sexta-feira, 7 de junho de 2013

TEMPO CERTO



De uma coisa podemos ter certeza:
de nada adianta querer apressar as coisas;
tudo vem ao seu tempo,
dentro do prazo que lhe foi previsto.
Mas a natureza humana não é muito paciente.
Temos pressa em tudo e aí acontecem
os atropelos do destino,
aquela situação que você mesmo provoca,
por pura ansiedade de não aguardar o tempo certo. Mas alguém poderia dizer:
Qual é esse tempo certo?

Bom, basta observar os sinais.
Quando alguma coisa está para acontecer
ou chegar até sua vida,
pequenas manifestações do cotidiano
enviarão sinais indicando o caminho certo.
Pode ser a palavra de um amigo,
um texto lido, uma observação qualquer.
Mas, com certeza, o sincronismo se encarregará
de colocar você no lugar certo,
na hora certa, no momento certo,
diante da situação ou da pessoa certa.

Basta você acreditar que nada acontece por acaso. Talvez seja por isso que você esteja
agora lendo estas linhas.
Tente observar melhor o que está a sua volta.
Com certeza alguns desses sinais
já estão por perto e você nem os notou ainda.
Lembre-se, que o universo sempre
conspira a seu favor quando você possui um
objetivo claro e uma disponibilidade de crescimento.

Paulo Coelho

EU, O POETA E O MENINO


*

Aquele antigo sobrado

Que eu via e achava belo

Mais parecia um castelo

Onde tudo era encantado

Onde um poeta afamado

Cheio de sonhos vivia

A musa e a fantasia

Povoavam sua mente

Ali plantou a semente

E viu brotar poesia.

*

O antigo casarão

Inda hoje me fascina

Guardo no olhar de menina

O castelo com emoção

Saudosa recordação

De um poeta inspirado

Que ali viveu no passado

Falando de pirilampos,

Das borboletas nos campos

E do luar prateado.

*

Nesse castelo encantado

Eu conheci um menino

Com seu jeitinho ladino

Ele sentava ao meu lado

Com o violão afinado

Ao cantar me seduzia

Era tamanha a magia

Que de cantiga em cantiga

Fui ficando sua amiga

E ainda sou hoje em dia.

*

O castelo ainda me encanta,

Esta no céu o poeta.

O menino tem sua meta

Tanto compõe como canta

A minha emoção é tanta

Pois sei também versejar

Quero minha terra cantar

Mostrar o meu universo

Cantando em cada verso

Como meu mestre mandar.

*

Neste texto presto minha homenagem ao poeta Costa Matos

E ao cantor e compositor Carlitto Mattos.


Texto e foto de Dalinha Catunda

quinta-feira, 6 de junho de 2013

A SABATINA DE BARROSO, O NOVO MINISTRO DO STF

Em sete horas de sabatina, Barroso recita poemas e faz piada, mas não deixa de lado temas como mensalão

BRASÍLIA — Frasista que pontuou seus votos durante os sete meses no Supremo Tribunal Federal (STF) com pérolas como “derramamento de bílis e produção de neurônios não combinam”, o ex-ministro Carlos Ayres Britto terá um substituto à altura do seu bom humor na cadeira vaga com a aposentadoria compulsória. O jurista Luís Roberto Barroso atravessou as cerca de sete horas da sabatina realizada no Senado nesta quarta-feira com leveza, sem deixar de lado temas espinhosos. Mas em vários momentos, com tiradas pouco usuais ao momento, levou às gargalhadas o plenário abarrotado de senadores, familiares, advogados e ex-ministros do STF. Além disso, pela primeira vez um sabatinado respondeu perguntas de internautas.

O sucessor de Ayres Britto, que acompanhou a sabatina, fez citações em espanhol, repetiu versos de Neruda, Manuel Bandeira, falou das agruras do seu longo casamento de 30 anos na presença da mulher e, ao comentar o detalhismo e abrangência da Constituição brasileira, repetiu um slogan muito usado pelas cartomantes, pregados em postes, para atrair clientes desesperados e desavisados.

- A Constituição tem solução para tudo, só não traz a pessoa amada em três dias. Fora isso, quase tudo é possível fazer! - brincou Barroso, dando ali o tom da informalidade em suas respostas, sem comprometer o embasamento jurídico.

Em determinado momento, ao falar que era muito bem casado, mostrando no plenário a mulher, filhos e genro, Barroso voltou a provocar gargalhadas.

- O casamento só é ruim nos primeiros trinta anos, depois a gente vai dando um jeito! - disse, rindo dele mesmo e olhando para a esposa ali na frente.

Os senadores entraram no clima das brincadeiras. O líder do governo no Senado, Eduardo Braga (PMDB-AM) continuou:

- Digo ao senhor, professor Barroso, que meu casamento não precisa ser revisto.

Costumeiramente sisudo, o líder do PSDB, senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP) complementou:

- O casamento é cláusula pétrea - seguido de risos.

- Que medo! - replicou Braga.

Sem almoço e plantado na cadeira desde as 10h30min, por volta das 14h o futuro ministro do Supremo foi socorrido pelo senador Pedro Taques (PDT-MT).

- Senhor presidente, o princípio da dignidade humana também vale para o sabatinado. Será que ele não quer ir ao banheiro ou fazer um lanche? - disse Taques.

Presidindo a sessão, o vice-presidente da CCJ, Aníbal Diniz (PT-AC), respondeu que às 14h30min haveria uma pausa.

- Mas caso precise, se tiver apertado, ele pode reivindicar (o direito de ir ao banheiro) - completou.

