sexta-feira, 13 de abril de 2012

PRINCESA, CADÊ SUA MAJESTADE?


Muitos crateuenses não compreendemos nem absorvemos positivamente a mudança no transporte interestadual Crateús-Fortaleza, de quando as empresas Rápido e Trans-Crateús foram substituídas pela Princesa dos Inhamuns.

Sabe-se que ocorreu num processo licitatório de concessão promovido pelo Estado do Ceará, por certo à luz da lei, segundo a qual há de vencer quem possui condições de oferecer melhores serviços a menores custos. Fora o preço das passagens, que vem se mantendo praticamente inalterado, no mais tem sido difícil notar esse plus de qualidade. Para não soar como injustificado apego ao passado e a resistência às “mudanças”, vamos a algumas comparações.

Comecemos pela frota, que deve ter sido um dos critérios considerados no processo licitatório. As velhas Rápido/Trans-Crateús não possuíam tantos ônibus, mas eram bastantes para dois horários diurnos e dois noturnos, diariamente, ida e volta. Nas datas especiais sempre eram disponibilizadas aos passageiros tantas conduções extras, quanto necessárias. É certo que a maioria emprestada e algumas davam prego, mas ter, tinha sim. Quanto à qualidade dos veículos, boa parte era de nível básico. Mas havia alguns bem melhores, com padrão semi-leito e até de dois andares, parecendo uma espaçonave.

Já a nova Princesa dos Inhamuns, dizem ter uma frota gigante, com centenas de veículos. Porém todos nos quais viajei, no itinerário Crateús-Fortaleza, são rigorosamente iguais e ordinários. Tirando-se o ar-condicionado, nenhum item de conforto relevante: mesma marca, modelo, tamanho. Poltronas estreitas e magras, de pouca inclinação para o sono, braço de apoio fino e seco e, as vezes, inexistente do lado da janela. Porta-pés desconfortável e de pouca mobilidade, e ausência de apoio de pernas – que no caso das velhas empresas era frequente. Nos dias especiais, é um sufoco conseguir passagem, mesmo com três, quatro dias de antecedência. Ônibus extra é sempre uma incógnita e, muitas vezes, também emprestado.

Vamos aos serviços, que devem ter sido outro critério considerado. As velhas Rápido/Trans-Crateús não tinham venda online de passagens nem aceitavam cartão de crédito. No mais, tudo era facilitado. Estivesse lá ou cá, bastava dar um telefonema para as agências e tudo estava resolvido. Se pedíssemos, alguém trazia a nossa passagem em casa. Para os mais exigentes e que desejassem uma viagem executiva, tinha um horário mais rápido, sem paradas, ao custo de R$ 5,00 a mais. Os passageiros eram saudados por uma produzida e simpática “rodomoça”, que oferecia chocolate quente de graça. Não bastasse isso, o serviço de bordo disponibilizava a venda de refrigerante, água mineral e outros. Enquanto se “pegava” no sono, sempre se podia assistir a um bom filme, no padrão “lançamento”, durante o percurso. No desembarque em Fortaleza, quem precisasse ir além da rodoviária central, até as garagens, não via cara feia. Moradores do bairro Montese e vizinhos também podiam saltar do ônibus na porta de casa ou há alguns quarteirões, assim como os que moram nas imediações da Bezerra de Menezes/ Mister Hull.

Nos tempos da nova Princesa dos Inhamuns, também nada de vendas online ou cartão de crédito. Os horários são todos ordinariamente iguais. Os ônibus param mais do que jegue cansado nos vilarejos da estrada, seja que hora for. Ainda que não haja passageiros a subirem, o motorista estaciona em plena madrugada para comer seu lanche e joga a luz interna nos olhos de todos os que dormem. Do sorriso da “rodomoça” e do chocolate quente, só a doce lembrança. Quem não tiver tempo de pegar a fila do quiosque de água na rodoviária, viaja com sede. Em vez do filme no padrão lançamento, só se for um galo na testa após bater nos inúteis monitores que descem do teto dos ônibus. Não tem história de garagem. Para termos a compra deslocada, foi preciso provocar uma confusão. E agora, se não remarcar in loco a viagem três horas antes, perde a passagem. E na última viagem, fui avisado de uma novidade: uma espécie de check-in para quem está em Fortaleza e compra a passagem em Crateús. Tem que chegar uma hora antes de embarcar para retirar a passagem na agência. É assim ou não viaja.

