quarta-feira, 16 de outubro de 2013

CONJUNTURA NACIONAL

I.N.R.I. - Iesus Nazarenus Rex Iudaeorum

O mestre Leonardo Mota conta que outro mestre, Henrique, era afamado marceneiro nos sertões de SE. Sua especialidade estava nas camas francesas à moda Luís Quinze. Quando o freguês achava que o leito era baixo, recebia a explicação de que a cama era francesa, mas era à Luís Quatorze; se havia queixa da excessiva altura, ficava sabendo que aquilo era cama francesa à moda Luís Dezesseis. O mestre Henrique pôs toda a sua ciência no Cruzeiro do patamar da igreja de Aquidabã. No topo do sagrado madeiro, o vigário da freguesia fizera o mestre Henrique colocar uma tabuinha com as letras I.N.R.I., iniciais de Jesus Nazareno Rei dos Judeus, a irônica inscrição latina de que a ruindade de Pilatos se lembrara na ignominiosa sentença de morte do filho de Deus. Decorrido algum tempo, um sertanejo sergipano, intrigado com a significação daquelas quatro letras, perguntou a um seu conhecido:

- Que é que quererá dizer aquele negócio de INRI, que tem escrito em riba do Cruzeiro?

- Você num sabe não? Ali falta o Q-U-E. Esse QUE não cabeu na tabuinha: aquilo é a assinatura de quem fez, que foi o mestre INRIque.

Pesquisas eleitorais

As pesquisas eleitorais, muito distantes dos pleitos, costumam servir para abrir portas de candidatos nos meios empresariais. Na verdade, são retratos desfocados da realidade eleitoral. O retrato do momento flagra atores em movimento, pré-candidatos fazendo alianças barulhentas, discursos proferidos para atacar adversários e vice-versa, e tendo como pano de fundo o cobertor social e a malha política. Por tudo isso, devemos considerar as pesquisas como passaportes de viajantes que se preparam para fazer o percurso eleitoral.

Transferência

Essa coluna já bateu muito no tema : o voto no Brasil é fundamentalmente na pessoa física, não na pessoa jurídica. Apenas partidos que funcionam como igrejas, pequenas ou grandes, ainda conseguem capturar um voto por sua identidade. Os grandes partidos são geleia partidária. Mistura de quase tudo. Por isso, não se espere grande transferência de votos de Marina para Eduardo Campos. Aliás, a aliança entre os dois foi feita sob as bênçãos da velha política, que ambos execram. O governador de PE faz política, em sua terrinha, à base do cabresto ou do açoite. Aos amigos, pão; aos adversários, pau.

Fora de moda: polarização PT x PSDB

Eis alguns produtos, símbolos, sinais e coisas que começam a sair de moda. Polarização entre PT e PSDB. Há duas décadas e meia, tucanos e petistas se enfrentam. O lengalenga entre os dois entes partidários ainda é forte em alguns espaços, como o paulista. Mas tende a cair em desuso. Tucanos se acham auto-suficientes; petistas se consideram parentes diretos do senhor dos céus. A corrosão de material é visível.

Fora de moda: marketing da glorificação

As campanhas eleitorais adensam, a cada ciclo, os feitos e glórias dos candidatos. Que são apresentados como cidadãos sem nenhum defeito, passado limpo, vida decente, fazedor de coisas, pessoa de ideias, o melhor de todos. Esse marketing da glorificação, que é centrífugo (do candidato para os eleitores), deverá ceder lugar ao marketing das demandas sociais, que é centrípeto, ou seja, dos eleitores para os candidatos. A falação do candidato deverá ser alternada com a forte expressão popular.

Fora de moda: caras e bocas

Na verdade, continuaremos a ver um desfile de caras e boca nos programas eleitorais. Um desfile de extravagâncias e frases decoradas. Que terão impacto perto de zero. Essa massa amorfa será substituída por perfis ligados a setores, categorias e núcleos organizados da sociedade. Teremos, em 2014, a mais orgânica e racional campanha dos últimos tempos. O voto será mais seletivo, menos descompromissado.

