quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

PREITO À LOUCURA

Mal a locomotiva principia na curva, o maquinista já olha para trás, verificando se há uma inoportuna cabeça se mostrando no portão aberto de um dos barulhentos vagões.

É comum um clandestino subir, em surdina, sem murmúrio, sem leve sombra, aproveitando uma rápida parada numa estaçãozinha à beira da linha. Raramente é um destes desprendidos andarilhos, que vivem à toa, sem a reminiscência da uma partida ou a ânsia palpitante de uma chegada, afigurando-se como um poeta ou vagabundo. Ele sabe que é mais provável ser um insensato, algum infeliz demente que o mundo fabrica e que constantemente os encontra palmilhando os equidistantes trilhos, percorrendo sem ermo e com desatino numa infinda contagem dos dormentes.

Muitos descem na acolhedora Estação de Cratheús, tangidos pelo zelo profissional do Auxiliar de Maquinista, e acabam achando refúgio em suas ruas hospitaleiras e na propensão de um povo em admirá-los, mas também com o insano e cruel hábito de atordoá-los. É uma nova atração que chega e a cidade engole aquela loucura e também se alucina, calmamente, como uma substância primordial para alimentar a sufocante melancolia.

Muitos engendraram sua insanidade por aqui mesmo, são os loucos de casa. Alguns, prisioneiros, as famílias os vigiam e protegem. Outros, que correm livremente soprando uma insensatez em descontrolado espetáculo, nos assombram, pelo paroxismo do incomum, chegando à fronteira do insuportável.
Outro dia andando pela Rua Barão do Rio Branco – que logo deve ceder a placa de rua para o nome de um crateuense ilustre - já em frente ao Armarinho Literário da escritora Ana Cristina, vejo-a em desesperada aperreação, estava sentada no batente de sua loja, nada mais nada menos que “A Ninja”, uma figura misteriosa e obscura, desprovida de qualquer senso critico, com um pano preto cobrindo o rosto e uma pontiaguda arma na ponta de um cajado, querendo a todo custo um livro para ler. A poetisa Ana teve que entregar, para se livrar daquele insano mito do Japão, o livro “Cantigas do Oco do Mundo” do poeta e também acadêmico Antonio Elias de França. Tomara que a poesia tenha-lhe acalmado os nervos. Lá na frente o Dom Ratinho, outro estranho demente, caminha acelerado e soltado altos esturros, intensos berros chamando atenção dos transeuntes por ter sido enfezado pelos tumultuosos Mototaxistas. Já não se fazem mais doidos como antigamente.

Perambulava pelas ruas de Crateús um doido chamado Cabral e um valente Tenente denominado Nonato, ambos uniformizados a caráter. Cabral por deslocada paixão militar, e o Raimundo Nonato por predestinação cívica a Nação. Um fazendeiro, querendo agradar o Tenente, lhe manda um gordo Peru para a véspera de Natal. O ingênuo portador, avistando o Cabral de uniforme todo rasgado, lhe pergunta: — O Senhor conhece o Tenente Raimundo Nonato? Eu trouxe um peru para ele! O insano Cabral responde de imediato, com sua voz grossa: — Está falando com ele!!! O fazendeiro ao encontrar o Tenente, indaga: — Que tal o peru, Comandante! O coitado do insensato Cabral pegou um duro xilindró, mas comeu peru no natal.

Perambulava pelas ruas de Crateús um homem que ao perder o juízo se metamorfoseou num caminhão. — O Chico Budú já está lá fora! Avisava alguém da chegada do caminhão humano, que sequer subia na calçada, pois automóvel tem que estacionar é na rua. De lá mesmo esticava o braço com uma latinha surrada e imunda. Água, café e comida, tudo na mesma vasilha como se abastecesse o tanque de gasolina. É assim a mente humana, uma alma triste, mas sem nenhum tormento. Só víamos ali, no meio da rua, a sombra de um ser que foi alguém que sorriu e que amou um dia. Um esquelético fantasma, um risível espectro pensando que era um carro, nada mais de um homem restou.

