sábado, 16 de março de 2013

É PROIBIDO


É proibido chorar sem aprender,
Levantar-se um dia sem saber o que fazer
Ter medo de suas lembranças.

É proibido não rir dos problemas
Não lutar pelo que se quer,
Abandonar tudo por medo,

Não transformar sonhos em realidade.
É proibido não demonstrar amor
Fazer com que alguém pague por tuas dúvidas e mau-humor.
É proibido deixar os amigos

Não tentar compreender os que viveram juntos
Chamá-los somente quando necessita deles.
É proibido não ser você mesmo diante das pessoas,
Fingir que elas não te importam,

Ser gentil só para que se lembrem de você,
Esquecer aqueles que gostam de você.
É proibido não fazer as coisas por si mesmo,
Não crer em Deus e fazer seu destino,

Ter medo da vida e de seus compromissos,
Não viver cada dia como se fosse um último suspiro.
É proibido sentir saudades de alguém sem se alegrar,

Esquecer seus olhos, seu sorriso, só porque seus caminhos se
desencontraram,
Esquecer seu passado e pagá-lo com seu presente.
É proibido não tentar compreender as pessoas,
Pensar que as vidas deles valem mais que a sua,

Não saber que cada um tem seu caminho e sua sorte.
É proibido não criar sua história,
Deixar de dar graças a Deus por sua vida,

Não ter um momento para quem necessita de você,
Não compreender que o que a vida te dá, também te tira.
É proibido não buscar a felicidade,

Não viver sua vida com uma atitude positiva,
Não pensar que podemos ser melhores,
Não sentir que sem você este mundo não seria igual.

Pablo Neruda

quinta-feira, 14 de março de 2013

FRANCISCO, O NOME DE UM DEFENSOR DOS POBRES



Quando foi eleito cardeal e alguns argentinos queriam viajar para Roma para celebrar, Bergoglio convenceu-os a dar aos pobres o dinheiro que gastariam na viagem. O episódio é narrado pelo jornal inglês The Guardian, que descreve o novo Papa como tendo uma “abordagem prática” à questão da pobreza. Bergoglio escolheu o nome Francisco, partilhado por dois conhecidos santos da Igreja Católica – um dos quais conhecido pela devoção aos pobres, o outro, pelo papel de evangelização no Oriente.

S. Francisco de Assis é um santo italiano, que nasceu perto do final do século XII, filho de um comerciante rico. Perdeu o interesse pela vida de jovem abastado, decidindo viver a ajudar os pobres. Acabou por fundar a ordem religiosa dos franciscanos. É um dos dois santos padroeiros da Itália.

Na semana passada, o jornal italiano Il Fatto Quotidiano publicou um artigo com o título “A hora impossível do Papa Francisco I”. O texto elaborava sobre o facto de a vida de Francisco de Assis não se ajustar à vida actual do líder da Igreja Católica. “O primeiro sinal de mudança na Igreja poderia ser o nome do sucessor de Ratzinger. Da varanda, nunca ninguém anunciou ‘aqui Francisco’”, escreveu o veterano jornalista Maurizio Chierici. “Ele morreu há quase oito séculos, mas ninguém se sentiu na disposição de abraçar a espiritualidade e dedicação absoluta para a vida dos outros.” O artigo citava o parlamentar italiano Raniero la Valle, um dos representantes da esquerda cristã: “Francisco é um nome impossível para a carga de poder com que durante séculos foi construída a infalibilidade do papado, a soberania, o controle formal de cada serviço, a autoridade sobre milhões de fiéis.”

A escolha do nome é uma indicação de como um Papa quer ser visto e do que se propõe fazer. A prática nem sempre foi seguida, mas tem sido a norma nos últimos cinco séculos.

A escolha feita por Bergoglio remete também para S. Francisco Xavier, nascido no início do século XVI, em território que hoje é Espanha. Foi um dos fundadores da Companhia de Jesus, a congregação religiosa de que o novo Papa faz parte: Bergoglio é o primeiro pontífice jesuíta. Francisco Xavier é conhecido pelas missões de evangelização no Oriente. Partiu de Lisboa em 1541, passou por Moçambique e seguiu para a Índia. Esteve também na Malásia e no Japão. Morreu na China.

(João Pedro Pereira)

quarta-feira, 13 de março de 2013

O DISCURSO DO NOVO PAPA: JORGE MARIO BERGOGLIO, QUE SE CHAMARÁ "FRANCISCO"



"Irmãos e irmãs, boa noite!