Fora de moda: invencionices

Muitos candidatos, no passado, foram eleitos por conta de um marketing mentiroso, cheio de invencionices. Furas filas, centros hospitalares do primeiro mundo, obreirismo faraônico, que mais pareciam integrar os jardins suspensos da Babilônia. O marketing do pleito de 2014 deverá demonstrar a relação causa-efeito. A ideia deverá ser demonstrada em termos de viabilidade técnica, operacional, financeira. As elucubrações serão anotadas pelo sistema cognitivo do eleitor.

Eleitor mais racional

A cada eleição, é perceptível a expansão do voto racional no país: o voto mais consciente, o mais exigente, o voto em candidatos mais próximos, o voto em candidato conhecido, o voto em ideias, o voto em compromissos. Donde se pinça a moldura de uma organicidade social mais forte. Os tempos do eleitor "Maria vai com as outras" (apenas para lembrar o ditado popular, sem nenhum ranço discriminatório) estão dando vez aos tempos da autogestão técnica : o eleitor assume sua cidadania; sabe o que quer e ainda é capaz de selecionar os meios para alcançar seus fins.

Bolsões tradicionais

É evidente que o país não é, em sua totalidade, o território da racionalidade. Ainda se contabiliza, nos fundões e grotões, um voto de amizade, um voto de cabresto, um voto ao candidato mais jovem e garboso, um voto manobrado pelo "coronel", um voto de agradecimento pela dentadura recebida, pelo emprego ganho. Mesmo em regiões politicamente ainda defasadas, como o Norte, o Nordeste, o Centro Oeste, bolsões racionais de multiplicam. A racionalidade se expande dos centros para as margens, conduzida por círculos concêntricos, que realizam o movimento da pedra jogada no meio do lago.

O processo racional

A racionalidade é resultante de um conjunto de fatores, a saber: a elevação dos níveis educacionais, a melhoria do status social e econômico; a indignação gerada pela ineficiência dos serviços públicos; a ausência de respostas e feitos dos representantes em relação às regiões que os elegeram; a vontade de votar em um perfil diferente; a influência dos movimentos sociais; a elevação dos padrões éticos, a partir da bateria de denúncias intensificada pelos meios de comunicação de massa, etc.

Emoção x razão

Se o voto emocional, no passado, chegava a somar algo em torno de 60% a 70% por cento, hoje, baixou para algo em torno de 40%.

Articulação

O marketing político tem cinco eixos: a pesquisa, o discurso (propostas), a comunicação, a articulação e a mobilização. Em função dos aspectos descritos acima, a campanha de 2014 deverá dar muito valor ao fator articulação. Articulação com os núcleos sociais, entidades de todos os gêneros; articulação com os diversos atores políticos. E a mobilização deverá privilegiar os pequenos e médios encontros em vez dos grandes eventos de massa. O país mudou. Não há mais clima para grandes comícios.

O eleitor é uma caixa-preta

O conceito é velho. Ninguém sabe o que se passa na cabeça do eleitor. Há induções e deduções. Mas ele certamente é influenciado por um conjunto de fatores, a saber: o candidato, o cenário (o espaço onde está), a comunicação, custos e recursos da campanha, concorrentes, influências de amigos e comunidades e circunstâncias.

O voto em São Paulo

O Brasil teve, em 2012, mais de 140 milhões de eleitores, cerca de 67 milhões de homens e 73 milhões de mulheres. SP é o maior colégio eleitoral do país. Hoje, abarca cerca de 33 milhões de votos, mais de um quinto de todos os eleitores. Como pode se dividir esse contingente? Há um pouco de tudo : as maiores categorias trabalhistas; as maiores densas classes médias; os maiores núcleos de profissionais liberais; os mais cheios colégios eleitorais de cunho religioso; as mais fortes entidades de organização social; os maiores sindicatos e assim por diante. O que isso quer significar? Um voto mais orgânico, menos amorfo, mais seletivo, mais focado no perfil compromissado com a sociedade organizada.

