sexta-feira, 16 de março de 2012

CAÇA


Quando o desenhista Jean-Baptiste Debret, um pintor devotado em homenagear Napoleão (Naipolloné como o chamavam seus compatriotas), aceitou o convite da Coroa Portuguesa para vir lecionar pintura na Academia de Artes e Oficio do Rio de Janeiro, em 1816, na certa já imaginava a diversidade incomum e exótica da paisagem do novo mundo para os seus ávidos e destros pincéis. Foram tantos os quadros que revelaram o cotidiano de um Brasil Colônia, que sua obra “Viagem Pitoresca” converteu-se num importante livro histórico. Há um belíssimo quadro em que um índio deitado de costa exibe uma extrema habilidade no manejo do arco e se faz acompanhar de dois outros nativos que espreitam um bando de patos voando em sua direção. É a figurinha predileta que ornamentava o famoso livro Exame de Admissão que muito estimulou o interesse dos estudantes pelos encantos da natureza.

Desde a pré-história, a luta pela sobrevivência induzia à caça. Do indígena com arco e flecha ao humilde caboclo com uma rústica espingarda de ouvido, a velha soca-soca, que a atividade da caça virou uma refinada arte e uma impreterível necessidade. A intervenção de um mito que habitava o mato, o Caipora, se fez necessário para controlar a situação e foi com certeza o primeiro empregado do IBAMA. Indispensável também era depositar uns farelos de fumo de corda no tronco de uma árvore e ainda contar com ajuda da sorte, pois o travesso negrinho montado num dentuço porco-do-mato era traiçoeiro e afugentava as caças despistando o caçador com estalos de galhos e simulando o ruído dos animais em fuga.

Um poeta e grande caçador, chamado Patativa cantou: ”Eu vou caçando/ a minha vida levando/ com meus cachorros fie,/ com eles nada me imbaraça,/ só não mato muita caça/ quando o caipora não quer.// É quem a caça defende/ e quando o caipora entende/ dos cachorros trapaiá/ o mato fica esquisito/ e o caçador fica aflito/ não mata nem um preá”.

O Curupira, esse estranho ser que tem os calcanhares voltados para frente, acabou vencendo a todos os caçadores!

Hoje, ouço a Sariema soltar sua gostosa gargalhada, quase nas portas da cidade sem o temor das flechas com ponta de osso ou do atordoante estampido da pólvora, que a fazia disparar em desenfreada carreira.

Outrora era comum o karati instalar-se num tosco jirau, entre os troncos das Aroeiras, feito cama de varas, só para espreitar a chegada dos animais no bebedouro. Do seu posto de observação arremessava flechas certeiras nas cutias, nas jaguatiricas, nos porcos-do-mato que se exibiam aos bandos, em marcha ligeira.

Quem passa pelas proximidades do Bar do Chico Correia, já na saída para o Curral Velho dos Poetas, avista Seu Aluísio Cavalcante, tolhido, sentado numa cadeira posta na calçada, pelo resultado de uma inesperada trombose, e nem imagina o fino caçador que fora um dia. Dizem que era protegido de Oxossi, o Orixá da caça. Ao embrenhar-se na mata já fazia parte dela, só se ouvia os estampidos de sua espingarda e ninguém, nem homem nem bicho, via sequer um vulto de um caçador, pela astúcia, pela sutileza e pelo jeito ardiloso de caçar. Numa caminhada, por uma região propícia, trazia rapidamente duas dúzias de saborosas codornizes, aí era só entregar nas casas que lhe solicitaram a incumbência.

Outro que não ficava muito atrás era o Quidé, um morador do bairro dos Patriarcas, caçador de olhos, ouvidos e faro apuradíssimos nesta milenar arte de Ártemis. Conhecia todos os segredos para uma caçada eficiente, camuflando-se na mata que nem camaleão. A ardilosa Nambu, a elegante Asa Branca, as tumultuosas Avoantes ou as preferidas Codornizes, ele ia buscar era ao meio dia de um sol escaldante, quando estavam serenamente malhando debaixo de uma moita.

Numa época, um pássaro malvado que come até cobra queimada, estava dizimando os recém nascidos borregos na Fazenda São Francisco. Os criadores diziam assim: Em céu de gavião, pinto não pia e cabrito não berra! Convocaram então o Quidé para caçar à vontade na região, contando que eliminasse àqueles que possuem mais coragem que o homem, os famigerados Carcarás. Por um contrato verbal, cada predador eliminado era um saboroso queijo que o caçador levava para casa. Aproveitou então a ocasião e construiu uma forja na beira de um grande açude no qual as aves iam beber, ficou camuflado pela água, por galhos e pelas folhas sobre a cabeça. Foi só recolhendo, rapidamente, com as duas mãos, uma centena de sedentas avoantes.

Um dos grandes espetáculos da natureza é um bando de marrecas viuvinhas fazendo uma barulhenta revoada sobre as chamas amarradas na beira da lagoa, é sem dúvida a mais clássica de todas as caçadas. Em baixo sobre as pedras, insistentemente, as duas chamas, a lavandeira e o rabo curto – todas as chamas tem um nome – esgoelavam-se num I-re rê, i-re-rê, i-re-rê contínuo. E lá de cima o bando todo grasna, respondendo ao chamado, sem perceber o perigo que lhes aguarda na descida. Desfazem aquele belíssimo V de vitoria que sempre nos emociona nos textos de auto-ajuda, e sucumbem ao engodo deslizando pelo ar, com suas asas tremeluzendo à luz da lua, para uma chuvarada de chumbo e o desesperado encontro com a morte.

