quinta-feira, 7 de novembro de 2013

MENSAGEM SERENA DE GANDHI AO PROFESSOR QUE O DETESTAVA (Anedotário)

Enquanto estudava Direito no Colégio Universitário da London University de Londres, um professor de sobrenome Peters tinha-lhe aversão, mas o estudante Gandhi nunca baixou a cabeça e os seus encontros eram frequentes:

Um dia o Professor Peters estava a almoçar na sala de jantar da Universidade e o aluno vem com a bandeja e senta-se ao lado do professor.

O Professor, altivo, diz:

- "Sr. Gandhi você não entende ... Um porco e um pássaro, não se sentam juntos para comer."

Ao que Gandhi respondeu:

- "Fique o professor tranquilo ... Eu vou voando", e mudou-se pra outra mesa.

Mr. Peters ficou cheio de raiva e decidiu vingar-se no teste seguinte, mas o aluno respondeu de forma brilhante a cada pergunta.

Então o professor fez mais uma pergunta:

- "Mr. Gandhi, você está a andar na rua e encontra um saco, dentro dele está a sabedoria e uma grande quantidade de dinheiro, qual dos dois tira?"

Gandhi responde sem hesitar: - "É claro professor que tiro o dinheiro!"

O professor Peters sorrindo diz: - "Eu, ao contrário, tinha agarrado a sabedoria, você não acha?"

- "Cada um tira o que não tem, responde o aluno "

O professor Peters fica histérico e escreve no papel da pergunta: Idiota!

E o jovem Gandhi recebe a folha e lê atentamente.

Depois de alguns minutos dirige-se ao professor e diz: - "Mr. Peters, reparo que assinou a minha folha, mas não colocou a nota".

E você? Costuma reagir com a mesma serenidade e perspicácia às ofensas que recebe?

quarta-feira, 6 de novembro de 2013

CONJUNTURA NACIONAL

Abro a coluna com historinhas do inesgotável folclore político de MG.

Bias fortes

Juscelino Kubitschek era presidente da República na década de 50. A questão fronteiriça entre Minas e o ES recrudesceu. JK reuniu os dois governadores dos Estados litigantes. Conseguiu de ambos o compromisso de cessarem, de imediato, as hostilidades, voltando os limites estaduais à situação anterior, enquanto comissão de alto nível das duas Unidades da Federação buscava uma solução. Ao término da reunião, os jornalistas cercaram os dois governadores, querendo saber se havia uma decisão. Bias Fortes, governador de Minas, resumiu: "Acabou-se o qui pro quo, voltamos ao status quo".

Gustavo Capanema

Discursava num comício em Pará de Minas. Citou verbas em cifras detalhadas, que foram de bilhões aos centavos. Um assessor perguntou-lhe:

- Por que tantos quebradinhos?

Capanema esclareceu.

- Para mentir é preciso ser preciosista. Assim, ninguém percebe que você está mentindo.

Israel Pinheiro

Ouvia as queixas do general Eurico Gaspar Dutra, candidato do PSD em 1945 à sucessão presidencial. Estava muito ressentido com os ataques da mídia. Queria responder. Exigia retratação. Israel Pinheiro interveio.

- General, não se perturbe. Ataque da imprensa é como sol de praia nas férias. A pele arde nos primeiros dias, depois se acostuma.

Juscelino Kubitscheck

Sabia que não podia contar com o vice, Café Filho, que assumiu a presidência da República após o suicídio de Vargas, em 1954. Irritado com Café Filho, JK ouviu a pergunta de um curioso governador nordestino.

- Doutor Juscelino, qual é, em toda essa história, a posição do Café?

- Que Café? O vegetal ou o animal?

Tancredo Neves

Ministro da Justiça de Vargas, que se suicidou tragicamente em 1954. Deixou a pasta da Justiça, e outro mineiro, José Monteiro de Castro, assumiu o poder como chefe da Casa Civil. Tancredo destinou-lhe este telegrama:

- Mais amigos do que nunca, mais adversários do que nunca.

Recuo de Dilma?

