terça-feira, 20 de junho de 2017

OITO ANOS DA ACADEMIA DE LETRAS DE CRATEÚS!


O poeta, romancista, dramaturgo e estadista alemão Johann Wolfgang von Goethe certa feita advertiu que o artista tem de ser original. E explicou: “original é o que brota das origens”.

Sem ter a imodéstia de ser original, foi para as nossas raízes mais priscas que direcionei o pensamento por ocasião da Solenidade, realizada na Câmara Municipal, que homenageou os oito anos da Academia de Letras de Crateús – ALC.

Perquiri mentalmente o ponto de partida dessas confrarias que albergam os amantes das letras.

Registros históricos dão conta que, nos arredores de Atenas, havia um espaço com uma ampla residência, uma densa biblioteca e um bosque sagrado de oliveiras dedicado a Atena, a deusa da sabedoria. Nessa ambiência, ao redor de 300 anos antes de Cristo, estremeceu a primeira Academia, assim denominada em louvor a Academus - herói ateniense da guerra de Tróia.

Talvez até sem verbalizar isso, mas naquele espaço com três instituições distintas (casa, livros e jardim) encontramos os três vértices essenciais do triângulo literário: a interação mítico-sócio-ecológica – sintetizada pelo bosque sagrado; o fermento de ideias que habita o pão das palavras – cujo símbolo é a biblioteca; e a intimidade congregacional entre os seres – tão bem representada pela edificação residencial.

Com esse estuário na mente, proferi três palavras na Sessão Solene que marcou os oito juninos exercícios da ALC.

As primeiras foram sílabas de gratidão pela realização do evento, seguidas de um apelo às autoridades e à população: está na hora de pensarmos em erigir uma sede para a Academia de Letras de Crateús que esteja à altura do seu contributo à cidade. A ALC, em que pese ser um patrimônio imaterial, merece ser agraciada com um ponto físico referencial. De preferência, em um local estratégico, com jardim e biblioteca.

Na sequência opinei sobre aquilo que considero uma das razões para o sucesso da nossa Arcádia: o peitoral generoso do ecletismo, o seu estrelado firmamento voltado para a agregação, a magnética e acolhedora cortina da pluralidade!

Fundado em um 13 de junho, dia em que celebramos Antonio, o Santo do Matrimônio, o Sodalício de Letras Crateuense armou uma fogueira de sabiá e se instalou no invisível e sábio terreiro sertanejo que une a elaboração erudita e a rima inaudita, o fino papel e o popular cordel, a concepção vocálica rebuscada e a singela construção da palavra despojada. Com efeito, trocou alianças definitivas entre as atuais e vindouras gerações de discípulos das musas, os catadores dos fonemas que bailam sobre o leito do Poty.

Por fim, mencionei aquilo que, para mim, é indiscutivelmente visível, cristalinamente palpável: o contributo da ALC à mobilização da inteligência, à florada cultural, à insuflação de rebentos literários e, sobremaneira, à recuperação da nossa linha memorial, à reposição das nossas torres históricas.

Por ocasião das comemorações do centenário da Cidade, a ALC, após uma longa gestação, presenteou os conterrâneos com o livro CRATEÚS: 100 ANOS! – quatrocentas e uma páginas de hercúleo trabalho, amalgamando lavor e louvor, materializados em febril pesquisa e terna dedicação.

Constantemente os memorialistas da ALC – através do Jornal Gazeta do Centro Oeste, da Revista Gente de Ação ou da internet – brindam-nos com a reposição de fatos e cousas do passado, devolvendo-nos os elementos essenciais para a recuperação da nossa memória coletiva.


Para citar apenas uma de suas ações: a ALC – por intermédio dos acadêmicos Flávio Machado, Edmilson Providência e Raimundo Cândido – devolveu à praça principal da cidade o busto do doutor José Coriolano de Sousa Lima, um dos maiores gênios da poesia no século XIX. Nascido na fazenda Boa Vista, quando Crateús era conhecida por Vila Príncipe Imperial, Coriolano foi um fidalgo das letras que teve a graça de alcançar os píncaros da glória. Cursou direito na lendária Faculdade de Direito do Recife, a top do Brasil naquela época, e depois teve atuação destacada no Maranhão e no Piauí. Magistrado, poeta, político, jornalista. Foi deputado provincial pelo Piauí, por duas legislaturas, e presidente da Assembleia Legislativa. Participou ativamente da imprensa no Recife e Teresina. Foi eleito Príncipe dos Poetas Piauienses (pois à época em que viveu Crateús pertencia ao Piauí) e foi considerado o fundador da literatura piauiense.

Só um povo com a história na mão, é capaz de unir consciência e coração. Só quem repõe a própria trajetória, obtém a vitória da memória! Só um povo que conhece o próprio sumo, é capaz de trilhar um rumo com prumo.

Os escritores e seus coletivos organizados, as Academias, servem exatamente para isto: para colaborar na consecução dos maiores desejos dos terrestres, para alimentar os maiores sonhos dos humanos: a conquista da terra prometida, onde escorre o leite da paz e o mel da felicidade!


Viva, pois, Academia de Letras de Crateús – ALC!


(Júnior Bonfim, na edição de hoje do Jornal Gazeta do Centro Oeste, Crateús, Ceará).