Perambularam pelas ruas de Crateús tantos mansos doidos, e ainda nos deixaram saudade, como o Capão, em quem todo sapato dava no pé dele. A macaca caiu, o Paulão, a Careca que após proferir uma montanha de impropérios, inocentemente dizia: — Há meu Deus, tanto nome feio que eu sei e não me lembro de nenhum!

Vagueava pelas ruas de Crateús o Pirulito, um insano, mas protegido pelo grande empresário José Arteiro da Empresa Rápido Crateús. Alguém propositalmente pedia: - Pirulito mata o bode! Com as mãos dava uma tapa na nuca, reproduzindo um pesado machado, emitia um longo berro e se tremia como o animal morrendo.

Perambulava pelas ruas de Crateús, o Rouxinol, com os neurônios corroídos pela cachaça Lagoa do Barro a lhe trazer horríveis alucinações, ficava encostado nas paredes da Igreja da Matriz, dizendo alto e em bom tom: — Lá vai o diabo me levando... — Lá vai o diabo me levando... — Lá vai o diabo me levando...

Dizem que a loucura não é hereditária, embora alguma família seja propensa a apresentar mais loucos que as outras. Acho que por ter um pouquinho do sangue de Dona Maria I, a Francisca Isabel Josefa Antônia Gertrudes Rita Joana, que o Rio de janeiro chamava A Louca, tire só pelo nome, uma loucura.

É imperceptível a faixa de transição entre o dualismo existencial de sanidade e de loucura. Há tanta sensatez revestida de loucura e tanta loucura ornamentada de sensatez que acabamos descobrindo uma pura razão na loucura, uma insanidade lúcida.

Um especialista uma vez me que disse: não adianta camuflar aquele fixo olhar, aquela sensação que corrói a nossa alma e atormenta a nossa mente, a única explicação é a loucura, uma loucura disfarçada que deve ser assumida e dignificada, mas de qualquer forma, loucura.

Eu não sei não, mas estou percebendo que, com este meu sorriso inadequado no rosto, e por não escrever mais coisa com coisa, alternando os elementos concretos com os entes abstratos de um céu azul, colado ao cinza da terra que compõem a natureza cósmica a configurar todo o paradisíaco ar que respira meu ser, é coisa de quem estar ficando pires, não acham?

Raimundo Candido

WOMAN - JOHN LENNON - UMA LINDA DECLARAÇÃO DE AMOR!

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

POLÍTICA & ECONOMIA NA REAL

Num contexto em que a economia norte-americana dá evidentes sinais de fortalecimento e que os riscos sistêmicos, embora altos, estão menos agudos, a economia brasileira vai se saindo bem dos turbilhões dos últimos anos. Todavia, há que se observar o enorme desperdício de oportunidades para colocar o país diante de um cenário sustentável e progressista. Há uma conformidade, não somente do governo, mas de toda a sociedade, em permanecer ao largo de reformas estruturais. Da educação à infraestrutura, passando pela tributação e previdência, nada de novo se verifica na política brasileira. A ausência de conflitos é mais sinal de doença que de vitalidade : a coalizão serve à manutenção da estabilidade do governo, mas cria um imobilismo secular. Mesmo os avanços, tal qual a previdência do setor público, são mitigados pelos interesses corporativos, os quais são pacificados antes mesmo de serem conflitados. Não há debate e nem greves. Os partidos são aglomerados comandados por elites que loteiam o setor público com seus asseclas. O cenário não é de calma, é de letargia.

O imediato e o futuro

Como não há um "projeto Brasil" vamos de remendo em remendo, de tapa buraco, em tapa buraco, de olho sempre na próxima eleição: sobe e desde IOF; IPI; juros; crédito; compulsório bancário; contingenciamento do Orçamento; carga tributária... Não é sem razão que um funcionário do tipo burocrata-obediente fez um desabafo na semana passada que define a situação com perfeição e vale para tudo. De Bernardo Figueiredo, presidente da ANTT: "Estamos no limite da gambiarra, do apagão logístico". O país do etanol e autossuficiente em petróleo importa... etanol e petróleo.