Poder-se-ia reclamar de muito mais, como agora a trama para privatizar a rodoviária (como já foi feito em Canindé e outras cidades); ou da cobrança de taxa de embarque e a ameaça de fechamento do único ponto de apoio remanescente, coisas “nunca antes vistas na história de Crateús”.

Em síntese, não se trata aqui de defender o retorno do velho. Sabe se que os serviços de antes tinham suas precariedades. Também não é mera bravata anticapitalista contra o que dizem, a grandes bocas, quanto a existência de um processo de cartelização do transporte no Ceará, em torno de quatro grandes grupos. Ao usuário, isso não desperta atenção. Muito lamentamos ter que fazer comparações entre presente e passado, quando já devíamos nos mirar pelos padrões de embarque internacionais, como nos aeroportos, em que se pode agendar e programar todo o pacote de casa, escolhendo voos, formas de pagamento, poltronas e até check-in.

O que nos toma é a sensação de mau trato e desconforto atormentando as necessárias viagens ou retornos da capital. Trata-se tão somente de manifestar o sentimento de que nós crateuenses merecemos muito mais do que já tivemos um dia: merecemos ao menos um horário executivo que chegue ao destino mais rápido com tempo de um descanso reparador para o trabalho no outro dia; merecemos – por que não? – uma condução com padrões de conforto melhores, quem sabe até um leito; merecemos saltar o mais perto possível de nossa casa e embarcar/desembarcar na Rodoviária, construída com recursos públicos, no ponto de apoio, na rua... sem barramento de cancelas e taxas extorsivas.

A palavra “princesa”, que dá nome à atual empresa responsável pelo deslocamento dos crateuenses, remete-nos a ideia de realeza, nobreza, grandeza, pompa, majestade. As sensações que vivenciamos no dia-a-dia das viagens, entretanto, nos deixam a impressão de que aquela que se proclama “Princesa dos Inhamuns”, cá nos SERTÕES DE CRATEÚS presta, isto sim, um medíocre e ordinário serviço de Bruxa.

Elias de França é Pedagogo, especialista em gestão, auditor fiscal do Estado e escritor.

quinta-feira, 12 de abril de 2012

PONDERAÇÕES SOBRE O LIVRO DA ALC (NIRTON VENÂNCIO E RAIMUNDO CÂNDIDO)

Caro Raimundo Cândido,

tenho lido o Crateús 100 anos e me emocionado. Pena que minha cidade está muito motificada...

Se houvesse um contato da Academia comigo quando no projeto do livro, eu teria escrito um texto com todo prazer, contando minha experiência do filme. Claro, entendo perfeitamente as dificuldades que envolvem um trabalho desse porte.

O livro está muito bom, uma edição muito bonita, e todos envolvidos estão de parabéns.

Quanto ao "O último dia de sol", ele foi filmado em Baturité por questões técnicas. À época da pré-produção fomos a Crateús para ver a possibilidade de filmar, fomos bem recebidos pelo Paulo Nazareno. Como boa parte do filme se passa na estação de trem, as construções em volta do prédio inviabilizavam, pois a história se passa em 1964. Lamentei, queria filmar novamente na minha cidade, mas não foi possível.

Com relação a programação de cinema no Cine Poty, a ideia é muito boa. Disponho meus filmes, basta dizer qual o formato de projeção.

Sobre a casa de minha avó, é um assunto que me dói muito. Desde então não voltei a Crateús, nem tenho coragem mais. Quero guardar a imagem de antes.

Um abraço,

Nirton


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De: Raimundo Candido Teixeira Filho
Para: nirton venancio
Enviadas: Quarta-feira, 11 de Abril de 2012 14:09
Assunto: Academia de letras de crateús

Caro Nirto Venâncio, Saudades!

Obrigado por acolher o nosso livro. Fizemos um grande esforço para "pari-lo", no ano em que nossa Cidade Completava 100 anos de elevação a esta categoria. O tempo foi curto e a falta de apoio para pesquisa foi gritante. O que viabilizou a produção dos artigos foi o voluntarismo de varios colegas que se serviram de suas pesquisas pessoais e escreveram como está. Por ser voluntário e em curto tempo, os temas abordados foram desenvolvidos de acordo com os levantamentos históricos dos colaboradores. Lamentamos também a ausencia do seu nome e de sua obra, como poeta e cineasta, e temos consciência de que muitas outras pessoas e fatos importantes deixaram de ser tratados.