O voto nordestino em SP

Eduardo Campos sonha em fincar pé no território paulista e paulistano, por saber que aqui, nessas plagas, concentra-se a maior capital nordestina do país. O fato, amplamente medido pelo IBGE, não faz, porém, SP uma capital nordestina. O nordestino que aqui aportou é um saudosista, sim, ama o torrão, visitas cidades de origem, canta as toadas da terra, mas SP é seu país. Vive os dramas, sente as angústias dos munícipes, faz cobranças aos governantes, etc. Ou seja, não vota em um candidato nordestino apenas pela identificação regional. Se Dudu Beleza espera ter imensa votação na maior capital nordestina do país, é bom, logo, logo, começar a administrar a reversão de expectativas que o tomará.

Padilha com 30%

Alexandre Padilha espera contar com 30% de intenção de voto um mês após ser consagrado pela convenção do PT em junho de 2014. Será ? Como será avaliado o "Mais Médicos", hein? O PT é uma religião que soma, a cada pleito, cerca de 30% dos votos em SP. Conseguirá desta feita?

Alckmin com 35%

Geraldo Alckmin espera iniciar a jornada com 35% de intenção de votos. E chegar aos 40% em julho/agosto. Pode ser. Terá de lubrificar muito a máquina tucana. Que, em SP, sofre de fadiga de material.

Skaf

Pois é, esse candidato poderá surpreender. Atualmente, está na faixa dos 20%. Incorpora o perfil do novo. Figura dinâmica, passa imagem de inovação e se encaixa no figurino de uma alavanca para a área educacional. Ao fundo, suas realizações no SESI e SENAI, sob o manto da FIESP.

Marina no lugar de Dudu

Este consultor não crê na hipótese. Eduardo Campos, mesmo abaixo de Marina em matéria de intenção de voto, não deverá ceder a ela a cabeça de chapa.

Este não serve

Em Antenor Navarro/PB, o júri ia começar. O juiz da comarca, Nelson Negreiros, viu o réu chegar sem advogado de defesa:

- O senhor não tem advogado?

- Tenho, doutor juiz. Meu advogado é Deus.

- Esse não serve. Não é inscrito na Ordem.

Conselho aos pré-candidatos

Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes, membros dos Poderes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado ao governador de PE, Eduardo Campos. Hoje, volta sua atenção aos pré-candidatos nas eleições majoritárias:

1. Procurem, desde já, formar suas equipes, não deixando para a última hora a organização da estrutura de campanha.

2. Como o pleito de 2014 deverá privilegiar o conteúdo, ênfase deve ser dada à equipe encarregada de propor um programa de governo.

3. É conveniente, nesse momento, planejar e executar uma bateria de pesquisas para aferir demandas sociais, por classes sociais e categorias profissionais, mas para procurar interpretar o animus animandi (a forma de pensar, o sistema cognitivo) do eleitor.

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(Gaudêncio Torquato)

terça-feira, 15 de outubro de 2013

POLÍTICA & ECONOMIA NA REAL

Coisas a comemorar, muito com que se preocupar - 1

A pesquisa do DataFolha divulgada no fim de semana, trouxe motivos para todos os candidatos à presidência da República terem alguma coisa a comemorar. É a primeira sondagem depois do terremoto (ou maremoto) provocado pela união entre Eduardo Campos (PSB) e Marina Silva (Rede, ainda não oficialmente existente) e não captou ainda todos o efeitos da inusitada colaboração entre os sustentáveis e os socialistas. Demorará algum tempo ainda para que a onda provocada pela pedra jogada no meio do lago atinja as margens da lagoa eleitoral. Apesar disso, quem tem mais a sorrir é a presidente Dilma Rousseff e o seu grupo: as indicações do momento apontam que ela ganharia em primeiro turno se seus adversários fossem Aécio Neves e Eduardo Campos e venceria qualquer um de seus prováveis concorrentes (os dois mais Marina Silva e José Serra) numa hipotética segunda rodada.