Neste momento tomei conhecimento que o Tatu-bola virou Herói Nacional. Pasmado ainda estou, pois o matutão, o bobão achou que um dia aquela couraça conversível iria lhe salvar. Ele está mais é para um mártir santo em acreditar que estaria livre de seus atrozes inimigos, pois se esqueceu do pior deles: o homem. Naquele dia, havia dois cachorros latindo e correndo desesperados pela solta de catingueira, numa noite sem lua e uns destemidos caçadores de primeira viagem levando nos ombros enxadas, picaretas, foices, e lanternas, pulando cercas de um campo aberto, em que os carrapichos disputavam espaço com as jitiranas e as moitas de pega-pinto que rasgavam as roupas e os braços dos incautos aventureiros. No local em que os cachorros acuavam havia um razoável buraco, cavou-se até o amanhecer e tenho a leve impressão de que os pebas que moravam ali ainda riem dos bisonhos caçadores, mas pensei cá com meus botões, se fosse o inocente do bola...

O tolypeutes tricinctus está confirmado como o Mascote Oficial da Copa do Mundo de 2014, numa belíssima homenagem da Associação Caatinga da Serra das Almas, pois mesmo em fase de extinção, os que restaram e perambulam por esse imenso sertão de Crateús ainda pensam que o mundo é uma bolota e acho que por isso a Fifa o escolheu.

Agora que todos os olhos do planeta Terra estão direcionados para a Mata Branca deste nosso imenso sertão, devemos pensar duas vezes se formos cortar uns gravetos para acender o fogão a lenha ou se desejarmos uma saborosa avoante assada, nem pense mais em ofertar uma tora de fumo no tronco de uma árvore, o caminho é outro, os buliçosos Curupiras atuais são eficazes funcionários do Instituto do Maio Ambiente... Todo cuidado é pouco!

Raimundo Candido

quinta-feira, 15 de março de 2012

SERIDIÃO MONTENEGRO LANÇA HOJE "EXPRESSO PARA O FUTURO" NA OBOÉ DA MARIA TOMÁSIA

O Centro Cultural OBOÉ e a Academia Metropolitana de Letras de Fortaleza - AMLEF - têm a honra de convidar para o lançamento do livro "EXPRESSO PARA O FUTURO" de autoria de Seridião Correia Montenegro com apresentação do Deputado Mauro Benevides.
Dia 15 de março de 2012
19h30min
Centro Cultural OBOÉ
Rua Maria Tomásia, 531.




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Eis o prefácio:


PREFÁCIO


Estimado Seridião, ditoso companheiro:

Sou – e sempre fui - apaixonado por rede. Há símbolo mais excelso da brasilidade cearense do que uma rede? Imagino que não. Herança indígena – que a chamavam de “ini” - a rede foi pioneiramente registrada no pergaminho linguístico português por Pero Vaz de Caminha – que, sem procurar saber o nome já usado pelos nativos, batizou-a de rede de dormir, pela semelhança com a rede de pescar.

A rede é tão carregada de força multiforme que virou pia batismal de todas as interligações relacionais, perpassando o desejo de comunicação entre os seres (redes sociais), à assepsia urbana (redes de drenagem) até a modernização tecnológica (redes de computadores), dentre outras.

Perscrutador e amante das redes de dormir, Câmara Cascudo demarcou muito bem as diferenças entre a rede e a cama: "A cama obriga-nos a tomar o seu costume, ajeitando-nos nela, procurando o repouso numa sucessão de posições. A rede toma o nosso feitio, contamina-se com os nossos hábitos, repete, dócil e macia, a forma do nosso corpo. A cama é dura, parada, definitiva. A rede é acolhedora, compreensiva, ondulante. A rede colabora com a movimentação dos sonhos. Entre a rede e a cama há a distância da solidariedade à resignação".

Por isso peço permissão para estender, entre dois generosos coqueiros, uma rede de tucum, de preferência a céu aberto. Rede confeccionada com a cristalina areia litorânea, bordada pelas mãos suaves da nossa brisa noturna, cujo balanço segue o ritmo das ondas do mar de Iracema.

Pois bem, só deitado em uma rede posso folhear adequadamente este teu fabuloso álbum memorial.

Disseste, Seridião, que eu teria liberdade para fazer a ponderação que julgasse necessária, sugerir alteração e, inclusive, lançar o petardo da crítica.

Começo pelo título. Condeno-o. Por que Expresso? Grande e rápido meio de transporte que anda sem fazer escalas?

Não, meu amigo, este teu precioso caderno de reminiscências deveria ter o nome da nossa principal insígnia simbólica, emblema da nossa hospitalidade militante, expressão telúrica do nosso oceânico espírito: a Rede. Este livro é, em todas as acepções, uma rede, efetivo emaranhado de cordéis afetivos, conjunto entrelaçado de fios vitais.

Esta tua delicada rede, Seridião, embora tenha os punhos amarrados nos armadores do presente, quando se balança tem uma varanda tocando o passado e a outra visitando o futuro.

Dormir nesta rede é viajar. É esparramar o corpo no córrego cristalino do embevecimento. É transmutar-se em um viajante imóvel. É fitar a trajetória de um legítimo pretor romano, que começa pela cidade maravilhosa, passa pela metrópole soteropolitana, sente o esplendor da construção na Capital da República e termina com o retorno à Terra da Luz. É divisar o itinerário de um servidor público que afixou no átrio da alma o código da decência. Como um autêntico cristão, expulsou da sala quem tentou aliciá-lo, profanando o seu sagrado espaço de trabalho. Amassou a folha rota do suborno. Esmurrou a pusilanimidade.

Por certo, em alguns momentos, olvidou de tragar o cálice da moderação e exorbitou. Usando a regra da igualdade de Ruy Barbosa – “não ser baixo com os grandes, nem arrogante com os miseráveis; servir aos opulentos com altivez e aos indigentes com caridade” – lançou-se sobre um Juiz de Direito para vingar o ferido sentimento paterno e lavar a honra familiar. Está perdoado porque só usou as garras da lei. Evitou as luvas de pugilista amador da categoria dos meio-médios ligeiros...