- Obrigada por zelar por minhas circunstâncias - agradeceu Barroso, dirigindo-se a Taques.

Ao ser perguntado sobre o funcionamento da TV Justiça e as transmissões dos julgamentos ao vivo, Barroso disse ser favorável à existência da emissora e disse que dá transparência as atividades do tribunal. E repetiu expressão utilizada pelo procurador-geral da República, Roberto Gurgel, ao classificar a ação dos condenados no mensalão.

- Acaba com a imagem de que, atrás de cada porta fechada, estão acontecendo tenebrosas transações. As transmissões têm caráter pedagógico importante. Acho que faz bem ao país - disse Barroso, referindo-se a trecho da letra de "Vai passar", música de Chico Buarque e Francis Hime.

Em suas respostas, Barroso procurou ser transparente. Lembrando Manuel Bandeira, disse: “Só não fui mais claro porque não soube”. E falou muito do seu estilo pessoal e da importância de ter uma ideologia. Disse que foi um militante do movimento estudantil e que sempre teve o coração dividido entre a vida política e a vida acadêmica. Optou pela acadêmica, mas sempre manteve um olhar político sobre a vida

- Na vida no hay o que temer - disse, entremeando as falas em Espanhol. - Hay que tener una ideologia.

De Neruda, Barroso emprestou uma fração de poema para expressar seu grande amor pelo Brasil. Disse que em momento algum pensou em morar fora daqui.

- Todos os meus afetos estão aqui. Mil vezes tivera que nascer, queria nascer aqui. Mil vezes tivera que morrer, queria morrer aqui.

Sobre seus credos, disse que crê no bem, na Justiça e na tolerância. Sobre diversidade religiosa, disse que é filho de mãe judia, pai católico, viveu com uma família protestante e tinha um amigo faz-tudo doméstico que era da Arábia Saudita.

- Todos os sentimentos são plurais nessa matéria - disse.

Fluminense de Vassouras, Luiz Roberto Barroso lembrou que sua cidade natal produziu três ministros do STF, e que não sabia como tinha chegado ao posto.

- Achei que a cota de Vassouras já estivesse completa. Não sei exatamente como cheguei aqui - disse.

Durante a sabatina, Barroso foi muito incensado por todos e encerrou sua sabatina emocionado, com os olhos cheios de lágrimas e aplaudido por todos.

- Vossa Senhoria me obriga a fazer algo que não costumo fazer nessa tribuna: reconhecer que, desta vez, a presidenta Dilma acertou - confessou o tucano Aécio Neves (PSDB-MG).

O único momento de constrangimento foi no plenário, quando se apreciava já a aprovação da CCJ. O senador Magno Malta (PR-ES), que na véspera prometera comparecer à sabatina para questioná-lo sobre um processo movido por uma advogada e arquivado, não o inquiriu durante a sabatina. Mas foi ao plenário protestar pelas manifestações do futuro ministro sobre redução da maioridade penal e aborto.

- Ele vai para um tribunal superior e depois daquele tribunal só tem Deus - protestou Magno Malta.

(Fonte: O GLOBO)

A LISTA

Faça uma lista de grandes amigos,
quem você mais via há dez anos atrás...

Quantos você ainda vê todo dia?
Quantos você já não encontra mais?

]Faça uma lista dos sonhos que tinha...
Quantos você desistiu de sonhar?

Quantos amores jurados pra sempre...
Quantos você conseguiu preservar?

Onde você ainda se reconhece,
na foto passada ou no espelho de agora?

Hoje é do jeito que achou que seria?

Quantos amigos você jogou fora...
Quantos mistérios que você sondava,
quantos você conseguiu entender?

Quantos defeitos sanados com o tempo,
era o melhor que havia em você?

Quantas mentiras você condenava,
quantas você teve que cometer?

Quantas canções que você não cantava,
hoje assobia pra sobreviver ...

Quantos segredos que você guardava,
hoje são bobos ninguém quer saber ...

Quantas pessoas que você amava,
hoje acredita que amam você?

(Oswaldo Montenegro)

quarta-feira, 5 de junho de 2013

CONJUNTURA NACIONAL

Abro a Coluna com duas historinhas.

Qualquer desculpa serve

Teotônio não era apenas o apóstolo da redemocratização. Era um aplicado discípulo do Cristo. Como Ele, gostava de falar por parábolas. No Clube dos Repórteres Políticos do Rio, perguntaram-lhe por que o governo e a Arena tinham tanto medo das eleições diretas. Ele sorriu e contou:

- "A vaca do compadre pobre apareceu no pasto do compadre rico. O compadre pobre pediu ao compadre rico uma corda para tirar a vaca de lá. O compadre rico desconversou:

- Agora, eu vou à missa.

- Mas, compadre, o que é que tem minha vaca com a sua missa?

- "Compadre, quando a gente não quer, qualquer desculpa serve".

Cuidado para não cair

Quintino Cunha, famoso advogado e poeta, estava participando de um júri em Quixeramobim. O promotor berrava na tribuna:

- Senhores jurados, estou montado na lei.

Quintino pede um aparte:

- V. Exa. tenha cuidado para não cair, porque está montado em um animal que não conhece.

O promotor se calou.