Coisas a comemorar, muito com que se preocupar - 2

Viu-se, também, que Marina permanece sendo a principal competidora de Dilma, o que explica a quantidade de notas e análises "isentas" na mídia, na última semana, apontando para as dificuldades que a dupla Campos-Marina enfrentará na prática. Pura torcida, pois não apenas os dois enfrentarão dificuldades regionais em seus palanques: também Dilma e Aécio/Serra vão sofrer muito para acomodar os interesses de prováveis aliados. Para Dilma, o pior sinal do levantamento do DataFolha é o que diz que sua popularidade, com brutal queda depois das manifestações juninas, e depois em recuperação, perdeu fôlego, está praticamente parada. Este dado já estava presente na pesquisa do Ibope, divulgada em meados de setembro. Para todos os partidos, o sinal que deixa tudo em suspense é que cerca de 25% dos eleitores sondados pelo DataFolha, ou seja, um em cada quatro, ainda não escolheu seu candidato. O que pode mudar tudo até as vésperas das eleições. Também é bem significativo, conforme outras pesquisas, o número de eleitores que admitem mudar sua preferência ao correr da campanha.

Coisas a comemorar, muito com que se preocupar - 3

O mais relevante a considerar para qualquer prospecção mais profunda, porém, é que todos esses movimentos estão sendo proporcionados apenas por eventos políticos e de "marquetagem", importantes sem dúvida na conquista do eleitor, mas não totalmente determinantes. Dois serão os fatores que poderão, de fato, decidir as eleições de 2014:

1. O sempre falado comportamento da economia, com ênfase na questão do emprego e da renda. Nesse ponto, a maioria dos analistas independentes não está vendo no horizonte, grandes abalos para a candidatura de Dilma à reeleição. O governo tem instrumentos para ir tocando a situação, sem deixar a inflação escapar ao controle e segurando ameaças de desemprego. Vamos continuar crescendo mediocremente, mas sem turbulências maiores ou mesmo uma crise.

2. A percepção, a sensação dos eleitores sobre a qualidade dos serviços públicos, naquilo que mais afeta o seu dia a dia, a sua qualidade de vida, aliás, o grande mote das manifestações juninas. Desse ponto de vista, o quadro que se apresenta hoje não é dos mais animadores para quem, Federal ou estadual, vai defender as cores governistas.

Campos-Marina: Moderno-Arcaico - 1

Não cabe neste honrado espaço enormes e profundas digressões sobre a sociologia política brasileira neste momento. Todavia, parece-nos que é o caso de utilizarmos as "ferramentas" da política para pensarmos um pouco sob a luz da recente aliança Campos-Marina. Ocorre que esta dupla reserva ao eleitorado uma soma inusitada entre o antigo e o moderno que precisa ser deduzida com certa urgência sob pena de a esfinge do eleitorado dragá-los e expeli-los. Campos, com seus europeus olhos azuis, é homem que denota tradição (o ex-governador Miguel Arraes) e um carisma local (e não nacional). Todavia, falta-lhe o tempero da modernidade na política, aquele que no dizer de Max Weber está ligado ao entendimento mais completo da legalidade formal e dos limites (formais ou não) da democracia. Marina, de outro lado, tem tradição calcada em luta política, é abastada de carisma pessoal e apega-se a visões de mundo estruturadas de forma ideal e, às vezes, um pouco distante da realidade objetiva. Saiu da floresta e provou-se astuta na associação que fez, mas ainda persiste em seu discurso certo exagero onírico. Campos-Marina, enfim, não é uma combinação tal qual feijão com arroz. Está mais para uma mistura tropicalista, onde ele pensa no casamento e ela saboreia um açaí.

Campos-Marina: Moderno-Arcaico - 2

Se as diferenças de Campos e Marina são notórias, estas serão bem mais exploradas pelos seus opositores que os poços de petróleo de Eike Batista. Logo, por dedução lógica-política, é melhor mostrar logo para o respeitável público como a equação funciona entre os dois, sob pena de esta parceria virar inequação e terminar esquecida em algum lugar inabitado da Amazônia. Para Marina cabe sair do respeitado discurso sobre a vocação política para a ação política concreta, dizer aquilo que vai fazer. Eduardo Campos terá de fazer que o leito do PSB, tão assoreado por nada ortodoxas alianças políticas, sobretudo nos Estados, não vire um atoleiro onde não andarão juntos a pureza ideal da política de Marina e o necessário pragmatismo na ação política. A dúvida sobre a "cabeça de chapa" vai ficar até que se saiba sobre os efeitos externos desta surpresa política. Internamente, não há nada mais perigoso que as vaidades reinarem e desunirem o partido que já era um composto complexo e que sofreu mais uma mutação genética jamais vista nas últimas décadas no Brasil no âmbito formal dos partidos políticos.