Vocês sabem que o dever do Conclave era dar um Bispo a Roma. Parece que os meus irmãos cardeais foram buscá-lo quase ao fim do mundo? Eis-me aqui! Agradeço-vos o acolhimento: a comunidade diocesana de Roma tem o seu Bispo. Obrigado! E, antes de mais nada, quero fazer uma oração pelo nosso Bispo emérito Bento XVI. Rezemos todos juntos por ele, para que o Senhor o abençoe e Nossa Senhora o guarde.

(O papa recitou junto dos fiéis presentes na Praça São Pedro o Pai-Nosso, a Ave Maria e o Glória ao Pai)

E agora iniciamos este caminho, Bispo e povo... este caminho da Igreja de Roma, que é aquela que preside a todas as igrejas na caridade. Um caminho de fraternidade, de amor, de confiança entre nós. Rezemos sempre uns pelos outros. Rezemos por todo o mundo, para que haja uma grande fraternidade. Espero que este caminho de Igreja, que hoje começamos e no qual me ajudará o meu Cardeal Vigário, aqui presente, seja frutuoso para a evangelização desta cidade tão bela!

E agora quero dar a bênção, mas antes... antes, peço-vos um favor: antes de o Bispo abençoar o povo, peço-vos que rezeis ao Senhor para que me abençoe a mim; é a oração do povo, pedindo a Bênção para o seu Bispo. Façamos em silêncio esta oração vossa por mim.

Agora dar-vos-ei a Bênção, a vós e a todo o mundo, a todos os homens e mulheres de boa vontade.

(bênção)

Irmãos e irmãs, tenho de vos deixar. Muito obrigado pelo acolhimento! Rezai por mim e até breve! Ver-nos-emos em breve: amanhã quero ir rezar aos pés de Nossa Senhora, para que guarde Roma inteira. Boa noite e bom descanso!"

CONJUNTURA NACIONAL

De repente

Abro a coluna com uma historinha da Paraíba.

Um ano da década de 60. O governador Pedro Gondim, da Paraíba, sai em campanha política pelo interior do Estado. Numa cidade, esbarra em uma cantoria de viola. Os organizadores da festa o levam até a dupla de poetas populares para as apresentações:

- Eis aqui o nosso governador, saúda o anfitrião.

- Conhece-o pessoalmente? Indaga a um dos cantadores.

O artista acena afirmativamente e lasca de improviso.

- Eu conheço vários Pedros
- Pedro Bom e Pedro Ruim
- Pedro ruim igual a Pedro
- Só conheço o Pedro Gondim!

O governador esboçou um sorriso amarelo.

(Da coleção de Orlando Rodrigues em Segura Essa)

O enigma Serra

José Serra começa a se vestir de enigma. Para onde vai o ex-senador, o ex-governador, o ex-prefeito e o recorrente candidato à presidência da República? Chovem versões nos bastidores políticos. Ora, ouve-se a versão de que apenas faz onda, mas acabará se conformando com a candidatura ao Senado pelo PSDB, em 2014. Afinal, tucano de bico grande não abandonaria a floresta. Ora, ouve-se à boca pequena que estaria de mala e cuia pronto para embarcar na canoa do PPS, do deputado Roberto Freire. Nesse caso, seria candidato pelo partido à presidente. Há quem o veja entrando no PDS de Kassab, hipótese sem chances, eis que a legenda já assentou pé na base governista de Dilma.

Alternativa mais viável

Pelo andar da carruagem e levando-se em conta a fala do deputado Roberto Freire, no Roda Viva, da TV Cultura, desta segunda-feira, o noctívago Serra quer mesmo ser candidato a presidente - "o melhor perfil", segundo o presidente do PPS. O fato é que os tucanos estão rachados em SP. O grupo de Serra tem birra e bica o grupo de Alckmin. Fernando Henrique tenta apartar a contenda e não consegue. Diz-se, ainda, que Serra não teria aprovado a iniciativa de FHC de pedir a Aécio que colocasse seu bloco na rua. Muito cedo, considera. Mas Aécio tinha de dar resposta à provocação de Lula, que anunciou a presidente Dilma como candidata à reeleição.

O quadro com 5 candidatos

Se Serra entrar no pleito e se Marina conseguir formar seu partido antes de outubro, a moldura seria composta por : Dilma, candidata governista, e mais quatro candidatos de oposição: Serra, pelo PPS; Eduardo Campos, pelo PSB; Marina, pela Rede Sustentabilidade e Aécio, pelo PSDB. Nesse caso, as possibilidades de um segundo turno são bastante previsíveis, mesmo sob um cenário de estabilidade econômica, crescimento médio do PIB e bolso cheio da galera das margens com a grana das Bolsas. Mas há outras hipóteses a considerar. Vejamos.