(Historinhas contadas pelo amigo e melhor contador de causos de nossa política, Sebastião Nery)

Mar borrascoso

Não há perigo de tempestades imediatas. Mas não se pode igualmente garantir que a calmaria toma conta do oceano. Digamos que há sinais de um mar borrascoso, a continuarem as nuvens plúmbeas dos últimos tempos. Estamos falando da relação entre o governo Dilma e suas bases. Os partidos da aliança governista, sem exceção, estão insatisfeitos com a indiferença da presidente para com a esfera política. Não se trata apenas de resistir às pressões para liberação de recursos destinados às bases dos parlamentares. Trata-se, sobretudo, do espírito que reina sobre a administração : ministros sentem-se limitados em suas ações ; secretários executivos fazem a ponte entre a presidente e os ministérios ; partidos não apitam nas políticas ministeriais e, assim, a política de coalizão vai se tornando em política de colisão.

PMDB faz alerta

Os presidentes da Câmara e do Senado, Henrique Alves e Renan Calheiros, foram levados pelo vice-presidente Michel Temer para uma conversa franca e leal com a presidente Dilma. Fizeram ver que o Congresso não pode e não deve trabalhar de afogadilho, sendo o escoadouro das questões de interesse governamental. Precisa agir nos trâmites estatuídos na Carta Maior, respeitando-se os princípios da autonomia, independência e harmonia entre os Poderes. Todo cuidado foi tomado para evitar críticas mais acerbas ao comportamento das ministras Gleisi e Ideli. Na verdade, as duas não têm poder de mando. Funcionam como veículos de transporte de mensagens e recados. A relação entre Congresso e Executivo precisa ser mais respeitosa.

Tensões na base

Nunca se viu, como hoje, um contencioso mais denso e polêmico que este gerado pelas tensões entre o governo e suas bases. Líderes e partidos criticam, de público, ações e atitudes da presidente e de suas ministras que promovem a articulação política. Governistas já usam expressões que sinalizam distanciamento de seus partidos do governo em face do descaso a que são submetidos. Com o PMDB, as parcerias com o PT estão ameaçadas em 7 Estados. O PMDB quer fazer o maior número possível de governadores, meta que também está na planilha do PT. O ex-presidente Lula, diz-se, após o périplo que faz em alguns países, vai se dedicar à tarefa de harmonizar os espíritos. Tarefa que, desta feita, tende ao fracasso.

De olho no pibinho

Os eventuais quatro candidatos principais à presidência da República poderão empurrar o pleito de 2014 para um segundo turno. As pesquisas mostram que se todos forem à luta - Dilma, Aécio, Marina e Eduardo Campos - as chances de um segundo turno tornam-se muito fortes. Ademais, sinais preocupantes se observam no horizonte, com as indicações de queda de 10 pontos percentuais na avaliação da presidente Dilma e de inclusão do cardápio da inflação na conversa matinal das donas de casa que fazem feira. A queda de Dilma pode não ser impactante, face à alta avaliação que dispõe - 76% de boa avaliação. Quem pode acinzentar a moldura é a continuidade de um pibinho inexpressivo sob o pano de fundo de um desemprego crescente. Isso, sim, poderia ser uma frente de obstáculos. Por isso, a economia estará no olho do furacão nos próximos tempos. Ou no olho dos pré-candidatos.

Consumo X investimento

Há uma intensa discussão no meio da equipe econômica. Como se sabe, nem todos rezam pela mesma cartilha. Há aqueles que ainda defendem o incentivo ao consumo como pista para se chegar ao pódio eleitoral. E há aqueles que acham tal receita completamente defasada. Os tempos bicudos de hoje já não facilitam medidas de impulso ao consumo, como as que o Brasil adotou para escapar da crise de 2008. O novo tom é o da orquestra que toca os arranjos dos investimentos. Diz-se que a arenga entre os pensantes de um lado e de outro é ácida. E que, por conta disso, figuras importantes estão dando adeus ao governo, como é o caso do secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Nelson Barbosa.

MP 609

Vem aí a MP 609, que trata da cesta básica. Nela estaria embutido o escopo da frustrada MP 605, que não foi votada pelo Senado e caducou. Pois bem, essa MP é daqueles que mexem com o governo, eis que contem matéria vital para a melhoria do clima social. Há receio de que seja vencida pelo tempo. Não tem ainda parecer do relator, deputado Edinho Araújo. O receio é que, aprovada às pressas pela Câmara, chegue ao Senado fora dos prazos regulamentares, estatuídos pelo presidente Renan Calheiros.

Partido Rede

Boas perspectivas: o Rede Sustentabilidade, partido de Marina Silva, deverá ser formalizado até a data fatal de princípio de outubro deste ano, um ano antes das eleições. Até julho, a entidade terá suas 500 mil assinaturas. O corredor do Tribunal Eleitoral é que pode ser longo.

PSD em baixa?

Ouve-se, aqui e acolá, um bochicho dando conta da fuga do PSD que alguns parlamentares estariam programando caso, até outubro, novos partidos políticos apareçam no espectro partidário. Além do Rede, de Marina, espera-se que o partido que está sendo criado por Paulinho da Força também ganhe vida. No caso do PSD, fala-se da tendência de parcela do corpo parlamentar em deixar a base governista para se aliar a Aécio Neves ou Eduardo Campos. Kassab, mãos à obra !

Padilhando...?

Dizem que o ministro Alexandre Padilha já recebeu bilhete azul para viajar no pleito de 2014 como candidato ao PT ao governo de SP. Incrível, pois o ministro tem pouca coisa a apresentar. Se há um lado feio na paisagem social é o da Saúde. A ponto de Padilhando ser chamado de ministro da Doença. Por isso, o padilhando, o gerúndio que o pré-candidato começa a semear no jardim da marquetagem, pode se transformar no vadiando ou no maltratando...!