Inflação e câmbio lideram preocupações

Se no âmbito dos fatores estruturais a economia brasileira é letárgica, do ponto de vista conjuntural sobra à sociedade dois problemas críticos: a inflação elevada que está destruindo o poder da moeda no longo prazo e a sobrevalorização cambial que inviabiliza a indústria brasileira do ponto de vista da competitividade externa. Há chances concretas da inflação cair um pouco mais neste primeiro trimestre e, talvez no segundo. Todavia, isto dependerá, como vem dependendo, do desempenho da taxa cambial e da relativamente fraca atividade econômica. Qualquer mexida para cima destes dois fatores há de influenciar a evolução dos preços domésticos. Ou seja, há uma equação entre atividade, câmbio e inflação, ainda para ser resolvida. Por enquanto, o governo não esboça nenhuma solução que seja crível.

EUA: PIB para cima

Nesta semana, será divulgado o PIB norte-americano do quarto trimestre de 2011. O crescimento deve gravitar ao redor de 3% em função do aumento do consumo e da reposição de estoques do setor produtivo. Uma excelente notícia para o mundo e para o pálido presidente Obama. O crescimento deste ano deve atingir algo entre 2,5% e 3,0%. Todavia, os eleitores irão às urnas pensando no próprio emprego.

Reunião do Fed

Nada de novo deve ser esperado da reunião do Banco Central dos EUA nos próximos dias 24 e 25 de janeiro. Já se sabe que a taxa de juros básica ficará praticamente zerada daqui até meados de 2013 e que os riscos de alta da inflação são negligenciáveis. Enquanto isso, todos esperarão a análise dos policy makers sobre a atividade econômica em alta.

Agências de rating

Os investidores não deram a menor bola para os rebaixamentos da nota do risco de crédito de países europeus, inclusa aí a França, da Standard & Poor's. De outro lado, os burocratas da União Europeia, em Bruxelas, continuam a observar as ordens emanadas de Berlim. As agências de classificação de risco não têm credibilidade, como sabemos. Os erros seguidos desde meados dos anos 90 ensinaram que daquele oráculo não há pitonisa que seja crível. Todavia, ainda há efeitos significativos nestas reclassificações : há fundos que são obrigados a vender ou comprar títulos de países que são "reclassificados" pelas agências de risco. Isto ocorre por força de previsões nos estatutos destes fundos. Portanto, apesar de toda a falta de credibilidade das agências, há quem seja obrigado a segui-las. Isto fere a própria eficiência de mercado.

Caroço no angu baiano

Fica combinado assim: o presidente da Petrobras, José Sergio Gabrielli, deixa o cargo no próximo mês para Maria das Graças Foster (conhecida como Graça Foster) e desembarca numa secretaria do governo da Bahia para se preparar para a sucessão de Jaques Wagner, daqui a três anos. Esta é a versão oficial. Mas as paredes dizem:

1. As relações da presidente Dilma com Gabrielli, desde os tempos que ela ainda estava apenas ministra, sempre estiveram mais para UFC do que para Pequeno Príncipe.

2. Graça é das graças de fé de Dilma, que quando formava seu governo pensou para ele a própria presidência da Petrobras e até a Casa Civil, mas prevaleceram as preferências de Lula, respectivamente por Gabrielli e Palocci.

3. Gabrielli tinha laivos de independência ; Graça é técnica e dedicada.

4. Na Petrobras, Dilma aposta muitas fichas de investimentos para o PIB brasileiro crescer os 5% que ela espera este ano. No ano passado, a empresa de Gabrielli não cumpriu seu cronograma de gastos.

5. O TCU está de olho nos gastos da empresa sem licitações.

De barbas e pulgas

Depois de tudo que Brasília deixou vazar para explicar a troca de Gabrielli para Graça Foster, com insinuações de que se dá mais um esvaziamento do lulismo e do petismo no poder Federal, os últimos fios das barbas do PT entraram de molho e a pulga atrás da orelha de Lula ficou assanhadíssima. Na esteira de Gabrielli sairiam outros apadrinhados políticos da direção da empresa, substituídos, ao gosto da presidente, por técnicos. Finalmente começam a desconfiar que Dilma está balançando a árvore da aliança partidária escalada por Lula para elegê-la, sustentá-la e tutelá-la. Outros aliados também que se apoquetem. Sem força política própria ainda, Dilma tenta comê-los pelas bordas. E como tem a caneta, o Diário Oficial e a carranca...