Deitar nesta rede é deleitar-se na história galante de um professor de sedução, cujo magistério nos bafeja com aquilo que Blaise Pascal chamava de l'esprit de finesse (o espírito de finesse).

Teu “S”, Seridião, é severo e sensível, singelo e solene, sutil e sonhador, sapeca e sereno, sementeiro e sentimental, simples e simpático, sábio e sóbrio. És, surpreendentemente, um sujeito sacral. Que acredita em milagre, pois ele se opera em ti. Fervoroso devoto de Nossa Senhora das Graças, daí graças. Graças à vida. Vida que se fez rede. E que tu nos entrega sob a forma de um livro.


Júnior Bonfim – poeta e advogado.

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Caro Júnior:

A cada página que você escreve, mostra a sua maestria literária. Este prefácio, além de belíssimo, é encantador. Nele o poeta se supera a cada palavra. Morro de inveja, mas minha inveja é sadia.

Meu abraço e, se possível, arranje-me um exemplar do livro do Seridião.

César Vale

quarta-feira, 14 de março de 2012

HOJE É O DIA NACIONAL DA POESIA

A POESIA

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Poesia é o olhar

Diferente do poeta

Que lança sua seta

Na hora de contemplar.

E para nos enlevar,

Daquela contemplação

Vai brotando a inspiração

Alimento do dia-a-dia,

Que o poeta contagia

E transforma em criação.

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Dalinha Catunda
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CONJUNTURA NACIONAL

Einstein no Brasil

Abro a coluna contando uma historinha do amigo Sebastião Nery sobre a relatividade das coisas. Quando Einstein esteve no Brasil, foi ciceroneado por Austregésilo de Athayde. Saiu olhando as coisas, Austregésilo a tiracolo, explicando a relatividade do jeitinho brasileiro. A toda hora, Austregésilo tirava do bolso um caderninho e fazia anotações. Einstein ficou curioso:

- O que é que o senhor anda escrevendo aí?

- Suas opiniões, Mr. Einstein, suas observações. Às vezes as minhas também. Tenho o hábito de anotar sempre as ideias que me ocorrem para aproveitá-las nos meus artigos. O senhor não anota suas ideias?

- Não anoto, Dr. Austregésilo, porque até hoje só tive uma, a teoria da relatividade.

Tensão no Planalto

Parece pleonasmo falar em tensão no Planalto. Porque os ares de Brasília são permanentemente contaminados pela água em ebulição nos fornos do poder. A semana começou tensa com a substituição dos líderes do Governo no Senado e na Câmara. No Senado, Romero Jucá (PMDB/RR) cede lugar ao também senador da região amazônica, Eduardo Braga (PMDB/AM). Que já foi prefeito de Manaus, governador do Amazonas por duas vezes, depois de ter iniciado a carreira política como deputado Federal. Hoje, faz parte da ala que se diz independente do PMDB. Jucá vem lá de trás e já serviu o governo FHC. Passou pelo ciclo Lula e chegou até o governo Dilma. Cândido Vaccarezza (PT/SP) sai da liderança do Governo depois de um bom tempo. Trata-se de um perfil cordato, conciliador, um dos quadros do PT com melhor articulação junto aos partidos. Entra Arlindo Chinaglia (PT/SP), perfil também cordato. Foi presidente da Câmara e conhece bem os meandros das articulações.

O significado

A substituição dos dois líderes não se deu apenas por conta da insatisfação das bases governistas. Afinal, a não aprovação do nome de Bernardo Figueiredo para a ANTT não se deu por conta da inabilidade do senador Jucá. O nome não tinha bom conceito na casa. E passou a ser alvo do tiroteio do senador Roberto Requião. Já a indignação que se espraia nos corredores da Câmara também não pode ser contida por Vaccarezza. Afinal de contas, a rebeldia que ali se desenvolve é fruto de alguns fatores: 1º) represamento de verbas aprovadas no Orçamento para obras patrocinadas por deputados; 2º) a não contemplação dos pleitos partidários nos ministérios e o próprio fechamento de portas para as demandas parlamentares; 3º) a equação mal resolvida de preenchimento das vagas ministeriais a cargo da presidente Dilma.

Como será?

Pode ser que as coisas melhorem nas frentes de articulação. Mas outros atores também deverão ser trocados. Por exemplo, a ministra Ideli Salvatti faz muita força para acertar. Mas não tem sido eficaz. A esfera política não a considera com estofo para fazer articulação política. Que depende, e muito, do perfil pessoal, do DNA de cada um. Ideli é amarga e zangada. Um ente fora do habitat natural.

PMDB, o maior polo

O maior polo de insatisfação se encontra no PMDB. Que vê seus ministros sem autonomia decisória; monitorados por secretários executivos nomeados pelo PT; com verbas de seus parlamentares represadas. O PMDB acredita que essas barreiras são todas planejadas : o PT quer bloquear o crescimento do partido, temendo que ele continue com o maior número de prefeituras e vereadores. O projeto petista tem como meta fazer do partido uma gigantesca estrutura a serviço da continuidade de mando do PT.

Temer, o conciliador

Michel Temer, o vice-presidente da República, tem sido muito importante nesse momento de foguetório desvairado. É cercado de pressão por todos os lados. Tem agido como algodão entre vidros. E até suportado fogo amigo. Não se sabe até quando. Pequeno conselho aos fogueteiros : quando a fumaça é constante, ela mesma avisa onde se localiza a fogueira.

Tudo valerá

Nem bem o processo eleitoral começou e as jogadas no tabuleiro mostram que a campanha deste ano será a mais contundente da contemporaneidade. Uns contra uns e outros contra outros; podendo ser também de ex-adversários contra ex-aliados. Tudo valerá.