Segurança crítica

Segurança Pública será, seguramente, temática da linha de frente nas campanhas eleitorais de 2014, principalmente nos maiores Estados, cujas metrópoles pedem SOS. Os casos de barbaridade explodem. Crimes hediondos se multiplicam. Qual a solução? Mais policiais? Salários melhores? Integração das Forças? Investimento em Inteligência? Diminuição da maioridade penal? Aumento do prazo de detenção do adolescente criminoso? Mudança no Estatuto da Criança e do Adolescente? Expansão das redes dos presídios? Instituição de bônus-prêmio para policiais com melhores resultados na diminuição dos índices de violência?

Horizontes do Bradesco

"As expectativas para as principais variáveis macroeconômicas passaram por ajustes, especialmente para 2013, respondendo à frustração com o resultado do PIB do primeiro trimestre, à mudança de ritmo do aumento da Selic anunciada na decisão do Copom na última quarta-feira e à rápida depreciação da moeda brasileira, observada na semana passada, conforme apontado pelo Relatório Focus − divulgado hoje pelo Banco Central, com estimativas coletadas até o dia 31 de maio. A mediana das expectativas para o IPCA passou de 5,81% para 5,80% para este ano e seguiram em 5,80% para ano que vem". (Departamento de Estudos e Pesquisas Econômicas do Bradesco)

PIB de 2,77%

"A estimativa de crescimento do PIB mostrou queda para 2013, passando de 2,93% para 2,77% e caiu de 3,50% para 3,40% para 2014. A mediana da projeção para a taxa Selic subiu de 8,25% para 8,50% para este ano e continuou em 8,50% para 2014. Por fim, as projeções para a taxa de câmbio apresentaram discretos ajustes na direção do real mais depreciado, passando de R$/US$ 2,03 para R$/US$ 2,05 em 2013 e de R$/US$ 2,07 para R$/US$ 2,10 em 2014, considerando a expectativa para final de período". (Bradesco)

Afif governador

Pois é, Guilherme Afif assumirá, na próxima semana, o governo de SP, substituindo o governador Alckmin, que viajará à Europa. Alckmin defenderá, em Paris, ao lado do vice-presidente Michel Temer, a candidatura da capital paulista como sede da Expo 2020. Afif pedirá afastamento temporário da Pasta da Micro e Pequena Empresa. Não há nenhum obstáculo a essa ação. O ministro segue rigorosamente a orientação da AGU. Que, em parecer, defendeu não haver nenhuma ilegalidade para que o vice-governador assuma o governo temporariamente.

Medo em bares e restaurantes

A onda de violência em bares e restaurantes da cidade deve provocar uma procura maior por segurança privada, a maneira indicada para conter os arrastões. Mas os proprietários não podem incorrer num erro primário : contratar pessoas sem experiência e, muito menos, empresas clandestinas que infestam o mercado, dessas sem autorização da Polícia Federal para funcionar. Cautela é fundamental : informe-se sobre a idoneidade da empresa na própria PF ou no Sindicato das Empresas de Segurança Privada, Segurança Eletrônica, Serviços de Escolta e Cursos de Formação do Estado de São Paulo - Sesvesp.

Picadinho

A propósito da mulher que fez picadinho do marido-japonês, a coluna recebe esse alerta do amigo Álvaro Lopes:

"Até a década de 70, se a mulher descobrisse uma traição ela perdoava e cuidava do marido, com medo de ser abandonada...

Na década de 80, se a mulher descobrisse uma traição, juntava as próprias coisas na mala e ia embora...

Na década de 90, se a mulher descobrisse uma traição, juntava as coisas do marido na mala e o mandava embora...

Hoje, quando a mulher descobre a traição, junta o marido em pedaços na mala e joga tudo fora".

Conselho ao novo ministro do STF

Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes, membros dos Poderes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos dirigentes da ANAC. Hoje, volta sua atenção para o ministro Luís Roberto Barroso, recém-nomeado para compor o quadro do STF:

1. A sociedade organizada acompanha com atenção a movimentação que culminou com sua nomeação para o elevado cargo de ministro da mais alta Corte do país, graças aos seus méritos pessoais e reconhecida sapiência de jurista.

2. É de esperar que a passagem de Vossa Excelência pelo STF será coroada de êxitos e brilho. O momento político-institucional mostra o acirramento de tensões entre os Poderes, motivo pelo qual sua performance - decisões, julgamentos, pareceres - deverá receber alta atenção dos operadores do Direito e das lideranças da sociedade.

3. Por isso mesmo, toda cautela se fará necessária para que os julgamentos a cargo de Vossa Excelência estejam imunes ao "viés politiqueiro", que passou a carimbar as atitudes de membros da Corte Suprema. Que a recomendação de Vossa Excelência ilumine as decisões de todos os seus futuros colegas: "STF não deve ceder à pressão da sociedade".


(Gaudêncio Torquato)

terça-feira, 4 de junho de 2013

POLÍTICA & ECONOMIA NA REAL

Mudança no rumo econômico

Pode anotar aí: a divulgação do fraco PIB na semana passada, a elevação mais acentuada da taxa de juros básica e a alta do câmbio são evidentes sinais de mudança dos rumos da economia brasileira. Não é que estejamos valorizando strictu sensu os dados. O que estamos a dizer é que estes indicadores são uma espécie de corolário do fracasso da política econômica oficial. A desconfiança aumentou de vez. Há alguns praticando o argumento de que não pode haver falta de confiança quando a Petrobras emite um volume enorme de títulos de renda fixa, a BB Seguridade emite ações em larga escala e houve sucesso nos leilões de áreas de exploração de petróleo. Os dois primeiros fatos estão relacionados com o momento do mercado lá fora e ao pricing das operações. O mercado financeiro atende a relação de risco versus retorno no curto prazo e com uma rationale própria. Nada diretamente relacionado com o PIB e com o futuro no médio prazo da economia brasileira. Quanto aos leilões, o sucesso é óbvio, mas estamos a tratar de uma commodity, segmento no qual o Brasil é um dos campeões mundiais. A frase serve mais ao proselitismo político que à análise dos fatos econômicos.