Nos últimos 10 dias, a mídia impressa baixou em alguns graus a temperatura da presidente Dilma no termômetro eleitoral. Notas críticas e análises de colunistas aumentam o cacife das oposições. Este consultor não viu nenhum evento ou situação negativa a sinalizar o rebaixamento da nota de Dilma no ranking. A economia continua nos patamares anunciados, a empregabilidade está nos conformes e a inflação, rondando os 6%, dentro do previsto. Qual teria sido o fator deflagrador do rebaixamento do índice de confiança?

Atraso nas obras

Uma leitura mais aguda das páginas de política sinaliza atraso nas obras, reunião da presidente com 15 ministros para cobrar providências, definir novas metas para os programas e expandir projetos. É possível que tais sinais mostrem algum arrefecimento da confiança, a par da declaração enfática de Lula: "se encherem o saco, volto em 2018". Vejam bem: 2018. Portanto, não há um Lula disposto a encarar 2014. Até porque o ex-presidente é um oceano de confiança. E tem atividades a desempenhar: palanques nos Estados, articulação intensa para consolidar base governista, aparar arestas entre correligionários e unir o próprio PT, dividido em alas.

Franco favorita

A equação BO+BA+CO+CA= Bolsa+Barriga+Coração+Cabeça continua incólume. Com o bolso das bolsas, sob economia controlada, a geladeira das massas continuará farta; o coração comovido agradecerá a generosidade e enviará à cabeça a decisão de voto em quem patrocina a festa : Dilma (Lula). Este consultor, sem part pris, continua a achar que a presidente Rousseff é franco favorita.

Maluf condenado e candidato

Paulo Maluf tem fôlego de sete gatos. Há muito tempo o MP tenta colocá-lo fora do páreo político. Pois bem, o TJ/SP o condenou por desvios de recursos. Mas não falou em dolo. Maluf poderia se apresentar como candidato em 2014. De qualquer maneira, ele vai recorrer. Maluf terá mais dificuldades do que outras vezes de se livrar das barras da Justiça. Mas conhece como ninguém as veredas da Justiça. Haja recursos.

FFF x BF x MR

É inacreditável. Paulo Maluf, em sua vitoriosa campanha para a prefeitura de SP, conduzida por Duda Mendonça, já usava o bordão : Fez e Fará. Paulo Fez, Paulo Fará. Vê-se, agora, que a lei de Lavoisier continua a ser usada fartamente. Não é que a campanha de Dilma anuncia o bordão: Fez, Faz e Fará? Claro, João Santana foi aluno de Duda Mendonça. E apenas resgata o velho refrão. Ocorre que o povo, hoje, é mais exigente. Quer coisas Bem Feitas (BF) e Mais Rápidas (MR). Não é possível que tenhamos de dar um mergulho nas lorotas do passado.

Doações vão vingam?

Expande-se a corrente dos contrários às doações de empresas para campanhas eleitorais. A declaração enfática do ministro do STF, Dias Toffoli, que irá presidir o pleito de 2014, condena as doações de empresas, comparando-as com extorsões. Tudo isso deverá ser avaliado nos próximos dias pelo Congresso. Na visão deste escriba, tudo continuará como d'antes no quartel d'Abrantes.

Petrobrasa

A fogueira de críticas contra a Petrobras está mais alta. Há brasa por todos os lados. Petrobras vira Petrobrasa. A presidente Graça Foster promete recuperar os bons índices da ex maior empresa brasileira. Será que conseguirá colocar novamente a simbólica companhia nos nossos corações? Os reajustes no preço da gasolina virão a conta-gotas. Em 2014, ano eleitoral, essa possibilidade se torna muito remota. Mas, tudo é possível. O pré-sal já deu muita saliva. E continuará a jorrar verbos e a consumir verbas. Graça precisa se afirmar como gestora de alto nível.

À propósito...

Aliás, a presidente Dilma começa a ter a imagem borrada. De gerente e voltada para resultados, a presidente adquire traços de burocrata e ocupada em mil reuniões.