O fator Marina

Digamos que Marina Silva não consiga arrumar a sua Rede. Teria duas alternativas: ser vice do Serra, na chapa do PPS. Nesse caso, teria de ingressar no partido ou em outro que firmasse parceria com a sigla de Roberto Freire. Ou poderia compor a chapa de Eduardo Campos, do PSB. Este consultor acredita que esta última hipótese é mais provável, levando-se em conta o passado de Marina e a identidade tucana de Serra, mesmo que este venha a sair do PSDB. Campos/Marina seria uma chapa mais identificada com novidade, coisa diferente.

Segundo turno

Em qualquer hipótese, confirmando-se a candidatura do governador de PE, a questão se apresenta desta forma: com quem Campos faria parceria em um segundo turno? Com o candidato tucano Aécio Neves ou com a presidente Dilma, considerando-se que sejam os mais prováveis candidatos a entrar na segunda rodada eleitoral? Este consultor tem dúvidas. Lembro que Campos já me confessou uma vez : meu sonho é reunir a geração pós-64 e tomarmos conta do país. Naquela noite, em Comandatuba, essa geração abrigaria perfis como os Gomes (Ciro e Cid), Aécio Neves, Kassab e ele, Eduardo Campos, entre os mais visíveis. Por isso, não se pode descartar a possibilidade de Campos entrar na seara de Aécio, apesar da forte influência que deverá exercer, numa situação dessas, seu "irmão mais velho", Luiz Inácio Poderoso Lula da Silva.

Teria ele chances?

Campos tem chances de entrar em um segundo turno? Vejamos. Primeiro, teria de unir todo o PSB em torno de seu nome. Coisa complicada, quando se sabe que o governador Cid Gomes já manifestou sua preferência por Dilma, com o conselho ao correligionário para se preservar e ser candidato em 2018. Segundo, teria de conquistar o território do Sudeste, onde é um perfil praticamente desconhecido. SP, com 30 milhões de eleitores; MG, com 15 milhões e RJ, com 12 milhões serão Estados decisivos. E Campos passa longe das urnas nesses três maiores colégios eleitorais do país. E mesmo no Nordeste, o maior colégio eleitoral é a Bahia, onde Campos também não tem penetração. Tudo isso pode mudar? Sim. Mas a análise fria dos dados aponta para uma posição de parceiro menor em 2014.

E qual a vantagem?

Ora, a vantagem de entrar na campanha de 2014 é mesmo o da meta da visibilidade. Desconhecido, o governador passaria a ser bastante conhecido. Aplainaria o caminho para a chegada ao pódio em 2018. Como sempre tem lembrado este consultor: a menor distância entre dois pontos na política nem sempre é uma reta como na geometria euclidiana. É uma curva. Que o digam Lula e tantos outros que colecionaram derrotas e, depois, foram glorificados pelas urnas.

Papáveis

Entremos, agora, na Capela Sistina, onde se realiza o Conclave para eleger o sucessor de Bento XVI. A Igreja Católica de Roma padece de forte crise: as finanças estão combalindo e graves denúncias têm corroído a imagem da instituição que governa mais de 1,2 bilhão de pessoas. O melhor perfil seria o de um Papa carismático, que tivesse condições de colocar a Igreja nos trilhos da modernidade, uma pessoa de ares santificados, que não fosse carimbado com os rótulos de conservador, progressista, reacionário, moderno. Um papa do século XXI.

Principais nomes

Dom Odilo Scherer, o brasileiro, tem condições? Sem dúvida. Mas entra no círculo dos rótulos. Para o Brasil, seria ótimo. Afinal, temos a maior população católica do mundo. E SP, sua arquidiocese, a maior população de católicos do Brasil. Mas é considerado conservador e candidato da poderosa, porém polêmica, Cúria Romana. Angelo Scola, o arcebispo de Milão? Considerado muito avançado. E que tal um meio termo, como Gianfranco Ravasi, italiano, culto e carismático? O canadense Marc Ouellet tem chances, mas o simbolismo do poderio da América do Norte pode ser inconveniente.