A hora dos "fatores estruturais"

O momento econômico do país mostra mazelas e variáveis muito mais inquietantes: (i) um processo de desindustrialização acentuado, sem a incorporação de segmentos modernos e necessários à sustentação do crescimento, (ii) perda da dinâmica interna do crescimento pela impossibilidade de incorporar mais consumo oriundo de gastos públicos, (iii) falta de competitividade sistêmica pela ausência de reformas (tributária, infraestrutura, educação, tecnologia, violência urbana, ineficiência judiciária, etc.) e (iv) a antecipação da corrida eleitoral e o aumento dos riscos correspondentes. Há quem veja nestes pontos uma "linha estrutural" perturbando o desempenho conjuntural. Isto é uma questão de visão ou de metodologia. O fato é que os agentes ambicionam ver estas variáveis tomando o rumo certo e, assim, mudando as expectativas. O que de fato se vê é uma completa inoperância do país (não somente do governo) no sentido de iniciar a solvência destas variáveis. Prevalece a letargia do Palácio do Planalto e seus 39 ministérios, a política "feijão com arroz" do ministro Mantega e o Congresso voltado aos seus interesses mais corporativos (na falta de outra palavra). O poder não admite vácuo. Por ora, é o que se vê.

Câmbio vai desvalorizar?

Os problemas estruturais podem ser muitos, mas são todos passíveis de solução, mesmo que não sejam fáceis. Todavia, consolida-se a ideia de que a atual valorização do real inviabiliza qualquer passo mais certeiro na direção do crescimento sustentado. Como se sabe, é preciso que a taxa real de câmbio venha a se desvalorizar para que a competitividade do país aumente. Isso necessita de três movimentos que não dependem integralmente do governo : (i) a própria alta da cotação nominal do câmbio, (ii) da inflação residual provocada pela alta da taxa de câmbio, (iii) da inflação externa e os efeitos dos termos de troca (quantidade de mercadorias exportadas/importadas e seus respectivos preços). A "solução da valorização cambial" é delicada e provoca num primeiro momento mais desorganização no sistema econômico do que benefícios. FHC manipulou erroneamente o câmbio e o custo foi um segundo mandato medíocre em termos de crescimento. De toda a forma, apostar na alta das moedas estrangeiras frente ao real nos próximos meses faz muito sentido. Assim como, nos seus efeitos negativos do ponto de vista da inflação, salários e atividade econômica. Nessa ordem.

Em busca da credibilidade ameaçada - I

Por mais que o governo tenha reagido "olimpicamente" aos maus indícios vindos do fronte econômico na semana passada, com o PIB diet de 0,6% no primeiro trimestre e a elevação dos juros básico pelo BC de 0,5 ponto percentual - com uma esticada do dólar de mais de 7% em menos de uma semana - a realidade é que o nível de estresse no Palácio do Planalto e adjacências chegou a seu nível mais elevado desde que Dilma assumiu a presidência da República. As cabeças mais coroadas da República e seu espectro político não conseguem entender porque, apesar de todas as medidas adotadas nos últimos meses - foram nada menos que 18 pacotes - de incentivo ao consumo e desoneração fiscal, a economia não deslancha. O mistério está indo além da vã filosofia oficial. O que se viu - a começar por um ministro da Fazenda Guido Mantega desacorçoado, anunciando que o governo não terá novas medidas - foi um governo perplexo, quase atordoado.

Em busca da credibilidade ameaçada - II

O revés que boa parte dos analistas - alguns próximos do oficialismo, com entradas palacianas - havia previsto, mas Dilma e os seus preferiam não ver. A reação agora, salvo recaída de última hora, parece mais realista. Definitivamente desistiu-se de perseguir um PIB de mais de 3% este ano, aceitando-se a tese do BC de que o problema imediato a combater é a inquieta inflação. Não fosse por nada, pelo tudo de estragado que a indisciplina dos preços já causou em décadas passadas no Brasil, pelo recado muito bem dado pelo próprio PIB de janeiro, fevereiro e março : a estagnação (aumento de apenas 0,1%) no consumo das famílias é reflexo direto da rebeldia inflacionária. Aliás, como o BC já havia tentado provar em outras ocasiões e havia sido rechaçado com ceticismo por seus pares governamentais.

Em busca da credibilidade ameaçada - III

É cruel admitir, porém, para Alexandre Tombini e seus subordinados de BC, o raquítico PIB inaugural de 2013 veio mais do que em boa hora: permitiu à autoridade monetária recobrar um pouco a credibilidade que estava se esvaindo por causa de tergiversações anteriores e, o mais importante, pudesse iniciar o combate à renitente inflação antes que o processo inflacionário começasse a fugir totalmente do controle. O mundo político oficial, aparências à parte, engoliu sem deglutir direito a "ousadia" do BC de acelerar o ritmo de elevação da taxa Selic, mas provavelmente lá na frente vai agradecer muito à Tombini e sua turma. Pior seria deixar os riscos correrem frouxos agora e chegar ao período mais agudo da campanha eleitoral, em 2014, com a inflação mais nervosa e comendo a renda e o emprego dos trabalhadores. De forma alguma não foi esta motivação da autoridade monetária, mas a maior contribuição até agora para a campanha reeleitoral de Dilma foi dada pelo BC contrariando o senso comum político. Quem diria !