Pessoalmente me recordo do seu filme e até cheguei a me candidatar a um papel de figurante em outro que você faria depois (O último dia de Sol). Ainda guardo, inclusive, as fichas de inscrição dos colegas atores aqui de Crateús que fiquei encarregado de recolher e lhe repassar. Soube agora que o filme foi feito em outros municípios. Estou curioso em ver.

Quanto a casa dos Marques, onde foi feito o filme, lamentamos não constar no livro. Todas as arquiteturas citadas foram retratadas em fotos antigas ou atuais, que, no caso, não possuíamos. Lamentamos muito mais a demolição da mesma, como de muitas outras construções antigas de nossa cidade, para em seu lugar funcionar uma pizzaria. É um grande problema que nós de Crateús (e do Brasil) enfrentamos: a falta de consciência quanto a preservação de nossas memórias.

Aqui em Crateús, estamos desenvolvendo, através da SABi (Sociedade Amigos da Biblioteca Norberto Ferreira Filho) um projeto de exibição de cinema (Cine Poty). Exibimos semanalmente filmes nacionais. Seria um grande prazer exibir os seus, além de uma boa oportunidade das gerações mais jovens (re)conherem o trabalho de nosso conterrâneo.

Nossos contatos: eliasdefranca@hotmail.com / eliasdefrancafaz@yahoo.com.br
(88)9943-4494, (88) 9219-3506

Grande Abraço

*Raimundo Candido T Filho*
*http://academiadeletrasdecrateus.blogspot.com/*
Rua Firmino Rosa 1289
Crateús Ceará
Cep 63700000
(88) 88349154
(88) 36910363

SE NÃO QUISER ADOECER...

Se não quiser adoecer - "Fale de seus sentimentos"

Emoções e sentimentos que são escondidos, reprimidos, acabam em doenças como: gastrite, úlcera, dores lombares, dor na coluna. Com o tempo a depressão dos sentimentos degenera até em câncer. Então vamos desabafar, confidenciar, partilhar nossa intimidade, nossos segredos, nossos pecados. O diálogo, a fala, a palavra, é um poderoso remédio e excel...ente terapia.

Se não quiser adoecer - "Tome decisão"

A pessoa indecisa permanece na dúvida, na ansiedade, na angústia. A indecisão acumula problemas, preocupações, agressões. A história humana é feita de decisões. Para decidir é preciso saber renunciar, saber perder vantagem e valores para ganhar outros. As pessoas indecisas são vítimas de doenças nervosas, gástricas e problemas de pele.

Se não quiser adoecer - "Busque soluções"

Pessoas negativas não enxergam soluções e aumentam os problemas. Preferem a lamentação, a murmuração, o pessimismo. Melhor é acender o fósforo que lamentar a escuridão. Pequena é a abelha, mas produz o que de mais doce existe. Somos o que pensamos. O pensamento negativo gera energia negativa que se transforma em doença.

Se não quiser adoecer - "Não viva de aparências"

Quem esconde a realidade finge, faz pose, quer sempre dar a impressão que está bem, quer mostrar-se perfeito, bonzinho etc., está acumulando toneladas de peso... Uma estátua de bronze, mas com pés de barro. Nada pior para a saúde que viver de aparências e fachadas. São pessoas com muito verniz e pouca raiz. Seu destino é a farmácia, o hospital, a dor.

Se não quiser adoecer - "Aceite-se"

A rejeição de si próprio, a ausência de auto-estima, faz com que sejamos algozes de nós mesmos. Ser eu mesmo é o núcleo de uma vida saudável. Os que não se aceitam são invejosos, ciumentos, imitadores, competitivos, destruidores. Aceitar-se, aceitar ser aceito, aceitar as críticas, é sabedoria, bom senso e terapia.

Se não quiser adoecer - "Confie"

Quem não confia, não se comunica, não se abre, não se relaciona, não cria liames profundos, não sabe fazer amizades verdadeiras. Sem confiança, não há relacionamento. A desconfiança é falta de fé em si, nos outros e em Deus.

Se não quiser adoecer - "Não viva SEMPRE triste!"