Orater frater

O padre Edmondo Kagerer é austríaco, mas adora o Brasil em especial os sertões do Seridó, onde fundou e mantém em pé as Aldeias Infantis SOS. Fuma cachimbo e gosta de cerveja. Mas os motivos que o levaram a deixar a paróquia de São José e, por certo período, a região, foram a língua portuguesa e sua pronúncia. Chamava o motorista Paulo de Apaula, Caboré, um amigo, de Acabaré, e assim por diante. Mas quem complicou mesmo a situação foram as pressões das beatas junto ao bispo depois de tanto ouvirem e, claro, não entenderem, essa revelação do reverendo estrangeiro em seus sermões:

- Ajude a igreja. A nossa piroca também é de vocês! (o reverendo se referia à paróquia)

(Quem conta em Segura Essa é Orlando Rodrigues)

E o Tristiciano, hein?

O sobrenome acima, claro, é um contraponto ao Feliciano. Isso mesmo, o sobrenome do deputado Marco, do PSC, elevado ao cargo de presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara. A polêmica se estabeleceu. O deputado deu declarações discriminatórias e parece mesmo embalado por um celofane fundamentalista. A esta altura, o PSC, para evitar desgaste, deveria substituí-lo. Sob pena de ter de conviver com reações negativas que acabarão estreitando mais ainda seus votos em 2014.

Ponto e contraponto

E por falar em ponto e contraponto, levanto mais uma comparação : a alga e o silicone. A alga é elemento que pode descobrir a verdade. O silicone, o elemento usado para encobrir a verdade. Vejamos. Um biólogo analisou o sapato do advogado Mizael Bispo e descobriu nele uma alga que existe na represa, onde foi encontrada sua namorada, Mércia Nakashima. Ou seja, uma alga pode ser a pista para a descoberta do crime. Abrindo, agora, a outra historinha. Em SP, uma médica de 29 anos foi presa por suspeita de fraudar o ponto eletrônico nos plantões de um hospital público, usando, para tanto, dedos de silicone com a digital de médicos e enfermeiros. 11 médicos e 20 enfermeiros participariam do esquema. Tecnologia a serviço do bem e do mal. E uma pitada de cultura brasileira. A cultura do jeitinho.

Temas ferventes

A pauta política no horizonte deixa a ver temas candentes em intensa discussão: pacto federativo, royalties do petróleo, MP dos portos, orçamento impositivo. O pacto federativo abrigará fóruns de governadores e prefeitos interessados em aumentar a participação de Estados e municípios no bolo da União; o assunto está pra lá de discutido. RJ, ES e SP buscam, no STF, recompor a situação dos chamados Estados produtores e garantir contratos do passado. Os portos estaduais, como Suape, em PE, temem perder sua autonomia. A presidente quer acabar com prerrogativas de Centrais Sindicais de interferir no regime de contratação de avulsos. Há outros imbróglios na MP. E os deputados não vêem a hora de decidir sobre o orçamento impositivo, promessa do presidente da Câmara, Henrique Alves. Essa modalidade resgata a autonomia orçamentária aprovada pelo Congresso.

Facilidade impossível

Prefeito de Mossoró, João Newton da Escóssia sempre foi conhecido pelo rigor no trato das coisas públicas. Nada e ninguém poderiam violar o erário municipal. Apesar do rigor de João Newton na administração da prefeitura de Mossoró, não faltam excessos e incursões a pecados. Detectado por João Newton, o deslize era imediatamente reparado. O prefeito, ninguém tem dúvidas, não tem qualquer tipo de flexibilização, quando o assunto fere a lei. Em sua sala de trabalho, João Newton vê entrar um antigo amigo, num dia de expediente normal. Trata-se do conhecido "Telé". Após cumprimentos normais, algo comum entre amigos, Telé assinala o que o levara ao gabinete do prefeito:

- João, eu vim aqui para lhe pedir uma coisa!

- Pode falar, Telé - estimula o prefeito João Newton.

- Eu quero que você facilite uma coisa para mim - diz.

O prefeito, então, pondera bem ao seu estilo:

- Olha, Telé, se tiver tudo certinho, dentro da lei, direito mesmo, eu lhe ajudo.

Casmurro, Telé vê logo como é inexpugnável o senso de legalidade do prefeito e amigo.

- João, eu vim aqui para você facilitar uma coisa. Se fosse assim, tudo direito, eu não vinha lhe procurar.

(O relato é de Carlos Santos em seu livro Só Rindo)

Conselho aos pré-candidatos

Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes, membros dos poderes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado às Centrais Sindicais. Hoje, dedica sua atenção aos pré-candidatos que começam a correr o país para viabilizar planos eleitorais.

