sábado, 17 de novembro de 2012

À MISSANTA

O velho pau d’arco
Amanheceu completamente
Despido.
As pujantes carnaúbas
Fecharam-se em copas.
Os mandacarus esconderam
Espinhos e flores.
As aves canoras,
Que todas as manhãs nos saudavam
Com os hinos da superação,
Emudeceram.
O verdejante Juazeiro
Soltou lágrimas amarelas.
O rio Serrote cessou
O curso invisível.
A água do poço profundo
Solidificou.

Tudo é silêncio e reverência,
Consternação e mistério
Nesta terra com gosto de amendoim...

Morreu a árvore colossal,
Tombou a carnaúba maior,
Recolheu-se o mandacaru principal,
Calou-se a ave matriarca,
Caiu a folhagem do Juazeiro mestre.
Partiu-se o leito do rio generoso.
A água faltou.

Raimunda Rodrigues Bonfim, a Missanta,
Amou viver e viveu para o amor.

Quanta lição proferiu
Com a leveza do seu silêncio?!

Amou viver e viveu para o amor.

Viu partir o esposo amado
E três dos filhos do seu ventre.
Tudo suportou e superou
Porque tinha o amor.
Conheceu o amor.
Viveu o amor.

E este foi seu legado maior: o amor!

Soube o gosto do espinho e o tempero da flor,
Porque tinha o amor.

Viveu o esplendor da simplicidade.

Como o rio do quintal de sua casa,
Contornava tranquilamente
As pedras da adversidade.
(Afinal, para que as discussões inúteis
E os confrontos fúteis?).

Como a mãe Natureza
Nada rejeitava. Sabia
O valor e a serventia
De tudo que iluminava a noite
E fazia palpitar o dia.

Reina o silêncio.
Mas esse silêncio não é de dor. É de louvor.
Delicado louvor à sublimação.
Pois mais uma vez ela nos faz a conclamação:
- “Sigam o meu discreto legado.
Nunca esqueçam
A vital lição.
Continuem resolutos
Na luminosa missão”
.

Amou viver e viveu para o amor a nossa Missanta.
Era pura e profunda a nossa Raimunda.
Foi ser Miss no céu a nossa tia/vó Santa.

(Júnior Bonfim)

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

MISSANTA BONFIM (RAIMUNDA RODRIGUES BONFIM)


Com o coração envolto em lágrimas recebi a notícia de que hoje (dia 16.11.2012) foi chamada para a Casa do Pai a minha querida avó, Missanta Bonfim (Raimunda Rodrigues Bonfim).

Mês passado, na fazenda Mondubim, por ocasião do seu aniversário de 92 anos, quando lhe desejamos muitos anos de vida, ela fez um reparo: preferia saúde!

Pela primeira vez, a nossa nonagenária guerreira emitia um sinal diferente. Era uma espécie de aviso, premonição ou similar.

Apesar do abalo, tenho aquela agradável sensação de que estamos indo levar ao túmulo uma pessoa de inestimável valor espiritual. Uma santa!

Reponho a crônica que lhe dediquei no seu aniversário de noventa anos!


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Os meses do ano coroados com a sílaba “bro” costumam ser bafejados, no sertão do Ceará, com os mais elevados índices de temperatura. Invariavelmente ao redor dos quarenta graus.

No dia 23 de outubro deste 2010, no entanto, a fazenda Mondubim, que dista 23 quilômetros da cidade de Crateús, amanheceu sob a surpresa do afago de um clima ameno. Um cenário agradável – caracterizado por uma combinação de pausa na inclemência solar com a gratuidade do céu espargindo delicados fios de água – como que convidava as pessoas a dar graças à vida ou compartilhar a boa prosa no largo alpendre da fraternidade!

Essa dupla alteração no horizonte sertanejo e no coração das pessoas, para os membros da minha veia familiar, foi obra da nossa matriarca: Missanta! (Sua filha Toinha havia profetizado: - “Nós já sabemos que a mamãe é santa. Para que os outros tenham essa certeza, só falta um milagre: chover no dia do aniversário”. E choveu!)