Pontos fortes e fracos

O Nordeste deverá ser o ponto mais fraco de Aécio Neves. Seu ponto forte, é obvio, será o segundo colégio eleitoral do país, MG (15 milhões de eleitores), onde deverá fazer uma frente de 4 milhões de votos. De dois votantes, um deverá ser aliado de Aécio. Mas o Nordeste deverá ser o ponto forte de Dilma (o Bolsa Família, o programa Mais Médicos) e também o de Eduardo Campos. Que deverá ter uma frente, em PE, de 1,5 milhão de votos. SP, o maior colégio eleitoral (33 milhões de eleitores) dará a Aécio os votos tucanos de Geraldo Alckmin? Essa é a grande dúvida. O RJ (11 milhões de eleitores) continuará a ser um forte bolsão de votos para Dilma? SP continuará a dar ao PT 25% a 30% dos votos? Campos entrará em SP e no Rio? Aliás, onde será o maior colégio eleitoral (Estado) da presidente? BA, SP, RS? Respondam-me essas questões e direi quem serão os dois do segundo turno.

PT x PMDB

O PT quer desbancar o PMDB nas regiões. Vai lançar candidatos a governos para um eleitorado 44% maior que o de 2010. Serão 12 concorrentes. Deverá disputar nos sete maiores colégios eleitorais, que somam 72,6% do eleitorado nacional. Novidades: Rio e Minas, onde, em 2010, apoiou o PMDB e no PR, onde deu apoio ao PT. Em 2014, terá candidatos nesses três Estados.

PMDB com novos

O PMDB prepara-se para realizar uma campanha eleitoral recheada de perfis novos: Paulo Skaf, em SP, que já mostra forte potencial, com cerca de 20% de intenção de votos; José Batista Junior, do grupo JBS/Friboi, em GO; Josué Gomes da Silva, da Coteminas, filho do ex-presidente José Alencar, que poderá compor a chapa encabeçada por Fernando Pimentel (PT), em Minas. O plano do presidente licenciado do partido e vice-presidente da República, Michel Temer, é oxigenar o PMDB, preparando- para a campanha presidencial de 2018.

Empresários

Lula tenta arrumar os caminhos do empresariado para que nele volte a circular Dilma Rousseff. Eduardo Campos virou o queridinho dos empresários. Que começam a inserir a presidente na galeria de pessoas distantes.

Mais Médicos? Mais votos

Este consultor acaba de chegar do Nordeste. Ouviu testemunho de prefeitos que receberam, em seus municípios, médicos estrangeiros. E aí, como o povo está reagindo? Resposta: com um sorriso de um lado a outro da boca. O povo está satisfeito, agora não há fila, tem receitas imediatas. Não quer saber se o médico é daqui ou dali. Quer saber apenas se é médico. Votos no bornal de Dilma.

R$ 20 mil

O governador Geraldo Alckmin não quer ficar para trás. Seu plano de carreira para médicos prevê aumento de até 45% para pós-graduados que trabalharem na periferia. Um médico pós-doutorado, com carga horária de até 40 horas, na periferia, poderá ganhar cerca de R$ 20 mil. A saúde agradece.

Contra o aumento do IPTU

A Associação Comercial de São Paulo e entidades do empreendedorismo, entre elas o Sescon/SP, entrarão com uma ação direta de inconstitucionalidade no TJ/SP contra o aumento do IPTU na capital paulista. Com 29 votos a favor e 26 contra, foi aprovada na semana passada na Câmara Municipal de SP a proposta de aumento de até 20% para residências e até 35% para o comércio. O MP já ajuizou uma ação civil pública com pedido de liminar contra a aprovação do aumento, pois a votação não ocorreu com a devida publicidade exigida em lei. "Considerando o alto Custo Brasil, é inadmissível este aumento, que não leva em conta ao menos a capacidade contributiva do paulistano", destaca Sérgio Approbato Machado Júnior, presidente do Sescon-SP.

Usinas atrasadas

O Plano Decenal de Energia contempla 20 hidrelétricas com previsão de entrada em operação entre 2018 e 2022. A maioria delas está na região Norte. E os atrasos chegarão a seis anos.

O culto ao "nós"

O culto ao "nós", que, nos dois mandatos de Lula, foi entronizado nos palanques, não chega hoje com prestígio para convencer as massas. O marketing da louvação, em intenso desenvolvimento no país, desde os tempos galopantes de Collor (que fazia uma corrida diária de cooper, acompanhado de jornalistas), subiu ao pódio do descrédito. Essa é uma das boas novas que se pode anunciar na arena eleitoral do próximo ano. Os últimos governos rebocaram com tanta argamassa as paredes da gestão, que estas ameaçam embaular e desmoronar.