1. No momento em que Vossas Excelências começam a pôr o carro nas ruas e abrir um amplo processo de articulação com as forças da sociedade organizada, é aconselhável que portem ideias claras, objetivas, viáveis, abrangentes. Essa sugestão visa despersonalizar o processo político/eleitoral e adensar o discurso com propostas para o país.

2. Ouçam as demandas dos grupamentos sociais, procurando compor a radiografia da realidade brasileira. E evitem fazer crítica por crítica. Façam elogios a programas/projetos que estejam mostrando resultados.

3. Evitem parolas populistas e molhadas no caldo do oportunismo que costuma embalar os pacotes de compromissos.

____________

(Gaudêncio Torquato)

terça-feira, 12 de março de 2013

JOSÉ CORIOLANO DE SOUSA LIMA



Faculdade de Direito do Recife. Prédio lendário, desenho imperial, arquitetura solene, postura memorial, arquivo incomensurável, atmosfera histórica. Os jardins que circundam aquele edifício memorável exibem bustos de nomes famosos – como Rui Barbosa e Castro Alves – que salpicaram de estrelas as folhas cadentes da literatura nacional.

Piso os pés no envolvente silêncio que domina aquele tablado clássico. Interrogo uma servidora se poderia me prestar informações sobre um ex-aluno da Instituição. Ela responde afirmativamente e, na mesma pisada, indaga qual o período em que estudou e o nome completo desse ex-aluno. Respondo que se trata de José Coriolano de Sousa Lima e que foi aluno nos idos de 1850. Depois de pesquisar, ela me afirma que o nome do autor de O Touro Fusco e Impressões e Gemidos consta na relação de bacharéis em direito que se perfilaram como concludentes no ano de 1859.

Admirador contumaz do meteórico e insuperável poeta de Crateús, saí dali com minha taxa de estima ainda mais inflada por esse ser constelado. José Coriolano, que deixou a existência terrena dez anos após concluir o curso de direito, em apenas uma década fincou mourões indeléveis. Construiu uma rampa de madeira imorredoura. Acessou o portal da glória. Conheceu a copa do sucesso e nos distinguiu com um legado luminoso que o redemoinho dos anos não conseguiu apagar.

Com atuação destacada no Maranhão e no Piauí, percorreu o leito da história como Magistrado de escol, Jornalista de renome, Político ilustrado e Poeta insuperável. Juiz de Direito em várias freguesias, sua pena de Jornalista passeou ativamente nos vales da linotipia da imprensa no Recife e Teresina. Foi deputado provincial pelo Piauí, por duas legislaturas, e presidente da Assembleia Legislativa (pois, à época em que viveu, Crateús pertencia ao Piauí). Aclamado Príncipe dos Poetas Piauienses, é considerado o talhador da pedra fundacional da literatura Piauiense.

José Coriolano é a comprovação inequívoca de que a distribuição dos dons Celestes não segue a perversa lógica mercantilista. Enquanto o poder econômico é atraído pelo magnetismo da concentração do capital e brota, via de regra, nos grandes centros de exibição da riqueza, a gratuidade divina escolhe os estábulos e as manjedouras mais inesperadas para parir os seus rebentos. O primado da inteligência - produto da mão que gera o imprevisível, dádiva do Ser Superior – lateja em solos inimagináveis. Germina nas capoeiras mais desprezadas. No tempo de Jesus, os doutores da Lei se questionavam como Nazaré, uma região sobre a qual pairava a nuvem do preconceito, era capaz de gerar um Profeta! Logo aquele Jovem questionador, que era filho de um carpinteiro!...

José Coriolano é a materialização inconteste dessa assertiva bíblica. Nascido entre as babugens destes solitários torrões, na fazenda Boa Vista, quando Crateús era conhecida por Vila Príncipe Imperial, resplandeceu nos cerimoniosos espaços em que pontificavam os luminares da cultura nacional.

Coriolano foi um fidalgo das letras que construiu uma obra impagável e inapagável de devoção às maravilhas Divinas, de paixão pela Natureza e por todos os animais, de modelar sintonia com a mulher amada, de culto aos altos valores da Justiça e da Liberdade! Seu busto, reexposto em praça pública, é uma doce provocação à nossa massa encefálica: estudemos sua trajetória, miremos seu exemplo!