Campos-Marina: Moderno-Arcaico - 3

O programa de rádio e TV da nova dupla dinâmica da política brasileira, na última semana, foi bom para tratar não apenas das aparências, mas também começar a falar concretamente a que veio. Pareceu sincero e trouxe até alguma felicidade frente à tremenda chatice que, em geral, se vê. Daqui por diante, porém, será essencial que se saiba mais sobre o que pensam Campos e Marina sobre a economia, a política, a educação, a saúde, etc. Sumir de cena para realizarem os "debates com as bases" sobre o que deve ser feito se constituirá enorme erro de estratégia porquanto dará tempo para que os adversários se recoloquem para destronar a vanguarda que Marina-Campos (nessa ordem) criaram. Política é liderança, e não pode ser guia o "curtir" do Facebook com todo o respeito que as tais redes sociais merecem. Esta coluna não é afeita a "conselhos", mas a nossa melhor análise leva a crer que o eleitorado gostará de ver algo novo no ar, mas quer saber como a vida concreta de cada um vai ser afetada. Campos-Marina criaram riscos enormes à frente, mas há de se reconhecer que abriram horizontes no céu da triste política brasileira.

Dilma, eleições e melões

Na semana passada a presidente Dilma Rousseff esteve presente a eventos que são bem a conta de (i) o quanto a campanha eleitoral está prematuramente nas ruas e (ii) a falta de uma visão estratégica em relação ao Brasil, no momento em que se vê a olhos nus a desindustrialização do país, a incompetência generalizada na gestão do Estado, a corrupção elevada em diversos segmentos e assim vai. O primeiro foi o encontro com taxistas para fazer coro em prol de um projeto que altera as regras das permissões de serviços públicos em caso de morte do permissionário. O outro, sábado passado, foi a entrega de 57 motoniveladoras no RS com direito a fotos com as belas gaúchas da Festa do Melão. Tais encontros representam bem a tônica do governo Dilma neste momento. Não bastasse isso, há vazamentos na imprensa dando conta do forte interesse de Dilma Rousseff por motocicletas, ao que parece uma Harley-Davidson. A presidente vai, inclusive, agravar as já debilitadas contas externas do país.

Insatisfação social: uma medida

Dados da pesquisa do Ibope de setembro mostram que é constante a deterioração da satisfação da sociedade com os serviços de obrigação dos governos de um modo geral. Vamos a eles na comparação com setembro de 2011:

- desemprego: (a) aprova - 53% em setembro de 2011, 39% em setembro de 2013; (b) desaprova - 42% em setembro de 2011, 57% em setembro de 2013.

- inflação: (a) aprova - 55% em setembro de 2011, 38% em setembro de 2013; (b) desaprova - 68% em setembro de 2011, 27% em setembro de 2013.

- combate à fome e à pobreza: (a) aprova - 59% em setembro de 2011, 51% em setembro de 2013; (b) desaprova - 38% em setembro de 2011, 47% em setembro de 2013.

- saúde: (a) aprova - 30% em setembro de 2011, 21% em setembro de 2013; (b) desaprova - 67% em setembro de 2011, 77% em setembro de 2013.

- educação: (a) aprova - 46% em setembro de 2011, 33% em setembro de 2013; (b) desaprova - 51% em setembro de 2011, 65% em setembro de 2013.

- segurança pública: (a) aprova - 37% em setembro de 2011, 24% em setembro de 2013; (b) desaprova - 59 % em setembro de 2011, 74% em setembro de 2013.

- impostos: (a) aprova - 27% em setembro de 2011, 22% em setembro de 2013; (b) desaprova - 66% em setembro de 2011, 77% em setembro de 2013.

- meio ambiente: (a) aprova - 54% em setembro de 2011, 41% em setembro de 2013; (b) desaprova - 38% em setembro de 2011, 52% em setembro de 2013.

- taxa de juros: (a) aprova - 32% em setembro de 2011, 23% em setembro de 2013; (b) desaprova - 59 % em setembro de 2011, 71% em setembro de 2013.