O nosso carbono 14

Tanto o governo Federal, com sua planilha de grandes obras, quanto os governos estaduais deverão passar pelo teste do nosso carbono social. Ou será que não se percebeu a existência de novo processo para medir o tempo (cronogramas) e conferir promessas ? (Lembrando : os testes de objetos da mais remota antiguidade - para descobrir, por exemplo, a verdade sobre o santo Sudário de Turim -, são feitos com o carbono 14, um isótopo radioativo e instável, que declina em ritmo lento a partir da morte de um organismo vivo). O nosso carbono 14, ou melhor, para 2014, é a onda centrípeta, das margens para o centro, com suas percepções e decepções da política. Engodos até podem continuar a engabelar as massas. Há, porém, um culto ao "nós" menos sujeito a firulas demagógicas. É o olhar mais agudo da sociedade sobre as tramóias da política.

Teste sua visão

Fixe os olhos no texto abaixo e deixe que a sua mente leia corretamente o que está escrito.

35T3 P3QU3N0 T3XTO 53RV3 4P3N45 P4R4 M05TR4R COMO NO554 C4B3Ç4 CONS3GU3 F4Z3R CO1545 1MPR3551ON4ANT35! R3P4R3 N155O! NO COM3ÇO 35T4V4 M310 COMPL1C4DO, M45 N3ST4 L1NH4 SU4 M3NT3 V41 D3C1FR4NDO O CÓD1GO QU453 4UTOM4T1C4M3NT3, S3M PR3C1S4R P3N54R MU1TO, C3RTO? POD3 F1C4R B3M ORGULHO5O D155O! SU4 C4P4C1D4D3 M3R3C3! P4R4BÉN5

Conselho ao time que vai entrar em campo

Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes, membros dos Poderes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos manifestantes dos eventos de rua. Hoje, volta sua atenção aos eventuais candidatos aos governos estaduais:

1. Os tempos são de extrema carência de recursos. Os Estados e municípios estão de pires na mão. Urge fazer um pacto, nos Estados, entre forças políticas e a sociedade civil, com vistas à montagem de um plano estratégico voltado para atender às demandas de regiões, setores organizados e classes sociais, principalmente as mais sofridas.

2. As questões regionais, nesse momento de crise, deverão estar acima de posições partidárias e veleidades pessoais. Só assim, os Estados poderão ultrapassar a fronteira das visões estreitas.

3. Urge selecionar os melhores quadros dos Estados, em suas especialidades, e convocá-los em torno de um projeto sólido, viável, crível, capaz de atender aos anseios e expectativas da sociedade.

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(Gaudêncio Torquato)

terça-feira, 5 de novembro de 2013

POLÍTICA & ECONOMIA NA REAL

Déficit externo mostra debilidade do país

Se há um indicador que mostra o corolário da fragilidade do Brasil neste momento, este é o déficit externo. Até setembro ele atingiu o patamar de 3,6% do PIB e, mais ilustrativo, não é que ele seja resultado do pagamento de juros e amortizações da dívida externa, mas sim fruto da remessa de dividendos por parte das multinacionais aqui instaladas, bem como devido a conta petróleo. Isso demonstra que os reinvestimentos das empresas no país se reduziu, por conta da fraqueza do crescimento, bem como pela ausência de conforto para investir. Há ainda o inquietante, mesmo que mais simbólico, déficit do turismo brasileiro. O brasileiro prefere gastar lá fora que aqui por conta do dólar fraco e do elevado custo do Brasil. Um sinal e tanto de que há algo de errado na competitividade brasileira. De outro lado, o dólar fraco tornou ao longo dos anos a nossa indústria sem solidez para concorrer com o resto do mundo. Isso está levando o país a um consistente e significativo processo de desindustrialização.