(Júnior Bonfim, na edição de hoje do Jornal Gazeta do Centro Oeste, Crateús, Ceará)

OBSERVATÓRIO

Mahatma Gandhi, que provou para o mundo ser possível mobilizar toda uma Pátria em torno de um projeto revolucionário de transformação social pela via da não violência ou da resistência pacífica, protagonizou cenas de extraordinário valor pedagógico. Conta-se que, em determinada ocasião, uma mãe pediu uma audiência com o Mahatma. Indagada a razão do pleit, ela disse: - Mestre, quero que peça meu filho para parar de comer açúcar. Gandhi olhou para ambos, silenciou por alguns segundos e pediu que voltassem 15 dias depois. A Mãe, mesmo contrariada - pois não entendia a razão de demorar tanto tempo para solucionar coisa tão simples – aquiesceu. Quinze dias depois, retornou ao encontro com o “Grande Alma”. Ao entrarem, Gandhi mirou nos olhos do filho trazido ao seu encontro e vaticinou: “Pare de comer açúcar!”. Surpresa, a mãe perguntou o motivo que tinha levado o Mestre a deixá-los esperando tanto tempo para pronunciar aquela pequena frase quando podia tê-lo feito quinze dias antes. Gandhi respondeu: - É que eu também comia açúcar!
Coerência - ou harmonia entre prédica e prática, palavra e ação – eis o grande desafio dos tempos atuais, sobretudo para os homens públicos...

JOSÉ CORIOLANO

No último dia 08 de março, sexta-feira passada, a população da cidade de Crateús recebeu de volta o busto do seu poeta maior, José Coriolano de Sousa Lima, recolocado na praça ao lado da Catedral. A iniciativa foi da Academia de Letras de Crateús, representada por Edmilson Providência, Flávio Machado e Raimundo Cândido, mas contou com a colaboração do Poder Público e de vários conterrâneos. À solenidade compareceram diversos artistas, intelectuais, populares e autoridades, como o Prefeito, doutor Carlos Felipe e o Representante do Ministério Público, doutor José Arteiro Goiano. A imagem de um homem de existência curta, porém extremamente radiosa e laboriosa, retorna ao espaço donde nunca deveria ter sido retirado: o pátio da admiração coletiva. Ivens Roberto de Araújo Mourão, trineto do poeta, militante entusiástico e pesquisador incansável do legado do poeta, representou a família e brindou a Academia de Letras de Crateús com uma relíquia: um manuscrito poético de José Coriolano. (vide crônica ao lado).

DIA DA MULHER

A homenagem a José Coriolano ocorreu no mesmo dia em que celebramos o Dia Internacional da Mulher, 08 de Março. A coincidência é emblemática, porque o autor de “Impressões e Gemidos” amava incondicionalmente sua musa, Maria Cesalpina. Na ocasião, a Professora Rosa Morais recebeu das mãos do seu sobrinho Zacarias Bezerra e do Prefeito Carlos Felipe o pergaminho contendo a benção Papal em honra do seu centenário, que ocorrerá em outubro, da nossa eterna professora e catequista.

LIVRO

Por falar na longeva família Morais, o doutor José Maria Bonfim de Morais, também sobrinho da Professora Rosa, estará lançando nos próximos dias um volumoso e primoroso livro sobre o Monsenhor Morais.

CURTAS

O Vereador João de Deus cumprimentou-me efusivamente no evento em louvor a José Coriolano para dizer que, como aniversariante da noite, não poderia receber presente melhor: o retorno da nossa pioneira Rádio Educadora de Crateús, que voltou a emitir suas ondas sonoras...

No dia 17 de março vai acontecer mais uma Eleição do Conselho Tutelar de Crateús. Longe de ser um espaço para teste eleitoral convencional, o Conselho Tutelar é um organismo pulsante e vital para a conformação social do núcleo familiar, célula mãe da sociedade, e no que pertine à conscientização dos deveres e direitos das Crianças e Adolescentes...

Os integrantes da Administração Municipal convidam para o lançamento da pedra fundamental do Campus Avançado da UFC, cujo terreno foi doado pelo empresário Lulu Cavalcante...

João Coelho Soriano, o Massaroca, noticiou: o Prefeito lhe confidenciou que vai renunciar à Prefeitura e pleitear uma vaga à Assembleia Legislativa. Com isso, o bastão do Poder Municipal sairá das rédeas do PCdoB e passará, pela primeira vez, às mãos do PT...

PARA REFLETIR...