(A diferença para 100% das entrevistas correspondente a quem não sabe ou não respondeu à questão. Quem quiser acompanhar a evolução desses índices nesse período)

Alianças muito precárias

A não ser em casos muito específicos, como no caso PSB-Rede - nesta altura a aliança é indissolúvel sob pena de total desmoralização de Marina e Eduardo Campos - e da sólida composição PT-PC do B - praticamente todas as alianças que os principais concorrentes à presidência estão correndo para fechar agora, tendo em vista, principalmente, a conquista de tempo no horário eleitoral obrigatório no rádio e na televisão. Ademais, estão sujeitas a revisão no futuro. Até julho, quando todos os partidos farão suas convenções, ninguém é de ninguém nesta vida, apesar de flerte, namoros e até "ficadas". Para todos os partidos que não estão na tabela principal - PT, PSDB e PSB-Rede o que importará mesmo, será garantir poder de barganha com o novo governo e tomar posse em 2015. Para isso, eles precisam eleger o maior número possível de deputados Federais e senadores e também não fazer feio demais nas eleições estaduais. Assim, o que contará para eles são as composições que lhes garantem mais chances nessas disputas. Afinal, depois das eleições, com exceção dos dois derrotados - e mesmo assim olhe-se lá - todos serão chamados para compor o "alianção" governista. O que eles ganharão em troca será proporcional ao tamanho que apresentarem depois das urnas.

Águas revoltas: a Receita Federal - 1

Algumas semanas atrás, citando especificamente o BC, o Tesouro Nacional e o Itamaraty, falávamos de uma surda revolta nas burocracias mais consolidadas do governo Federal contra decisões em suas áreas e posições de seus comandos que eles consideram mais políticas que técnicas. Esta semana as águas ficaram revoltas na secretária da Receita Federal, com um e-mail interno expedido pelo chefe da Fiscalização RF Caio Cândido, reclamando abertamente de "interferências externas" nas decisões do órgão e com uma entrevista dada por outros dois comissionados dizendo claramente que os pareceres técnicos da área desaconselham o novo Refis que está para ser aprovado pelo Congresso com as bênçãos do Palácio do Planalto. Houve uma tentativa de amenizar a crise, porém sabe-se que o ambiente por lá é efervescente. A interpretação é a de que a revolta é com os benefícios e vantagens que empresas influentes estariam conquistando. É um fato, porém não é o único. Incomoda (na expressão usada pelo chefe da fiscalização que está demissionário) também o uso de expedientes para sustentar artificialmente certos aspectos da política econômica. A inquietação não é, para usar uma expressão introduzida no meio pelo ex-presidente Lula, uma simples marolinha.

Águas revoltas: a Receita Federal - 2

Há que se notar que as complicações envolvendo a Receita são enormes. O órgão sempre é instado a arrecadar mais num contexto em que o governo gasta mal e muito. Não é fácil a tarefa. Além disso, é relativamente comum certos obstáculos jurídicos que garantem a segurança das operações de empresas e pessoas serem ultrapassados. Foi o ocorreu na questão na tentativa da Receita em faturar mais alguns reais tributando os dividendos passados das empresas em função da diferente contabilização entre os critérios definidos pela Receita e aqueles referentes ao sistema contábil IFRS. A intenção, neste caso, foi a de aumentar a arrecadação. Contou com a anuência da Fazenda e, quando os órgãos de representação das empresas, especialmente a Abrasca - Associação Brasileira das Companhias Abertas, reagiram aos efeitos daquela tentativa, houve singelo recuo da Receita e da Fazenda como se fosse tudo um mal entendido. Não foi. Isto está inserido no contexto de "perseguição arrecadatória" na qual está mergulhada a Receita, por força da atual gestão das finanças públicas do país.