O jeito Dilma de ser

A cada dia, a presidente Dilma mostra seu jeito de ser. E de fazer política. Ouve um pequeno grupo. E toma decisões. Ao que parece, não faz consultas à área política. Apenas comunica suas decisões aos líderes. Sua cartilha é a cartesiana. Os políticos, segundo ela, precisam andar na linha reta. Mas a política, como se sabe, é, frequentemente, uma curva. Os tropeços ocorrem a cada momento. Lula tem aconselhado a presidente a ouvir mais os políticos. Por mais que ela tenha conversado com alguns, a sensação é a de que falta lábia nas conversas.

Churchill 1

O General Montgomery estava sendo homenageado, pois venceu Rommel na batalha da África, na 2ª Guerra Mundial. Discurso do General Montgomery:

'Não fumo, não bebo, não prevarico e sou herói'.

Churchill ouviu o discurso e com ciúme, retrucou:

'Eu fumo, bebo, prevarico e sou chefe dele'.

(As historinhas sobre Churchill, que continuam adiante, foram enviadas por Jorge Massad)

O Brasil vai bem

O Brasil vai muito bem. Essa é a versão que as autoridades fazem questão de expressar. Crise internacional? Ah, o Brasil passa ao largo. Estamos indo bem na frente de comércio exterior. Nossas commodities têm ajudado a alcançarmos bons resultados comerciais. Nossas reservas estão aumentando. O que nos permite um bom lastro para eventuais problemas cambiais. Esse é o discurso do ministro Guido Mantega. E a indústria? Ora, a indústria vive um momento difícil. Mas é um momento só, frisa o nosso ministro da Fazenda.

A indústria vai mal

A verdade é que a indústria vai mal. De cada quatro produtos adquiridos no mercado, um é importado. A indústria manufatureira registrava uma participação no PIB de 27,2% em 1985; esse índice despencou para 15,8% em 2010. A queda de emprego na indústria entre setembro de 1985 e setembro de 2010 foi de 28%; já a participação dos manufaturados na pauta de exportações baixou de 55% em 2005 para 39,4% em 2010. A pauta de importações engorda a olhos vistos. Em 2003, o coeficiente de importação era de 12,5%; no segundo trimestre do ano passado, 22,9%.

China ganha todas

E quem está devastando a indústria brasileira ? A China. Ganha concorrências a torto e a direito. E mais: vende gato por lebre. Não entrega as encomendas nos prazos. Não dá manutenção. Faz comparações absurdas. Compara o preço de um trem com 4 carros (o que fabrica) sendo apenas 50% motorizados, com um trem de 6 carros, todos motorizados. E há Estados que entram na "emboscada" chinesa, como o Rio de Janeiro, com a maior tranquilidade.

Churchill 2

Certa vez, Einstein recebeu uma carta da Miss New Orleans onde dizia a ele:

"Prof. Einstein, gostaria de ter um filho com o senhor. A minha justificativa se baseia no fato de que eu, como modelo de beleza, teria um filho com o senhor e, certamente, o garoto teria a minha beleza e a sua inteligência".

Einstein respondeu:

"Querida miss New Orleans, o meu receio é que o nosso filho tenha a sua inteligência e a minha beleza".

Capital e trabalho juntos

A FIESP e as Centrais Sindicais estabeleceram um programa de ações e eventos em defesa da indústria nacional. O primeiro evento em prol da indústria nacional está previsto para o dia 27 de março, com o lançamento de uma frente parlamentar no Congresso Nacional. Outro, em 4 de abril, reunirá cerca de 100 mil pessoas em frente à Assembleia Legislativa de São Paulo. A mobilização de entidades empresariais e sindicais tem o objetivo de alertar o governo para a adoção de políticas que visem proteger a esfera industrial e, consequentemente, os empregos.

Desaceleração?

E se a economia mundial desacelerar em 2012 ? O Brasil será afetado ? Não há razão para acreditar que o Brasil é uma ilha de segurança em um mar agitado. Todos os continentes sofrerão com as águas batendo em suas costas.

Passando a perna nos trabalhadores

Funcionários de empresas terceirizadas, a serviço do Governo, que quebram e não arcam com os passivos trabalhistas vão precisar de paciência. É que a Subseção 1 Especializada em Dissídios Individuais (SDI-1) do Tribunal Superior do Trabalho, decidiu, por unanimidade, suspender a tramitação dos processos que tratam da responsabilidade subsidiária dos órgãos públicos tomadores de serviços, no caso de não cumprimento de obrigações trabalhistas pela empresa prestadora. Algumas decisões monocráticas têm acolhido liminares em reclamações e cassado decisões tomadas pelo TST em que se aplicou a súmula 331, alterada em maio de 2011 para limitar a responsabilidade subsidiária aos casos de conduta culposa do ente público no cumprimento da Lei das Licitações.

Churchill 3

Telegramas trocados entre o dramaturgo Bernard Shaw e Churchill, seu desafeto. Convite de Bernard Shaw para Churchill: "Tenho o prazer e a honra de convidar digno primeiro-ministro para primeira apresentação de minha peça Pigmaleão. Venha e traga um amigo, se tiver". Resposta de Churchill: "Agradeço ilustre escritor honroso convite. Infelizmente não poderei comparecer à primeira apresentação. Irei à segunda, se houver".

8 mil recursos no TST

Mais de oito mil recursos extraordinários sobre o assunto estão paralisados no TST. Com a decisão da SDI-1, uma quantidade ainda maior de processos deve permanecer à espera da definição do STF. O fato é que não haveria impasse, se a contratação tivesse como preceito a idoneidade financeira, operacional, fiscal e a qualidade da prestação de serviços da contratada. Algo que pode ser perfeitamente definido por uma legislação específica.