Nó em pingo de chuva

Dilma, no ajuste ministerial, está enrolando em papel machê todos os aliados, inclusive o PT e o PMDB de Michel Temer. Estão todos emburradinhos. Ninguém, porém, vai chiar em público contra uma presidente que chega ao segundo ano de mandato com mais popularidade até do que Lula na mesma ocasião. Nesse páreo, FHC não vê nem poeira. E a única ameaça que a presidente pode ter pela frente nos próximos meses é um desarranjo na economia, cujos cordões ela não controla todos.

Simples assim

Do professor Renato Janine Ribeiro, da USP, em artigo no jornal "Valor Econômico" de ontem: "O PT está fazendo muita falta ao Brasil: na oposição... Dizendo isso, não estou criticando - aliás, nem elogiando - seu governo; só constato que desde 2003, quando ele ganhou as eleições para a presidência da República, não tivemos mais oposição digna desse nome." Algo a acrescentar?

Balançando a roseira

FHC balançou todos os galhos da frondosa árvore onde os tucanos, em prolongado ano sabático de oposicionismo, curtiam suas fogueiras de vaidades e idiossincrasias. Há tempos o ex-presidente vem tentando tirar os parceiros da modorra em que mergulharam dando-lhes algumas indicações de como fazer oposição. Inclusive quando mandou os procurar a nova tal classe média. Na verdade, indicava que eles deveriam sair do ar condicionado e ir comer poeira atrás dos eleitores. Não conseguiu grande entusiasmo e agora então balançou a roseira dos parceiros ao meter seu palpite na disputa que paralisa o PSDB e toda a oposição, entre Aécio e Serra para ver quem "perderá" a próxima eleição de Lula e o PT e os seus parceiros. Com a defesa da candidatura do mineiro, que ele considera natural, deve obrigar os tucanos a se mexer e joga Serra no sereno. Será curioso ver a reação do ex-governador paulista, em tese mais amigo de FHC que Aécio.

O jogo de Kassab

Não é preciso ir muito longe para verificarmos o absurdo : o PSD de Kassab flerta com o PT para ver se o antigo parceiro fiel, o PSDB, cai em seus braços. O PT que faz acirrada oposição ao prefeito paulistano, começa a avaliar a aliança não apenas como "possível", mas como "desejável" dada a sua ambição de retomar o controle da maior cidade do país. A situação seria risível se não tivesse os efeitos nefastos sobre o processo democrático que necessita de mínima sintonia entre ideologia partidária e o distinto eleitorado. Diz-se, nas rodinhas de políticos, inclusos os de alto coturno, que "a política é a arte do possível". No caso de Kassab, "a política é o circo do impossível".

Sem cacife

O problema do prefeito paulistano é que, no momento, ele não tem um dote muito generoso a oferecer aos parceiros que tem procurado, a não ser que inclua nesses bens a máquina da prefeitura na campanha. Sua popularidade está no porão e o PSD não sabe se terá um tempinho alentado no horário gratuito no rádio e na televisão. Quem precisa mesmo, desesperadamente, de alianças, e não só na capital paulista, é o partido de Kassab. Para não virar um natimorto.

Mercadante e a arrogância

Ao que parece, o ministro Mercadante terá muita chance de reaver um pouco de seu debilitado capital político, ao assumir o ministério da Educação. Não sossega em pensar em nova candidatura o governo de SP em 2014. Dentre os vários percalços em seu caminho político está a sua conhecida arrogância. Conta-nos um transeunte contumaz dos corredores do poder de Brasília uma cena que ilustra esta característica de sua personalidade. Vinha certo dia o bochechudo senador (hoje ex) Heráclito Fortes (DEM/PI) andando pelos corredores do Senado Federal quando vê um colega dando entrevista para a TV. Passa por ele e cumprimenta o colega: "bom dia Mercadante!". Logo após a entrevista, o colega questiona Fortes a razão de chamá-lo não pelo seu nome, mas pelo nome do ex-senador paulista. Fortes explica: "se está dando entrevista para a TV com grande afinco e não responde sequer "bom dia" aos colegas, só pode ser o Mercadante...". A "simpatia" ambulante de Mercadante já causa arrepios nos habitantes de sua nova pasta, acostumados à suavidade no trato de Fernando Haddad.