O bom humor, a risada, o lazer, a alegria, recuperam a saúde e trazem vida longa. A pessoa alegre tem o dom de alegrar o ambiente em que vive. "O bom humor nos salva das mãos do doutor". Alegria é saúde e terapia.

Dr. Dráuzio Varela

quarta-feira, 11 de abril de 2012

PROJETO MOTIVA PLANTIO DE MUDAS


A partir da campanha "Plante uma Árvore. Semeie esta Ideia", as pessoas despertaram em favor da natureza

Já dizia Dalai Lama: seja a mudança que você quer ver no mundo. Refletindo sobre a frase e inspirado na campanha "Plante uma Árvore. Semeie esta Ideia", do Grupo Edson Queiroz, o engenheiro agrônomo e economista Joaquim Anízio Frota arregaçou as mangas e desenvolveu ação em defesa do meio ambiente, no São João do Tauape, onde mora há sete anos.

Ele é autor do projeto Agente Voluntário Ambiental (AVA) e tem um objetivo bem definido: transformar o cenário quase árido das ruas do bairro com atitudes simples, como plantar mudas, protegê-las e motivar cada morador a ser um AVA. "Foi lendo as matérias do Diário do Nordeste que decidi que é hora de fazer a diferença", conta. E Anízio foi à luta. Voltou a estudar, concluiu Pós-Graduação em Perícia, Auditoria e Gestão Ambiental da Universidade Paulista (Unip) e promoveu, por conta própria, uma pesquisa informal com a maioria dos 32 mil habitantes do São João do Tauape - dados do Censo/IBGE de 2010. "O resultado foi o que já imaginava: 81% afirmaram desconhecer qualquer ação governamental e concordaram que é preciso fazer alguma coisa em prol da natureza", diz.

A partir daí, começou a produzir mudas de árvores frutíferas, medicinais, ornamentais e espécies nativas, como oiti. "Uma andorinha só não faz verão, mas uma pessoa sozinha pode e deve ter responsabilidade com a cidade onde mora", afirma Anízio.

Dicas

Ele não só distribui as mudas, colocadas diariamente em frente à sua casa, na Rua Monsenhor Salazar, como também informa ao interessado dicas de como plantar de forma correta e cuidar das plantas. "Anízio vem mudando nosso modo de encarar as coisas. Hoje, em vez de viver reclamando do calor, da falta de sombras sem as árvores, já plantei uma castanhola e refiz o jardim lá de casa, que ficou uma beleza", testemunha a dona de casa Iraci Maria Peixoto.

Outro que destaca a iniciativa do agrônomo é o administrador José Alexandre de Souza Filho. "Achei fantástica a ideia. Sou exemplo de quem não ligava para isso, mas entendo que é preciso cuidar da natureza e respeitar o meio ambiente se quisermos melhorar nossa qualidade de vida", reflete.

Para ser um AVA, explica Anízio Frota, não é preciso ser um expert, mas, sim, ter amor pela natureza e querer fazer a diferença. "A partir da campanha ´Plante uma Árvore. Semeie esta Ideia´, que serve para motivar as pessoas em favor do meio ambiente, muita gente veio me procurar. O projeto está apenas começando. Temos muita coisa pela frente. Apenas o primeiro passo foi dado. Muitos virão, até porque nosso bairro necessita de mais arborização e não vamos deixar para o poder público".

A vida humana, afirma o biólogo Antonio Barbosa, depende direta ou indiretamente da diversidade de espécies vivas, animais e vegetais que são elementos fundamentais ao sustentáculo da vida em todo o planeta. Por isso, salienta, campanhas como "Plante uma Árvore..." e iniciativas do cidadão comum são fundamentais para salvar a natureza e mudar essa paisagem tão carente de verde da cidade.

Movimento denuncia corte de árvores

Nenhuma árvore deve ser cortada à toa, sem conhecimento da sociedade ou sem análise técnica de especialistas. É o que defende integrantes do Movimento Pró-Árvore. Eles entraram com denúncia, na Secretaria Executiva Regional do Centro (Sercefor), contra o corte de oitis centenários na calçada do Colégio Militar de Fortaleza (CMF), querendo saber qual órgão da Prefeitura de fato autorizou a derrubada e poda radical da espécie realizada na última quinta-feira.

"Queremos informações concretas sobre se teve estudo técnico e, se houve, cadê essa análise da condição das árvores, já que nossos botânicos e engenheiros agrônomos não veem necessidade da ação", afirma uma das integrantes do movimento ambiental, Marize Leo.