Um exercício econômico

A situação letárgica da economia brasileira não se refletiu em desemprego mais elevado. Surpreendentemente, o mercado laboral está com números saudáveis frente a uma atividade econômica que maneia de um lado a outro sem que mostre nenhuma solidez ou sustentação. Este processo aparente não esconde os enormes riscos que estão se acumulando no médio e longo prazo. Vejamos. A inflação é alta, apesar de todo represamento de preços públicos feito pelo governo, da gasolina até a energia elétrica. Qualquer ajuste do câmbio para cima agravará estas variáveis que tem enorme impacto sobre os indicadores de inflação. Se o câmbio sobe, e essa é a sua tendência estrutural, os efeitos sobre a taxa de emprego podem ser mais agudos. O possível aumento das tensões sociais, fruto da elevação do desemprego, encontrará uma classe política desmobilizada e constrangida pelos pequenos e barulhentos protestos na principais cidades brasileiras. Tais hordas podem se tornar mais recheadas de conteúdo político e reivindicatório. Um cenário que, até hoje, um governo petista não encontrou. Neste contexto, o governo se defrontará com a decisão de conter a inflação via elevação dos juros e maior desemprego. Terá de maximizar uma destas variáveis, coisa que também nunca ocorreu a um governo petista. O governo sabe disso, é claro. Tentará por todas as vias que a realidade não lhe pegue em pleno teatro eleitoral em 2014. Como se vê, algo bem parecido com que ocorreu ao final do primeiro mandato de FHC. Tivesse o país uma oposição ativa, esta denunciaria isso tudo como estelionato eleitoral.

O ralo da credibilidade - 1

Quem tem acompanhado com atenção as análises de especialistas não comprometidos com o oficialismo - ditos dentro do governo como "pessimistas" - não se surpreendeu com a deterioração das contas públicas e as dificuldades que Brasília vai ter de cumprir a meta de superávit primário deste ano (qualquer que seja ela) e com as desculpas da Secretaria do Tesouro Nacional para o rombo de mais de R$ 10 bilhões somente nas contas Federais em setembro. A verdade, sem voleios no trapézio do secretário Arno Agustin, é que o governo vem gastando mais do que pode e deve - e gastando errado. Os números oficiais não mentem: até o mês passado a arrecadação Federal cresceu 8%, os gastos subiram 13% e os investimentos foram 2,9% menores.

O ralo da credibilidade - 2

Em que pese tudo quanto dito na nota anterior, Agustin voltou a afirmar que o superávit será honrado. Qual? 3,1% do PIB ? 2,3%? Com desconto dos gastos no PAC ? Com mais receitas extraordinárias ? Com o governo Federal não cumprindo a parte dos Estados e municípios? O ministro da Fazenda Guido Mantega, fazendo cara de surpreendido logo depois do resultado de setembro, afirmou que o governo vai rever as regras do seguro-desemprego e talvez a do abono salarial, duas despesas que subiram além do razoável nos últimos anos. A do seguro-desemprego causa especial estranheza porque o Brasil há muitos anos não vive uma situação tão boa na área do trabalho. Mantega atirou no que foi possível para apagar o incêndio e dar uma satisfação aos agentes econômicos. É história sem futuro. Há tempos o governo analisa mudanças no seguro desemprego, já fez até uma pequena alteração, mas não leva o projeto para frente porque encontra resistências nas centrais sindicais - e em parte do PT. O próprio ministro disse que ainda vai conversar com os sindicalistas antes de apresentar as propostas de alteração. Impossível imaginar que o governo vai meter a mão numa cumbuca dessas em plena temporada eleitoral, quando nem a gasolina a Petrobras consegue aumentar para não colocar fogo na inflação.

O ralo da credibilidade - 3

O número do superávit primário é importante, segundo os especialistas, para conter o crescimento da dívida pública, diminuir o consumo oficial e assim ajudar no combate ao processo inflacionário. Mas ele não é mais importante do que a disposição do governo para cumprir o que promete, sem malabarismos ou desculpas pouco críveis. É por esse ralo que se esvai a confiança na política econômica, no prometer o que não pode cumprir e tentar ofuscar a realidade com um véu pouco diáfano de fantasias.

E agora?

A expectativa é saber se o BC, depois do resultado primário das contas públicas em setembro, ainda continuará a assegurar em seus comunicados e decisões a ideia de que a política fiscal do governo tende para a "neutralidade".

