sexta-feira, 7 de julho de 2017

FELIZ ANIVERSÁRIO, CRATEÚS!


Existem vínculos que subsistem ao caminhar das eras. São imorredouros, eternos.

Como olvidar a protetora cavidade materna que, durante meses, foi o nosso refúgio terno e profundo antes de abrirmos os olhos ao latejar do mundo?!

Como esquecer o pedaço de chão que serviu de fraterno abrigo para que enterrássemos o cordão do nosso umbigo?!

Carregamos indelevelmente, no pomar do coração, o aroma da terra que nos pegou pela mão.

Mãe e terra, incansáveis germinadoras, fábricas de vida, explosões de rebentos, incubadoras de sementes selecionadas...

No próximo 06 de julho vamos proclamar louvores à terra de José Coriolano. É mais um natalício de Crateús. É um momento de abrirmos o baú memorial, retirarmos os retratos antigos e relembrarmos a imagem do nosso nascedouro.

Não temos escrituras dos índios, nossos antepassados mais remotos. Nas cabeceiras do rio Poty encontrava-se uma das duas dezenas de tribos indígenas do esquadro territorial denominado Siará. A tradição oral registra que eram índios amantes da festa e da alegria. Em tudo viam motivo para comemoração. (Talvez por isso a gente que aqui habita é vibrantemente festiva. A cidade já ostentou título de uma das urbes com vida noturna das mais agitadas do interland cearense.)

O povoamento branco destas terras principiou no meio do século XVII. No século seguinte estas terras foram adquiridas por Dom Ávila Pereira, da dinastia da Casa da Torre, na Bahia.

Crateuenses, temos raízes baianas!

Crateús integrava o imenso latifúndio comandado da Bahia pelos descendentes de Garcia D’Ávila. A Casa da Torre, sede dos então proprietários destas glebas, é o único castelo medieval existente no continente americano e está em processo de restauração. Localizado ao lado da Praia do Forte, dista cerca de cinquenta quilômetros de Salvador. Foi construído a partir de 1551 por Garcia D’Ávila Pereira, o almoxarife real que chegou ao Brasil com a expedição de Tomé de Souza, o primeiro Governador Geral do Brasil, que veio para fundar a cidade que hoje é a capital baiana.

Da Bahia também veio para Crateús a imagem do nosso Padroeiro, Senhor do Bonfim. A tradição de celebrar e festejar o Senhor do Bonfim, no Brasil, relaciona-se com a figura de Teodósio Rodrigues de Faria, Capitão de Mar e Guerra da Marinha Portuguesa, nascido na cidade de Setúbal, donde se originou a devoção ao Senhor Bom Jesus do Bonfim.

Em 1742, ao enfrentar uma tempestade, o Capitão Teodósio, fervoroso devoto do Senhor do Bonfim, fez uma promessa: se escapasse com vida daquela turbulência, traria para o Brasil a imagem do Santo.

De retorno a Salvador em 18 de abril de 1745, o capitão Teodósio trouxe consigo uma imagem do Senhor Bom Jesus do Bonfim em pinho de riga medindo 1,06 metro de altura.

Em 1792, quarenta e sete anos após sua chegada a Salvador, uma réplica da Imagem foi transportada, nos ombros de escravos, para a Capela da Fazenda Piranhas (hoje Crateús). 38 anos depois, já no século seguinte, nascia Alexandre Ferreira Santiago, cujo nome – por influência de uma tia que residia atrás da Igreja, viria a ser alterado para Alexandre Ferreira do Bonfim, tornando-se Patriarca de uma nova família, a família Bonfim.

Essa festa de aniversário é, também, um momento de nostálgica reflexão. Além de relembrarmos nossa herança indígena, que nos bafejou com essa índole festiva e boêmia, cabe também relembrarmos a sincrética mística de fé e luta que nos tocou do legado baiano com sua faceta libertária. Não por acaso Crateús sempre hasteou, com destacado fulgor vanguardista, a bandeira das liberdades democráticas.

Por isso o momento é propício, também, para crisma, sacramento de ratificação da graça batismal de poder sonhar. Sonhar com que esta cidade seja – como era para os antigos gregos - um espaço seguro, ordenado e pacífico, onde os homens possam se dedicar à busca da felicidade, à construção da dignidade, à insuflação do amor, à propagação da esperança e à ampliação da paz!

Feliz Aniversário, Crateús!