O grupo esteve no local e constatou que a maioria das árvores está com um "X" vermelho, como se estivessem marcadas para o corte. "Pode verificar que elas estão com o caule saudável. Uma ou outra tem problema que pode ser solucionado. Infelizmente, cortam sem pensar e apenas para se livrar", afirma o biólogo Antônio Sérgio Farias. O movimento propõe o diálogo com o poder público para que todo estudo que indique a real necessidade do corte venha acompanhado do replantio da espécie no mesmo local.

"Por não existir órgão na Prefeitura responsável pelos parques e jardins, tudo é feito de forma radical ou cortam ou não estão nem aí", avalia o biólogo, indicando uma castanhola, na Avenida Santos Dumont, na pracinha em frente ao CMF, que apresenta sérias condições. "O tronco de seis metros pode cair a qualquer momento e ninguém viu isso", alerta.

O grupo conversou com a direção da instituição, que reafirmou que o corte e poda foram realizados por equipe da Prefeitura, após avaliação da Secretaria do Meio Ambiente e Controle Urbano (Semam) com o objetivo de evitar acidentes causados pela iminente queda de troncos ou galhos. "Na análise técnica, algumas foram condenadas por estarem podres e com risco de tombar". A assessoria da Semam negou a autorização e a Sercefor também não sabia de nada.

LÊDA GONÇALVES
REPÓRTER
No Diário do Nordeste de hoje

terça-feira, 10 de abril de 2012

POLÍTICA & ECONOMIA NA REAL

Medidas de estímulo: consumo e investimento (I)

Um dos "enigmas" mais complexos na ciência econômica é aquele que tenta discernir se é o consumo que precede o investimento ou vice-versa. Este "enigma" torna-se ainda mais relevante quando se decide adotar medidas macroeconômicas : deveriam estas estimular prioritariamente a variável "consumo" ou a variável "investimento" para estimular a economia? Bem, enquanto a ciência econômica não resolve completamente esta questão, o governo brasileiro resolveu estimular o consumo por meio de medidas fiscais e creditícias. Uma rota de mesma natureza do que ocorre nos EUA, para citar o exemplo mais gritante do momento. Todavia, contrariamente aos EUA, que têm uma magnífica base de investimentos instalada, sobretudo em termos de infraestrutura, o Brasil carece de meios de transporte, logística, energia, tecnologia, etc., que sejam suficientes para tornar o crescimento sustentável (crescimento do PIB sem inflação).

Medidas de estímulo: consumo e investimento (II)

Tomada a questão da nota anterior e analisado o pacote de estímulos adotado pelo governo na semana passada, não poderíamos afirmar que as medidas carecem de fundamentos e, no geral, eficiência para fazer a economia crescer. Já o total de recursos (R$ 7 bi de renúncia fiscal, por exemplo) parece pouco para reverter a atual estagnação econômica. Ademais, os estímulos às exportações foram muito pontuais e baseados essencialmente em medidas protecionistas. Nada de relevante do ponto de vista de todo o sistema foi adotado. Este sim é um ponto crucial. Além disso, medidas de proteção contra importações podem ser até justificadas em função das práticas adotadas por países como a China, mas, de outro lado, não há evidências de que a produtividade doméstica está aumentando a ponto de nos deixar mais competitivos no futuro. Em outras palavras, o pacote ataca as adversidades conjunturais com eficiência duvidosa, mas não deixa nenhum rastro de que há uma mudança estrutural à vista.

Medidas de estímulo: consumo e investimento (III)

Não há razão, entretanto, para que fiquemos pessimistas com o que o governo implementou na semana do feriadão de Páscoa. A direção das medidas está correta, embora o tiro seja de curto alcance e faltem medidas de estímulo ao investimento. Por exemplo, por que o governo não lança um largo programa de estímulos às PPPs para elevação dos investimentos em infraestrutura (estradas, energia, transporte ferroviário, etc.)? Mesmo o tão comemorado pré-sal merece maiores atenções. Não é preciso ser um analista dedicado para perceber que o PAC está lento e que muitas das medidas não são efetivas para a melhoria das condições da infraestrutura nacional. Talvez estas medidas estruturais sofram um peso maior da "avaliação ideológica" que se faz delas no centro do poder. Afinal, teriam de ser discutidos temas caros ao PT e outros partidos que apoiam o governo, tais quais, a privatização e mudanças regulatórias. O que estará pensando a presidente a respeito disso?