Jegue para o Japão

A China quer importar do Brasil 300 mil jumentos. Que sairão do Nordeste. O jegue já inspirou poetas e escritores. E agora mobiliza os nordestinos que querem evitar sua exportação para a China, onde seriam industrializados - carne e derivados. As campanhas pela "salvação do jegue" estão no ar. Uma dela, "Adote um Jumento. O menino Jesus lhe agradecerá".

Churchill 4

Quando Churchill fez 80 anos, um repórter de menos de 30 foi fotografá-lo e disse:

- Sir Winston, espero fotografá-lo novamente nos seus 90 anos.

Resposta de Churchill:

- Por que não? Você me parece bastante saudável.

Modernização no futebol?

Ricardo Teixeira, ufa, deixou a CBF. Poucos acreditariam que um cartola tão cheio de poder pudesse, um dia, renunciar a um dos mais ambicionados cargos por estas plagas. Teixeira saiu não apenas por conta de sua saúde, que merece cuidados. Mas por desgaste de material. Muito tempo no mesmo canto desgasta as pessoas. Por mais força que pareçam ter. É de esperar que, doravante, o futebol seja vitaminado com novas ideias, ajustes de programas e projetos, reordenação estratégica. Mas, sabem quem assumiu? Um cartola que vai completar em breve 80 anos. Nada contra ele. Felizmente, o próprio se comprometeu a implantar rodízio no comando da Confederação. A sociedade, hoje, tem o mando das coisas.

Lula puxará Haddad?

Essa é a pergunta que este consultor tem tentado responder. O candidato do PT, Fernando Haddad, está com apenas 3%. Pois bem, respondo : Lula vai arrastar Haddad para o patamar histórico do PT, cerca de 30%. E mais : Haddad continua competitivo. Por isso, qualquer tentativa de resgatar o nome de Marta Suplicy é coisa de apressadinhos.

E Serra é o favorito?

É. José Serra continua como favorito. Mas tem uma grande rejeição para administrar. É bem provável que seja um dos candidatos do segundo turno. Mas não se pode, a essa altura, apontar para nenhum vencedor ou perdedor.

Chalita entra no meio?

Esta é também mais uma pergunta que me fazem. Gabriel Chalita, hoje com 7%, poderá quebrar a polarização entre PT e PSDB. Vai depender dos tempos nebulosos ou claros de outubro.

O caldeirão eleitoral

O sistema cognitivo do eleitor tende a conjugar aspectos múltiplos: condições folgadas ou apertadas do bolso; mais alimentos ou menos alimentos na geladeira; simpatia proporcionada pelo candidato; proximidade/distanciamento que o candidato represente para o eleitor; qualidade das propostas - credibilidade, factibilidade, utopia/factóides, condições de realização; apoiadores do candidato; bom programa de TV; presença nos bairros e regiões da cidade, etc.

Churchill 5

Bate-boca no Parlamento inglês. Aconteceu num dos discursos de Churchill em que estava uma deputada oposicionista, Lady Astor, conhecida pela chatice, que pediu um aparte (Sabia-se que Churchill não gostava que interrompessem os seus discursos, mas concedeu a palavra à deputada. E ela disse em alto e bom tom:

- Sr. Ministro , se Vossa Excelência fosse o meu marido, eu colocava veneno em seu chá!

Churchill, lentamente, tirou os óculos, seu olhar astuto percorreu toda a plateia e, naquele silêncio em que todos aguardavam, mandou:

- Nancy, se eu fosse o seu marido, eu tomaria esse chá com prazer!

Conselho aos novos líderes

Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado à presidente Dilma Rousseff. Hoje, sua atenção se volta aos novos líderes:

1. Cuidado. Examinem as demandas de grupos e regiões. Não prometam coisas que não poderão cumprir/realizar.

2. Procurem convencer a presidente Dilma que o governo de coalizão é uma via de duas mãos.

3. Tentem alcançar consenso junto às bancadas; a cartilha cartesiana da presidente Dilma há de conter sambas variados, não apenas um sambinha de uma nota só, ou seja, atendimento às demandas de um único partido.

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(Gaudêncio Torquato)

terça-feira, 13 de março de 2012

POLÍTICA & ECONOMIA NA REAL

Lula, 2012 e 2014, uma odisseia eleitoral - I

Lula voltou neste fim de semana para casa, um tanto mais magro, curado da pneumonia. Até o fim do mês terá o exame definitivo para saber se está com o câncer da laringe "zerado", como se diz popularmente. Os médicos que o acompanham garantem que seguido um repouso absoluto até lá, já pelos meados de abril ele poderá retomar o que mais gosta na vida - fazer política. Porém, mesmo com esta chancela médica, as duas idas de Lula para o hospital em espaços de duas semanas, abatido por causa da queda de suas imunidades como consequencia do rigoroso tratamento a que se submeteu (e também pela inobservância de certa moderação de atividades nesse período), abriram para os aliados, de um modo geral, e os parceiros mais diretos, a terrífica visão de que não deverão (não poderão) contar com um Lula 100% provocador por um bom tempo.

Lula, 2012 e 2014, uma odisseia eleitoral - II

Esta possibilidade real de ter que lidar com um Lula mais moderado já abriu também disputas na seara oficial tanto para o futuro imediato de 2012, como para o futuro mais distante de 2014. Este ano, quem contava com Lula para alavancar candidaturas e ajudar a impingir derrotas humilhantes na oposição, em outubro, já está tirando não somente "o cavalinho", mas "a tropa inteira da chuva". Queira ou não a presidente Dilma, tal situação vai obrigá-la a cair na vida eleitoral mais visivelmente do que apenas dando apoio "logístico" aos aliados. Terá de mostrar a cara - e não apenas em SP. (Aliás, São Paulo, com as brigas internas do PT para ver quem comanda a campanha de Fernando Haddad, politicamente e financeiramente, com o ex-ministro patinando nas pesquisas, e com a dificuldade de somar aliados à candidatura do ex-ministro da Educação, é o mais límpido sinal da falta que Lula faz. Em outros municípios, começam a pipocar também indícios de que a união dos aliados federais no nível das prefeituras também começa a desandar).