Missanta! Esse prenome íntimo, carinhoso apelido familiar, obra dos seus genitores e produto da junção litúrgica de missa e santa, incorporou-se à sua doce figura e substituiu o nome de batismo: Raimunda Rodrigues Bonfim.

A Vó Missanta - Tia Santa para a grande maioria – celebrou seus 90 (noventa) outubros sob o conforto de todos os filhos vivos, netos, bisnetos e demais componentes de seu imenso arvoredo genealógico. Durante estas nove décadas só residiu em duas casas: o habitat de nascimento, na localidade Lagoa das Pedras dos Rodrigues, e o lar do Mondubim, um casarão de calçada alta e teto trabalhado com arte, para onde se mudou após ter trocado aliança com José Moreira Bonfim (o Têtêro), no dia 29 de junho de 1939. (Aliás, a medida da aliança foi feita em um pedaço de pano, pois antes de casar minha avó nada havia colocado entre os dedos).

A trajetória de Missanta Bonfim está vinculada aos eflúvios superiores do Espírito. Viu o sol do mundo pela primeira vez às 14:00 horas de um dia de sábado: 23 de outubro de 1920. (Quem nasce em dia de sábado é regido por Saturno e conhece o sentido do tempo, a paciência, a sabedoria, o amadurecimento. Tem a graça de viver sob o impulso abençoado de uma vida laboriosa).

Seis homens e quatro mulheres vieram à terra através do seu ventre. Criou doze filhos: José Maria Bonfim, Sebastião Bonfim Neto, Rosária Rodrigues Bonfim, Josefa Rodrigues Bonfim (Zezé), Domingos Rodrigues Neto, José Itamar Bonfim, Antonia Rodrigues Bonfim (Toinha), Manoel Fernandes Bonfim, Lauro Rodrigues Bonfim, Maria de Lourdes Rodrigues Bonfim, Francisco Stênio Bonfim e Antonio Luiz dos Santos.

Por inevitável, saboreou frutas amargas. Carregou nos ombros maternais o peso da humana cruz e sentiu no peito as pedras cortantes da longeva caminhada. Teve que colocar na nave que leva os seres para a estação da outra dimensão, além do próprio cônjuge, três filhos: Lauro, Manoel e Rosária. Deles se recorda diariamente.

Porém, continua Missanta. Desfila, na passarela do convívio, com a elegância discreta de uma miss e a radiosa alma de uma santa. Mantém, no acolhedor terreiro do coração, uma permanente fogueira de espiritualidade como que a fazer contraponto à redução de temperatura gregária.

Sem embargo é por isso que coleciona, no anonimato de sua saga pessoal, feitos admiráveis. Aos noventa anos, Missanta Bonfim mantém o sorriso nos lábios e conserva hábitos incomuns para os da sua idade: levanta cedo, administra a própria casa, monta na garupa de uma motocicleta, brinda e sorve com alegria um copo de cerveja ou uma taça de vinho, se alimenta sem qualquer restrição e aceita sem pestanejar os constantes convites que recebe para participar dos mais variados eventos. Vive tranqüila e intensamente. É serena e afável, pacífica e bondosa!

Indaguei-lhe qual o segredo de viver em paz consigo mesma. Ela me respondeu: - “Meu filho, nunca deixei que as preocupações tomassem conta de mim. Não é que não me preocupe. Mas, se uma coisa é inevitável, nunca deixo que ela perturbe demais a minha cabeça. E toco a vida prá frente”.

Nunca deixar as preocupações tomar conta da gente – ou seja, relevar, perdoar, viver em sintonia com a consciência - é o principal segredo, a lição essencial de uma nonagenária criança que exibe o invisível diploma de PHD na Universidade da Existência. Parabéns, Vó Missanta!

(Júnior Bonfim, no Jornal Gazeta do Centro Oeste, Crateús, Ceará e na Revista Gente de Ação)

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Paulo Nazareno disse...

É JB,a inexorabilidade do tempo faz das suas. Mais uma estrelinha no nosso ceu.

Meus sentimentos

16 de novembro de 2012 16:45


Ticuá - RJ disse...