Manicômio tributário

Um fato é certo: o pacote aumentou um pouquinho mais a complicação do nosso complicado sistema tributário brasileiro. E mais discretamente do que o faz quando falava das medidas consideradas positivas adotadas semana passada, o ministro Mantega não deixou de apresentar a conta das bondades oficiais: a Cofins de produtos importados será elevada sob a alegação de que é preciso compensar o custo da "desoneração" da folha salarial de alguns setores (agora 15) e o IPI sobre bebidas também será elevado. Como algumas das propostas adotadas terão de passar pelo Congresso via MPs e nem todas as dobras do pacote, anunciado às portas de um feriado ainda não foram escarafunchadas, um analista das questões de impostos no Brasil suspeita que no fim, noves fora nada, ante o que foi dado e o que será cobrado, ainda sobrará um troquinho para o Tesouro. Caso contrário, a meta de superávit primário de 3,1% do PIB este ano somente fechará com muita mágica.

A competição bancária

Ninguém há de negar que o setor bancário brasileiro é um dos mais eficientes do mundo e sua higidez é inegável. Isso não é ponto a favor do ponto de vista da microeconomia. É virtude macroeconômica de vez que nos distancia de crises bancárias que juntamente com as cambiais são as mais graves que podem ocorrer numa economia. De outro lado, também parece evidente que o mercado financeiro brasileiro está excessivamente oligopolizado, isso para dizer o mínimo. As privatizações dos bancos estaduais, a fusão de bancos brasileiros e estrangeiros, a aquisição de pequenos e médios bancos por parte das grandes instituições, bem como o colapso de outras instituições financeiras na Europa e nos EUA, tornaram o mercado doméstico pouco competitivo. Esta é uma das causas para que o spread bancário seja campeão do mundo. Some-se a isso, com relevante importância, os excessos tributários que afetam o crédito e a falta de velocidade judicial na recuperação de créditos para agravar ainda mais o quadro. Neste contexto, o mercado de crédito brasileiro é um obstáculo de monta para estimular o consumo e o investimento. Neste último item, reside uma das grandes atratividades dos empréstimos oficiais do BNDES, cujo custo de captação é mais barato e a taxa final mais atraente para as empresas que desejam investir. Vejamos na próxima nota o tratamento que o governo deu ao tema no bojo das medidas divulgadas na semana passada.

Bancos oficiais e aumento de competição

Olhada a estrutura do mercado financeiro brasileiro, vê-se que os bancos oficiais, no caso a CEF e o BB, ocupam excelente posição dentre os grandes deste mercado. São altamente lucrativos, mesmo se comparados às instituições financeiras globais e, em menor medida, relativamente aos grandes bancos brasileiros. Em tese, seriam ótimos instrumentos para se estimular a competição no mercado doméstico. O governo sinalizou que agirá neste sentido e já "mandou" reduzir drasticamente as taxas de juros dos empréstimos destes bancos, incluindo o do cheque especial e do cartão de crédito. Há muitas e complexas variáveis a serem analisadas neste tema. De nossa parte, ficamos com duas questões que nos parecem vitais: (i) se fosse apenas uma questão de comando estatal, por que isto não foi feito antes? Adicionalmente, (ii) será que a redução dos juros bancários levará em consideração os riscos trazidos pelo aumento da disponibilização de mais crédito, sobretudo o aumento da inadimplência e o estímulo à tomada de crédito de maneira irresponsável por parte dos agentes? Assim como as demais medidas de estímulo ao consumo, a utilização dos bancos oficiais como "reguladores de mercado" parece tem sido realizada de supetão, sem que exista um "plano diretor" que ataque este problema de forma estrutural. Com riscos significativos para o sistema de crédito. Basta ver o exemplo do que aconteceu lá fora até 2008.

É indecente, mas...

Não há dúvida, tecnalidades a parte, que o spread bancário no Brasil é para além de pornográfico. Mas cabe outra pergunta: por quanto tempo os bancos oficiais aguentarão as novas taxas aplicadas a partir desta semana, se não houver mudanças total no sistema, sem tingir seus balanços de vermelho ?