A escolinha da professora Dilma - 1

Quase como um castigo - não há informações se alguns foram obrigados a ajoelhar-se no milho de olhos contra a parede - a presidente Dilma reteve 15 de seus mais importantes ministros em Brasília, em pleno sábado, feriado de Finados, para um debate de sete horas sobre a execução das políticas sociais e de infraestrutura do governo. Segundo os poucos presentes que conversaram com a imprensa depois da sabatina, a presidente fez cobranças de cronogramas de cumprimento dos projetos, "espancou" muitas propostas e deu "broncas" em alguns. ("Espancar", segundo a gíria oficial, significa contestar e desconstruir a proposta). Praticamente três anos depois de iniciado o governo, faltando um ano para a presidente renovar ou não ou seu mandato, é no mínimo estranho que Dilma ainda precise "espancar" projetos que no mínimo já deveriam estar prontos. E mais estranho ainda que haja necessidade de dar "broncas" em ministros que acompanham a presidente há tanto tempo.

A escolinha da professora Dilma - 2

Há algo de errado nisso. Ministro que ainda agora merece admoestações na frente de colegas porque suas pastas andam titubeantes não mereciam continuar onde estão. A não ser que as vacilações não sejam apenas culpa deles. O mundo real da "escolinha de Finados da professora Dilma" parece outro : cobrar obras para o mundo eleitoral. Tanto que um dos projetos mais cobrados (e espancados, no sentido figurado) foi o da eterna transposição do rio São Francisco. As críticas ao atraso das obras as quais deveriam ser, nas promessas do passado, inauguradas por Lula ainda como presidente da República, tem sido um dos pontos mais criticados por Aécio Neves e os tucanos em sua pré-campanha. Dilma quer ir ao Nordeste no fim do mês, área em que está investindo depois que a candidatura Eduardo Campos-Marina Silva começou a crescer, para mostrar o projeto em pleno andamento e com muitos canteiros de obras ativos.

A escolinha do professor Lula

Está cada vez mais claro que a reeleição da presidente Dilma está nas mãos poderosas do ex-presidente Lula da Silva. É ele quem dá o tom da campanha, organiza o marketing eleitoral, negocia com os aliados a formação das alianças regionais e conversa com os empresários para quebrar resistências à política econômica e ao estilo da presidente e facilitar apoio financeiro à campanha. Até influenciar decisões estratégicas Lula tem tentado : está mal explicado, por exemplo, o envolvimento do ex-presidente na tentativa do presidente do Senado, Renan Calheiros, de mandar para votação um projeto de autonomia do BC de autoria do senador Francisco Dornelles (PP/RJ). O plano foi abortado depois de demonstrações de desagrado da presidente Dilma, mas havia lulistas envolvidos nele até o pescoço. Por essas e outras, Lula vai participar da campanha de Dilma não apenas como o grande eleitor, mas como se ele fosse o candidato à presidência. Por estar livre das amarras legais, pode aparecer até mais que Dilma nos eventos públicos do PT e aliados.

O tema republicano do BC independente

O lançamento da ideia do BC independente ficou mal parado por diversas razões, dentre as quais, destacamos duas. A primeira é que a independência do BC não pode e não deve ser uma questão a ser tratada com "mergência". Cabe reflexão sobre o tema, afinal é necessário que esta independência seja avaliada sob diversos prismas, tais como, tempo de mandato, forma e critérios de supervisão legislativa, relacionamento com os gestores da política econômica, novas normas de emissão e administração da dívida pública, relacionamento com o Tesouro, etc. Do jeito que foi anunciada, bem como sabendo-se que o ex-presidente do BC Henrique Meirelles está assessorando Lula em relação a este projeto, tudo pareceu inspirado em lobbies interessados no tema. Passa longe, portanto, de uma visão republicana sobre o assunto. O segundo aspecto diz respeito ao momento em que tal projeto seria implementado. Seria em meio às eleições? Como fica a atual diretoria do BC? Haveria um período de transição?