Eu a conheci...Que Deus A tenha ao lado, Ticuá

16 de novembro de 2012 18:09

Lourival disse...

Meus sentimentos, irmão.

17 de novembro de 2012 08:48

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

REPÚBLICA, "PROCLAMAÇÃO DA REPÚBLICA" - É HORA DE RELEMBRAR RUI BARBOSA


“A falta de justiça, Srs. Senadores, é o grande mal da nossa terra, o mal dos males, a origem de todas as nossas infelicidades, a fonte de todo nosso descrédito, é a miséria suprema desta pobre nação.

A sua grande vergonha diante do estrangeiro, é aquilo que nos afasta os homens, os auxílios, os capitais.

A injustiça, Senhores, desanima o trabalho, a honestidade, o bem; cresta em flor os espíritos dos moços, semeia no coração das gerações que vêm nascendo a semente da podridão, habitua os homens a não acreditar senão na estrela, na fortuna, no acaso, na loteria da sorte, promove a desonestidade, promove a venalidade, promove a relaxação, insufla a cortesania, a baixeza, sob todas as suas formas.

De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto.

Essa foi a obra da República nos últimos anos. No outro regime, o homem que tinha certa nódoa em sua vida era um homem perdido para todo o sempre, as carreiras políticas lhe estavam fechadas. Havia uma sentinela vigilante, de cuja severidade todos se temiam e que, acesa no alto, guardava a redondeza, como um farol que não se apaga, em proveito da honra, da justiça e da moralidade”.

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

CUSTUS LEGIS OU "CUSTOS LEGIS"?


Caro amigo Júnior Bonfim,

Já comentei sua apresentação (do livro Troia – uma viagem no tempo) na mensagem anterior.

Em todo o texto da sua brilhante apresentação, encontrei apenas um lapso digital: Custus legis, em vez de Custos legis. Avermelhei no seu texto, que segue anexo.

Abraços.

Saúde e Paz,

Boaventura.

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Caro Boaventura:

Peço desculpas por ousar fazer um contraponto - sem deslizar para teimosia típica de um Bonfim - mas quando aprendi a expressão em Latim era "custus legis".

Veja a notícia abaixo:

Em julgamento de Habeas Corpus, MP sempre fala depois da defesa
O advogado Nélio Machado, que defende o governador licenciado do Distrito Federal, José Roberto Arruda, surpreendeu os ministros do Supremo Tribunal Federal com uma questão preliminar inusitada. Antes de iniciar sua sustentação oral no julgamento do HC 102732, o advogado arguiu a condição de custus legis (fiscal da lei) do Ministério Público, uma vez que foi o próprio MP que ofereceu a denúncia, sendo, portanto, parte na ação e por isso deveria falar antes da defesa. Os ministros analisaram a...

Na paz,

Júnior Bonfim


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Meu caro amigo Júnior Bonfim,


Gostei do seu contraponto, mas apresento contraponto ao seu contraponto. E, de contraponto em contraponto, vamos encontrar um ponto.

Seu fundamento tem por esteio a citação em latim (custus legis) feita, salvo engano, pelo eminente Ministro Marco Aurélio, do STF, Relator do HC 10732.

Reconheço ter pouco estudo da Língua Latina (três anos, apenas). Digo "apenas", porque, ao término dos três anos de estudo, eu falei para o professor: - agora estou em condições de começar a aprender latim.
Já encontrei errôneas citações latinas em acórdãos de tribunais.

A meu sentir, o preclaro Ministro Marco Aurélio também laborou em equívoco, caso não, vejamos:

Custos legis - O vocábulo latino custos é substantivo masculino e feminino e significa guardião, guarda, guardiã, protetor, protetora, defensor, defensora. O genitivo (adjunto adnominal) de custos (= guardião, guarda) é custodis (do guardião, da guarda), daí advém a palavra custódia = guarda, proteção; do verbo custodiar = guardar, proteger. Por exemplo: o preso fica sob custódia do Estado, isto é, o preso fica sob guarda, sob proteção do Poder Público. Por sua vez, legis é genitivo (adjunto adnominal) de lex (=lei) e quer dizer da lei. Dessa forma, Custos legis tem o significado de guardião da lei, protetor da lei, fiscal da lei. Por exemplo, o insigne Dr. Arcelino de Oliveira Gomes, quando não é parte em processos, como representante do Ministério Público, atua na qualidade de custos legis.