Há na minha província uma ribeira,
Um sertão, onde eu vi a vez primeira
Sorrir-me da existência a doce luz:
Tem o nome da tribo que o habitava,
Quando ao rude tapuia entregue estava,
Esse nome, sabei-o, - “Crateús.”
(José Coriolano)

(Júnior Bonfim, na edição de hoje do Jornal Gazeta do Centro Oeste, Crateús, Ceará)

segunda-feira, 11 de março de 2013

O PODER DA ACEITAÇÃO

Sempre que surge em nós alguma emoção negativa, estresse ou qualquer tipo de desconforto emocional, é um sinal de que, em algum nível, entramos em um processo de não aceitação da realidade. Situações acontecem e reagimos internamente contra a realidade nos causando sofrimento.

Os pensamentos de não aceitação são os mais diversos. Alguns desses pensamentos falam sobre coisas que estão acontecendo no presente momento, e outros focam em situações já passadas: Eu não deveria ter feito isso; fulano deveria ter falado comigo de outra forma; as pessoas deveriam se comportar de tal maneira; eu deveria ter feito outra coisa e não fiz; o mundo deveria ser mais justo; eu não aceito o que aconteceu comigo; não suporto o jeito de falar de fulano (pensamento que deixa implícito que fulano deveria ser de outra forma); o avião não deveria estar atrasado e etc...

Imediatamente ao entrarmos em conflito com a realidade, surge desconforto. Ditamos internamente como a realidade e as pessoas deveriam ser. Mas elas são sempre do jeito que são, e não há pensamento no mundo dentro de nós que possa mudar a realidade do jeito que ela está se apresentando naquele momento, ou o que já passou.

Uma das formas mais comuns de não aceitação da realidade é o hábito de reclamar. Existem pessoas que reclamam continuamente de tudo o que acontece e que não se encaixa com o ideal imaginário que ela criou. Reclamam do trânsito, da fila, do atraso, do salário, das atitudes de alguém, e até do clima, o que as deixam eternamente estressadas e insatisfeitas.

Existem uma crença que está profundamente enraizada no inconsciente coletivo que diz que se nós aceitarmos as coisas como elas são, não vamos fazer nada e assim tudo ficará do jeito que está. Essa crença deixa implícito que nós só vamos agir se ficarmos infelizes e estressados, o que ajuda a alimentar o estado de não aceitação. O que acontece é que a maioria das pessoas continua reclamando, gerando muito desconforto para si e para a coletividade, e não toma providências práticas para melhorar a realidade.

Será que é possível entrar em um estado de aceitação e agir mesmo assim para mudar algo? Sim, é claro que é possível. Aceitação é diferente de acomodação. Aceitação é apenas o fim da guerra interna com a realidade; o fim da ditadura interior que diz que a realidade deveria ser de outra forma enquanto ela é do jeito que é, nos causando apenas estresse. A acomodação acontece quando podemos fazer algo e não fazemos. Podemos aceitar a realidade, ou seja, deixar de ficar brigando internamente com ela, já que isso não ajuda e apenas nos causa desconforto, e ao mesmo tempo fazermos o melhor que pudermos para tornar a realidade mais prazerosa.

A acomodação é sempre um reflexo de medos, inseguranças e processos de autossabotagem se manifestando em alguém. Não faz sentido poder fazer alguma coisa e simplesmente não fazer. Um ser humano em perfeito equilíbrio emocional consegue aceitar em paz a realidade e ao mesmo age da melhor forma que puder se tiver algo que possa ser melhorado com sua ajuda. Se você faz um pedido ao garçom e ele traz a comida errada, é possível simplesmente aceitar o erro que ele cometeu (e assim não se sentirá estressado) e ao mesmo tempo pedir pra que ele traga o prato correto.

Uma pessoa acomodada sente medo, preguiça, vergonha e acaba não tomando a providência necessária. Já a pessoa que está no modo da não aceitação, toma a providência mas acaba gerando muito desconforto para si mesma. Conforme todos nós sabemos, o estresse afeta a nossa saúde emocional e física, gera tensões no corpo e diversas outras somatizações.

A ação que vem de uma pessoa em um estado de aceitação é mais eficiente pois está livre de qualquer negatividade. Assim não há exageros, dramas ou distorções. É uma ação lúcida, que vem de alguém que sabe lidar bem com a realidade.

Os melhores diplomatas, negociadores e conciliadores são pessoas que não ficam brigando internamente com a outra parte, eles aceitam e fazem o melhor possível e assim conseguem resultados muitas vezes surpreendentes.

Mas em muitos casos, não há nada realmente a fazer. Reclamar do transito, por exemplo, não o fará ir mais rápido. Nesses casos a única coisa sensata a se fazer é entrar no estado interior da aceitação. O mesmo é válido para qualquer fato que tenha acontecido no passado.