Lula, 2012 e 2014, uma odisseia eleitoral - III

No plano de 2014, por mais cruel que isso possa parecer, os aliados também já dão indicações de que estão atordoados com a possibilidade de não terem mais "um craque no banco de reservas" (expressão usada por Gilberto de Carvalho como uma ameaça quando se falava no plano da oposição de desestabilizar politicamente Dilma). E já fazem movimentos para o jogo da sucessão presidencial nessas condições. Os movimentos do PMDB na Câmara (manifesto dos deputados Federais) e no Senado (participação decisiva, porém não única, na derruba do diretor-geral da ANTT) são lances que extrapolam as divergências por cargos e verbas e as eleições de outubro. O olho do furacão peemedebista está em 2014. Lula é o grande avalista de peso do PMDB na coalizão (mais parece uma "colisão") governista. Nunca foi sonho de consumo de Dilma, como ela tem demonstrado na prática ao tratar os ministros do PMDB como essência de segunda categoria.

Lula, 2012 e 2014, uma odisseia eleitoral - IV

Os peemedebistas temem perder o lugar de vice de Michel Temer para o PSB e, ao mesmo tempo, preparam-se para uma eventual possibilidade, dependendo do andar da carruagem econômica, de as forças aliadas ficarem sem uma candidatura forte em 2014. Os mesmos passos do PSB do governador Eduardo Campos - vice ou candidatura própria no ano da Copa - é o foco do partido. As outras legendas olham também para o fato de Dilma, por modo próprio ou induzida por circunstâncias, entre elas um menor protagonismo forçado de Lula, estar redesenhando a correlação de forças na base aliada, não só com a redivisão da participação dos partidos no poder como também dentro do próprios partidos. No PT, por exemplo, é visível a perda de força do mundo baiano do governador Jaques Wagner (perdeu de uma só vez Florence no ministério do Desenvolvimento Agrário, Negromonte no ministério das Cidades e Gabrielli na Petrobras), a contenção do "paulistanismo" e a ascensão dos gaúchos de sua lavra política.

Dilma em transe

Há alguns meses escrevemos nesta coluna que o excesso de centralização que a presidente Dilma está imprimindo a seu governo estava deixando os ministros em pânico e inseguros, com medo de tomar iniciativas, de tomar decisões e depois serem "espancados" (figurativamente, esclareça-se) por ela. Havia, por isso, uma paralisia decisória e um enorme déficit de execução no governo, visível até para um míope. De repente, Dilma deu-se conta dessa situação e propaga "irritação" que teria crescido segundo fontes que nunca se identificam. Gerou, embora negada como motivação, até a demissão do ministro do Desenvolvimento Agrário, Afonso Florence. Teria sido, segundo alguns, para dar um exemplo, para dar um recado do desgosto da presidente.

Dilma e a área econômica

A insatisfação atinge até a área econômica, exceção do BC que tem feito direitinho o dever de casa traçado por Dilma: incentivar de preferência a retomada do crescimento econômico em ritmo de avião supersônico. O carnaval já passou, mas o ministro da Fazenda, Guido Mantega, vai ter de botar seu bloco "desenvolvimentista" de novo esta semana na rua. A dúvida é saber se com a preocupação de Dilma com os detalhes a máquina vai desemperrar. Uma alma maldosa em Brasília diz que há ministro da Esplanada que não vai nem ao banheiro sem consultar antes o Palácio do Planalto.

Um novo estilo

Dilma, depois dos sustos políticos dos últimos dias, promete inaugurar esta semana um novo modelo de relações com os partidos aliados, o Congresso e os sindicatos. Vai amanhã ao Senado, o que não fez no ano passado, para a homenagem ao Dia das Mulheres. A presidente recebe na quarta-feira os dirigentes das centrais sindicais, a terceira vez em mais de um ano de governo. Inicia com o PMDB as rodadas de afagos aos parceiros de coalizão. Teria mandado (a conferir) as ministras Ideli Salvatti e Gleisi Hoffmann apressarem a liberação das emendas dos parlamentares, segundo fontes oficiais emperradas mesmo por culpa da lentidão (e até uma certa desobediência, pasmem!) dos ministérios. Dilma está abrindo a porteira, mas a quer sob controle. Está pagando para ver. O risco é se a abertura for limitada e as confusões continuarem. Se houver uma brecha maior, o risco é a presidente ficar nas mãos dos nunca inteiramente saciáveis parceiros.

Dilma e o apoio das elites

A presidência de Lula se caracterizou por uma vontade férrea em se destacar das suas bases políticas originárias, sobretudo os sindicatos e os denominados "movimentos sociais", além de boa parte dos funcionários do Estado. Assim, forjou com inegável competência política a aquisição de credibilidade junto à burguesia financeira e empresarial. Aqui e lá fora. O resultado do PIB de 2011 o qual dá mais evidências do continuado processo de desindustrialização do Brasil é mais um sinal de que as elites empresariais estão dando conta de que o atual governo e sua agenda econômica já não atendem os seus interesses como no passado lulista recente. Junte-se a isso a ineficiência governamental em gerir a coisa pública no que tange às obras de infraestrutura e reformas estruturais. Por estas e por outras, está se abrindo um espaço político de insatisfação que apenas não está sendo aproveitado em função da ausência de uma oposição ativa e de uma maior organização política das elites.

Artilheiro sem precisão?