É político também
Não era o objetivo principal, nem do pacote da indústria, nem os movimentos dos juros do BB e da CEF, mas pelo timing, pela pompa da festa para a indústria em Brasília, são dois excelentes reforços políticos para a presidente Dilma, ainda em alta nas pesquisas. É marketing do bom : ajuda a segurar os insatisfeitos aliados. De outro ponto de vista, são mais medidas que ajudam o governo a ganhar tempo antes do inevitável confronto com nossas fraquezas estruturais. O desafio é saber: até quando.

Ainda sobre os bancos oficiais

Há pouco tempo o governo andava preocupado com as disputas de poder envolvendo a diretoria do BB e da Previ. Está tudo em paz agora ? Estará pronta a diretoria do BB para exercer o seu papel "regulador" no mercado?

E o BC?

Foi notada a pouca presença do presidente do BC no lançamento do pacote econômico na semana passada. De outro lado, muitas das medidas tem relação direta com a autoridade monetária e financeira. Sinal de que a independência operacional do BC está cada vez menor? O momento parece ser novamente, todo de Mantega. O ministro da Fazenda até aventurou-se, diante de outro número positivo da inflação, a dizer outra vez que estão asseguradas mais condições para a baixa dos juros Selic. Recado para o BC de que os 9% até o fim do ano previstos pelo mercado já não agradam ?

Congresso anão

Em meio as mudanças econômicas em curso, o Congresso permanece como um ator coadjuvante na discussão dos grandes temas nacionais. Ao que parece, não há apetite para tal. De outro lado, qualquer tropeço do governo na Câmara ou no Senado será oportunidade para "espetar" (na palavra de um deputado que frequenta o "baixo clero"). Ou seja, entre o debate nacional e a chantagem contra o governo, a escolha do Congresso parece feita.

Dilma e Obama

Está certo que o governo americano deixará de pensar que cachaça é rum. Bem como o governo brasileiro vai incorporar por aqui o bourbon norte-americano. Reduzir a visita da presidente Dilma aos EUA a estes temas é empobrecer a análise. Há importante mudança de sentido na política externa brasileira, na direção dos EUA e em detrimento aos excessos terceiromundistas cometidos na octaetéride de Lula da Silva. Muito embora o Brasil seja um país bem menos importante que deveria ser para os EUA, a China comunista não parece ser um parceiro estrategicamente confiável. Dilma parece concordar.

Cachoeiras e cascatas

Os tentáculos de Carlinhos Cachoeira alcançaram muito além do natimorto político senador Demóstenes Torres e do Estado de Goiás. Espalharam-se por diversos partidos e pisaram também no solo do governo do DF. Por sua influência política tão vasta, trata-se, na verdade, de um "Rei do Cerrado".

Na UTI

Cachoeira à parte, inspira cuidados no PT o governo Agnelo Queiroz no DF. Por via das dúvidas, o governo Dilma cedeu dois servidores seus para cobrir o flanco petista na capital: Swedenberger Barbosa, ex-José Dirceu e secretário-Executivo de Gilberto Carvalho foi para a Casa Civil do DF, e Luiz Paulo Barreto, ex-secretário Executivo da Justiça saiu para a Secretaria do Planejamento. As razões do cerco petista a Agnelo são duas: histórias duvidosas e deficiência administrativa. E isso pega muito mal na vitrine que é Brasília.

Na UTI - II

Inspiram mais cuidados ainda o ministério da Pesca e o humor da ministra das Relações Institucionais Ideli Salvatti.

Quem disse que o PMDB está na muda?

Atribui-se à ministra Gleisi Hoffmann, da Casa Civil, com by pass na colega Ideli Salvatti e no líder do governo no Senado, Eduardo Braga, a formação do bloquinho PR/PTB no Senado. A manobra teria levado o PR a voltar aos seios oficiais e reforçaria o governo no Senado. Neo-política, Gleisi parece ter caído num conto do vigário: a manobra teve, na realidade, o velho e experiente dedo peemedebista, e o bloquinho é mais uma fonte cobradora de peso no Senado.

Contas a pagar

Dilma celebrou uma paz momentânea na Câmara e no Senado: prometeu aos governadores mudar o indexador do contrato de rolagem das dívidas estaduais, prometeu liberar parte das emendas parlamentares até junho e prometeu resolver as pendências ministeriais do PDT e do PT. Em troca, quer levar na Câmara o Código Florestal sem mudanças no texto que saiu do Senado, e, no Senado, a Lei da Copa e a Resolução 72, que acaba com a chamada "guerra dos portos". Quem vai ter de pôr primeiro as contas na mesa.