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(José Márcio Mendonça e Francisco Petros)

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

OBSERVATÓRIO


O ano era 1989. A Câmara Municipal de Crateús vivia uma noite tumultuada. Ânimos acirrados. Presidia a Casa o Vereador Edi Pinto, conhecido pela leveza com que transitava entre as mais diferentes forças políticas. Porém, nessa noite estava exaltado, destoando do jeito de estilo. E, no fogo de uma discussão, atingiu com um soco no estômago o Vereador oposicionista Joaquim Braz. Foi necessária uma intervenção da turma da concórdia para contornar o entrevero. Na última sessão do ano, sob o clima pré-natalino, o Vereador Emanuel Cardoso, um polemista por natureza, surpreendeu a todos com um discurso entremeado de pedidos de desculpas, apelos fraternais e votos de boa sorte. Atento àquele inusitado desempenho, Joaquim ergue as sobrancelhas como quem descobre um caminho. E, ao usar a palavra, segue a mesma linha de Emanuel: nomina cada colega presente, ressaltando virtudes e qualidades. Ao se deparar com o ex-desafeto, dispara: - Nobre Vereador Edi Pinto... me perdoe por aquele murro que você me deu!...

INTERESSES

Em todas as instituições que tive a oportunidade de colocar os pés – sejam classistas, filantrópicas, sociais, esotéricas ou políticas – sempre vi presente o apego aos interesses pessoais em conflito com o desprendimento. Porém, em nenhum segmento, a busca por espaço, o sentimento de posse, a volúpia da ganância se expressa de maneira tão contundente como nas lutas partidárias. Parece que praticamente ninguém trabalha com a finitude humana. Ou seja, todos parecem desconhecer que, a qualquer momento, poderemos partir para outra dimensão. Com efeito, sempre que nos aproximamos de um prélio eleitoral, essa pulsação se eleva, as especulações pululam e o tensionamento se torna como que inevitável.

CANDIDATURA

Ser Prefeito, hoje, é exercer uma atividade de alto, altíssimo risco. Todo cuidado é pouco. O emaranhado legal que cerca um mandatário municipal é enorme. Às vezes, é iminente a possibilidade de ser responsabilizado por questões que fugiram de sua orientação. O ex-prefeito Paulo Nazareno, quiçá em tom de desabafo, declarou em rádio que divide postulantes a Prefeitura em três classes: a primeira é a dos altruístas – gente que se coloca com a melhor das intenções, mas não sabe o que é aquilo. A segunda é a dos sabem e, mesmo assim, entram, porque são doidos ou malucos. A terceira é a dos que sabem e entram porque estão com outras intenções. Esses ele preferiu não rotular...

CANDIDATOS

A preço de hoje, o esquema situacionista em Crateús apostará suas fichas na reeleição do Prefeito Carlos Felipe. Mesmo externando resistências pessoais, o Prefeito é indiscutivelmente o único expoente consolidado de sua corrente política, capaz de agregar a totalidade da base aliada. Noutro giro, as oposições se articulam. Um leque muito amplo de pretendentes se perfila. O desafio é construir uma unidade. Há setores com avaliações específicas, que refletem opiniões dignas de nota. Os empresários, por exemplo, consideram que é chegado o fim do ciclo de poder local nas mãos de médicos e advogados. Para eles, “os últimos 24 anos mostraram que esses ‘doutores’ têm pouca aptidão gerencial. Embora todos tenham dado seu contributo, nenhum deles fez um ajuste fiscal arrojado, desenvolveu um programa histórico de metas ou atacou o desperdício”. Asseveram que é hora da cidade ser entregue a um empresário com visão de futuro. Ou alguém identificado com esse projeto. Pois, se a Prefeitura gera algumas centenas de empregos, o empresariado gera, no mínimo, dez vezes mais. Empresários como José Vagno Mota e Luizinho Sales, que lideram um movimento de oxigenação do PSDB, compartilham dessa avaliação.

