente que mais encarna o vírus da corrupção. Mesmo assim, aposta na dualidade "nós e eles", o bem e o mal. E continua a desprezar os parceiros partidários da aliança governista, alargando seu império na administração Federal. E haja sofisma, a denotar um duplo padrão ético que lembra a resposta do rei africano sobre o bem e o mal, dada ao pesquisador Carl Jung: "O bem é quando roubo as mulheres do meu inimigo; o mal é quando o inimigo rouba minhas mulheres". Nessa toada, a campanha eleitoral, já começada, se cerca de grandes interrogações. A aposta maior é a de que os rumos finais serão ditados pelo andar da carruagem econômica: maior inflação, aumento do desemprego, barrigas roncando, massas apertando o cerco, pior para a presidente Dilma, melhor para as oposições; a recíproca é verdadeira.

Lula no ataque

No plano dos discursos, o PT se esforça para dar credibilidade a um escopo ideológico, que ainda causa receio à parcela ponderável do eleitorado. É um partido que enxerga, muito assustado, a corrosão de sua identidade, que era a mais confiável há 20 anos. Teme ser desalojado do primeiro andar do poder. Sente que já não tem tanto respaldo popular quanto nos dourados anos da era Lula, de quem espera papel de vanguarda na estratégia de continuidade. Por isso, Luiz Inácio, valendo-se do conhecido instinto, desenvolvido ao longo do contato direto com as massas, resgata o velho axioma de guerra: "a melhor defesa é o ataque". Ataque contra a imprensa; ataque contra as elites; ataque contra quem cospe no prato em que comeu; ataque contra o ex-presidente Fernando Henrique (que teria "comprado" apoio no Congresso ao projeto da reeleição). O tiroteio, vale frisar, tem o mérito de fazer recuar exércitos adversários, obrigando-os à defesa.

Beócio

Agenor Leal de Souza, vereador de Peçanha, chamou seu companheiro de Câmara Municipal, Tibúrcio Alves Pereira, de beócio. Tibúrcio levantou-se solene:

- Nobre senhor vereador Agenor Leal de Souza, se a palavra beócio for agradativa ou adulativa, muito obrigado a V.Exa. Mas se for atacativa, beócio é a mãe de V.Exa.
Era atacativa!

O bacanal eleitoral

Uns dizem: vivemos um bacanal eleitoral; outros falam: estamos vendo a orgia em plena esfera partidária. Esculhambação geral. O PSB de Eduardo Campos, que pretende se apresentar como o novo, alia-se, no Rio, ao senador Lindbergh, do PT, candidato ao governo. Logo, o "lindinho", como é chamado pela presidente Dilma o candidato petista ao governo, abre um palanque misto no RJ. Ou seja, em seu palco poderão se apresentar Dilma e Eduardo Campos, ambos candidatos à presidência. Em SP, o mesmo PSB (o novo?), faz aliança com Alckmin, podendo, então, aparecer no mesmo palanque do tucano Aécio Neves. No Rio, agora é o DEM, de César Maia, que se junta ao PMDB. Esse casamento de zebra com bode, de jacaré com cobra d'água, se repete na maioria dos 27 Estados.

E Pezão, hein?

Pezão, o governador do Rio, tem um pé no PT, apoiando Dilma, e também um pé no PSDB, apoiando Aécio. Daí a chapa Aezão, como já se vê. Quem tem boca vai a Roma. E quem tem um Pezão, embarca em duas canoas. Assim é a política brasileira. Em tempo: esse consultor tende a acreditar que Pezão levará a melhor no RJ. A conferir.

Partidos no Rio

No RJ, os partidos conservam a seguinte posição em matéria de prefeituras: PMDB, 22, com 53,% do eleitorado; PR, 6, com 9,5% do eleitorado; PT, 12, com 6,6% do eleitorado; PC do B, 4, com 3,9% do eleitorado; PDT, 5, com 3,5% do eleitorado; PSB, 6, com 3,2% do eleitorado; PP, 8, com 3,1% do eleitorado; PSC, 7, com 2,8% do eleitorado; PSD, 7, com 2,5% do eleitorado; PV, 1, com 1,2% do eleitorado; PMN, 1, com 1, 06% do eleitorado. Os partidos restantes(PRB, PSDB, PPS, DEM, PSDC, PTB e PSOL) têm menos de 1% dos eleitores.

Computo

Pachequinho e Chico Fulô (Waldomiro Lobo) eram muito populares e vereadores do PTB em BH. Disputavam as mesmas áreas e viviam brigando. Na tribuna, Waldomiro falava de tuberculose e tuberculosos, seu assunto predileto:

- A cidade está cheia de tuberculosos. Não sei ao certo quantos são, mas eu computo...

Pachequinho aparteo :

- Não é computo não, ilustre vereador. É cômputo.

- Eu sei que cômputo. Mas, falando com V.Exa., eu falo computo.

Foram aos tapas!

Adeus, Sarney

60 anos de vida política. Uma única derrota em uma eleição para a Câmara Federal. O poderoso ex-presidente da República e senador José Sarney está abandonando a lide eleitoral. Não a trajetória da política. Alega motivos pessoais. Quer ficar mais tempo perto de sua mulher, dona Marly. Mas é evidente que pesam nessa decisão as possibilidades estreitas de uma vitória para o Senado, no AP, que representa na Câmara Alta, e as dificuldades que a família enfrenta no MA, onde os Sarney dominam a política há 60 anos. Sarney promete continuar a influenciar os bastidores do poder.

PT abre a porteira

Parceiros do PT continuam a fazer alianças nos Estados com adversários do petismo, fato que pesará bastante na balança da presidente Dilma. O PT é o responsável por esta situação. Não abre para os aliados as condições para sua expansão. Ao contrário, mantém-se firme em seu projeto de hegemonia. No Triângulo das Bermudas - SP, MG e RJ - a presidente Dilma perde bastante densidade eleitoral. PTB já saiu da aliança. PP está insatisfeito. PSD, de Kassab, também tem divergências com PT. Esses dois partidos fecharão com o PT no plano Federal, mas as bases expressam resistência.

CE

No CE, o senador Eunício Oliveira, candidato do PMDB ao governo, tende a fechar aliança com o empresário e ex-governador Tasso Jereissati, que será candidato ao Senado pelo PSDB. E pode ainda formar aliança com o DEM.

Carvalho tem razão

O ministro Gilberto Carvalho, conhecido por não ter papa na língua, foi direto ao ponto: não apenas as "elites brancas" apupam o governo. Segundo ele, a coisa está "gotejando" e chegando mais embaixo. O ministro tem razão. Basta conferir, de passagem, o Produto Nacional Produto da Insatisfação, que se vê nas ruas e vielas do território.

Conselho aos estrategistas do PT

Na última nota, a coluna oferece pequenos conselhos a políticos, governantes, membros dos Poderes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos marqueteiros dos candidatos. Hoje, volta sua atenção aos estrategistas do PT, a começar pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva:

1. Trata-se de um erro querer resgatar o velho mote da luta de classes, pobres contra ricos. O Brasil quer apagar esse discurso de separação.

2. Urge apresentar à sociedade programas, ideias, projetos, ações, que possam colocar as questões substantivas acima das abordagens adjetivas.

3. As manifestações que ocorrem nos principais centros do país, a partir de SP, apontam para o slogan desses tempos inquietos: mais e melhores serviços públicos.

(Gaudêncio Torquato)