O ministério da Fazenda, em conjunto principalmente com o BC e o ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior deverá, na sequência da queda de juros patrocinada pelo BC semana passada, anunciar nos próximos dias novas medidas para incentivar a produção nacional e para não deixar o real se valorizar (em economês se diz também "apreciar") demais. Sempre que as coisas se complicam para o ministro Guido Mantega, este avisa, em tom de ameaça, que o governo dispõe de um arsenal de medidas quase infinito para combater tais ameaças. É possível, mas até agora o arsenal parece composto de armas de antes da Primeira Guerra Mundial e/ou o artilheiro não anda bem de pontaria. Um levantamento feito na semana passada pelo jornal "Valor Econômico" mostra que desde o início do governo Dilma já foram adotadas 16 medidas de proteção comercial ou para aumentar a competitividade da indústria brasileira. Com efeitos muito limitados como provam as constantes novas providências ditas no embornal. Será por essa razão que a presidente Dilma ameaça ela mesma pegar em armas?

Um fato para complicar

O STF não tinha outra atitude a tomar que a de voltar atrás na decisão de considerar inconstitucional a transformação da MP que criou o Instituto Chico Mendes. Filustrias à parte, o caos jurídico que se instalaria no país, pois outras 500 leis resultantes de Medidas Provisórias, teriam o mesmo destino. Todavia, os ministros do Supremo criaram um enorme problema para o governo ao considerar que daqui para frente o rito de passar antes das MPs por uma comissão especial de deputados e senadores deve ser obrigatoriamente cumprido. O Palácio do Planalto terá de negociar muito mais com o Congresso para fazer valer sua vontade de legislar sem que os parlamentares opinem para valer, como ocorre hoje com o modo de tramitação das MPs. É um avanço democrático sério e vai despertar na Câmara a discussão sobre os ritos das MPs, que tem uma proposta de alteração profunda, de autoria conjunta José Sarney-Aécio Neves, já aprovada pelo Senado e ainda em suas gavetas. A proposta visa dar mais tempo ao Senado, "dividindo-o" melhor com a Câmara para analisar as MPs, acabar com o contrabando (inclusão de assuntos de todo o tipo numa MP, fora de seu objeto específico) de emendas, e forçar o Executivo a cumprir a norma de só editar o instrumento quando de fato ele cumprir os princípios constitucionais de urgência e relevância.

Novos vocábulos do economês

O brasileiro já começou a ouvir falar e vai ouvir muito mais ainda a respeito de três novos termos incorporados ao vocabulário diário do economês nacional nesses tempos em que o governo trata de adaptar a política econômica de meses atrás ao propósito oficial de turbinar o crescimento econômico. Acostumem-se:

1. PIB potencial - mede quanto a economia brasileira pode crescer sem provocar inflação nem problemas sérios nas contas externas.

2. Taxa neutra de juros - é a taxa básica de juros real (Selic menos inflação) que pode ser aplicada pelo BC sem gerar inflação e sem inibir o crescimento.

3 NAIRU, sigla em inglês para taxa de desemprego de equilíbrio ou neutra, aquela que não provoca aumentos salariais que onerem demais os custos das empresas por gerarem aumentos salariais muito acima da produtividade da economia.

É bom acompanhar porque não existe nenhum termômetro econômico para medir nenhum dos três com precisão. Ao contrário, estas estimativas tem um caráter experimental perigoso : podem gerar um desequilíbrio custoso para qualquer lado, sendo que somente a posteriori tais desequilíbrios podem ser corrigidos.

Se nem eles sabem

Não nos cobrem, por favor, informações sobre os movimentos da oposição que não sejam as mumunhas políticas e o nhem nhem nhem de sempre. Se nem os oposicionistas sabem direito o que está acontecendo e que seja relevante e mesmo ainda sabem o que fazer, o que podem dizer os pobres mortais que não têm bola de cristal?

O fator China

Já começam a pulular por aí os rebentos das informações que dão conta que a China está a reduzir a atividade econômica. Por alguma destas artimanhas desconhecidas o governo comunista de Pequim conseguirá limitar o crescimento em 7,5%, nada acima e nada abaixo. Os chineses parecem dotados de conhecimentos milenares, mas é difícil acreditar que quando se "freia" uma economia é possível se prever com precisão o quanto uma economia reduzirá em termos de produção, investimentos, etc. O certo é que o mundo teme tanto o assunto que nas últimas semanas andou aumentando a tensão no mercado financeiro que costuma ser pródigo neste tipo de especulação. Também parece bem razoável acreditar que nenhum país consegue crescer constantemente a taxas de 10% ao ano sem que se gerem desequilíbrios estruturais na formação fixa de capital (vulgo, investimentos) e no setor de crédito. A China não tem tais riscos mais identificados porque transparência não é o forte de Pequim e ninguém está (ainda) conseguindo saber algo diferente sobre o gigante do oriente. Todavia, as últimas tensões no mercado devem ser levadas a sério. A China pode não continuar sendo a força motriz que movimenta o mundo enquanto os países centrais do ocidente jogam hordas de desempregados nas ruas.

A China e o Brasil - I

A China está sustentando o preço de nossas commodities lá nas alturas. Mesmo com algum recuo nas últimas semanas, os bons comerciantes externos sabem que as cotações estão ótimas. Todavia, não se pode ficar pendurado na ideia de que isto é eterno. Alguém poderia imaginar que estamos exagerando. Convidamos o leitor a pensar no seguinte: estaria a taxa de câmbio neste patamar valorizado e haveria tranquilidade cambial não fossem os chineses comprando as nossas valorizadas exportações. Há, como se vê, um problema estratégico a ser resolvido: ou se aumenta o consumo doméstico (e se estimula uma pauta de exportações mais variável) ou estaremos pendurados num parceiro só, para o bem e para o mal.