Eis a divisa da cidade de Bauru, SP: Custos vigilat (“O guarda está alerta”).
Nos tempos hodiernos, poucos juristas estudam latim. Por isso, é de bom alvitre consultar professores de latim ao deparar com citações escritas em decisões judiciais.

Confesso-lhe que desconheço a palavra custus, em latim.

Apenas para ilustrar. Certa feita, um advogado da Assessoria Jurídica do Banco do Brasil, onde trabalhei, perguntou-me se estava correta a expressão latina Pactum sunt servanda (“O acordo devem ser observados”). Falei-lhe que tal brocardo latino não estava escrito corretamente, pois, assim, o sujeito da frase ficaria no singular e o predicado no plural. O Certo seria Pacta sunt servanda (“Os acordos devem ser observados”). Ele me rebateu dizendo achar mais bonito pactum sunt servanda. Ressaltei ao nobre causídico que não se tratava de gostar ou não gostar. Tratava-se de correto e não correto. E expliquei-lhe: se ele quisesse grafar Pactum (“O acordo”), teria de mudar o restante da frase, pois, sintaticamente, Pactum (“O acordo”) estaria no singular e, por conseguinte, o predicado deveria seguir o sujeito.

Se ele optasse por Pactum (sujeito, no singular), a frase completa passaria a ser escrita toda no singular: Pactum est servandum (“O acordo deve ser observado”). O nobre causídico balançou a cabeça e disse baixinho: - é, está bem explicado, mas eu gosto mais de Pactum.

Sei muito bem, Júnior, que você não está grafando custus legis, em vez de custos legis, porque goste mais de custus, porém porque aprendeu assim e viu escrito assim no voto de um supremo Ministro do STF, cujo saber latino deve ser, hierarquicamente, mais elevado do que o de um mero magistrado resignatário do Estado do Ceará.


Abraços do primo que o admira.


Saúde e Paz,


Boaventura Bonfim.


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Caro Boaventura:

Acolho os vossos embargos aclaratórios, porque presentes os radicais pressupostos do mais escorreito latinório, dou-lhes provimento ao passo em que empresto os imprescindíveis efeitos infringentes.

Na paz

Júnior Bonfim

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Grande Júnior Bonfim,

A maturidade e a segurança que imprimimos naquilo que fazemos nos permitem aceitar as explicações fundamentadas.

Sugiro sejam postadas no seu Blog nossas correspondências sobre tão importante assunto do mundo jurídico.

Um forte abraço.

Saúde e Paz,

Boaventura Bonfim.

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Ticuá - RJ disse...

recomendei aos "feicebuqueiros" não comentarei pois, foge do meu alcance tamanho saber jurídico! Parabéns aos Dois - Ticuá - RJ

Discussão doutrinária de Dois “monstros” do Direito: Dr. Boaventura Bonfim e Dr. Junior Bonfim, citei, primeiramente, o Dr. Boaventura, apenas, pela ordem alfabética dos Nomes, o “B” precede ao “J”, na Cartilha do ABC, pelo menos, no século passado era assim.

Indico às Amigas e aos Amigos “Feicebuqueiros” darem uma lida no Blog do Dr Junior Bonfim, acerca de um debate jurídico de alto nível, entre os Dois, acima mencionados, ressalto, que, quem não é afeito as matérias jurídicas não acessem, termino com uma citação do Doutíssimo Boaventura Bonfim: “sem deslizar para teimosia típica de um Bonfim...” repito, a citação não é minha... Vale a pena ir ao Blog... Ticuá – RJ


TICUÁ - RJ disse...

"O ERRO NÃO PRECLUI", PORTANDO, NECESSÁRIO SE FAZ, A SEGUINTE CORREÇÃO: QUEM PROFERIU CITAÇÃO "SEM DESLIZAR PARA TEIMOSIA..." NÃO FOI O DIGNÍSSIMO DR. BOAVENTURA, E SIM, O NÃO MENOS DIGNÍSSIMO DR. JUNIOR BONFIM, PEÇO A DEVIDA VENIA!