CANDIDATOS II

A lista de pretendentes à Prefeitura este ano é grande. Contempla a velha e a jovem guarda da política. Massaroca está convicto que é uma aposta que pode pegar. Márcio Cavalcante fala que as pesquisas lhe sorriem. E por aí vai... Há alguns dias esteve na cidade Ivan Monte Claudino. Conversou com amigos e externou que sempre vibrou com um projeto coletivo que represente um avanço significativo para a vida da cidade. Disse que estava disposto a colaborar – com destemor, entusiasmo e vigor – na concretização desse sonho. Acha, porém, que as oposições devem considerar, na hora da escolha, o nome capaz de somar mais.

ELEIÇÕES

A disputa eleitoral de 2012 será marcada por um fato novo: a primazia da internet. Pela primeira vez, as redes sociais poderão fazer uma diferença substantiva. E esse peso ainda não foi suficientemente avaliado. O bombardeio eletrônico, a velocidade da comunicação, a informação instantânea alteram, em fração de minutos, o humor da população e nos colocam diante de uma situação sem precedentes no mundo da política: o fim do favoritismo. Basta dizer que uma prática comum – a compra de votos – poderá ser colocada na rede mundial de computadores em tempo real, tornando o fato típico incontestável. Para quem detém a direção da máquina pública, isso é assombroso. A Prefeitura, em todos os tempos, sempre foi usada a serviço das candidaturas oficiais. Isso é fato. Todos sabiam, embora fosse difícil de provar. Agora, com um celular na mão, um militante qualquer poderá postar isso na internet, escancarar para todo mundo e deixar o Ministério Público na obrigação de apurar. Daí será irreversível a provocação ao Judiciário.

JUDICIÁRIO

Por falar em Judiciário, é expressiva a queixa em Crateús com a falta de juízes efetivos na Comarca, causando enormes prejuízos à celeridade processual e, por conseguinte, à cidadania. O assunto constou na pauta do Programa OAB NA TV MUNDO JURÍDICO, veiculado na semana passada em Fortaleza, quando foi anunciada a construção da sede da OAB na regional de Crateús.

PARA REFLETIR

"A primeira coisa, talvez a mais relevante, seja entender que um processo é muito mais do que um conjunto de papéis autuados e ordenados; processo é uma vida, é um drama, é a última esperança para quem procura a Justiça". (Piero Calamandrei)

(Júnior Bonfim, na edição de hoje do Jornal Gazeta do Centro Oeste, Crateús, Ceará)


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Blog do Zaca deixou um novo comentário sobre a sua postagem "OBSERVATÓRIO":

O amigo esqueceu de mencionar o nome de Dr Lourival Rodrigues e do Dr Junior Bonfim, sabemos que os dois também são pretensos candidatos e podem em muito colaborar no engrandecimento de nossa cidade.

Zacarias Filho



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Meu Caro Zaca:

Quero pontuar que vários nomes deixaram de ser citados. E que certamente serão expostos ao longo das próximas matérias.

No que pertine aos dois mencionados (eu e Lourival) quero, em relação à minha pessoa, logo de pronto deixar claro: não sou candidato este ano. Tenho compromissos de ordem pessoal, institucional e profissional que me impedem de colocar o nome à disposição.

Nunca escondi de ninguém o desejo de entrar numa disputa. No entanto, compromisso ninguém é obrigado a fazer; mas, uma vez feito, tem que ser cumprido.

Por isso quero, primeiro, cumprir obrigações já assumidas. Depois, terei enorme prazer em me inserir num amplo e profundo debate sobre os destinos de Crateús. Que merece seguir uma trilha de avanços significativos e se tornar efetivamente uma cidade 3D: Desenvolvida, Democrática e Divertida!

Um cordial abraço

Júnior Bonfim


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Paulo Nazareno deixou um novo comentário sobre a sua postagem "OBSERVATÓRIO":

Não só desabafo, mas uma cruciante vivência com situações impossíveis de terem sido detectadas e muito menos evitadas.

Quem teve a infeliz experiência não a repete em sã consciência.

O lamentável é o consequente afastamento desta labuta de pessoas que o tempo,a experiência e o perfil lapidaram-na para esta missão;a meu ver,você JB está inclusive com a idade/maturidade imprescidíveis para tal. Pense sobre.