Projeto de Alckmin

Vejamos esta afirmação do governador de SP no Fórum de Mobilidade Urbana promovido pela Folha de S.Paulo: "Trilhos são o melhor investimento. Um trilho faz 80 mil passageiros/hora em cada sentido. Ônibus, 5 mil. Um corredor de ônibus pode chegar a 12 mil, 14 mil". Nosso comentário: até o final de 2014 a Cidade de SP o Metropolitano deve chegar a 102 km. Diz o governador que o objetivo é chegar a 200 km. Para tanto, não especificou a data. O certo é que deveria o metrô ter mais de 300 km. O metrô de SP é uma ilha de esperança da população cercada por um mar de tubarões onde são fartas as denúncias de corrupção na construção dos trilhos, bem como o proselitismo político do poder de plantão. Não há um plano consistente que tire a população do aperto diário dentro dos ônibus. Os números sobre o tema sobram nas palavras dos governantes, mas não há o sentimento de emergência em relação à população, sobretudo a mais pobre, que depende do transporte público. Sequer há prazos bem planejados. Em tempo : o prefeito de SP tem uma aposta curiosa. Incentivar que as pessoas andem a pé. Afinal, as calçadas estão sendo reformadas.

Haddad: saída fácil

Os imóveis de SP terão a tributação elevada em cerca de 30%. O IPTU de Fernando Haddad tornará a tributação paulistana a fonte de recursos para sanear as mazelas de SP, do transporte público até a saúde. O ex-ministro da Educação demonstrou que sua capacidade de criar algo novo na cidade é zero. Não há reformas, não há economias projetadas, não há inovações. Há apenas a alta do IPTU. Com a Câmara Municipal aos seus pés, o distinto alcaide pode tudo. Como membro da "nova geração" política do país, Haddad age como todo poderoso de plantão de velha guarda : faz alarde sobre projetos destituídos de visão estratégica como são as faixas de ônibus e dá um carnê de imposto mais alto na mão dos eleitores. Há também medidas populistas, típicas dos velhos tempos da política nacional: Haddad quer obrigar o seus secretários a irem de ônibus para o trabalho. O sistema deve ficar lotado, afinal são 29 subprefeituras e 27 secretarias, distribuídas pelos partidos que apóiam o prefeito. Será interessante, para dizer o mínimo, a experiência que o prefeito quer introduzir.

Verdades pela metade

O ex-presidente Lula, em entrevista publicada segunda-feira no jornal argentino "Página 12" voltou a acusar a oposição brasileira de ter prejudicado o setor de saúde ao ter acabado, em fins de 2007 com a CPMF (Contribuição Provisória sobre Movimentações Financeiras). Este é um velho discurso de Lula e ele voltou a retomá-lo comparando a atitude da oposição no Senado naquela época com a disputa hoje entre os republicanos e o presidente Barack Obama no Congresso a respeito do orçamento Federal, por causa dos planos do presidente americano para os planos de saúde. Trata-se de uma boa conversa de apelo eleitoral, mas que não encontra amparo na realidade por duas razões:

1. O PMDB, partido governista e que tinha (e tem) o vice-presidente da República, Michel Temer, foi um dos principais artífices da derrota da prorrogação da vigência da CPMF pedida então por Lula. Primeiro, porque segurou ao máximo da MP correspondente na Câmara, dificultando as negociações para sua aprovação pelos senadores. Comandou o boicote o deputado Eduardo Cunha (PMDB/RJ), hoje líder do partido, que só soltou o osso quando conseguiu acertar nomeações para Furnas. E depois, quando vários peemedebistas votaram contra a MP. A oposição sozinha já então não tinha número suficiente para derrotar o governo, nem no Senado nem na Câmara.

2. O ministro Guido Mantega, da Fazenda, logo depois da derrota, em janeiro, soltou uma MP, aprovada no Congresso em abril, aumentando o IOF de algumas operações e a Contribuição Social sobre o lucro líquido dos bancos, de 9% para 15% exatamente para compensar as perdas com o imposto do cheque. Os maus serviços públicos de saúde no Brasil se devem apenas em parte à falta de recursos. Em boa parte é culpa de desperdícios e má gestão mesmo.

(por Francisco Petros e José Marcio Mendonça)

domingo, 13 de outubro de 2013

CARTA AO EDUARDO (POR OCASIÃO DO SEU ANIVERSÁRIO!)