A voz do PT?

José Dirceu ainda expressa em boa medida o que se poderia chamar de o "pensamento do PT". Em seu blog, o líder petista expressou a sua leitura sobre a atual política monetária : "Para nossos adversários é preciso mudar o modelo e não apenas subir os juros para reduzir a inflação. Até porque o dragão da maldade já dá sinais de recuo. Basta ler os editoriais dos jornais da direita conservadora. Não nos iludamos, o que está em jogo é nosso projeto político de desenvolvimento nacional e não apenas uma questão de política monetária e/ou da autoridade e autonomia do Banco Central (BC)". Cabe reflexão o enunciado de Dirceu.

Um ensaio?

O programa compulsório do PSDB no feriado de quinta-feira no rádio e na televisão, estrelado por Aécio Neves, teve alguns sinais de que o partido pode estar mudando seu discurso eleitoral para questões mais objetivas e mais de alcance do eleitorado. O foco na inflação é proposital : há pesquisas de que os preços já começam a mexer com parte da confiança da população na política econômica. É este o eleitor a ser disputado. O próprio PT já detectou este flanco. Segundo interpretação do presidente do partido, Rui Falcão, uma voz que ouve muito os assobios de Lula antes de se expressar, as conquistas sociais já não são suficientes para reeleger Dilma. O que explica o porquê, mesmo se como estivesse indo para o cadafalso, do mundo político oficial aceitar a demonstração de autonomia do BC aumentando para 8% a taxa básica de juros e indicando que novas doses do amargo remédio podem ainda ser aplicadas este ano. É bater a inflação ou bater a inflação.

Por que a ressalva?

Resposta do presidente de Lula em entrevista ao jornal colombiano "El Tiempo" a uma pergunta que questionava o fraco desempenho atual da economia brasileira : "Sem arrogância, eu acho que as perspectivas de crescimento são tão promissoras que, ainda que o governo cometa erros, tudo sairá bem". (grifo da coluna). Cometer erros quem ? Quais erros ?

A "nova competência" do governo - I

O choque do PIB raquítico parecer ter dado um solavanco no governo : desde quarta (e a imprensa foi pródiga de informações oficiais sobre isto nos últimos dias) só se fala agora em Brasília "ancorar" o crescimento da economia nos investimentos. O crescimento deste item no PIB no primeiro trimestre já trouxe um novo ânimo, porém o carro-chefe deverá ser o pacote de concessões na área de infraestrutura : portos, aeroportos, rodovias, ferrovias e, obviamente, o pré-sal. Já se fala até em uma "overdose" de leilões no segundo semestre, a partir de setembro : mais de 30 terminais portuários, os aeroportos de BH e RJ, sete de trechos de rodovias, pelo menos duas ferrovias, entre estas o encantado trem bala, o promissor campo petrolífero de Libra... Dinheiro e concorrentes.

A "nova competência" do governo - II

A questão é saber se o governo terá fôlego para tanto e se vai fazer alterações em seus projetos iniciais capazes de atrair mesmo investidores. Embora tenha anunciado, por exemplo, mudanças nos leilões de rodovias, muitos interessados ainda estão reticentes. O ativismo inicial do governo, na base da Lei de Gerson, querendo levar vantagem em tudo, causou muitas desconfianças e vai ser preciso ainda um bom esforço para esta situação ser revertida. O trem bala rola há mais de dois anos e somente na semana passada a Empresa de Planejamento Logístico, responsável por tocar o projeto, passou a admitir aumentar a Taxa Interna de Retorno, uma das reivindicações dos possíveis concorrentes. Além do mais, há uma questão mais prosaica : o governo vai começar a mostrar mais "agilidade no fazer" e "competência na execução". O pacote de infraestrutura foi lançado em agosto passado - e até agora está nos prolegômenos. Antes isto era motivo apenas de discursos da oposição e comentários velados de alguns empresários. Agora, a dita "inapetência gerencial" do governo Dilma está na boca até de alguns de seus mais fiéis aliados.

A base aliada inquieta - I

Político profissional - ou de carreira - é, a começar pelo mais tolo deles, um bicho racional de faro afiadíssimo, capaz de sentir antes de qualquer radar a direção do vento. A maioria no Brasil tem seu GPS completamente direcionado para os endereços palacianos. Ora, a presidente Dilma desfruta, no momento, de uma das mais altas popularidades jamais desfrutada por um governante no Brasil, com índices acima de 80% rivalizando com os do próprio ex-presidente Lula, indubitável campeão de audiência no país neste quesito. Apesar dos vacilos da economia o grau de satisfação dos eleitores, medido pelo trinômio emprego-renda-poder de consumo da maioria dos cidadãos-eleitores, sequer foi arranhado. E, de acordo com bons especialistas nos ramos da ciência econômica e da ciência política, dificilmente o será até a chegada de 2014.

A base aliada inquieta- II

A sobrevivência da maioria quase absoluta da classe política está umbilicalmente ligada a quem tem tais cabedais, com o amparo dos imbatíveis Diário Oficial e uma caneta cheia de tinta. É, no entanto, é cada vez maior a insatisfação dos aliados tradicionais com a presidente Dilma e seu governo. Sem distinção de partidos, embora alguns estejam mais tristes com ela do que outros. Até no PT os amuos já são públicos - e de gente com boa assinatura em cartório. A falta de carinho, de verbas, de cargos, explica em parte as queixas. Porém, isso tudo é relevado quando a companhia é garantia de sobrevivência. É estranho o que está no ar. Será que sua sagacidade no mundo político profissional com praça assentada em Brasília está vendo jabuti em árvore?