RESGATAR O ESSENCIAL

Ouvi a frase acima outro dia em uma reunião de trabalho. Um colega advogado disse que, neste início de ano, esta era a frase que pretendia colocar no frontispício de sua luta cotidiana. A oração acima me atravessou a mente. Mais: grudou-se em minha alma.

Ao sentar para lapidar esta crônica me veio a locução do causídico: Resgatar o essencial!

Nestes tempos paradoxais - que alternam simultaneamente momentos de límpidos horizontes e céus nebulosos, em que sobre uma aura de aparente prosperidade desce um raio de imensurável crise – o que nos toca buscar?

Extrair o óleo fino e aromático da árvore vital, recolher a seiva especial das coisas, apalpar a raiz fundamental de tudo. Eis o que, possivelmente, todos deveríamos fazer: colocar na ribalta as lições que essa quadra de inquietação reflexiva nos oferece.

Penso que, por sobre essa instabilidade financeira que atormenta os coletivos humanos de todos os matizes, palpita um desassossego civilizacional alimentado por razões muito mais profundas, cujas luzes só emergirão se nos dispusermos a ver o essencial. Este, à Saint Exupéry, só vemos bem com o coração.

Como abrir, então, as pálpebras delicadas do núcleo que comanda a consciência, sedia os sentimentos e produz as emoções? Quais os meios para transitar por essa via que destaca o semáforo azul da alegria duradoura?

Comprovado está que, tão importante quanto a saúde mental e/ou emocional, é a saúde espiritual. O psicólogo pesquisador Lewis Andrews, após dez anos estudando a ligação entre espiritualidade e saúde mental, concluiu que as pessoas que acreditam em Deus e adotam valores espirituais muito fortes são mais felizes, mais sadias e, na maioria dos casos, mais interessadas intelectualmente do que as pessoas que não o fazem.
Segundo o Professor José Emilio Menegatti, “na hipótese de você não ser tão entusiástico, como eu, sobre o valor dos conselhos bíblicos, recomendo que se lembre do seguinte: de acordo com a Revista Fortune, 91% dos executivos-chefes das “500 Maiores” empresas do país aprenderam aparentemente seus valores éticos e morais nas mesmas fontes – na Bíblia e na igreja. Pelo menos todos eles alegaram freqüentar igrejas protestantes, católicas ou sinagogas. Menos de 7% disseram que não tinham religião”.

Na visão do Professor Menegatti, a espiritualidade gera em nós qualidades indispensáveis:

Humildade - Um dos princípios cristãos é a humildade. A razão é simples: a humildade reduz o estresse. As pessoas humildes não acreditam que devam ter todas as respostas; conseqüentemente, não precisam fingir ter essas respostas, o que reduz a ansiedade. Quando a ansiedade diminui, a felicidade aumenta. Esse sentimento certamente melhora os seus relacionamentos. Afinal, ninguém gosta de se relacionar com um sabe-tudo. Com isso, seu número de amigos irá aumentar e sua felicidade também.

Amar ao próximo - “Amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Mateus 22:29). Ajudar ao próximo por razões puramente altruístas, sem ganhar nada, a não ser o prazer de prestar um favor ou praticar uma boa ação. As pessoas que só pensam em si desconhecem a alegria proporcionada pelo dar. Quem faz as coisas pelos outros sem visar ganho pessoal colhe grandes benefícios.

Saber perdoar - As pessoas que não têm fé quase sempre guardam mágoas, ressentimentos, rancor e amargura em relação aos outros e raramente, ou nunca, têm paz de espírito. A solução para essa situação é o perdão, que é um grande auxiliador para as pessoas espiritualizadas, pois sempre estaremos nos relacionando com pessoas imperfeitas, assim como nós.

Gratidão – agradecer agrada o ser – já disse uma vez. Agradeçamos sempre, porque dádivas recebemos diariamente.

Fortalecimento da fé - Da mesma forma que uma poupança financeira prescinde à realização de um bom empreendimento econômico, a reserva espiritual nos mantém firmes ante as intempéries da vida.

Somos uma construção de totalidade composta de corpo, mente e espírito. Resgatar o essencial é equilibrar essa tríade. Assim, nos tornaremos seres melhores!

(Júnior Bonfim, na edição de hoje do Jornal Gazeta do Centro Oeste, Crateús, Ceará)