Com certeza não me aventuro nesta teima por saber. Li com ansiedade esperando alguém ceder. Vence a maturidade com respaldo no latim e ganha quem tem o prazer de ler e dizer sem custo algum que bom seria que toda teimosia terminasse com um BONFIM.

Edmilson Providencia.



terça-feira, 13 de novembro de 2012

POLÍTICA & ECONOMIA NA REAL

E ele, em que lugar estava?

Nos últimos dois anos sete bancos foram liquidados ou sofreram intervenção do BC. A razzia começou com o Banco Panamericano, repassado para a Caixa Econômica e o BTG, e seguiu com o Cruzeiro do Sul, o Matone, o Prosper, o Schain, o Morada e, no mês passado, o BVA. O caso Panamericano ainda hoje dá dor de cabeça e seus controladores, especialmente a Caixa, que entrou no negócio, como todos sabem, por uma decisão política de Brasília. E sem ter sido alertada das fraudes que por lá havia, pelo menos é isto que seus dirigentes alegam quando cobrados. Em todos esses bancos foram encontradas fraudes, algumas mais outras menos grossas, que se realizaram ao longo de um bom tempo, não nasceram na antevéspera da intervenção. As revelações que a imprensa vem trazendo a respeito dos negócios do Cruzeiro do Sul são, no mínimo, cabeludas. No mercado também se comenta assustadamente as coisas que se passavam no BVA. Coisas medidas em bilhões de reais, um bom naco com os fundos de pensão das estatais. A pergunta que não quer calar é simples : por onde andava a fiscalização do BC todo esse tempo?

Mais benefícios

Na semana passada o governo fez mais uma modificação na regra dos compulsórios. Pode servir como uma luva num banco muito comentado atualmente, até por suas histórias paralelas no mensalão: o mineiro BMG.

Curiosidade aguçada

Depois dos balanços do trimestre encerrado em setembro dos três maiores bancos privados nacionais - Bradesco, Itaú e Santander - e do maior banco público, o BB, todos com resultados inferiores ao esperado, a grande expectativa do mercado é com os resultados da CEF. A CEF tem sido mais audaciosa que os bancos privados e até que o BB, não só na política de rebaixamento dos spreads, como também na concessão de empréstimos. O BB aumentou seus empréstimos mas teve reduzido seu lucro. A Caixa vai dar uma aula para todos os concorrentes?

O etanol em pane

O endividamento das usinas de açúcar e álcool subiu quase 25%, e está próximo dos R$ 52 bi. E a previsão é de que pode subir ainda uns R$ 5 bilhões nos próximos meses. O setor está querendo um fôlego oficial qualquer para ultrapassar a tempestade e não surgir alguns calotes. O problema mais sério está ligado ao preço da gasolina, usado pelo governo como uma das âncoras da política antiinflacionária, mas que ajuda a deprimir o preço do álcool e o caixa das usinas.

Será que vai subir?

Há dias, o ex-ministro e ex-deputado Delfim Neto, insuspeito de qualquer tipo de oposicionismo no momento, fez coro com a direção da Petrobrás, dizendo que está mais do que na hora de o governo permitir um aumento no preço da gasolina e do diesel para não garrotear ainda mais o caixa da estatal. Mas não há sinais de fumaça no ar que o reajuste esteja a caminho. Os suspiros da inflação, embora pequenos, incomodam Brasília. O espaço para o aumento dos combustíveis está sendo preparado pela redução das tarifas de energia, entre 16% e 28%, média de 20%, prometido pela presidente Dilma para fevereiro.