Pobre oposição

No "Globo News Painel" de sábado passado, o competente jornalista William Waack conduziu um debate sobre os rumos da política brasileira - as vacilações do governo no Congresso, a rebeldia da base aliada, a imagem da gerente Dilma, a avaliação do governo da presidente e, naturalmente, a sucessão presidencial. Presentes, três dos mais respeitados analistas da cena nacional: o professor Bolivar Lamounier, Murilo Aragão, da Arko Advice, uma consultoria com sede em Brasília, e o cientista político e professor do Insper, Carlos Melo. Foi quase uma hora de boa e ilustrativa conversa. Pois bem. Em todo esse tempo, em nenhuma ocasião o nome do tucano Aécio Neves, provável candidato ao lugar de Dilma, foi citado. O de Marina Silva passou batido. E o de Eduardo Campos, também já dado como candidato oposicionista, foi falado en passant.

Dilma "nadando de braçada"

A opinião do grupo é a mesma da maioria dos analistas e da política : o mar eleitoral está todo para Dilma. As piranhas que podem ameaçar o nado seguro dela em direção ao segundo mandato são, principalmente, os desarranjos da economia. E adicionalmente seus próprios aliados e os desarranjos de seu próprio governo. A oposição, se não mudar seu discursos ou sua prática, será mera espectadora. Ou se beneficiará de coisas para as quais ela não contribui. Será caudatária de circunstancias políticas e econômicas.

(por Francisco Petros e José Marcio Mendonça)

segunda-feira, 3 de junho de 2013

SANTO ANTÔNIO VACILOU

Espalham que santo Antônio

É Santo casamenteiro

Já fiz promessa pro Santo

No cofre botei dinheiro

E para minha desgraça

Em mim ninguém acha graça

Tá difícil um companheiro.

*

Dos braços de Santo Antônio

Eu já roubei o menino

Achando que a simpatia

Mudaria meu destino

Porém prossigo solteira

Não gosto da brincadeira

Que me deixa em desatino.

*

Botei água numa jarra

E mais uma vez tentei

De cabeça para baixo

O santinho mergulhei

Nem mesmo fazendo assim

O santo lembrou de mim

Desesperada chorei.

*

Solteirona eu não fico

Alguém vai me socorrer

Ao candomblé ou umbanda

Inda posso recorrer

Ou então eu viro crente

E o santo fique ciente

Solteira não vou morrer!

*


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Dalinha Catunda

domingo, 2 de junho de 2013

O TREM DO MEDO



A nave da Igreja Senhor do Bonfim nunca admitira tantos fiéis como naquele distante domingo de janeiro de 1926, estava lotada. Aglomera-se gente até nas calçadas e, na ponta dos pés, estiravam o pescoço para melhor ver e ouvir a homilia do Padre Juvêncio. A pregação do sacerdote teve de tudo, menos o seu estilo característico, coloquial e ameaçador, sobre as benesses e os castigos do Evangelho. O Padre Juvêncio, ao perceber a grande inquietação, parecia um psicólogo:

- Meus amigos, fiquem calmos! Sabemos que os revoltosos estão chegando, mas não se alvorocem, por favor! Rezemos para que tenhamos a proteção de Nosso Senhor Jesus Cristo!

A maioria não esperou o final da missa. A prédica surtira um efeito contrário. Correram para suas casas e reforçaram as tramelas das janelas e das portas. Pelas ruas só se via os soldados dos municípios vizinhos ajudando à força policial do Governo Federal e da cidade de Crateús a reforçarem as barricadas e a cavarem trincheiras na Praça da Estação.

Alguém, imprudentemente e numa propagação desesperançada, anuncia aos quatro cantos da cidade, para que todos possam ouvir:

- O aviso do ataque veio pelo telégrafo da estação! A coisa não é de brincadeira, meu povo! Quem puder que se salve, pois o Capitão Peregrino soltou até o famigerado cangaceiro Zé Mourão, para proteger a nossa cidade!

O alvoroço, que já era grande, piorou. Os mais abastados, na calada da madrugada, sumiram para as fazendas, em ligeiras tropas de animais e, antes de escapulir, enterraram suas patacas de ouro e prata, amarradas em mocós de couro de bode, debaixo de algum verde juazeiro, pelas redondezas da cidade. Nestas desesperadas apreensões, para evacuar uma população em perigo, a quem tolha os movimentos e trave as suas ações, mas também há quem cedo se alvoroce e busque as soluções dos desespero.

Um trem estava parado na estação. E da idéia para a ação foi só o tempinho de reunir algumas famílias importantes, incluindo a do maquinista e do foguista, sem eles não teriam como partir. Tudo em surdina. Não poderiam espalhar a notícia, pois não comportaria uma cidade inteira nos vagões da Maria Fumaça. Dizem que foi o único trem que partiu sem um apito de despedida, e até o fumo que exalava de sua negra chaminé era pálido como a neve, para não chamar atenção! Mesmo assim, estava abarrotado de gente, que desertavam de sua cidade.

Fora o desagradável sacolejo dos vagões e o repetitivo som metálico: tchuc tchuc tchuc das rodas de aço nos encontros dos trilhos, só se ouvia as aves marias e as salve rainhas, quase silenciosas, dos lábios das aflitas senhoras com terços nas mãos. Algum soluço choroso, pelo pavor reinante nos lábios de uma criança, era imediatamente abafado. O Trem do Medo abria caminho pela madrugada incerta e todos tinham a impressão que caminhavam para a morte!