A China e o Brasil - II

Se o risco chinês é considerável e merece atenção, mesmo que seja inescapável dado seus efeitos para o mundo atual repleto de destruição de empregos, redução de consumo e investimento, há de se considerar que políticas comerciais com excessos protecionistas, bem como ajustes que tornem elevada a volatilidade do câmbio não são boas práticas. É preciso fazer ajustes significativos em todas estas variáveis sem que isto reverta as boas expectativas de forma abrupta. Uma tarefa muito complexa e que o governo da presidente Dilma não parece muito preparado para fazer em vista de seus problemas de gestão. O Brasil tem perdido a sua dinâmica em meio aos parceiros de comércio exterior. Faltam às exportações conteúdo tecnológico e exploração de nichos. Sobra às importações uma taxa de câmbio tão favorável. O país parece querer brincar com fogo.

Ainda sobre a decisão sobre o juro básico

Ao que parece o BC está mesmo sensibilizado com a estagnação da atividade econômica que o país está metido. A queda de 0,75% da taxa básica de juros na semana passada foi realmente um recado para os agentes econômicos de que o BC está preocupado mesmo é com a queda da produção e que abandonou o regime de metas de inflação pelo menos em seus moldes mais tradicionais, para dizer o mínimo. Tombini e sua equipe estimulam a imaginação dos analistas de plantão em prever até que nível a taxa de juros básica pode cair. Note-se que o BC de Dilma está em pleno jejum de palavras no que tange à política fiscal e aos baixos ganhos de produtividade da economia brasileira. Isto não nos parece de boa cepa. Assim sendo, é bem possível que a taxa de juros caia para patamares nunca imaginados a princípio (8% ou menos) e que isto ocorra ainda neste primeiro semestre. Resta saber se será suficiente para estimular uma economia que parece estagnada, sobretudo no campo político.



(por Francisco Petros e José Marcio Mendonça)

segunda-feira, 12 de março de 2012

COMO USAR AS PALAVRAS

Certa vez, uma jovem foi ter com o bom homem, São Filipe Neri, para confessar seus pecados. Ele já conhecia muito bem uma de suas falhas: não que ela fosse má, mas costumava falar dos vizinhos, deduzindo histórias sobre eles. Essas histórias passavam de boca em boca e acabavam fazendo mal, sem nenhum proveito para ninguém.

São Filipe lhe disse:

– “Minha filha, você age mal falando dos outros; tenho que lhe passar uma penitência. Você deverá comprar uma galinha no mercado e depois caminhar para fora da cidade. Enquanto for andando, deverá ir arrancando as penas e espalhando-as. Não pare até ter depenado completamente a ave. Quando tiver feito isso, volte e me conte".

Ela pensou com seus botões que era mesmo uma penitência muito singular! Mas não objetou. Comprou a galinha, saiu caminhando e arrancando as penas, como ele lhe dissera. Depois, voltou e reportou a São Filipe:

– "Minha filha" – disse o Santo – "você completou a primeira parte da penitência. Agora vem o resto."

– "Sim, e o que é, padre?"

– "Você deverá voltar pelo mesmo caminho e catar todas as penas."

– "Mas, padre, é impossível! A esta hora, o vento já as espalhou em todas as direções. Posso até conseguir algumas, mas não todas!"

– "É verdade, minha filha. E não é isso mesmo que acontece com as palavras tolas que você deixa sair? Não é verdade que você inventa histórias que vão sendo espalhadas por aí, de boca em boca, até ficarem fora do seu alcance? Será que você conseguiria seguí-las e cancelá-las, se desejasse?"

– "Não, padre..."

– "Então, minha filha, quando você sentir vontade de dizer coisas indelicadas sobre seus vizinhos, feche os lábios. Não espalhe essas penas, pequenas e maldosas, pelo seu caminho."

By William Bennett, em “O Livro das Virtudes II – O Compasso Moral”.

domingo, 11 de março de 2012

ISSO TAMBÉM PASSARÁ

Havia certa vez um rei sábio e bom que já se encontrava no fim de sua vida.

Certo dia pressentindo a chegada da morte chamou seu único filho que o sucederia no trono, tirou do dedo um anel e o deu dizendo:” Meu filho, quando for rei leva sempre contigo este anel. Nele há uma inscrição, quando estiveres vivendo situações extremas, de glória ou de dor, tira e lê o que há nele”.

O rei morreu e o seu filho passou a reinar em seu lugar sempre usando o anel que o pai deixara. Passado algum tempo surgiram conflitos com um reino vizinho que acabaram culminando numa terrível guerra.

O jovem rei, a frente de seu exército, partiu para enfrentar o inimigo. No auge da batalha seus companheiros lutavam bravamente, mortos, feridos, tristeza, dor. O rei lembra-se do anel, tira-o e lê a inscrição: Isso também passará!

E ele continuou a luta, perde batalhas, vence outras, mas ao final saiu vitorioso.
Retorna então ao seu reino e coberto de glória entra em triunfo na cidade. O povo o aclama.

Neste momento ele se lembra de seu velho e sábio pai, tira o anel e lê: Isso também passará!

Todas as coisas na terra passam, os dia de dificuldades passarão, passarão também os dias de amargura e solidão, as dores, as lágrimas, as frustrações que nos fazem chorar, um dia passarão.

Os dias de glória, de triunfo em que nos julgamos maiores e melhores do que os outros, igualmente passarão.

Essa vaidade interna que nos faz sentir como o centro do universo um dia passará.

Dias de tristeza, dias de felicidade são lições necessárias que na terra passam deixando em nosso coração as experiências acumuladas.

Se hoje para nós é um dia desses repletos de amargura paremos um instante.
Com o coração entregue a Deus ouçamos Ele nos dizer: Isso também passará!


(Mensagem enviada por Wagner Vitoriano)