O real

Do assíduo leitor desta coluna, publicitário Alexandre Filizola:

"Não há mais situação ou oposição. Há um saque à coisa publica a luz do dia".

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(por Francisco Petros e José Marcio Mendonça)

domingo, 8 de abril de 2012

O DUELO ENTRE A VIDA E A MORTE


Num dos mais belos hinos da liturgia cristã da Páscoa, que nos vem do século XIII, se canta que “a vida e a morte travaram um duelo; o Senhor da vida foi morto mas eis que agora reina vivo”. É o sentido cristão da Páscoa: a inversão dos termos do embate. O que parecia derrota era, na verdade, uma estratégia para vencer o vencedor, quer dizer a morte. Por isso, a grama não cresceu sobre a sepultura de Jesus. Ressuscitado, garantiu a supremacia da vida.


A mensagem vem do campo religioso que se inscreve no humano mais profundo, mas seu significado não se restringe a ele. Ganha uma relevância universal, especialmente, nos dias atuais, em que se trava física e realmente um duelo entre a vida e a morte. Essse duelo se realiza em todas as frentes e tem como campo de batalha o planeta inteiro, envolvendo toda a comunidade de vida e toda a humanidade.


Isso ocorre porque, tardiamente, nos estamos dando conta de que o estilo de vida que escolhemos nos últimos séculos, implica uma verdadeira guerra total contra a Terra. No afã de buscar riqueza, aumentar o consumo indiscriminado (63% do PIB norte-americano é constituido pelo consumo que se transformou numa real cultura consumista) estão sendo pilhados todos os recursos e serviços possíveis da Mãe Terra.


Nos últimos tempos, cresceu a consciência coletiva de que se está travando um verdadeiro duelo entre os mecanismo naturais da vida e os mecanismos artificiais de morte deslanchados por nosso sistema de habitar, produzir, consumir e tratar os dejetos. As primeiras vítimas desta guerra total são os próprios seres humanos. Grande parte vive com insuficiência de meios de vida, favelizada e superexplorada em sua força de trabalho. O que de sofrimento, frustração e humilhação ai se esconde é inenarrável. Vivemos tempos de nova barbárie, denunciada por vários pensadores mundiais, como recentemente por Tsvetan Todorov em seu livro O medo dos bárbaros (2008). Estas realidades que realmente contam porque nos fazem humanos ou cruéis, não entram nos cáculos dos lucros de nenhuma empresa e não são considerados pelo PIB dos paises, à exceção do Butão que estabeleceu o Indice de Felicidade Interna de seu povo. As outras vítimas são todos os ecossstemas, a biodiversidade e o planeta Terra como um todo.


Recentemente, o prêmio Nobel em economia, Paul Krugmann, revelava que 400 famílias norte-americanas detinham sozinhas mais renda que 46% da população trabalhadora estadounidense. Esta riqueza não cái do céu. É feita através de estratégias de acumulação que incluem trapaças, superespeculação financeira e roubo puro e simples do fruto do trabalho de milhões.


Para o sistema vigente e devemos dizê-lo com todas as letras, a acumulação ilimitada de ganhos é tida como inteligência, a rapinagem de recursos públicos e naturais como destreza, a fraude como habilidade, a corrupção como sagacidade e a exploração desenfreada como sabedoria gerencial. É o triunfo da morte. Será que nesse duelo ela levará a melhor?


O que podemos dizer com toda a certeza que nessa guerra não temos nenhuma chance de ganhar da Terra. Ela existiu sem nós e pode continuar sem nós. Nós sim precisamos dela. O sistema dentro do qual vivemos é de uma espantosa irracionalidade, própria de seres realmente dementes.

Analistas da pegada ecológica global da Terra, devido à conjunção das muitas crises existentes, nos advertem que poderemos conhecer, para tempos não muito distantes, tragédias ecológico-humanitárias de extrema gravidade.


É neste contexto sombrio que cabe atualizar e escutar a mensagem da Páscoa. Possivelmente não escaparemos de uma dolorosa sexta-feira santa. Mas depois virá a ressurreição. A Terra e a Humanidade ainda viverão.

(Leonardo Boff - Teólogo/Filósofo)