A escolinha dos tucanos, sem um mestre

A reação de Aécio Neves à declaração do ex-presidente Lula de que José Serra é uma sombra para a candidatura presidencial do mineiro, mais do que um resposta bem humorada ("Lula é a sombra de Dilma") é uma prova de que a indefinição dos tucanos e as ações de Serra incomodam Aécio e uma parcela do tucanato com ele identificada. Eles sabem bem que ou o PSDB inicia imediatamente sua campanha, sem rachaduras, ou vão ficar alijados da competição. Agora, há outra provável candidatura competitiva, a da dupla Eduardo Campos-Marina Silva (ou vice-versa). Com a campanha já aquecida como nunca, esperar até março do ano que vem para botar o bloco na rua pode ser fatal. Os tucanos mais do que nunca estão fazendo jus à sua fama. Falta a eles, provavelmente, um líder com a força e o empenho de Lula. FHC chegou a ensaiar esses passos, mas parece ter se retirado do salão. Por fastio ou por perceber que certas plumagens tucanas não combinam e não se bicam.

Dois assuntos perigosos para os tucanos

As denúncias feitas pela Siemens e que envolvem a francesa Alstom nas licitações do metropolitano de SP estavam em compasso de espera, pelo que se soube a partir da informação de que as autoridades suíças não contaram com a colaboração do MP paulista. Agora, com a luzes que caem sobre o tema, é possível que tenhamos novas revelações. De Geraldo Alckmin até José Serra, todos correm o risco de ter notícias negativas nesta investigação criminal e financeira. Será lamentável para o esquecido "interesse público" se não houver esclarecimento sobre as estranhas transações financeiras e as contas off shore sob gestão de pessoas próximas do poder estadual. Há, ainda, o mal resolvido "mensalão mineiro", o qual não conta com a velocidade intensa que o atual presidente do STF deu ao mensalão petista. Minas e o país esperam uma solução judicial para esta questão, mas o que parece estar mesmo sendo incorrido é o prazo prescricional de certas imputações. Justiça que tarda não é Justiça.

Maluf, enfim, sofre um revés político

Paulo Salim Maluf é daqueles exemplos que demonstram que é verdadeira a máxima popular de que os poderosos nada sofrem no Brasil. Prócer da ditadura, engalfinhado em múltiplas operações duvidosas no setor público e um dos maiores chefões das negociações eleitorais brasileiras, o velho governador e prefeito acaba de ser impedido de se candidatar novamente por força da lei da ficha limpa. Resta saber quais os efeitos políticos sobre o seu poder no PP paulista aquele que se associou ao jovem prefeito Fernando Haddad, que teve ainda o afago público de Maluf nos jardins de sua mansão paulistana. Outro aspecto a ser observado é a consequência que este impedimento terá sobre os processos em tramitação no STF onde Maluf responde por outros desvios de dinheiro da viúva. A Interpol parece que já tem a sua posição sobre Maluf.

A Petrobras em transe

Quem leu linhas e entrelinhas dos comunicados da Petrobras ao mercado, a respeito de seus resultados no terceiro trimestre e sobre o "gatilho" proposto para organizar o reajuste dos combustíveis e mais a longa entrevista da presidente da empresa, Graça Foster, ao jornal "O Estado de S. Paulo", edição de domingo passado, percebeu que a estatal está em ebulição. "Se não der resultado, me demito" - avisou Graça ao defender seu gatilho e a necessidade de dar condições financeiras à empresa para realizar seu cronograma de investimentos. A previsibilidade do reajuste de preços é essencial nesse processo. Quando a empresa divulgou, para contragosto de Brasília, a proposta de gatilho para correção dos preços dos combustíveis, marcou-se uma posição clara - e queira-se ou não, colocando Brasília contra a parede. Em última análise, o que a empresa está verbalizando é simples: ou a Petrobras tem condições de fazer aquilo que é a sua atividade precípua ou ela funcionará apenas como linha auxiliar da política anti-inflacionária e da política industrial de Brasília. As duas ao mesmo tempo, definitivamente, não podem ser efetivadas. O governo, por sua vez, não parece ainda convencido dessa impossibilidade. Ainda tergiversa se aceita ou não a proposta de gatilho apresentada pela presidente Graça Foster. É mais um confronto com outra poderosa burocracia estatal.

(por Francisco Petros e José Marcio Mendonça)