Meu primo Eduardo Paula Rodrigues:

Um pássaro virtual me trouxe a missiva em que narras a sucessão dos fatos que constituem tua árvore essencial. Minha primeira reação foi correr para o mar. Tua vida parece se resumir a uma corrida, após uma busca para conhecer o mundo através de uma inserção marítima. E hoje à tarde o mar, esse incansável viajante que nunca sai do lugar, me estimulou a te pedir vênia para dar publicidade a alguns detalhes da tua intimidade.

Confesso que desconhecia, oh sexto filho do Janjão e da Mariinha, o porquê do teu nome composto Eduardo Paulo. Eduardo porque nasceste em 13 de outubro, dia de santo Eduardo, o Confessor, penúltimo rei saxão da Inglaterra. Já o Paulo surgiu em homenagem a Paulo Sarasate, excelso líder cearense quando viestes ao mundo. No cartório, grafaram ‘Paula’ ao invés de Paulo.

Na infância fostes talhado para a fortaleza, sendo cúmplice da madrugada e acordando antes da aurora para beber o leite ‘mugido’, a fim de tanger o comboio de animais que transportava a água de beber em pipas de madeira.

Na sequencia, a cidade. Crateús. Febril, pulsante, desafiadora. O Externato Nossa Senhora de Fátima, a Escola da Dona Delite. E a inusitada recepção: o código do rigor, o estatuto da severidade, o puxão na orelha, o regimento da palmatória. Mas essa exigente etapa era condição sine qua non para a realização do sonho de todo estudante daquela agradável província: passar no exame de admissão do Ginásio Pio XII. Como “reprovar era um verbo proibido de se conjugar”, passaste.

Naquele final da década de 1960, o País sob o governo das armas, um anúncio te despertou a atenção: “Entre na Marinha e conheça o mundo”. Vislumbraste ali não apenas uma oportunidade de trabalho, mas a oceânica aventura de mudar de vida. E foi na Escola de Aprendizes Marinheiros, precisamente em 04 de junho de 1971, que enfrentaste o teu maior maremoto existencial: a perda do pai, aos 52 anos, vítima de acidente automobilístico.

Se a amplidão do mar tinha inicialmente te inebriado, o convés do navio te sufocava.

Desejavas um porto seguro, correr em terra firme, subir degraus na escadaria educacional, viver novas experiências. Aí, concursado do Banco Central, foste para o centro do País, a Capital da República. Tiveste a oportunidade de saborear o convívio poético com o tio-avô Alexandre Lucas, o maior condoreiro do nosso clã, que resolveu adotar o sobrenome Boquady - “Jatobá” em tupi-guarani – como uma forma de prestar reverência à nação indígena. Jamais esqueceste o gesto generoso de Jesus, filho de Lucas, ao te ofertar o indispensável apoio na condução do barco educacional, essencial para que pudesses aportar com tranqüilidade nessa ilha de excelência pública que é o Banco dos Bancos, regulador do crédito e do volume de dinheiro na economia.

Em Brasília, saboreaste a Ambrosia, o doce de divinal sabor, produzido pelo fogão de lenha do coração. Desposaste Antonia, que te deu a inteligente e radiosa Ana Paula, a mais velha, jovem discípula da deusa Thêmis e o promissor Lucas, o mais novo, em adiantado estágio de preparação para prestar o juramento de Hipócrates.

Quem enfrenta a procela, aprende a pisar com agilidade no espaço terreno. Por puro diletantismo, começaste a correr pelas ruas, como um hobby para recondicionamento físico, e viraste um maratonista de dimensão internacional, com atuação na famosa maratona de Nova Iorque e, por quatro vezes, na COMRADES, a ultra maratona da África do Sul, que ocorre desde 1921.

Porém, a incursão mais espetacular que registraste foi em direção às montanhas da bem-aventurança, praticando a filantropia nas ribanceiras da própria vazante familiar, presidindo a Associação Beneficente em Prol dos Portadores de Ataxia (ABPAT/DF), um lenitivo para o incômodo hereditário que inquieta vários parentes com dificuldades de coordenação motora.

Sei que amas a leitura, gostas de ouvir música e adoras pescar. Tens, porém, uma frustração: nunca aprendeste a tocar um instrumento musical. Ficai tranqüilo: tua trajetória é uma melodia à essência solene da vida!

(Júnior Bonfim)