Toda a negatividade que criamos em torno da não aceitação, além de gerar estresse, ajuda a atrair mais situações desagradáveis. Atraimos para a nossa realidade aquilo que estamos sentido, e se nosso estado interior é de desconforto, mais situações desagradáveis surgem. O estado de não aceitação faz ainda a nossa mente ficar focada nas coisas negativas da vida, consumindo nossa atenção que poderia estar direcionada para coisas boas ou para criar soluções e transformar a realidade.

Talvez você já tenha passado pela seguinte experiência. Ao se desapegar de um determinado problema que você tentou de várias formas resolver e não conseguiu, surge uma solução sem que seja preciso a sua intervenção ou que exija apenas uma ação bem simples. O desapego faz parte do estado de aceitação.

Removamos todos os sentimentos desconfortáveis que surgem ao pensarmos em situações do passado, situações futuras e outros pensamentos quaisquer. Isso nos coloca em um estado profundo de aceitação. Nesse estado de paz interior nossa sabedoria aumenta e sabemos de uma forma intuitiva se é possível agir, e caso seja possível, a melhor ação a ser tomada.

(André Lima)

domingo, 10 de março de 2013

AMORES E CLAMORES DA CIDADE


Desde a minha juventude, lembro que a defesa da Justiça e da democracia se interpôs na minha caminhada. É por isso, com certeza, que escolhi a profissão que exerço: ser advogado. Sei que a palavra e o seu significado me seduzem até a exaustão, e que a ética e os valores supremos da beleza estão na raiz do meu equilíbrio psíquico, mas sem a busca incessante da Justiça sei também que não faz sentido viver.

Sempre me aproximei daqueles que defendem esses valores, que lutam pela afirmação da cultura popular, que clamam no deserto contra a injustiça e a perversão do capital, que sabem palmilhar seus caminhos, instalando neles a iluminação, sem nunca reclamar a busca do tempo que se foi.

A afirmação da cultura, para a minha visão pessoal, não está nas Universidades, tampouco nas Academias, esses nichos de petulância e de quase nenhuma produção, mas naqueles que fazem a cultura prosperar, em todos os quadrantes do mundo e especialmente no sertão.

Os grandes produtores de cultura do Ceará não estão somente em Fortaleza, como pensavam, até bem pouco tempo, os pesquisadores eruditos, mas em toda extensão da terra de Alencar. Patativa do Assaré, Dideus Sales, Oswald Barroso e Gilmar de Carvalho conhecem o Ceará e suas tradições muito mais do que os poetas que mourejam no Ideal; ou muito mais do que os eruditos que estudam a extensão da sua ignorância nos corredores do Benfica.

Júnior Bonfim, poeta e pastor de estrelas nas margens do Poty, com banca de advogado em Fortaleza, é um dos nomes da cultura cearense que resplende em todo o Ceará. Sabe os ofícios da Justiça e da reparação da Igualdade, o alfabeto da Ética e os inventários máximos que se plantam nos rios da cultura.

É poeta de vários instrumentos, viajante lírico dos melhores e arauto de uma épica que se quer, a qualquer custo, incrustada em nossos corações. A emoção se coloca no centro das suas preocupações. O tecido amoroso o envolve. E a poesia por ele praticada é toda ela uma imensa jitirana de luz, brilhando entre veredas de sol, iluminando os cafundós do nosso empedernido sertão.

E para além de poeta e de autor de livro de poemas que se impõe aos ofícios da leitura, Júnior Bonfim é produtor de cultura que não para nunca de criar. Exemplo desse seu desassombro de esteta é o seu livro de crônicas e ensaios Amores e Clamores da Cidade (Fortaleza, Expressão Gráfica, 2008), que agora tive o privilégio de reler.

Trata-se de uma radiografia e de um inventário de amores (e de clamores) da cidade que o viu nascer, em que se mesclam personagens e cenários, e paisagens e fulgores de um estilo de vida que se quer, também, fazer representar, tamanha a verossimilhança dos afetos e o recorte à clef dos atores com os quais o escritor Júnior Bonfim interage.

Não me vou alongar nesta exposição. Digo tão somente que Júnior Bonfim para mim é irmão, porque preza o Direito, sabe defender a Justiça e sustentar a Ética do desejo pela urbe, como se o tecido das relações urbanas fosse a morada do ser e a reprodução da cena social.

(Dimas Macedo, Poeta, jurista, historiador e crítico literário.Professor da Universidade Federal do Ceará, membro da Academia Cearense de Letras e da Academia de Letras e Artes do Nordeste)