Uma novela: as tarifas de luz

Dilma terá mais trabalho do que imaginava para aprovar a MP 579, de prorrogação de contratos de energia elétrica, somado a redução nas contas de luz. As reações das empresas ao valor das indenizações que terão de receber e ao novo valor da tarifa, não foi das melhores. Até a Eletrobrás está chiando. Dilma diz que não admite que a MP seja desfigurada no Congresso, porém há pressões fortes das empresas e de algumas bancadas estaduais. Nos últimos dias, sinal de que o jogo pode ir longe, quem sabe numa batalha judicial, o ministério de Minas e Energia passou a admitir, por exemplo, reabrir o prazo para a estatal mineira Cemig aceitar a prorrogação de todas as suas usinas com contratos vencendo. Se abrir uma exceção para a Cemig receberá outras reivindicações. Já há quem diga que talvez a redução das contas de luz venha a ser bem menor do que o projetado.

Um alerta

A votação da redistribuição dos royalties do petróleo, quando a Câmara não atendeu a pelo menos dois desejos da presidente Dilma - destinar o dinheiro em sua totalidade para a área de educação e só adotar novos critérios para o petróleo novo, não incluindo o que já está licitado e em produção - é um alerta para o governo para as dificuldades que ele pode encontrar na hora de votar a MP 579. A Congresso jogou uma bomba no colo da presidente: se vetar desagrada, se não vetar, desagrada também. E nos dois casos o fim da confusão pode ser o STF. Porém, dependendo do correr da briga no Judiciário, o governo pode ficar impedido da realizar, no tempo prometido, licitação de novas áreas de exploração de petróleo, tanto nas áreas do pré-sal como nas outras. Há sete anos não ocorre nenhum leilão, o que está levando à diminuição das reservas nacionais e até a uma estagnação da produção brasileira. Um adiamento desses leilões já marcados - maio e novembro - mais a confusão na área elétrica, não seriam nada agradáveis com os investidores, já ressabiados com o que muitos chamam de excesso de intervencionismo e outros de excesso de voluntarismo do governo brasileiro.

Dilma e 2014

A prioridade da presidente Dilma, como ficou claro nos últimos dias, é reorganizar suas alianças políticas com vistas à disputa pela reeleição. As mudanças ministeriais em vista - a presidente diz que não é reforma, serão apenas ajustes - terá apenas este sentido. Não virá para melhorar o desempenho da equipe de governo, embora, em algum momento possa trazer tal benefício. E tudo está sendo feito de comum acordo com o presidente Lula, com quem ela teve, na terça-feira à tarde, no Palácio da Alvorada, uma conversa de longas quatro horas. Como o esquema está fechadíssimo, Brasília, que normalmente já é um poço de boatos, está fervilhando. Certo mesmo é que o prefeito Kassab ganha um Ministério - para ele ou para alguém do PSD - e o PMDB terá mais uma cadeira na Esplanada.

Não é a oposição...

...no momento a preocupação de Lula e de Dilma. PSDB, DEM e PPS precisarão primeiro encontrar um rumo antes de incomodarem o Planalto. A fera a ser acompanhada se chama Eduardo Campos. E a tática do governo parece ser dividir seu partido. A cunha são os irmãos cearenses Cid e Ciro Gomes. Ao contrário, por exemplo, do que aconteceu com o PT e o PMDB, que tiveram todas as suas cúpulas reunidas num jantar com a presidente, a conversa de Dilma com o PSB foi dividida em duas: um jantar com Eduardo Campos e um almoço com o governador do Ceará, Cid Gomes. E Dilma parece apostar que o PSD e do B vá domar o PSB.

Semana vazia

Afora os ajustes da presidente Dilma com seus aliados - ontem ela jantou com o grupo do prefeito Gilberto Kassab - a semana política, mais até do que a semana, com o feriado nacional de 15/11, e o feriado em muitos municípios do dia 20 (Dia da Consciência Negra) vai esvaziar Brasília. Afinal, como ensinava o poeta pernambucano Ascenso Ferreira, "ninguém é de ferro". Pelo menos não todos os brasileiros. Com isso, o Câmara e Senado, ficarão com pouco mais de 30 dias corridos (contando os sábados e domingos) para aprovar, entre outras coisas urgentes, algumas MPS que vão caducar até janeiro, o Orçamento Geral da União e as novas regras para o Fundo de Participação dos Estados. Dificilmente, na correria, sairá uma coisa de alta qualidade.

(por Francisco Petros e José Marcio Mendonça)

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