Alguns corajosos cidadãos, com seus revólveres winchester Smith na cartucheira, ou mesmo um socadeira dependurada no ombro, confabulavam com o condutor sobre a probabilidade de encontrarem os revoltosos pela frente, eles diziam:

- Maquinista, se avista uma tropa com lenço vermelho no pescoço, não pare o trem, siga em frente!

Avisaram para os demais passageiros que ficassem abaixados, principalmente quando passassem por uma cidade, e quem olhasse para aquele trem, deslizando sobre a linha férrea, teria a impressão de que era uns vagoes fantasmas, sem um vivente nas cadeiras.

O trem, enquanto engolia carvão, comendo distâncias, soltava fumaça e já passara pela cidade de Ipueiras, ao sopé da Serra de Ipiapaba, sem parar. Subitamente um grande medo toma conta de todos, pois o maquinista reduzira a velocidade. Na frente, um amontoado de dormentes despregados sobre os trilhos, anunciava perigo. Tiveram que parar, senão desencarrilhariam e seria grande o desastre. Primeiro, perscrutam qualquer som estranho, como um estalar de galhos, vozes de soldados ou o engatilhar de fuzis, pois estavam todos abaixados. Levantam-se, lentamente, e percebem que estão sozinhos, sem poder seguir para a cidade do Ipu. A linha férrea havia sido destruída.

Ponderam sobre o que fazer, diversas sugestões aparecem, até em abandonar o trem e ganhar a caatinga sem rumo, em busca de algum socorro. O maquinista, como líder experiente, toma uma firme decisão, ele retornará e quem quiser ficar, que fique e ganhe as brenhas da caatinga, sem comida, sem água para beber. Todos resolvem segui-lo e o trem começa a longa viagem de volta, rumo à cidade de Crateús e de marcha à ré.

As mesmas orações que foram ditas na vinda são, desesperadamente, reconfirmadas na volta, pois mesmo em regresso, continuam numa viagem de fuga e cheia de incertezas. Mais de 200 quilômetros percorridos pelo Trem do Medo, onde em cada janelinha semiaberta pares de olhos imaginam vultos armados nas moitas de mufumbo, que margeavam a linha férrea.

Ou foi o poderio das rezas das senhoras ou um grande lapso da sorte, pois o destacamento de João Alberto marchava seguindo a linha férrea. Retornam à Crateús, são e salvos. Param o trem ao lado de uns cargueiros repleto de algodão, e se dirige as suas casas, vão reforçar, também, as tramelas da portas e das janelas.

Foi a tempo de saberem notícias de um estranho mendigo, se fazendo de aleijado, pedindo esmolas pela cidade, perambulando pelas ruas, mapeando tudo, caxingando por uma perna e com uma suja capa preta cobrindo a cabeça. O pedinte estira a mão para o casarão da Rua João Tomé nº 290 e pede esmola. Dona Isabel Bonfim Leitão oferece água, café e bolo, mas nota que o aleijado tinha boas maneiras, firmeza em pegar na xícara e levá-la à boca. Corajosa, pergunta:

- O que o senhor sabe dos revoltosos?

- Minha Senhora, eu não sei de nada, só sei das minhas esmolas!

Era o capitão Pretinho, perigoso espião do Batalhão de João Alberto, que anunciava angustiantes momentos de tempestades e medo!

Às três horas da madrugada, quando os revoltosos soltaram uma saraivada de fuzis, pelos cantos, denotando o cerco da cidade, os corações dos passageiros do Trem do Medo aceleraram novamente em disparada, e ao mesmo tempo sentiram alívio por não terem encontrado esses disparos em sua frustrada rota da fuga. A força policial que defenderia a cidade, revida com um crepitar intenso de fuzilaria. Era a cidade de Crateús em guerra!

O cangaceiro Zé Mourão rolava pelas calçadas e, agilmente, disparava seu fuzil, tal qual o bacamante de Alexandre Mourão, mas a Praça da Estação caiu em poder dos revoltosos, que ataram fogo nos cargueiros com algodão.

A nossa sorte foi que o Quartel General da polícia era a Matriz do Senhor Do Bonfim e do alto de uma das Torres um tiro certeiro acerta Antônio Cabeleira que saía correndo de uma casa em frente à Igreja. O tiroteio continua cerrado.

Dona Maria Augusta, olhando por uma fresta de porta, atesta o fim da luta. O Pelotão de policiais comandados pelo capitão Peregrino Montenegro encontra-se com uma tropa de revoltosos liderada pelo Tenente Tarquínio, na Rua da Pimenta, separados por um monte de pedras. Os dois oficiais, em duelo, trocam palavrões, vitupérios mútuos e por fim, tiros, mas erram. O Tenente provoca o Comandante da guarnição de Crateús para uma luta, na ponta ferro branco. O que faz Peregrino gritar: - Pois então saia daí e venha brigar! Mal o delegado de Crateús fecha a boca, já viu diante de si o audaz guerreiro revoltoso, que foi recebido com um tiro certeiro de mosquetão. Com o revoltoso ao chão, as pontas de facas o acabam de matar.

Era o crepúsculo de uma luta feroz pelas ruas de Crateús. Os revoltosos, com seus lenços vermelhos nos pescoços, desaparecem pela Várzea dos Paus Brancos, foram enterrar seus mortos... Mas as lutas, as eternas lutas, pelas quais começaram uma grande marcha contra as fraudes eleitorais, a concentração de poder político nas mãos das elite agrárias, exploração das camadas mais pobres pelos coronéis, ainda continuam...

Pelo visto, o Trem do Medo nos trilhos da vida, permanecerão a circular!

Raimundo Cândido